Beatriz é uma jovem desastrada e sem ambições que, em uma noite de azar, acaba testemunhando um crime. Ao invés de ser eliminada, ela é protegida por Leonardo, o carismático líder da máfia local, que vê em Beatriz algo inesperado: sinceridade em um mundo cheio de mentiras. Agora, presa entre o fascínio por um homem perigoso e sua vontade de voltar à vida normal, Beatriz precisa decidir se esse amor vale o risco.
Ler maisSe você me perguntasse como eu imaginava que minha vida mudaria, eu diria algo clichê, como ganhar na loteria ou talvez encontrar o amor da minha vida em um café charmant enquanto eu derrubo café na camisa dele. Nunca, nem nos meus sonhos mais loucos, eu pensei que tudo mudaria porque eu fui burra o suficiente para cortar caminho por um beco escuro no fim do meu expediente.
Meu nome é Beatriz. Tenho 25 anos e, para ser honesta, até hoje minha maior conquista foi não queimar meu apartamento fazendo macarrão instantâneo. Eu sou o que minha mãe chama de "um espírito livre" – o que, traduzindo, significa que eu sou uma desastrada que ainda não encontrou um rumo na vida. Trabalho em um café pequeno, o tipo de lugar onde as pessoas vão para reclamar do mundo enquanto bebem um café aguado. Não é glamour, mas paga as contas – ou quase.
Naquela noite, tudo parecia normal. O expediente tinha sido cheio de clientes irritantes que insistem em pedir capuccino sem espuma ou reclamar da temperatura do café. Estava cansada, meus pés doíam, e tudo que eu queria era chegar em casa, colocar meu pijama de unicórnios e esquecer o mundo por algumas horas. Mas a vida tem um senso de humor cruel.
Decidi cortar caminho por um beco para economizar tempo. Eu sabia que não era a melhor ideia, mas estava cansada demais para me importar. O beco era estreito, iluminado apenas por um poste piscante, e o som dos meus passos ecoava nas paredes de tijolos. Eu me arrependi assim que entrei, mas já era tarde demais. No meio do caminho, vi algo que me fez congelar.
Três homens estavam no centro do beco. Dois deles seguravam outro homem, que parecia apavorado, enquanto o terceiro, um homem alto de terno impecável, falava com calma assustadora. Eu não conseguia ouvir o que ele dizia, mas o tom era cortante. A luz fraca iluminava apenas parte de seu rosto, mas dava para ver o olhar frio e determinado. Esse não era o tipo de pessoa com quem você quer cruzar.
Eu sabia que deveria ter virado e corrido na mesma hora, mas minhas pernas não me obedeciam. Meu corpo inteiro parecia paralisado pelo medo. Foi então que aconteceu: minha bolsa, é claro, decidiu trair minha tentativa de ser invisível. Um pacote de chicletes caiu no chão, fazendo um som alto o suficiente para atrair a atenção de todos.
Três pares de olhos se voltaram para mim ao mesmo tempo. Meus pulmões se esqueceram de funcionar. O homem de terno fez um sinal com a cabeça, e os outros dois me soltaram para se aproximarem. Então, algo surpreendente aconteceu: ele ergueu a mão, fazendo os dois pararem.
— Tragam ela para cá. Quero ouvir o que tem a dizer.
A voz dele era baixa, controlada, mas carregava uma autoridade inquestionável. Fui arrastada até o centro do beco antes que pudesse sequer pensar em resistir. Quando finalmente fiquei cara a cara com ele, senti um calafrio correr pela espinha. Ele era jovem – talvez no fim dos trinta anos –, mas carregava uma aura de poder que parecia pesar toneladas.
— Quem é você? — ele perguntou, inclinando a cabeça como se eu fosse um quebra-cabeça intrigante.
— E-eu… ninguém. Juro, eu não vi nada. Eu só estava passando. É um caminho mais rápido para minha casa. Eu… eu nem sei o que está acontecendo aqui.
As palavras saíam atropeladas, minha voz tremia, e eu tinha certeza de que ia desmaiar a qualquer segundo. Ele riu – não uma risada divertida, mas algo frio, como se estivesse zombando do meu desespero.
— Todo mundo diz isso. Mas você não parece estar mentindo. Isso é… interessante.
Os outros homens olhavam para ele, esperando ordens. Eu sabia que eles estavam prontos para se livrar de mim ali mesmo, mas algo na expressão dele mudou. Ele me observou por mais alguns segundos, como se estivesse tentando me ler.
— Qual é o seu nome?
— Beatriz.
— Beatriz. É um nome bonito.
Por um momento, pensei que ele estava tentando me acalmar, mas logo percebi que estava enganada. Ele não tinha interesse em me tranquilizar – ele estava se divertindo com o meu medo. Ele fez um gesto para os homens.
— Levem-na. Ela vem comigo.
Eu entrei em pânico.
— O quê? Espere, por favor! Eu… não sou uma testemunha! Não direi nada a ninguém, eu prometo!
Ele não respondeu. Em vez disso, virou as costas e começou a caminhar pelo beco, enquanto os outros dois me puxavam para segui-lo. Meu coração batia tão rápido que eu mal conseguia pensar. Eles me colocaram em um carro preto que estava estacionado na esquina.
No silêncio sufocante do carro, a presença dele era quase palpável. Eu olhava para ele de rabo de olho, tentando entender o que estava acontecendo. Afinal, por que ele não tinha me matado? Se o que eu tinha visto era tão perigoso assim, por que me manter viva?
Depois de alguns minutos, ele finalmente quebrou o silêncio.
— Você deve estar se perguntando por que ainda está viva, não é?
Assenti, incapaz de falar.
— A verdade é que você me intriga, Beatriz. É raro encontrar alguém tão… transparente.
Ele sorriu, mas era um sorriso que não alcançava os olhos.
— Por enquanto, você vai ficar comigo. Para sua própria segurança, é claro.
— Para minha segurança? — perguntei, minha voz finalmente voltando. — Você está me sequestrando!
— Sequestrando é uma palavra forte. Eu diria que estou protegendo você de fazer algo idiota, como ir até a polícia.
Minha boca abriu, mas nenhuma palavra saiu. O que eu poderia dizer? Eu tinha entrado em um mundo que não entendia, e agora estava presa. Uma coisa era certa: minha vida nunca mais seria a mesma.
A noite se estendia silenciosa sobre a mansão, mas meu coração ainda ecoava os eventos do dia. A traição de Marco, a decisão fria de Leonardo, e a certeza esmagadora de que não havia volta para nós.Eu sabia que o mundo em que estava mergulhando não oferecia espaço para fraqueza, mas isso não tornava as escolhas mais fáceis. Marco era um homem que convivi por meses, alguém que sempre vi ao lado de Leonardo como um aliado leal. No entanto, bastou uma ameaça à sua família para que ele se dobrasse aos Moretti. E o pior? Parte de mim o compreendia.Quando cheguei ao quarto, Leonardo já estava lá, sentado na beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos. O brilh
O cheiro de pólvora ainda impregnava o ar quando saímos das docas. O confronto com os Moretti havia sido um lembrete cruel de que, mesmo com a queda de Marco Ricci, nossos inimigos estavam longe de desistir. Mas o que mais me assombrava não era a guerra em si—era o fato de que, a cada batalha, eu mergulhava mais fundo nesse mundo. E pior: não sentia mais medo da escuridão.Leonardo dirigia em silêncio, os nós dos dedos pálidos contra o volante. O brilho da cidade passava em borrões luminosos pela janela, mas sua mente estava longe dali. Eu podia sentir a tensão em seu corpo, a inquietação que se instalava toda vez que tínhamos que derramar sangue para nos manter vivos.— Você está muito calado — murmurei, observando-o.Ele apertou a mandíbula, como se estivesse processando as palavras antes de falar.— Ainda não acabou, Beatriz. Os Moretti podem ter perdido essa batalha, mas não desistiram da guerra. E agora… agora eu preciso decidir o próximo passo.— E qual é? — perguntei, mesmo sab
A manhã seguinte nasceu cinzenta, como se o céu refletisse a tempestade que se agitava dentro de mim. Eu observava a cidade através da enorme janela do quarto de Leonardo, o coração ainda acelerado pelos eventos da noite anterior. A adrenalina ainda pulsava em minhas veias, mas junto com ela, vinha um peso que eu nunca havia sentido antes.Marco Ricci estava sob custódia, mas isso não significava que estávamos seguros. O mundo da máfia era um tabuleiro de xadrez, e cada movimento estratégico de Leonardo gerava uma resposta, muitas vezes imprevisível e brutal.Leonardo entrou no quarto, vestindo uma camisa escura que realçava sua presença imponente. Seus olhos me encontraram, e por um instante, o peso que carregava nos ombros pare
O sol mal começava a despontar no horizonte quando Leonardo e eu deixamos o esconderijo. A brisa fria da manhã cortava nossa pele, mas a determinação que ardia em nossos corações nos impelia a continuar.Leonardo estava mais focado do que nunca. A queda de Salvatore havia deixado um vácuo de poder, e os inimigos que antes temiam seu nome agora viam uma oportunidade para tomar o controle. Era um jogo perigoso, onde cada movimento poderia ser o último.— Lorenzo já organizou nossos homens? — Leonardo perguntou, enquanto caminhávamos em direção ao carro.— Sim, eles estão posicionados em pontos estratégicos. Estão prontos para agir assim que você der o
O sol mal havia nascido quando saímos da mansão. A noite sangrenta havia terminado, mas as cicatrizes invisíveis permaneciam gravadas em nossas almas. Leonardo me conduziu até um dos carros pretos estacionados na entrada, e Lorenzo, sempre atento, assumiu o volante.O caminho até o esconderijo seguro de Leonardo foi silencioso. A cidade ainda dormia, alheia ao caos que havia se desenrolado nas sombras. Eu olhava pela janela, vendo as luzes fracas das ruas passarem como fantasmas, enquanto tentava processar tudo o que havia acontecido.Leonardo manteve sua mão sobre a minha durante todo o trajeto. Seu toque era firme, mas gentil, como se quisesse me lembrar de que, apesar de tudo, eu ainda estava viva.— Você está bem
O silêncio que se seguiu ao último disparo parecia ensurdecedor. Salvatore estava morto, o sangue se espalhando lentamente pelo mármore frio da mansão. Eu sentia o corpo de Leonardo tremendo ligeiramente contra o meu, enquanto ele mantinha o olhar fixo no homem que, por tanto tempo, fora seu maior inimigo.Eu me afastei dele, tentando recuperar o fôlego. A adrenalina ainda corria pelas minhas veias, mas, aos poucos, a realidade se infiltrava em minha mente. Eu havia matado um homem. Eu havia salvado a vida de Leonardo.Os seguranças de Leonardo começaram a se espalhar pela mansão, verificando os corpos e cuidando dos feridos. Lorenzo apareceu ao nosso lado, o rosto coberto de suor e fuligem.— Acabou? — ele perguntou, quase sem acreditar.Leonardo assentiu lentamente, mas seu olhar permaneceu sombrio.— Acabou... por enquanto.Eu não sabia o que ele queria dizer com isso, mas algo me dizia que o fim de Salvatore era apenas o começo de outra batalha.Leonardo se levantou e estendeu a m
Último capítulo