####O SONHO

No pequeno altar improvisado que ela sempre carregava em pensamento, mentalizou a imagem da Santa protetora dos ciganos. Com os cabelos ainda úmidos e as mãos entrelaçadas sobre o coração, ajoelhou-se diante da janela aberta.

— Santa Sara Kali, minha mãe protetora... Mostra-me o caminho certo. Coloca luz em minha mente, sabedoria no meu coração, e força em meus pés para não tropeçar. Se esse homem é meu destino, então me mostra como domá-lo. Mas, se for preciso lutar contra ele... então me dá coragem para isso também.

Os olhos se fecharam suavemente. A brisa da noite acariciava seu rosto. Logo, o sono a tomou.

E então veio o sonho.

Sarah se viu caminhando sozinha por uma estrada de terra vermelha. Ao longe, nuvens cinzentas se formavam. Mas, em determinado ponto, ela percebeu que já não estava só: Vitório surgia ao seu lado. Ele caminhava em silêncio, com o olhar firme, e ela o seguia, de mãos dadas. Havia pedras no caminho. Homens mascarados. Facas escondidas. Tiros ao longe.

Ela via rostos. O de Terenzi. O da filha dele — uma menina assustada, chorando. Via Terenzi vendendo a própria filha como se fosse mercadoria. Via Vitório, em silêncio, tentando proteger todos. E via a si mesma — uma guerreira de olhos verdes, protegendo o Dom como uma loba defende a alcateia.

Santa Sara apareceu diante dela no sonho. Com a pele escura e um manto azul-celeste, seus olhos irradiavam paz.

— Minha filha... — disse a Santa, com a voz suave. — Você foi escolhida para curar o coração de um homem endurecido pelo poder. Mas antes de se unir a ele, deve salvar a inocente que será sacrificada amanhã. Terenzi venderá a própria filha. E só você pode impedir.

Sarah acordou ofegante. O coração acelerado e os olhos marejados. Sentia no peito a certeza de que havia recebido um chamado. Levantou-se da cama, enxugou o suor da testa e olhou para a lua pela janela.

— Eu entendi, Santa Sara... Eu vou ficar. Eu vou domar o Don. Mas, antes, eu vou salvar aquela menina.

O Aviso da Cigana

Sarah despertou antes do sol nascer. Ainda com os olhos semicerrados, vestiu um robe leve, amarrou o cinto com firmeza e, guiada pela urgência que ardia em seu peito, saiu do quarto. Caminhou silenciosamente pelos corredores da mansão até encontrar um segurança.

— Preciso falar com Dom Vitório. Agora. — disse, com uma voz tão firme que o homem não ousou questionar.

Minutos depois, ela era conduzida até o escritório do Dom. Vitório estava de pé, à frente de uma estante, lendo alguns documentos. Quando ela entrou, ergueu os olhos e franziu o cenho.

— Sarah? Aconteceu alguma coisa?

Ela assentiu, séria.

— Sim, Dom Vitório... Aconteceu sim. — caminhou até ele com a mesma postura de uma cigana anciã, mesmo tendo apenas dezoito anos. — Eu tive um sonho. Um sonho enviado por Santa Sara. Eu vi tudo. E você precisa agir agora.

Ele a encarou com cautela, como se tentasse decifrar até onde ia a fé e onde começava a loucura.

— Um sonho? — murmurou. — E o que você viu nesse sonho?

— Eu vi o que vai acontecer. O Terenzi... ele vai vender a própria filha hoje. Vai entregá-la para um velho cruel. Você precisa mandar seus homens pegarem a menina antes que isso aconteça. Traga ela para cá. Coloque-a sob sua custódia. E fique de olhos bem abertos... porque ele vai tentar te derrubar. Ele vai te trair.

Vitório cerrou os olhos, a mandíbula endurecida.

— Você tem certeza do que está dizendo?

— Tenho. Santa Sara me mostrou. E eu senti no meu coração. Eu vi ele negociando a menina. Vi o sofrimento dela. E vi você sendo atacado pelas costas, por alguém em quem confiava. É ele. O Terenzi. Ele quer tomar o que é seu. — Sarah se aproximou ainda mais. — Aja agora, Dom. Proteja a filha dele e tire dele a única moeda de troca que ele ainda tem.

Vitório permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as palavras. Seu olhar pesava, como se medisse o peso daquela profecia contra os códigos da máfia e sua própria razão.

— Você tem uma coragem absurda pra uma menina de dezoito anos. — disse por fim, com um meio sorriso. — Se eu fosse outro homem, mandaria te calar. Mas... algo em você me faz acreditar. Eu vou mandar o Mateo e mais dois homens de confiança. Vamos ver se Santa Sara realmente fala por seus sonhos.

Sarah levantou o queixo.

— Ela fala. E você vai ver que estou certa. Quando essa menina cruzar os portões desta mansão, você também vai estar salvando a sua alma... Dom Vitório.

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