A CIGANA E O DESTINO DE DON VITÓRIO
A CIGANA E O DESTINO DE DON VITÓRIO
Por: Tônia Fernandes
####PRÓLOGO

— A CIGANA E O DESTINO DO CAPO

A noite soprava quente sobre as tendas cigarras montadas na beira da estrada, com o cheiro de incenso se misturando ao aroma adocicado do vinho quente e da terra molhada pela maresia. Sara Varga Santino, com apenas dezenove anos, corria os dedos finos sobre as linhas da palma de uma senhora, como sua mãe lhe ensinara, mas sua mente estava inquieta. Havia um presságio pesado no ar. Algo que nem as cartas, nem as linhas das mãos, ousavam revelar com clareza.

— A senhora deve tomar cuidado com estranhos — sussurrou, fechando os olhos por um instante, como se pudesse afastar a sombra que se formava em sua mente.

Carmela Varga, a mãe, observava de longe. Seus olhos negros, profundos como um poço, acompanhavam cada gesto da filha. Ela sabia. A vidente sentia no peito: o destino de Sara estava próximo de ser arrancado de suas mãos inocentes.

Naquela mesma noite, um comboio de carros pretos cortava a estrada poeirenta. No banco de trás, Massimo Terenzi, um dos chefes mais cruéis da máfia italiana, observava um dossiê com fotos. Em uma delas, Sara dançava entre as tendas, seus cabelos negros soltos, o vestido vermelho colado ao corpo em movimentos hipnóticos.

— Quero essa cigana. Amanhã ela será minha moeda de troca — declarou, com um sorriso frio.

Naquela noite, o clã Varga foi cercado. Homens armados surgiram entre as sombras, e Sara foi capturada antes que pudesse reagir. Os gritos da mãe ecoaram pela noite, mas Carmela nada podia fazer contra as armas apontadas.

Quando abriu os olhos novamente, Sara estava trancada em um quarto pequeno, iluminado apenas por uma luz vermelha fraca. Vestida com roupas provocantes, sentia nojo do tecido colado à pele. Ela entendeu: seria vendida.

Sara acorda no quarto escuro, com o cheiro de fumaça e suor impregnando o ar.

O vestido colado ao corpo, os pulsos marcados pela corda. Ela está tonta, mas não chora. Respira fundo e fecha os olhos.

E então o véu cai.

Ela se vê diante de um espelho — mas não é um espelho físico. É uma cortina de fumaça, onde imagens se formam:

Um palco.

Luzes vermelhas.

Homens ao redor, como lobos famintos.

E, por fim, ele.

Um homem alto, de terno negro, saindo das sombras

Os olhos dele não a desejam como os outros — ele a reivindica.

E dentro da mente dela, uma voz antiga ecoa:

“Ele é quem te salvará... mas antes, te prenderá em correntes invisíveis.

Domá-lo será tua missão. E só então, ele será digno de te libertar.”

Sara vê mais.

Vê sangue derramado, alianças sendo quebradas, um casamento que nunca acontecerá.

Quando as imagens se formaram na névoa, Sara viu um altar.

Um casamento suntuoso, repleto de mafiosos engravatados.

Uma mulher de vestido branco caminhava em direção ao Capo, mas à medida que se aproximava, sua imagem se desfazia como areia ao vento.

E então, foi Sara quem se viu ali.

Vestida não de branco, mas com véus coloridos, joias ciganas, descalça.

Os olhos de Vitório a encaravam com a mesma fúria de antes, mas havia algo mais:

Rendição.

A voz ancestral sussurrou:

— Ele deveria se casar por sangue. Mas se casará por destino.

Sara despertou com o peito arfando, os olhos fixos na porta.

Ela não seria apenas mais uma moeda de troca.

Ela seria o ponto de ruptura da dinastia Balestra.

Vê o nome dele, como se as estrelas sussurrassem:

“Vitório Salvatore Balestra.”

Quando ela abre os olhos, está suando. Mas não de medo.

Ela entende que não foi sequestrada por acaso.

O destino a trouxe ali.

Ela será a peça que vai virar a mesa da máfia.

Mas primeiro, terá que olhar nos olhos dele e não se curvar.

Mas o destino não era tolo. E o universo já movia suas peças.

Vitório Salvatore Balestra, o Capo di Tutti Capi, chegava à boate para uma reunião com Massimo Terenzi. Ele estava irritado. Havia rumores de leilões secretos acontecendo sob seu teto, e aquilo era inaceitável. Vestido em um terno negro impecável, Vitório era a personificação do poder silencioso. Ele não precisava erguer a voz; bastava um olhar para que a sala se calasse.

Quando a cortina se abriu e Sara foi empurrada ao palco, seus pulsos amarrados, Vitório sentiu o ar se rarefazer. Os olhos verdes dela

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