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Capítulo 2 Lisa Deluca - A Filha do Império

Narrado por Lisa Deluca

Me mantive em um canto do salão, longe dos risos e das conversas animadas que preenchiam o ambiente. Aquelas vozes altas, os rostos sorridentes… tudo me parecia distante, abafado, como se eu estivesse presa debaixo d’água, em um lugar onde o ar era rarefeito e o tempo escorria lento.

Não fazia questão de me misturar. Não ali. Não com eles.

Aquelas pessoas… eram como vultos bonitos, sorridentes, mas vazios. Todos mascarados por dentro.

Sentia como se um peso invisível se acumulasse sobre meus ombros, se infiltrando nos ossos, tornando cada movimento mais difícil.

Eu queria desaparecer. Me dissolver nas sombras.

Mas o destino, como sempre, tinha outros planos.

Uma tontura repentina me tomou. O mundo começou a girar, o chão parecia se afastar dos meus pés. Dei dois passos trôpegos para trás, buscando apoio, mas meu corpo não respondia direito. O calor subiu pelo meu rosto… e então, esbarrei em alguém.

Antes que pudesse cair, mãos firmes me seguraram pela cintura.

Não foi um toque qualquer. Foi decidido, seguro, como se aquele gesto já estivesse escrito antes de acontecer.

Um arrepio cortou minha espinha como uma lâmina gelada.

Levantei o olhar… e meu coração parou.

Alejandro Serrano.

O nome ecoou dentro de mim como uma sentença.

Ele estava ali. Em carne, osso e mistério.

Já ouvira seu nome sussurrado por entre portas fechadas e jantares silenciados.

O Capo espanhol. Um homem cuja presença causava tensão em qualquer ambiente.

Sua reputação vinha cercada por lendas — de crueldade contida, charme venenoso e um tipo de poder que não precisava ser gritado para ser temido.

E, ainda assim, ali estava ele. Diante de mim.

— Você está bem? — perguntou, a voz grave e rouca, com um sotaque que arranhava suavemente as palavras.

Cada sílaba parecia medida. Ensaiada. Perigosa.

Fiquei em silêncio. Minha mente em branco.

Tudo ao redor desapareceu — o salão, os sons, os olhos curiosos.

Só havia ele. Alejandro.

Um nome que jamais deveria ter se cruzado com o meu.

Seus olhos — de um azul cortante, como gelo antigo — me examinaram, não com simples curiosidade, mas com algo mais profundo… como se pudessem ver através da minha pele.

Como se já soubessem.

— Señorita? — ele insistiu, a voz carregada de paciência e, estranhamente, de uma delicadeza quase cruel.

Tentei responder, mas minha garganta falhou.

A tontura ainda latejava, agora misturada a algo mais avassalador — entre o medo e o fascínio.

— S-sim, estou bem… — murmurei, a voz trêmula, como uma nota frágil prestes a se desfazer.

Ele inclinou levemente a cabeça, como se pesasse minhas palavras.

Um leve sorriso surgiu nos lábios dele, mas não chegou aos olhos.

Era um sorriso que escondia mais do que revelava. Um aviso. Ou talvez um convite.

— Que bom. — disse, soltando minha cintura lentamente, os dedos se afastando com um cuidado proposital.

— Aproveite a noite, señorita.

E então ele se virou, afastando-se com passos elegantes e precisos.

Um predador em meio ao salão.

Fiquei ali, parada, como se o chão ainda oscilasse sob meus pés.

O que acabara de acontecer?

Por que ele estava ali?

E, pior… por que parecia que aquele encontro tinha sido escrito muito antes de eu tropeçar?

Antes que eu pudesse raciocinar, meu pai e Santiago surgiram à minha frente. Ambos com os olhos escurecidos e cerrados, como se tivessem visto um fantasma.

— Por que estava conversando com Alejandro Serrano? — meu pai perguntou. A voz era baixa, mas cortante. Uma rocha prestes a rachar.

— Eu não estava… quer dizer… esbarrei nele. Só isso. — respondi, ainda tremendo por dentro.

— E ele decidiu parar para te amparar? — Santiago rebateu, os braços cruzados.

Ele me encarava como quem lia entrelinhas que eu nem sabia ter escrito.

— Estava me sentindo mal. Ele só perguntou se eu estava bem. Foi educado. Só isso.

Meu pai permaneceu em silêncio por um momento, como se calculasse riscos, alianças, desastres invisíveis.

— Fique longe dele, Lisa. Ele não é um homem que se aproxima sem motivo. — A advertência veio como um sussurro, mas cortou como uma lâmina.

— Eu não fui até ele… — retruquei, e dessa vez minha voz carregava mais do que medo.

Carregava frustração. Raiva. Dor.

— Mesmo assim. Tenha cuidado. — disse Matteo, se aproximando e pousando a mão no meu ombro.

O gesto foi gentil. Mas os olhos dele gritavam: perigo.

Eles se afastaram, deixando uma sombra no lugar.

Alejandro Serrano.

Um nome que carregava um eco antigo.

E agora, uma marca invisível na minha pele.

Olhei ao redor. O salão seguia vivo, mas algo em mim havia se rompido.

Um fio puxado para um destino que eu não escolhera — mas que, de alguma forma, já me envolvia.

E então, como se o universo decidisse me lembrar de que eu não estava só, uma voz familiar surgiu ao meu lado.

— Você está pálida. — Era Sofia Deluca, minha prima. Sempre elegante, sempre perigosa.

— Estou bem, — menti, tentando parecer firme.

Ela me lançou um olhar de quem enxerga mais do que deveria.

— Você sabe quem ele é, não sabe?

— Sei, — respondi, evitando encará-la.

Sofia sorriu. Um sorriso sombrio. Quase cruel.

— Eu ainda vou me casar com ele. — As palavras dela caíram como veneno em um cálice de cristal.

— Eu gosto de homens que têm o mundo nas mãos. E ele… parece ter o inferno também.

Fiquei em silêncio.

Sofia podia brincar com fogo, mas Alejandro Serrano era mais do que isso.

Ele era o próprio incêndio.

E eu… já estava queimando por dentro.

Quando ela se afastou, deixando um rastro de perfume caro e intenções venenosas, permaneci imóvel.

Tudo ao redor parecia sufocante — os risos, os brindes, os olhares calculados.

Era como estar dentro de um teatro, onde cada um encenava sua farsa enquanto os bastidores escondiam segredos prontos para explodir.

Fechei os dedos em punhos suaves ao lado do corpo.

Queria entender o que estava acontecendo comigo.

Por que meu coração reagia daquele jeito ao olhar dele?

Por que meu corpo fraquejava sempre que ele se aproximava?

E por que meu pai, o homem mais temido que conheço, parecia temê-lo mais do que a própria morte?

A presença de Alejandro não era um acaso.

Algo se movia nas sombras — algo maior que eu.

Maior que todos nós.

E enquanto a festa seguia, barulhenta e fingida, senti…

Que estava prestes a cair em algo muito mais profundo.

Algo sem volta.

E talvez — no fundo —

uma parte de mim já desejasse cair.

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