Narrado por Lisa Deluca
Hoje era o dia.
O tão esperado dia da viagem.
E, ainda assim, parecia que eu não pertencia a ele.
Meu corpo doía como se carregasse séculos de exaustão. Mas algo — uma urgência silenciosa, quase desesperada — me empurrava adiante. Como se fugir fosse o único modo de continuar existindo.
A Espanha me esperava. Barcelona.
A promessa de um sopro de liberdade antes que a prisão voltasse a me engolir.
Sabia das manchas.
Roxas.
Silenciosas.
Espalhadas como segredos mal enterrados pela minha pele.
Sabia que não era normal. Que algo dentro de mim gritava por socorro.
Mas fechei os olhos para isso.
Só por mais alguns dias.
Levantei da cama, meus músculos protestando, os olhos fundos denunciando mais uma noite insone. Me aproximei do espelho. A imagem refletida parecia uma estranha — pele pálida demais, sorriso hesitante demais, olhar distante demais.
Mas aquela era eu.
Ou o que restava de mim.
Tomei um banho quente, quase fervente, tentando dissolver o peso dos últimos