Enrico está determinado a manter sua rede de hotéis, a Durán, no topo, mas sua vida vira de cabeça para baixo quando um famoso ator é encontrado morto na suíte 202 de um de seus hotéis. Enquanto lida com a mídia e a polícia, Enrico se vê obrigado a recorrer à advogada Sarah, uma mulher com um passado conturbado e uma filha pequena lutando contra uma doença grave. Sarah, que havia abandonado a advocacia após um caso traumático, é puxada de volta ao mundo jurídico para ajudar Enrico a salvar seu império. No entanto, o retorno de Sarah traz à tona segredos e ressentimentos antigos, especialmente quando o pai de sua filha, um homem violento e manipulador, reaparece exigindo dinheiro em troca de sua assinatura para um tratamento vital.
Leer másEnrico.
Estou aqui, pela décima vez só esse mês, tentando convencer pacificamente a minha ex-esposa de que eu tenho direito de ver a minha filha, sem que ela queira se enfiar embaixo dos meus lençóis pra isso, e honestamente, minha paciência com esse assunto já está esgotada.
— Você só precisa largar esse orgulho bobo, Enrico, eu quero nossa família de volta. — Mônica tenta mais uma vez e eu dou um longo suspiro, tirando o aparelho brevemente do ouvido.
Ensaio uma resposta, mas o barulho da minha porta sendo aberta abruptamente pelo João que está branco feito um papel, me faz encerrar rapidamente a chamada.
— Bater na porta, regra básica de educação, lembra? — Coloco o telefone no gancho e ele me ignora, procurando o controle da tv — O que você…
Deixo a pergunta morrer quando vejo helicópteros rodeando um dos meus hotéis feito urubus, e a frase que se repete insistentemente na chamada da manchete, me faz perder o ar por um breve momento:
—Que porra é essa!? — Levanto em um sobressalto.
—Cala a boca e ouve — João fala, tão nervoso quanto eu.
—Nossa repórter sobrevoa, neste momento, um dos hotéis da rede Durán, de onde fontes seguras dão conta de que acaba de se jogar da varanda da suíte 202, o ator Marcos Ruas, que foi a óbito ainda no local. Alice, o que já sabemos sobre o caso?
— Pois é, Rosana, segundo informações, o ator estava hospedado na suíte 202 há dois dias, já que participava de uma gravação nas imediações. — Ela fala enquanto mais imagens do hotel são mostradas — Não existe qualquer menção ou sinal de briga no local antes do acidente e a hipótese mais aceita até agora, é de que o ator tenha cometido suicídio. Voltamos aos estúdios.
—Obrigada, Alice. Voltamos a qualquer momento, com mais informações.
—Puta que pariu! — Passo as mãos pelos meus cabelos, nervoso — Com tanto lugar pra esse idiota se jogar, ele escolhe logo a sacada do meu hotel? Que inferno!
—Esse cara é quase um Deus pra essa galera do streaming, acho bom você se preparar, porque as coisas vão ficar movimentadas no hotel. — João me olha preocupado.
— Você já convocou o escritório? — Ele nega — Porra, João! Pra que então eu pago um rim na porra do seu escritório? Você fala que tem os melhores advogados do País e nenhum deles foi esperto o suficiente pra saber que não podemos perder tempo?
—Meu escritório é o melhor, tem os advogados mais famosos do país e é por isso que nenhum deles pode pegar o caso, se é que vamos ter um caso. — Ele me olha como se dissesse algo óbvio, enquanto sigo com cara de interrogação — Pensa, Enrico: o cara agora é um mártir, eu não posso pegar os meus advogados, todos tão famosos quanto o falecido, e colocar pra advogar no caso.
—Então vai você, caramba!
—Você sabe que essa não é a minha área, mas eu sei de alguém que vai ser perfeito pra isso. — Ele abre um sorriso.
— E por que você ainda não foi atrás dele? Quem é ele? — questiono impaciente.
— Sarah. Trabalhou pra mim alguns anos atrás, era a minha melhor advogada, papai inclusive ofereceu-lhe uma porcentagem do escritório porque o concorrente só cogitou tentar contratá-la. Ela parou de advogar quando ganhou uma causa, e o réu que foi inocentado graças a ela, causou a morte de uma criança de três anos, isso foi cinco anos atrás.
— E você sabe onde encontrá-la?
—Eu não, mas o Murilo sabe. — ele sorri — Vai pra o hotel e já posiciona a equipe de marketing, com sorte eu convenço Sarah a voltar e entro com ela pela porta do seu escritório ainda hoje.
— Eu espero que essa Sarah valha realmente todo esse tempo, João… — olho sério pra ele que assente.
— Ela vale, meu amigo, você verá isso com seus próprios olhos. — Noto uma certa ironia na frase, mas resolvo ignorar.
— Aguardo vocês no hotel, o quanto antes.
Sarah.Sair da sala de espera com o Enrico me acalmou, mas voltar pra cá faz com que meu coração acelere outra vez. Isabela é uma criança linda, a mais amorosa que eu já vi e saber que ela poderia melhorar se o Daniel fizesse o mínimo, me faz ter mais ódio do que eu gostaria de admitir.Sento ao lado da Alexia e deito a cabeça em seu ombro, recebendo um afago nos cabelos:— Eu te amo tanto, Lexa... obrigada por segurar a barra por mim.— Até o fim, lembra? Nós prometemos. — Ela me abraça e eu assinto, com os olhos cheios d’água.Alexia perdeu a mãe quando tínhamos cerca de oito anos, nunca conhecemos o seu pai. O tio Lira era casado com a mãe dela, mas quando a tia se foi, foi na minha casa que Lexa buscou abrigo.Seguramos a barra uma da outra incontáveis vezes desde então. Foi ela quem esteve comigo quando meu pai se foi e minha mãe resolveu sumir pelo mundo. Nos apoiamos e acolhemos todas as vezes que foi preciso e sem ela, eu já teria enlouquecido.Fecho os olhos encostada nela e
Enrico.De todas as coisas que eu poderia ter dito a ela, escolhi o silêncio. Nós não nos conhecemos o suficiente para que eu seja um ombro amigo, mas eu não poderia deixá-la simplesmente enlouquecer na sala de espera, então, a acompanhei.Saio da sala com João logo atrás de mim e assim que nos afastamos o suficiente, eu paro:— Era isso o que eu não podia saber, João? — Vejo meu amigo suspirar irritado e de cara, vejo que tem algo a mais — O que eu ainda não sei nessa história?— Continua sendo a história da Sarah, Enrico, eu não posso simplesmente contar.— Qual é o tipo sanguíneo da garota?— O negativo, por quê? — Meu sorriso se alarga — Espera, esse é o seu tipo sanguíneo! Seu olhar começa a se iluminar, mas logo o ar de preocupação retorna — Mas você ainda precisaria fazer os exames, tudo seria tão mais fácil se o... se aquele maldito fosse homem!— João? — Coloco a mão no ombro dele — Quem é o pai dela? — Ele nega — Pela idade da menina, ele trabalhou com vocês e se ele era par
Sarah.O entra e sai de médicos dentro da UTI é enlouquecedor. Não há respostas e tudo o que eu julgo saber, faço pelos semblantes aflitos da equipe.Ando de um lado pra o outro dentro da sala de espera, abro um botão do vestido me sentindo sufocada, sento em uma das cadeiras e puxo meus cabelos tentando desesperadamente manter o controle, mas é em vão.Vejo Doutor Isaac saindo da sala com o semblante cansado e fico de pé, indo até ele:— Como ela está? — Pergunto aflita, minha voz saindo por um fio.— Estável, mas vai precisar ficar aqui até o resultado dos exames. — Um longo suspiro lhe escapa, daqueles dados logo antes da revelação de um problema. — Olha Sarah, eu preciso ser bem claro aqui. Isabela está frágil, sequer podemos cogitar outra radioterapia, nossa melhor chance seria o transplante.— Mas esbarramos no tipo sanguíneo dela, não é?— A ficha dela mostra o tipo sanguíneo do pai, que é compatível....— Se dependesse daquele maldito, Isabela sequer teria nascido. — Jogo meu
Enrico.Acordo pela manhã cansado, como se houvesse corrido meia maratona na noite anterior e nesse caso, não corri sequer um terço do que preciso até a maldita linha de chegada.As reportagens tendenciosas continuam insuportáveis mesmo depois de três dias do ocorrido. Tive pouco contato com a Sarah desde a primeira reunião, mas ela conseguiu coisas inimagináveis desde então, como por exemplo, retirar reportagens do ar em tempo recorde, lidar com hóspedes histéricos ameaçando nos processar e fazendo a contenção de danos de uma maneira extraordinária.Meus cães finalmente chegaram em casa e depois de amanhã, na sexta, Yasmin vai vir pra cá, porque eu preciso começar a resolver as coisas.Desço as escadas exausto, sentindo o cheiro de café vindo da cozinha, mas assim que meus pés tocam o último degrau, a imagem da Alice entrando em casa me faz suspirar, prevendo problemas.— Bom dia, Sr. Enrico.— Bom dia, Alice. — me aproximo — Temos algo marcado?Vejo seu olhar duvidoso e cruzo os bra
Sarah.O dia passou arrastado e agora, perto no anoitecer, apenas espero o ok do João sobre o despacho, enquanto martelo qualquer maldita ligação do maço de cigarros com a cena do crime.Na teoria, assim que a liminar for concedida e o Durán voltar ao normal, o meu trabalho aqui acaba e isso independe do resultado das investigações. Na prática, a junção de todas as provas reverbera na minha cabeça a ideia de que não houve suicídio, mesmo que eu não tenha nada concreto para sustentar o contrário.— Dona Sarah!? — Um dos estagiários se aproxima.— Só Sarah, Felipe. Alguma novidade?— Marcos costumava receber muitos presentes e recebeu mais um, dois dias antes do ocorrido.— Identificaram o remetente? — Pergunto interessada e ele nega — Pois eu preciso que ele seja identificado o mais rápido possível.Paro de falar quando meu celular começa a tocar e eu atendo, vendo que se trata da Alexia:— Alô?— Sarah... — A voz preocupada me deixa em alerta — Isabela está com febre. O doutor Isaac a
Enrico.Sarah é inegavelmente uma mulher linda, mas algo em seu olhar sempre me prende e o motivo não me parece bom. Hoje ela parece especialmente cansada, não pude deixar de notar seus olhos que estão vermelhos como se tivesse chorado e assim que entro na minha sala e vejo o semblante bravo do João, imagino que ele tenha algo a ver com o choro.— Boa tarde, meninos. — Cumprimento e eles meneiam a cabeça, irritantemente iguais. — Alguma novidade?— Sarah já conseguiu retirar a maior parte dos boatos na mídia e está tentando a liberação do andar. — João explica, mas seu olhar segue fixo na direção do irmão que suspira frustrado — É provável que ela tenha algo ainda hoje.— Por falar em Sarah...Olho na direção do Murilo, que faz um sinal negativo com a cabeça e senta em uma das poltronas, ao passo que João senta ao seu lado, sem parar de me olhar:— Pelo visto a cara de choro dela lá embaixo tem a ver com vocês.— Olha, eu vou ser bem direto aqui e espero que isso não mude a maneira c
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