Capítulo 04

Enrico.

Após o nosso péssimo primeiro contato, seguido pelo sorriso vitorioso da tal Sarah, seguimos em silêncio logo atrás dela que anda a passos largos indo na direção da sala de conferências.

De repente ela simplesmente para, tão inesperada e intempestivamente quanto quando entrou na sala pela primeira vez. Como eu não esperava seu movimento brusco e andava tão apressado quanto ela, acabo esbarrando em suas costas e ela quase cai com o impacto, mas é impedida pelos meus braços:

— Perdão, Sarah — me desculpo já esperando a próxima patada — Você parou de andar do nada e eu esbarrei em você.

— Tudo bem Enrico, agora já pode me soltar. — Me olha por cima dos ombros.

— Desculpa — falo de olhos arregalados soltando-a rapidamente — Não foi minha intenção ser invasivo, é só que eu achei que…

— Ei, eu não vou te morder porque você me impediu de cair. – Interrompe, com as sobrancelhas erguidas — Só não acho que tenhamos intimidade para mais proximidade que o necessário. – Finaliza o assunto voltando a caminhar.

Enquanto seguimos de volta para a sala de conferências, olho os gêmeos sorridentes e encaro o João com dezenas de perguntas rondando a minha cabeça, e ele, percebendo, apenas sinaliza que conversaremos depois.

Quando finalmente entramos na sala, o olhar da Mayra é de raiva,  enquanto todos os outros têm olhares de curiosidade. Sarah, que aparentemente odeia perder tempo, encara a loira raivosa e começa a falar:

— Mayra, não é? — Mayra assente — Então, Mayra, creio que começamos com o pé esquerdo e talvez eu tenha sido um pouco enérgica, mas se vamos trabalhar juntas, precisamos consertar isso e ao menos conviver em paz.

— Então, Sarah — Mayra começa a falar olhando a morena com desdém — Eu sequer achei que você voltaria a essa sala, mas já que você voltou, vamos deixar algo bem claro – se aproxima da morena que não desvia o olhar — Eu sou a diretora de marketing daqui e me recuso a trabalhar com uma novata que acha que pode me dar ordens.

— Ótimo – Sarah sorri — Você já me poupa o trabalho de ter que ensinar uma veterana a trabalhar. – fala com sarcasmo — Já pode sair da sala Mayra,  porque eu preciso começar a coordenar as coisas por aqui.

— Escuta aqui! – Mayra sobe o tom de voz, eu penso em intervir mas Murilo faz um sinal negativo com a cabeça e eu paro.

— Escuta aqui você... – Sarah interrompe com a voz baixa, porém, firme. — Eu não vou perder tempo brigando com você, porque nós não temos esse tempo. Se você quiser se juntar a nós e trabalhar, será bem-vinda, caso contrário, pode ir embora. – Desafia — Então, o que me diz?

A tensão na sala é palpável, nenhuma das duas desvia o olhar, então eu finalmente resolvo intervir:

— Mayra, por favor, ocupe o seu lugar. — Ela assente ainda com o semblante de puro ódio — Sarah, pode começar a falar. – Acabo de falar sentando na minha cadeira, ao passo que os outros fazem o mesmo.

— Pelo que eu pude apurar da situação, me parece óbvio que a tese de suicídio não faz sentido. Eu ainda preciso estudar os laudos preliminares e a pasta que o sargento Lira gentilmente me forneceu, junto com absolutamente tudo o que conseguirmos a respeito do ator, que tiver sido veiculado pela mídia ultimamente.

— E quanto aos repórteres? Eles precisam de algo, ou não teremos paz. — Um dos rapazes do marketing pergunta.

— Minha sugestão é que você, Enrico – ela fala olhando pra mim — Dê a entrevista, afirme que está prestando todos os esclarecimentos necessários à justiça, mas que ainda não pode falar muito sobre o caso, já que nem a perícia concluiu as investigações.

— A imprensa vai sustentar a tese de suicídio. — Mayra fala ainda com irritação.

— E ele vai responder que ainda não tem elementos pra corroborar qualquer teoria. – Sarah rebate — Por hora, eu preciso da escala dos funcionários do hotel, quem estava responsável pelo serviço da suíte 202, bem como as imagens das áreas comuns do hotel, especialmente do andar dele. Sua equipe pode cuidar disso, Mayra?

— Conversaremos com a segurança e você terá tudo o mais breve possível. – Mayra começa a desfazer a cara feia e Sarah concorda com um meneio de cabeça.

— Bom, resolvida a parte da imprensa, eu preciso ir até os investigadores e vou precisar de assistentes pra isso. – Ela continua — João, o escritório ainda tem aqueles estagiários que ficam o dia inteiro redigindo documentos e servindo café?

— Sarah… – João adverte e ela ri abertamente, pela primeira vez desde que entrou aqui.

— Eu te avisei que as cartas seriam minhas se eu voltasse ao jogo... – dá de ombros — além do mais, eu sempre te falei pra dar uma função mais útil a eles, está ai a sua chance. — Sarah finaliza, ainda rindo.

— Saiba que depois disso tudo ser resolvido, você vai voltar a trabalhar pra mim, não importa quantas desculpas você tenha pra negar isso. – João fala apontando o dedo pra ela que continua rindo, mas concorda — Eu vou ligar pra o escritório agora mesmo. De quantos estagiários você precisa?

— Pelo menos cinco. —João assente já saindo com o celular em mãos — Agora se vocês me derem licença, vou conversar com o sargento Lira. Murilo, me espera voltar? Preciso que você me deixe em casa, tudo bem?

— Claro que deixo – ele fala encarando Sarah que se encolhe um pouco — Até porque nós temos muito o que conversar, não é?

— Depois, Murilo. – Ela é firme — Depois eu te explico tudo. Agora eu tenho que ir, qualquer coisa estou com o celular.

Sigo de braços cruzados, em silêncio e admirado com a facilidade com que Sarah coordena as próximas ações. Estou curioso quanto ao motivo que a fez parar de advogar, já que pelo que eu pude notar logo de cara, ela é realmente tão boa quanto João garantiu que era.

Perco um tempo observando o movimento dos quadris dela deixando a sala e assim que a porta é fechada, encaro Murilo que ainda tem uma expressão preocupada no rosto:

— Murilo? — chamo e ele me olha — Qual o mistério envolvendo a Sarah? – Pergunto e ele suspira cansado.

— Eu adoraria poder falar, mas essa história não é minha, Enrico. – Murilo senta na cadeira à minha frente — Lembra daquele caso da garotinha encontrada morta dentro do próprio quarto, alguns anos atrás?

— Claro que lembro, o caso ficou famoso porque o assassino era um cliente do escritório.

— Você não vai lembrar os detalhes, porque na época, você estava às voltas com a sua ex esposa, mas algumas semanas antes, o infeliz foi absolvido de um outro crime porque todas as provas apontavam para a inocência dele. — Murilo faz uma pausa, estala os dedos e continua – Sarah foi responsável pela absolvição do homem e duas semanas depois, ele matou a menina.

– Uau, por essa eu não esperava! Foi isso que fez ela parar de advogar? – ele assente — Mas pelo visto você não perdeu contato com ela, não é?

— Essa é a parte da história que eu não posso te contar. – Suspira frustrado. — Nem eu sei muitos detalhes e alguns eu só descobri hoje, vou conversar com ela quando for deixá-la em casa.

— Tudo bem, mas eu quero mais detalhes, uma vez que ela vai trabalhar pra mim. – Falo ao mesmo tempo que João entra na sala

— Ela vai trabalhar com você. – Ele enfatiza – Não esqueça disso. – João cruza os braços e encara o irmão — E você vai me contar direitinho essa história da Sarah e da criança.

— Criança? — Pergunto, olhando de um pra o outro.

— Eu vou conversar com a Sarah primeiro, depois ouço os questionamentos de vocês e isso não está em discussão. – Murilo finaliza o assunto já ficando de pé — agora eu vou na copa buscar um café, porque o dia está sendo longo e eu ainda preciso ir na boate a noite.

— A Sweet? Você ainda frequenta? — Pergunto animado e João gargalha, ao passo que Murilo olha feio pra ele.

— O que é tão engraçado, João? – Cruzo os braços.

— A boate é do Murilo há anos! – Arregalo os olhos — E eu não preciso lembrar porque quero você bem longe de lá, preciso, Enrico?

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