Capítulo 03

Sarah.

Surreal.

É a única coisa que eu consigo repetir vendo as dezenas de matérias espalhadas pelos canais de fofoca e a grande maioria delas sustenta uma tese que, honestamente, não está me parecendo fazer o menor sentido.

— E então, Sarah, você vai pegar o caso? — João pergunta nervoso, pela milésima vez.

— Qual a sua relação com o dono da Durán? — pergunto curiosa — Se eu bem me lembro, na minha época você não ia tão longe assim por ninguém. — Ele suspira fundo e eu continuo — Um ator de público teen, todos os holofotes virados pra o seu escritório... não é o tipo de causa que você iria pegar.

— Enrico é nosso amigo de infância — explica — eu não tinha como deixar o caso, mas eu também não posso jogar os meus advogados lá, nenhum deles conduziria a causa tão bem quanto você.

— Já faz cinco anos, João. — encaro seus olhos verdes e ele nega — Eu vou tentar te ajudar, mas não sei se vou conseguir.

— Isso é um sim? — pergunta animado e eu assinto — Ótimo, e depois eu quero saber direitinho sobre a sua filha, o que você anda fazendo e como Murilo sempre te encontra tão rápido.

Olho pra o Murilo que dá de ombros e resolvo focar no que realmente importa por hora, então, passo os próximos quarenta minutos lendo sobre o caso, pesquisando matérias antigas sobre ele e buscando qualquer coisa que corrobore a teoria do suicídio, mas quanto mais eu leio, menos acredito nisso. Não faz o menor sentido um ator depressivo a ponto de cometer suicídio, abraçar uma série do tamanho da que ele estava fazendo, muito menos manter outros dois projetos paralelos enquanto aparece em várias ocasiões públicas, extremamente apaixonado pela noiva.

— A tese principal é de que foi suicídio... — João chama a minha atenção — É o que estão especulando.

— Você se lembra da Júlia? — pergunto sobre uma das advogadas mais brilhantes que tivemos e que se suicidou um ano antes do meu afastamento — Ela mudou drásticamente com a depressão, lembra? — João assente — Um suicida não vai manter tudo o que esse ator manteve sem dar nenhum indício de erro.

— Ele pode ter escondido bem. — Murilo argumenta e eu nego.

— Sem indícios de abuso de droga ou bebida, nunca se envolveu em uma briga, estava muito ativo com três trabalhos ao mesmo tempo, muito bem com a noiva... — divago — Não faz sentido.

— Você acha que foi assassinato? — Murilo pergunta enquanto João estaciona no hotel e sai, abrindo a porta pra mim.

— É o que vamos descobrir. — Seguro sua mão e saio do carro.

Entro com os gêmeos pelo saguão do hotel e após conseguirmos desviar da horda de repórteres e fãs alucinados, seguimos até o local onde a polícia está trabalhando; sorrio largamente quando vejo o perito responsável:

— Tio Lira? — Chamo sua atenção e ele vem até mim sorrindo — Quanto tempo! — Abraço o homem à minha frente — O senhor é responsável pela investigação?

— Sou e já estou cansado desse monte de adolescentes no meu pé. — Sorri fraco — E você? O que faz aqui? Resolveu voltar?

— Resolveram por mim — aponto João atrás de mim — Tio, é possível me dar uma cópia do que vocês têm até agora? — ele coça a cabeça, me olhando duvidoso — Por favor, eu não vou usar judicialmente, só quero ter por onde começar.

Ele me olha, sai sem falar nada e volta pouco depois com uma pasta preta, com uma tarja vermelha escrito confidencial e a insígnia da polícia Civil.

— Use com sabedoria e não me traga problemas, por favor. — Ele pede e eu assinto, beijando sua bochecha e saindo seguida de perto pelos meninos.

No trajeto feito de elevador, eu vou lendo boa parte dos documentos e a cada novo detalhe, a minha teoria sobre o suicídio se confirma. João sai do elevador e vai até a secretária que tem os olhos inchados de chorar, assim que ela nos libera, seguimos até a sala de conferências bem a tempo de ver a loira dando a ideia mais idiota da vida dela: dar uma entrevista pra sustentar a tese de suicídio, tendo como base as notícias dos sites de fofoca.

Meu sangue ferve quando ela me trata com desdém e ferve ainda mais quando o homem, que julgo ser o dono do hotel, me trata com uma grosseria que eu faço questão de devolver no mesmo nível, deixando a pasta do Tio Lira com ele e saindo sozinha da sala.

Saio rapidamente com a intenção de entrar no primeiro taxi e voltar pra casa esquecendo de vez toda essa merda, mas sequer tenho tempo, quando a voz do idiota troveja atrás de mim:

— Ei garota, volta aqui! — Ele esbraveja e se aproxima, segurando meu braço.

— Enrico, calma! — João adverte.

— Porra, Enrico! — Murilo se coloca ao meu lado.

— Quem você acha que é pra falar comigo daquela maneira na frente dos meus funcionários?

— Primeiro, solte o meu braço, eu não te conheço e não lhe dei qualquer liberdade pra me tocar. — Ele arregala os olhos, mas obedece, me soltando — Segundo, eu te tratei exatamente da maneira que fui tratada e se você quer mesmo que eu conduza essa merda toda, esteja ciente de que vai ser sempre assim! — Encaro seu olhar surpreso — Terceiro e mais importante: você precisa de mim, não o contrário, então já deixo claro que eu não sou sua funcionária e não pretendo aceitar suas grosserias, então, ou você se compromete a agir com o mínimo de educação, ou eu dou meia volta e deixo você se afundar sozinho, você escolhe.

Vejo o homem bravo à minha frente respirar fundo, ao passo que olho feio pra o Murilo e seu sorrisinho satisfeito pela minha resposta. O tal Enrico está tão irritado, que a veia saltada em seu pescoço, junto com a respiração pesada, denuncia o esforço que ele está fazendo pra me responder sem surtar.

Ele demora um pouco pra me responder e só o faz após respirar fundo algumas vezes e passar as mãos no rosto, controlando o próprio nervosismo:

— Ok, vamos recomeçar então. — Um longo suspiro cansado lhe escapa — Eu sou Enrico, dono da rede e amigo dos meninos, João me garantiu que você é a melhor pra conduzir o caso e eu confio no julgamento dele. —Me encara profundamente, me fazendo corar — Me desculpe por ter sido grosso, eu estou me sentindo pressionado e agi sem pensar, você pode voltar, por favor, Sarah?

— Agora estamos começando a nos entender. — Sorrio debochada e ele revira os olhos — Podemos voltar.

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