Anos atrás, Caio Montenegro era um jovem sonhador, apaixonado por Júlia Ferrer, uma herdeira de família tradicional. Eles planejavam um futuro juntos, mas tudo mudou quando Caio foi injustamente acusado de um desfalque milionário na empresa do pai dela. Traído, humilhado publicamente e preso, Caio passou sete anos amargando o inferno, sem entender por que Júlia havia desaparecido de sua vida no momento em que ele mais precisava dela. Agora, ele está de volta. Mais rico, mais poderoso, mais frio. Como CEO de um império bilionário, Caio só tem um objetivo: vingança. Ele quer fazê-la sofrer como ele sofreu. Quer vê-la de joelhos. Quer destruir cada pedaço da vida dela. Mas o que Caio não esperava era reencontrar uma Júlia muito diferente... mais forte, com seus próprios fantasmas... e ainda mais irresistível. Enquanto o passado volta à tona e verdades enterradas começam a vir à superfície, Caio vai perceber que a linha entre o ódio e o amor é mais tênue do que ele imaginava. Afinal... o segundo amor pode ser ainda mais intenso, mais perigoso... e melhor que o primeiro.
Ler maisO cheiro de mofo e ferro enferrujado impregnava o ar. As paredes de concreto descascadas pareciam mais próximas a cada dia, como se quisessem engoli-lo. O tempo, ali dentro, não era medido por relógios, mas por gritos distantes, por passos pesados dos guardas e pelas noites em que o frio cortava a pele como lâminas invisíveis.
Caio Montenegro sentou-se no canto da cela, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos cobrindo o rosto. As primeiras semanas haviam sido as piores. A traição. A humilhação pública. As manchetes de jornais com seu rosto estampado, acompanhado de palavras como "ladrão", "golpista", "traidor".
Ele, que nunca roubara nada além de alguns sonhos inocentes de um futuro com ela.
Júlia.
O nome dela ainda doía mais do que qualquer golpe que recebera ali dentro.
Caio respirou fundo, tentando afastar as lembranças. Não adiantava. Por mais que quisesse odiá-la, por mais que desejasse apagá-la da memória, as cenas insistiam em invadir sua mente. O sorriso dela, as promessas, os planos… tudo antes da queda.
O som de uma tosse violenta quebrou o silêncio da cela ao lado.
Caio se levantou num impulso. Caminhou até as grades enferrujadas e olhou para o velho Joaquim, o detento que dividia aquele pedaço de inferno com ele nas últimas semanas.
— De novo, Joaquim? — Perguntou com preocupação. — Precisa de água?
O velho assentiu, com dificuldade. Caio encheu um copo de plástico e estendeu por entre as grades. Joaquim bebeu em goles curtos, como se cada um fosse o último.
— Você não vai durar muito assim — disse Caio, sentando-se novamente no chão.
Joaquim sorriu, um sorriso torto, quase irônico.
— Ninguém dura muito aqui dentro, garoto… Mas você… você é diferente.
Caio arqueou a sobrancelha.
— Diferente como?
— Você tem algo nos olhos… algo que eu só vi em poucos homens… — O velho parou para recuperar o fôlego antes de continuar. — Fome. Mas não é fome de comida… É fome de justiça.
Caio deu uma risada amarga.
— Justiça… — repetiu, como se a palavra tivesse um gosto ruim na boca. — Isso aqui… isso é justiça?
Joaquim tossiu de novo, mas o olhar permanecia firme.
— Não… isso aqui é o fim de muitos. Mas alguns poucos… transformam o inferno em sede de vingança.
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Passaram-se meses. Joaquim ficou cada vez mais fraco. Caio cuidava dele como podia: dividia o pouco de comida decente que conseguia, o cobria nas noites frias, e, nas raras visitas da assistente social, fazia questão de pedir medicamentos para o companheiro de cela.
Na última noite de vida de Joaquim, o velho chamou Caio até a grade.
— Ouça bem, garoto… — disse com a voz rouca e cansada. — Eu não tenho família lá fora. Não tenho ninguém. Mas tenho um advogado. Um homem de confiança. Anote esse nome…
Joaquim ditou o nome e o número de telefone de um certo Dr. Eduardo Bastos, advogado criminalista conhecido por cuidar de casos complicados e de heranças inusitadas.
— Quando você sair daqui… procure por ele. Diga que Joaquim pediu pra ele cuidar de você… como se fosse meu próprio filho.
Caio tentou protestar.
— Joaquim, eu não posso aceitar…
— Pode sim… e vai aceitar. — O velho interrompeu, com a força de quem não queria mais ouvir negativas.
— Você me deu mais tempo de vida aqui dentro do que eu teria sozinho. Agora é minha vez de garantir o seu futuro… do jeito que eu puder.
Joaquim morreu naquela madrugada.
Dois anos depois, Caio finalmente teve sua liberdade concedida. Um erro processual, uma revisão de provas… ou talvez o acaso. Não importava. O que importava era que ele estava fora.
Mas o mundo lá fora… era um campo de batalha.
Sem dinheiro, sem reputação, com uma ficha criminal sujando cada entrevista de emprego. Dormiu em abrigos, passou fome, carregou caixas, trabalhou em construções. Durante semanas, pensou em desistir. Mas o nome de Joaquim e o contato do tal advogado permaneciam guardados, como uma promessa silenciosa.
No dia em que a fome e o desespero atingiram o limite, Caio decidiu ligar.
Dr. Eduardo Bastos o recebeu em um escritório simples, mas organizado. Um homem de meia-idade, de aparência séria, mas com olhos atentos.
— Você é… o garoto de Joaquim? — Perguntou o advogado, assim que Caio entrou.
Caio assentiu, um tanto constrangido.
Eduardo abriu uma pasta e retirou alguns documentos.
— Seu nome foi incluído no testamento dele. — O advogado continuou. — Não é uma fortuna qualquer, Caio… Joaquim tinha investimentos em fundos discretos, imóveis fora do radar… Ele era mais do que um simples preso comum. Antes da prisão … ele fora um investidor de sucesso.
Caio congelou.
— Está brincando comigo…
— Não. — Eduardo respondeu, com firmeza. — Ele deixou tudo para você. Mas tem uma condição.
— Qual?
O advogado sorriu de leve.
— Que você reconstrua sua vida… e faça o que for preciso para limpar o seu nome.
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Os anos seguintes foram uma mistura de trabalho duro, noites insones e decisões calculadas.
Caio investiu cada centavo com inteligência. Aplicações em startups promissoras, compra de ações de empresas em crise, reestruturação de pequenos negócios à beira da falência. Cada passo era minuciosamente planejado.
Ele aprendeu a argumentar com investidores, a lidar com conselhos administrativos, a negociar como um tubarão.
Quando percebeu, já não era apenas um homem tentando sobreviver. Era um predador.
O Montenegro Group nasceu pequeno, mas cresceu rápido. Uma fusão aqui, uma aquisição ali. Caio soube escolher os alvos certos, as oportunidades certas… como se cada movimento fosse parte de um jogo de xadrez.
E, o tempo todo… o nome dela.
Júlia.
Ela nunca deixou de habitar os recantos mais sombrios da sua mente. Por mais que tentasse enterrá-la… a lembrança permanecia. O rosto dela, as lágrimas que ele nunca soube se eram verdadeiras ou fingidas, a expressão de pânico no dia da prisão.
Agora… com o poder nas mãos… ele estava pronto.
Pronto para voltar.
Pronto para cobrar cada lágrima, cada humilhação.
Pronto para fazê-la sentir… tudo o que ele sentiu.
Caio olhou pela janela de seu escritório, no último andar de um arranha-céu no centro financeiro da cidade.
A Ferrer Incorporadora seria apenas o primeiro passo.
Porque, para ele, aquele jogo… estava apenas começando.
O carro cortava a estrada escura em uma velocidade constante. As luzes do painel iluminavam os rostos sérios de Caio e Júlia. Do lado de fora, a noite parecia prender a respiração, como se o mundo aguardasse o que seria revelado naquela chácara isolada.— Como souberam onde ele estava? — Júlia perguntou, olhando pela janela.— Um dos nossos investigadores rastreou transferências bancárias incomuns feitas para a filha dele, em nome de uma instituição beneficente fictícia. Cruzando as datas com deslocamentos por aplicativo de entrega, chegamos até a propriedade. — Caio respondeu, sem tirar os olhos da estrada.— E ele quer falar conosco?— Sim. Mas exigiu que nós fôssemos pessoalmente. Disse que confia mais em quem também teve a vida destruída por Otávio.Júlia apertou os punhos sobre o colo. Seu coração batia com força. O nome do contador — Elias Guerra — era uma sombra antiga. Um fantasma mencionado nos documentos que seu pai tentou apresentar à promotoria e que desapareceram misterio
O hospital central ainda mantinha o clima tenso da emergência recente. Júlia correu pelos corredores com o crachá do Montenegro Group ainda pendurado no pescoço, como se aquilo abrisse todas as portas que seu desespero não conseguisse romper.— Senhorita Ferrer? — chamou uma enfermeira. — O senhor Montenegro pediu que a acompanhasse direto para o quarto. Ele está em observação, mas acordado.— Ele está bem? — Júlia perguntou, tentando controlar o tom urgente da voz.— Sim. Um corte superficial. Concussão leve. Ele teve sorte. — A enfermeira fez uma pausa, quase sorrindo.— Mas está de mau humor.— Isso quer dizer que ele vai sobreviver.A porta do quarto estava entreaberta. Júlia bateu uma vez e entrou.Caio estava recostado na cama, com um curativo lateral na cabeça e um hematoma na têmpora. Ainda assim, estava com a expressão irritada de quem odiava estar vulnerável.— Você está bem? — ela perguntou, se aproximando.— Melhor agora que você chegou. — Ele tentou sorrir, mas sua expres
O dia seguinte começou como qualquer outro: a cidade despertando em meio ao trânsito crescente, o som dos aviões no céu e o burburinho de sempre na Montenegro Group.Mas, para Júlia e Caio, não havia mais dias comuns.Desde a visita de Júlia a Otávio, algo havia mudado entre eles — e ao redor deles. A atmosfera estava mais tensa, os olhares no escritório mais atentos, como se todos pressentissem que algo grande estava prestes a acontecer.Caio chegou mais cedo naquele dia. Quando entrou em sua sala, encontrou um envelope pardo sobre a mesa. Sem identificação. Nenhuma marca visível.Ele o abriu com cuidado.Dentro, havia apenas uma folha.“O passado cobra seu preço.”E junto dela, uma foto antiga.Era do pai de Júlia, na época do julgamento. Caído nos degraus do tribunal, cercado por câmeras e flashes. A imagem de um homem destruído.Caio sentiu a raiva subir como fogo em seu peito.Aquilo era uma provocação.E um aviso.__________________________________________________No meio da man
Júlia acordou cedo, muito antes do despertador tocar. O céu ainda estava escuro, e a cidade parecia recuperar o fôlego antes do início de mais um dia.Sentou-se na poltrona da varanda com um café forte nas mãos e o coração inquieto. Desde o jantar com Caio e a sabotagem na sede, algo havia mudado dentro dela.Não queria mais esperar.Não podia ser apenas protegida.Precisava agir.Pela primeira vez em anos, sentia que tinha as ferramentas — e agora, também a coragem — para enfrentar quem havia destruído tudo o que ela amava.Foi até o closet improvisado do hotel, vestiu uma calça de alfaiataria, uma blusa de seda sóbria e prendeu o cabelo em um coque firme. Estava pronta.Não como filha da Ferrer.Não como assistente do CEO.Mas como Júlia.__________________________________________________Antes das oito, ela já estava em seu escritório na Montenegro, lendo e relendo os documentos da pasta que Caio lhe entregara dias antes. Sabia que Otávio tinha um escritório no mesmo bairro, disfar
O Montenegro Grand Hotel era um dos mais sofisticados da cidade. Suas suítes executivas, normalmente reservadas a diplomatas, artistas ou investidores milionários, agora seriam o novo lar temporário de Júlia.Ao entrar no quarto designado por Caio, ela sentiu um desconforto que não vinha do luxo, mas da sensação de estar sendo “guardada”. Como se sua liberdade tivesse sido embalada em papel de seda e trancada em um cofre dourado.Ela observou lentamente a suíte, absorvendo os detalhes: o mobiliário de linhas minimalistas, a paleta neutra e sofisticada, a varanda com vista panorâmica da cidade. Sobre a cama, um bilhete em papel timbrado:“Você está segura aqui. Não é muito, mas é o que posso oferecer no momento. – Caio.”Ela leu a mensagem duas vezes. Curta. Formal. Mas carregada de intenção.Suspirou e largou o bilhete sobre a mesinha de cabeceira. O telefone fixo tocou no mesmo instante.— Senhorita Ferrer? — disse a voz na linha. — O senhor Montenegro solicita sua presença para jant
Dois dias depois do confronto com Otávio, o Montenegro Group fervilhava em clima de tensão. Caio andava com passos mais rápidos pelos corredores, e Júlia já não conseguia contar quantas reuniões haviam sido remarcadas ou canceladas de última hora.Era evidente que algo estava prestes a acontecer.E aconteceu.Na manhã de quinta-feira, o celular de Júlia vibrou com uma notificação de um dos portais mais lidos da cidade. A manchete saltava da tela como um soco:“Ex-executiva da Ferrer Incorporadora reaparece ao lado de Caio Montenegro"A foto anexada era dela, saindo do jantar com o conselho no hotel, ao lado de Caio. A legenda insinuava que a aproximação poderia estar ligada a estratégias internas para “ressuscitar o nome Ferrer” no mercado — e colocava em dúvida a legitimidade de sua recontratação, sugerindo nepotismo, favorecimento… e escândalo.Júlia sentiu a garganta fechar. A matéria inteira era uma mistura de especulação, meias verdades e ataques diretos à sua honra.Ela mal term
Último capítulo