O Jogo Começa

Júlia não sabia como conseguiu voltar para casa naquela tarde. Caminhou pelas ruas como um fantasma, sem prestar atenção ao que acontecia ao redor. O rosto de Caio, a expressão fria, o sorriso de desprezo… tudo se repetia em sua mente como um filme de terror.

Ao fechar a porta de seu pequeno apartamento alugado, encostou-se atrás dela, respirando fundo. Precisava se controlar. Não podia desmoronar. Não de novo.

Largou a bolsa no sofá e foi direto até a cozinha, servindo um copo de água. As mãos tremiam. O gosto metálico na boca denunciava o pânico que ela tentava disfarçar.

Sete anos.

Sete anos desde que ele foi preso.

Sete anos desde que a vida dela desmoronou junto com a dele.

E agora, ali estava Caio Montenegro. De volta. Mais poderoso do que nunca. E claramente disposto a colocá-la no centro de algum plano que ela ainda não conseguia decifrar.

O celular vibrou em cima da mesa, interrompendo seus pensamentos.

Número desconhecido.

Por um instante, pensou em ignorar, mas alguma coisa dentro dela dizia que não era uma boa ideia.

— Alô?

Do outro lado, a voz dele, inconfundível.

— Você ainda atende números desconhecidos, Júlia? — A ironia escorria de cada palavra.

Ela fechou os olhos, respirando fundo.

— O que você quer, Caio?

Ele soltou uma risada baixa.

— Objetiva… Gostei. Vamos direto ao ponto, então. Amanhã, oito da manhã, quero você na sala de reuniões da Ferrer Incorporadora. Tem uma vaga nova pra você.

Júlia quase deixou o celular cair.

— Vaga? Você só pode estar brincando!

— Nunca fui de brincar com coisas sérias. — O tom dele agora estava mais sério, quase cortante. — Considere uma convocação. Se você não aparecer, considere também as consequências.

Antes que ela pudesse responder, ele desligou.

Júlia ficou ali, olhando para o telefone, o coração disparado.

Que tipo de jogo ele estava começando?

Na manhã seguinte, ela acordou antes mesmo do despertador tocar. Não conseguiu dormir direito. Repassou mentalmente cada possível cenário, cada diálogo imaginário, cada forma de se proteger.

Vestiu sua roupa mais sóbria, prendeu o cabelo num coque firme e seguiu para o prédio que, um dia, foi o orgulho da sua família.

O ambiente já era outro.

A fachada da Ferrer Incorporadora agora trazia uma nova placa, discreta, mas impactante: Montenegro Group.

Júlia respirou fundo antes de entrar.

Os funcionários que a conheciam mal a cumprimentaram. Alguns cochichavam pelos cantos. Ela caminhou de cabeça erguida, ignorando os olhares curiosos.

Ao chegar na sala de reuniões, encontrou Caio de pé, ao lado de um quadro com gráficos e projeções de mercado.

Ele a olhou de cima a baixo, como se a analisasse em um leilão.

— Pontual. — Comentou com um sorriso enviesado.

Ela manteve a postura firme.

— Vim saber o que você quer. Não estou interessada em participar de seus joguinhos.

Ele riu, um som rouco, carregado de sarcasmo.

— Ah, Júlia… ainda tão inocente. Quem disse que você tem escolha?

Ela cruzou os braços.

— Você me persegue depois de tudo? Por quê? Não basta ter destruído o pouco que restava da minha vida?

Os olhos dele brilharam por um instante, como se a provocação o divertisse.

— Engraçado ouvir isso de você. — Ele deu alguns passos na direção dela, parando tão perto que ela pôde sentir o perfume amadeirado e sofisticado dele. — Eu perdi sete anos da minha vida por sua causa. Você realmente acha que eu ia simplesmente voltar pra te ignorar?

Ela arregalou os olhos.

— Caio, eu nunca…

— Shhh… — Ele a interrompeu, levando um dedo aos próprios lábios. — Não agora. Em breve, você terá muitas oportunidades pra se explicar.

Virou-se, pegando um envelope em cima da mesa e entregando a ela.

— Está contratada como minha assistente pessoal. A partir de agora, cada passo seu… cada movimento… vai passar por mim.

Júlia abriu o envelope e, ao ler o contrato, o choque foi imediato. O salário era alto demais para ser coincidência. Aquilo era uma armadilha.

— Por que eu aceitaria isso?

Caio sorriu, inclinando-se até sussurrar ao ouvido dela:

— Porque se não aceitar… as poucas oportunidades de emprego que ainda restam pra você… vão desaparecer.

Ela fechou os olhos, sentindo a garganta apertar.

Ele se afastou, pegando a pasta de documentos sobre a mesa.

— Vejo você às nove na minha sala, assistente. Não se atrase.

E, com um último olhar carregado de desafio, saiu da sala.

Júlia ficou ali, com o contrato nas mãos e a certeza de que acabava de entrar num jogo perigoso… onde o coração seria a moeda mais cara.

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