Dark. Dominador. Perigoso. E ele quer tudo dela. Kyra não procurava redenção. Apenas um teto. Um nome falso. Um lugar onde pudesse se esconder dos homens que a usaram, quebraram e descartaram. Quando aceita trabalhar como babá da pequena Julie, encontra uma rotina pacífica — até o pai da menina chegar em casa. Liam Blackthorne. Bilionário, viúvo, brutalmente lindo. Frio como o gelo, e duas vezes mais letal. Ele não queria uma babá. Queria silêncio, controle e distância. Mas Kyra... ela o desafiava apenas ao respirar. Com aqueles olhos que escondiam dor. Com o jeito submisso que ele reconheceu de longe. Ela tinha cicatrizes — mas as dele sabiam como se comunicar com as dela. E foi assim que o jogo começou. Palavras sussurradas no escuro. Ordens que ela não ousava desobedecer. Castigos que ardiam mais na alma do que na pele. Liam não tocava apenas seu corpo. Ele invadia sua mente, sua vontade, suas fraquezas. A quebrava aos poucos — para reconstruí-la à imagem do que ele desejava. Mas há segredos demais entre eles. E alguns, se revelados, podem ser cruéis demais para serem perdoados. Kyra foi treinada para obedecer. Mas Liam quer mais do que obediência. Ele quer possessão total. E não aceita menos do que tudo.
Ler maisKyra
A chuva fina batia no vidro do carro enquanto eu observava os portões de ferro diante de mim. Tenho que agradecer por ter conseguido um emprego, ou estaria completamente sem saída. Mas também confesso que estou morrendo de medo de recomeçar rudo novamente e ser igual a última vez. Aqueles portões. Enormes. Negros. Imponentes. Eu conferi o endereço uma última vez. Era ali. Blackthorne Estate. A mansão que mais parecia uma prisão de segurança máxima. Daquelas que você entra, sem saber se vai sair. O nome parecia saído de algum romance sombrio, daqueles que eu costumava ler escondida antes da vida me arrancar até o prazer de sonhar. Apertei os dedos ao redor da alça da minha bolsa. Não podia errar. Essa era minha chance de começar de novo, mesmo que isso nao seja confortável no começo. De apagar o que veio antes de eu quase me perder. Uma nova cidade. Um novo nome. Um novo emprego. E tudo que eu precisava fazer era… cuidar de uma criança. Uma simples babá. Nada demais. Mas, por que isso ainda parece ser tão difícil? Recomeçar é tão difícil assim? Isabelle já não existe mais. Apenas Kyra. Respirei fundo e desci do carro. Um interfone eletrônico aguardava minha aproximação. Como se tivesse sido posto ali de propósito, mas eu sei que não era. Apertei o botão, e uma voz feminina respondeu com rigidez. Sem esperas. Sem boas-vindas. — Nome? — Kyra Lystem. Vim para a entrevista com o senhor Blackthorne. — Tentei falar sem pressa, mas a verdade era que eu estava mais nervosa do que desejava. Parecia que iria desabar ali mesmo. Houve um silêncio. Longo demais. Então, um clique, e os portões se abriram lentamente. O jardim era meticulosamente simétrico, silencioso como um cemitério rico. A mansão era ainda mais imponente de perto — janelas altas, arquitetura antiga, portas grandes demais e um jardim perfeitamente bem cuidado. Dois cachorros presos por uma cerca, mas não latem, apenas observam. Devem ser como o dono. Calados e nervoso. Um homem de meia-idade abriu a porta antes que eu pudesse bater. Tudo ali soava estranho. — Acompanhe-me. — Sua postura era rígida e severa. — Senhorita Lystem. Não houve “boa noite”. Nem sequer um olhar direto. Apenas silêncio e passos. Os meus eram mais apressados que os dele. Eu me sentia pequena, frágil. Invisível diante tudo que estava sendo exposta. — Irei avisar ao senhor Blackthorne que a senhorita chegou. Aguarde aqui, por favor. — Assenti e fiquei ali, imóvel diante aquela porta de vidro tão fumê que não dava para ver nada lá dentro. Mas quando entrei no escritório, tudo mudou. Ele estava ali. Sentado atrás de uma mesa ampla de mármore negro, com um copo de whisky à mão e um olhar que cortava mais fundo que qualquer faca que já encostaram em mim. Ele parecia um aviso. Liam Blackthorne. Era mais jovem do que eu imaginava. Talvez 35. Talvez menos. Mas parecia ter milênios de controle armazenados sob aquela pele pálida e os olhos que não sorriam. Então, a minha sentença estava prestes a começar. E eu era péssima em me defender. — Senhorita Kyra — ele disse, sem emoção. — Sente-se, por favor. Não hesitei, apenas fiz o que ele mandava. Não queria errar nada ali, apenas ser contratada. Tenho contas. Atrasadas demais Liam Ela parecia com medo. Nervosa e sem saída. E isso, por algum motivo, me agradava mais do que eu deveria admitir. Não o tipo de medo histérico, barulhento. Mas o medo silencioso. O respeitoso. O que fazia a espinha dela se manter ereta e o queixo quase firme, apesar dos olhos hesitarem, ela deixava tudo escapar sem nem mesmo perceber. Estava diante da visão perfeita. Ela era o que eu estava procurando, porque ainda que estivesse com medo, ela ainda permanecia ali. Discrição. Era tudo que eu exigia. E parece que ela sabia exatamente o que falar. — Experiência com crianças senhorita? — perguntei, sem rodeios. — Há quanto tempo? — Sim. Com três famílias nos últimos cinco anos. Todas… particulares. Tenho experiência de 6 anos, senhor Blackthorne. Ela hesitou no final. Ah, havia algo ali. Uma história não dita. Eu reconhecia esse tipo de silêncio. Era o mesmo que eu ouvia em mim mesmo, sempre que Julie perguntava por que a mamãe não voltava. Por todas as vezes que ela me pediu para ligar para a mãe dela e eu tive que inventar uma mentira ruim. — Por que saiu do último emprego? — Ela buscava as palavras certas para responder, mas ali eu percebi que Kyra não estava sendo ela mesma. — A família se mudou. Para fora do país — mentiu. — Eu não pude acompanhá-los, senhor. Então precisei ir em busca de um emprego. E cá estou eu. Não soube mentir bem. Mas havia algo de útil nisso. Mentirosos ruins são fáceis de prever. E previsibilidade, em minha casa, era um conforto, principalmente vindo da babá da minha filha. Não quero ter qualquer pessoa aqui, é só estou fazendo essa loucura de contratar babá, até que eu termine de fechar alguns negócios. — E por que quer trabalhar aqui? Ela levantou o olhar. Pela primeira vez, direto nos meus olhos. Desafiadora. Por um instante. — Porque preciso — respondeu simplesmente. — E acho que sou qualificada. Li sobre os requisitos e me enquadrei nos quais o senhor procurava. E eu sou dedicada, adoro crianças e não sou invasiva. Dá porta para fora, esqueço tudo. Honesta. Bruta. Quase… bonita. Não daquele jeito plastificado. Mas com a beleza de uma mulher que já caiu no chão e teve que se levantar sozinha. Era o tipo de beleza que doía de olhar, de falar e em respirar até. — Julie tem pesadelos — informei. — Ela não dorme bem. Odeia contato físico. E não gosta de mudanças. Você saberia lidar com isso de forma parcial? Sem precisar se apavorar ou ter que pedir ajuda para lidar com ela? Ela respirou fundo. — Sei respeitar limites. Não forço aproximação. E posso esperar o tempo dela. Contudo, vou oferecer o meu melhor para ter uma boa relação. Eu não vou forçá-la, vou convencê-la que vale a pena. Olhei para ela por longos segundos. A boca firme, o queixo tenso, as mãos cruzadas no colo com um controle que me chamou atenção. Kyra não era doce. Nem submissa. Mas havia algo em sua postura que gritava rendição contida. Obediência com fúria engolida e uma maldita vontade de ser protegida. — Última pergunta — falei, com o tom mais baixo. — Você sabe guardar segredos? — Sei sobreviver a eles. A vida dos outros não me interessam, senhor Blackthorne. Me inclinei um pouco à frente. O ar entre nós pareceu aquecer, mesmo na frieza do ambiente. Ela não desviou os olhos. Abaixei o olhar para o currículo. Nem me importava com ele. Mas me dava tempo. Tempo para absorver o que ela causava apenas estando ali. Suas simples respostas que me deixavam sem mais perguntas. — O quarto da babá é ao lado do de Julie. Para ficar mais perto, para quando ela precisar. Espero que não tenha problemas com isso. Ela hesitou, surpresa. — Estou contratada? — Não gosto de perder tempo, Kyra. Se quiser o emprego, ele é seu. Com algumas regras claras. Ela assentiu, erguendo ligeiramente o queixo. — Pode dizer. Levantei lentamente. Rodeei a mesa e me aproximei até estar perto o suficiente para que ela sentisse minha presença como uma ameaça não declarada. Falei baixo. Quase um sussurro. Mesmo com apenas nós dois dentro daquela sala. — Sem perguntas sobre minha vida pessoal. Sem trazer ninguém para dentro desta casa. Sem invadir o espaço da minha filha... ou o meu. Ela engoliu seco. Mas não recuou. — Entendido, senhor. Eu não me importo com a vida de terceiros. Elas não me interessam. Quanto a trazer alguém, acredito que isso seria um surto de alguém com problemas. O que não é o meu caso. Sorri, de leve. O suficiente para deixá-la em dúvida se aquilo era aprovação… ou um aviso. Embora ela seja sincera. Sincera até demais. — Seja bem-vinda à casa Blackthorne. Espero que a senhorita se adpte bem aqui. Kyra Quando ele saiu, meu coração disparou como um tambor desgovernado. Eu tinha o emprego na casa de um homem arrogante e controlador. E daí eu penso "como será que ele lidar com a sua filha?" Mas não era só isso. Algo naquele homem mexia comigo de um jeito que me deixava em alerta. Não apenas pela maneira como ele falava. Mas pelo que ele não dizia. Liam Blackthorne era perigoso. E, no fundo, uma parte perversa de mim sabia: se eu não tomasse cuidado, ele poderia não apenas invadir meus pensamentos. Mas quebrar tudo que eu tentei reconstruir, em questão de segundos. E eu me renderia facilmente. Sem esforços.LiamEu ainda sentia o calor do corpo dela nas minhas mãos. A sala parecia menor, o ar mais denso, como se cada centímetro estivesse impregnado do cheiro dela. Mas Kyra se afastou. E quando ela se afasta, leva comigo algo que eu nunca consigo recuperar.— Liam, isso não vai acontecer de novo — ela disse, ajeitando o vestido com mãos trêmulas. — Eu vim pagar minha dívida. Acabou.“Acabou.” A palavra me atravessou como vidro. Fiquei parado, respirando fundo, tentando não explodir.— Você acha mesmo que acabou? — minha voz saiu baixa, rouca, quase uma ameaça. — Acha que consegue entrar aqui, me devolver dinheiro como se fosse um favor, me beijar e depois sair como se nada tivesse acontecido?Kyra recuou mais um passo, e os olhos dela brilharam com um medo que me devastou.— Eu não beijei você, Liam. Você me beijou. E eu… — ela hesitou, fechando os olhos, — eu só fui... eu só quis o mesmo que você. Fraca. A palavra reverberou no meu crânio. Eu não queria que ela se sentisse fraca. Eu que
LiamApós dias sem dizer nenhuma palavra diretamente a mim, ela estava lá. Kyra me aguardava na porta do meu escritório... A primeira coisa que notei não foi o dinheiro em suas mãos. Foi o modo como ela entrou — silenciosa, contida, mas determinada. Kyra carregava aquele envelope como se fosse uma sentença. E talvez fosse.Colocou-o sobre a mesa e se afastou imediatamente, como se tocar qualquer coisa que me pertencesse fosse perigoso demais.— Os cinco mil que você me emprestou aquele dia.. — Sua voz era firme, mas o tremor em seus dedos me dizia outra coisa. — Está tudo aí. Pode conferir, se quiser. Toquei o papel, mas não olhei para dentro. Não era sobre o dinheiro. Nunca fora.— Você não precisava… — Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. — Eu disse que não precisava, Kyra. Ela respirou fundo, evitando meus olhos.— Precisava, sim. Eu não quero nada seu. Nem favor, nem dívida. Espero não precisar nunca mais do senhor. Aquelas palavras foram uma lâmina. Eu deveria estar o
LiamO silêncio da casa me atormenta mais do que qualquer grito. Antes, quando eu chegava do trabalho, encontrava Julie correndo pelo corredor, rindo, pedindo colo, e Kyra logo atrás, sorrindo como se aquele fosse o único momento que importava. Ela aceitou voltar, mas não porque eu pedi. Porque Julie pediu. Agora, tudo mudou. Julie ainda corre. Ainda ri. Mas Kyra não sorri mais. O que resta no rosto dela é apenas uma sombra do que já foi — um esboço, um reflexo vazio. Quando tento me aproximar, ela recua. Quando entro pela porta, ela sai. É sempre assim.Hoje, por exemplo: a chave mal girou na fechadura e eu já ouvi seus passos apressados no corredor. Um murmúrio de despedida para Julie, um sorriso falso colado no rosto, e a porta se fechou atrás dela sem que nossos olhos se encontrassem. Eu fiquei parado ali, com a pasta na mão, ouvindo a respiração da minha filha e o eco do vazio que Kyra deixou ao sair como se fosse uma fugitiva. "Ela vai embora todos os dias", Julie disse ontem,
LiamO telefone tocou pouco depois das duas da manhã. Não era um horário em que se ligava para mim sem motivo. Atendi de supetão, ainda com o copo de uísque pela metade na mão, a cabeça pesada. Do outro lado, silêncio.— Quem é? — minha voz saiu áspera, carregada de álcool.Um chiado. Depois, uma voz rouca, distorcida, quase uma caricatura de ser humano:— Quer ver sua babá? Vai até a rua Knox, número 57. O bar dos esquecidos. Ela deve estra lá, esquecida... — Quem diabos é você? — rosnei, erguendo o corpo. — Que porra você quer? — A linha caiu.Por um segundo, achei que fosse uma brincadeira de mau gosto. Até que a mensagem vibrou na tela: um endereço. E uma foto borrada, recente. Kyra — caída, com o rosto virado para o lado, as roupas amarrotadas, como se tivesse sido jogada no chão feito lixo.O gelo se espalhou nas minhas veias.O copo caiu da minha mão, o uísque manchando o tapete. Peguei a chave do carro. Nem pensei. Não havia nada além da raiva que latejava no meu crânio, a
LiamO silêncio da casa nunca pareceu tão ensurdecedor. Antes, era preenchido pelas risadas de Julie e pela presença constante de Kyra… não, Isabelle. Esse maldito nome que agora me persegue como um fantasma. Desde que ela desapareceu, cada canto ecoa lembranças que eu tento apagar com uísque barato. As garrafas se acumulam no escritório, no balcão da cozinha, até mesmo no quarto. Abro uma nova sempre que a dor aperta, sempre que me lembro do rosto dela ao ouvir meu deslize bêbado: “Você gostava disso, Isabelle.”A expressão de horror dela. O silêncio que me rasgou. O som da mala sendo arrastada no chão. A porta batendo no meio da madrugada. E então, nada... Julie me olha com aqueles olhos curiosos, olhos que herdou da mãe, e pergunta todos os dias:— Papai, onde está a Kyra? Ela foi embora também? Eu minto. Digo que ela precisou visitar a família. Digo que logo volta. Digo qualquer coisa, menos a verdade. Porque como eu vou explicar à minha filha que destruí a única pessoa que troux
LiamA obsessão tem um cheiro próprio. Para mim, cheirava a gasolina, a couro aquecido, a madrugada e a pressa de pneus na chuva. Saí a noite inteira atrás de pegadas que um corpo pequeno havia deixado para trás; vasculhei filmagens das câmeras da vizinhança, revirei registros de entradas de pedestres, pedi aos seguranças que revisassem os acessos dos últimos quatro dias. Cada tela que piscava me devolvia o mesmo vazio: nenhuma caída clara, nenhum traço que me levasse até ela.Contratei um investigador particular de reputação suja e eficiente. Instrui-o com a frieza de quem delega a parte que dói demais para executar. “Não a encontre”, foi o que, por algum motivo, não disse — porque, na minha cabeça, encontrá-la seria o desfecho, e eu ainda não estava pronto para o fim desse capítulo. Disse apenas: “Rastreie tudo. Telefones, cartões, pagamentos, câmeras, conhecidos. Siga o rastro mais leve.” Ele respondeu com um aceno por telefone, prometendo uma lista de nomes e locais em 48 horas.E
Último capítulo