Revanche do Coração - O Amor que Sobreviveu
Revanche do Coração - O Amor que Sobreviveu
Por: Isabela Reeves
Prólogo – Sete Anos no Inferno

O cheiro de mofo e ferro enferrujado impregnava o ar. As paredes de concreto descascadas pareciam mais próximas a cada dia, como se quisessem engoli-lo. O tempo, ali dentro, não era medido por relógios, mas por gritos distantes, por passos pesados dos guardas e pelas noites em que o frio cortava a pele como lâminas invisíveis.

Caio Montenegro sentou-se no canto da cela, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos cobrindo o rosto. As primeiras semanas haviam sido as piores. A traição. A humilhação pública. As manchetes de jornais com seu rosto estampado, acompanhado de palavras como "ladrão", "golpista", "traidor".

Ele, que nunca roubara nada além de alguns sonhos inocentes de um futuro com ela.

Júlia.

O nome dela ainda doía mais do que qualquer golpe que recebera ali dentro.

Caio respirou fundo, tentando afastar as lembranças. Não adiantava. Por mais que quisesse odiá-la, por mais que desejasse apagá-la da memória, as cenas insistiam em invadir sua mente. O sorriso dela, as promessas, os planos… tudo antes da queda.

O som de uma tosse violenta quebrou o silêncio da cela ao lado.

Caio se levantou num impulso. Caminhou até as grades enferrujadas e olhou para o velho Joaquim, o detento que dividia aquele pedaço de inferno com ele nas últimas semanas.

— De novo, Joaquim? — Perguntou com preocupação. — Precisa de água?

O velho assentiu, com dificuldade. Caio encheu um copo de plástico e estendeu por entre as grades. Joaquim bebeu em goles curtos, como se cada um fosse o último.

— Você não vai durar muito assim — disse Caio, sentando-se novamente no chão.

Joaquim sorriu, um sorriso torto, quase irônico.

— Ninguém dura muito aqui dentro, garoto… Mas você… você é diferente.

Caio arqueou a sobrancelha.

— Diferente como?

— Você tem algo nos olhos… algo que eu só vi em poucos homens… — O velho parou para recuperar o fôlego antes de continuar. — Fome. Mas não é fome de comida… É fome de justiça.

Caio deu uma risada amarga.

— Justiça… — repetiu, como se a palavra tivesse um gosto ruim na boca. — Isso aqui… isso é justiça?

Joaquim tossiu de novo, mas o olhar permanecia firme.

— Não… isso aqui é o fim de muitos. Mas alguns poucos… transformam o inferno em sede de vingança.

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Passaram-se meses. Joaquim ficou cada vez mais fraco. Caio cuidava dele como podia: dividia o pouco de comida decente que conseguia, o cobria nas noites frias, e, nas raras visitas da assistente social, fazia questão de pedir medicamentos para o companheiro de cela.

Na última noite de vida de Joaquim, o velho chamou Caio até a grade.

— Ouça bem, garoto… — disse com a voz rouca e cansada. — Eu não tenho família lá fora. Não tenho ninguém. Mas tenho um advogado. Um homem de confiança. Anote esse nome…

Joaquim ditou o nome e o número de telefone de um certo Dr. Eduardo Bastos, advogado criminalista conhecido por cuidar de casos complicados e de heranças inusitadas.

— Quando você sair daqui… procure por ele. Diga que Joaquim pediu pra ele cuidar de você… como se fosse meu próprio filho.

Caio tentou protestar.

— Joaquim, eu não posso aceitar…

— Pode sim… e vai aceitar. — O velho interrompeu, com a força de quem não queria mais ouvir negativas.

— Você me deu mais tempo de vida aqui dentro do que eu teria sozinho. Agora é minha vez de garantir o seu futuro… do jeito que eu puder.

Joaquim morreu naquela madrugada.

Dois anos depois, Caio finalmente teve sua liberdade concedida. Um erro processual, uma revisão de provas… ou talvez o acaso. Não importava. O que importava era que ele estava fora.

Mas o mundo lá fora… era um campo de batalha.

Sem dinheiro, sem reputação, com uma ficha criminal sujando cada entrevista de emprego. Dormiu em abrigos, passou fome, carregou caixas, trabalhou em construções. Durante semanas, pensou em desistir. Mas o nome de Joaquim e o contato do tal advogado permaneciam guardados, como uma promessa silenciosa.

No dia em que a fome e o desespero atingiram o limite, Caio decidiu ligar.

Dr. Eduardo Bastos o recebeu em um escritório simples, mas organizado. Um homem de meia-idade, de aparência séria, mas com olhos atentos.

— Você é… o garoto de Joaquim? — Perguntou o advogado, assim que Caio entrou.

Caio assentiu, um tanto constrangido.

Eduardo abriu uma pasta e retirou alguns documentos.

— Seu nome foi incluído no testamento dele. — O advogado continuou. — Não é uma fortuna qualquer, Caio… Joaquim tinha investimentos em fundos discretos, imóveis fora do radar… Ele era mais do que um simples preso comum. Antes da prisão … ele fora um investidor de sucesso.

Caio congelou.

— Está brincando comigo…

— Não. — Eduardo respondeu, com firmeza. — Ele deixou tudo para você. Mas tem uma condição.

— Qual?

O advogado sorriu de leve.

— Que você reconstrua sua vida… e faça o que for preciso para limpar o seu nome.

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Os anos seguintes foram uma mistura de trabalho duro, noites insones e decisões calculadas.

Caio investiu cada centavo com inteligência. Aplicações em startups promissoras, compra de ações de empresas em crise, reestruturação de pequenos negócios à beira da falência. Cada passo era minuciosamente planejado.

Ele aprendeu a argumentar com investidores, a lidar com conselhos administrativos, a negociar como um tubarão.

Quando percebeu, já não era apenas um homem tentando sobreviver. Era um predador.

O Montenegro Group nasceu pequeno, mas cresceu rápido. Uma fusão aqui, uma aquisição ali. Caio soube escolher os alvos certos, as oportunidades certas… como se cada movimento fosse parte de um jogo de xadrez.

E, o tempo todo… o nome dela.

Júlia.

Ela nunca deixou de habitar os recantos mais sombrios da sua mente. Por mais que tentasse enterrá-la… a lembrança permanecia. O rosto dela, as lágrimas que ele nunca soube se eram verdadeiras ou fingidas, a expressão de pânico no dia da prisão.

Agora… com o poder nas mãos… ele estava pronto.

Pronto para voltar.

Pronto para cobrar cada lágrima, cada humilhação.

Pronto para fazê-la sentir… tudo o que ele sentiu.

Caio olhou pela janela de seu escritório, no último andar de um arranha-céu no centro financeiro da cidade.

A Ferrer Incorporadora seria apenas o primeiro passo.

Porque, para ele, aquele jogo… estava apenas começando.

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