O Novo Presidente

O som das teclas do computador preenchia a pequena sala onde Júlia agora passava a maior parte do tempo. Desde a manhã, ela se dedicava a revisar contratos, agendar reuniões e responder a uma enxurrada de e-mails com prazos absurdos. Caio fazia questão de sobrecarregá-la. Era claro que ele queria testá-la... ou destruí-la.

A cada nova tarefa, o desafio ficava maior.

E ela se recusava a ceder.

Quando terminou de organizar a lista de convidados para o evento beneficente que ele insistia em manter — um mistério, considerando o perfil impiedoso que Caio agora ostentava —, Júlia se recostou na cadeira, massageando as têmporas. As dores de cabeça estavam se tornando mais frequentes.

A campainha do ramal tocou, interrompendo qualquer chance de descanso.

— Sala do presidente. — Atendeu com o tom mais profissional que conseguiu reunir.

A voz de Caio veio firme do outro lado.

— Preciso de você aqui. Agora.

Sem dar chance para resposta, ele desligou.

Júlia suspirou fundo. Pegou um bloco de anotações e levantou-se, sentindo o peso da exaustão nas pernas. Caminhou até a sala dele com passos decididos, mas por dentro, a ansiedade crescia como um nó em seu estômago.

Quando entrou, Caio estava em pé, ao lado da mesa, folheando um catálogo de roupas de gala.

Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa.

— Escolha um vestido. — Ele disse, sem tirar os olhos das páginas.

— Como assim? — Júlia perguntou, confusa.

Ele fechou o catálogo com um estalo e a encarou.

— Você vai me acompanhar no evento beneficente da empresa. Preciso de uma acompanhante… adequada.

Ela sentiu o rosto esquentar.

— Não sou sua acompanhante, Caio. Sou sua assistente.

Ele caminhou até ela com passos lentos, parando tão perto que ela teve que lutar para não recuar.

— A partir do momento em que você aceitou esse cargo, você é tudo o que eu quiser que seja. — O tom de voz dele era baixo, carregado de ameaça contida. — E agora... você será minha acompanhante no evento. Vista-se como tal.

Júlia o encarou, tentando manter a dignidade.

— Não tem medo que as pessoas comentem? — Disse, com um sorriso amargo. — Acha que vão acreditar que é só profissional?

Caio esboçou um sorriso de sutil.

— Eu gosto quando comentam. — Sussurrou, antes de virar-se e voltar para a mesa. — Pode sair.

Ela respirou fundo, contendo a vontade de jogar o bloco de anotações na cabeça dele. Virou-se e saiu rapidamente.

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No final daquele dia, Júlia foi até a loja indicada por Caio, uma boutique de alta costura onde os preços eram tão altos quanto a arrogância dos vendedores. Assim que disse o nome dele, foi conduzida a uma sala reservada, com dezenas de vestidos pendurados, todos de marcas que só se viam em revistas.

Ela caminhou entre os cabides, tocando os tecidos com os dedos trêmulos. Seda, renda, cetim. Era um mundo ao qual ela não pertencia mais. Talvez nunca tivesse pertencido de verdade.

Uma atendente se aproximou com um sorriso educado.

— O Sr. Montenegro deixou instruções claras. O vestido será cortesia da empresa. E ele pediu… — A moça hesitou, como se estivesse escolhendo bem as palavras. — Que a escolha fosse… impactante.

Júlia sentiu o rosto corar. "Impactante" vindo de Caio só podia significar... provocante.

Depois de experimentar vários modelos, acabou escolhendo um vestido longo, preto, com decote discreto, mas com um corte que valorizava sua silhueta de forma elegante. Não queria parecer sensual… mas também não queria parecer desleixada para ele.

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Na manhã seguinte, ao chegar à empresa, encontrou um novo desafio na mesa: uma pasta com documentos jurídicos complexos.

Ela mal teve tempo de se sentar quando Caio surgiu na porta da sua sala.

— Preciso que revise tudo isso antes das onze. — Disse, sem rodeios.

— Isso é trabalho para um departamento jurídico inteiro, Caio! — Ela protestou, folheando as páginas com incredulidade.

— Pois é. — Ele sorriu com sarcasmo. — Mas hoje… você é o meu departamento jurídico.

Antes que ela pudesse retrucar, ele já tinha sumido pelo corredor.

Júlia respirou fundo, controlando a frustração.

Sentou-se novamente e começou a trabalhar. Lia cada cláusula com atenção, anotava pontos de atenção, e, por mais que odiasse admitir… estava indo bem. O conhecimento que tinha adquirido nos tempos da Ferrer ainda estava ali, adormecido, mas pronto para ser utilizado.

Por volta das onze, ela levou a pasta de volta à sala dele.

Caio folheou os documentos, leu as anotações, e, para a surpresa dela, pareceu satisfeito.

— Não imaginei que você ainda tivesse tanta capacidade. — Disse, sem levantar os olhos.

Ela cruzou os braços.

— Você esquece que antes de tudo… eu sempre trabalhei duro, Caio. — Sua voz saiu firme, carregada de ressentimento. — Ao contrário do que você gosta de acreditar, eu nunca fui só um nome de família.

Ele levantou o olhar, encarando-a com intensidade.

— E ao contrário do que você gosta de fingir… — Respondeu, com um sorriso cínico. — Eu não sou mais aquele garoto sonhador que você um dia conheceu.

Por um momento, os dois ficaram apenas se encarando. Um campo de guerra silencioso se estendia entre eles.

Júlia foi a primeira a quebrar o contato visual.

— Posso voltar ao trabalho? — Perguntou, já cansada daquela tensão constante.

Caio assentiu.

— Por enquanto, sim.

Ela saiu da sala, respirando fundo assim que fechou a porta.

Estava cada vez mais claro que aquele não era apenas um emprego.

Era um campo minado.

E, a cada passo dado, ela precisava decidir se corria… ou se enfrentava.

Uma coisa era certa: Caio Montenegro queria muito mais do que apenas sua eficiência como assistente.

Ele queria o controle total.

E, por mais que ela tentasse… já começava a perceber que escapar dele seria mais difícil do que imaginava. 

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