O cheiro de mofo e ferro enferrujado impregnava o ar. As paredes de concreto descascadas pareciam mais próximas a cada dia, como se quisessem engoli-lo. O tempo, ali dentro, não era medido por relógios, mas por gritos distantes, por passos pesados dos guardas e pelas noites em que o frio cortava a pele como lâminas invisíveis.Caio Montenegro sentou-se no canto da cela, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos cobrindo o rosto. As primeiras semanas haviam sido as piores. A traição. A humilhação pública. As manchetes de jornais com seu rosto estampado, acompanhado de palavras como "ladrão", "golpista", "traidor".Ele, que nunca roubara nada além de alguns sonhos inocentes de um futuro com ela.Júlia.O nome dela ainda doía mais do que qualquer golpe que recebera ali dentro.Caio respirou fundo, tentando afastar as lembranças. Não adiantava. Por mais que quisesse odiá-la, por mais que desejasse apagá-la da memória, as cenas insistiam em invadir sua mente. O sorriso dela, as promessas,
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