A Noite do Evento

O salão de festas do Grand Royal Hotel estava iluminado com tons dourados e champagne. As paredes espelhadas refletiam os lustres de cristal e o vaivém de pessoas vestidas com o que havia de mais elegante e caro no mundo da elite empresarial.

Júlia parou na entrada, respirando fundo antes de dar o primeiro passo. O vestido preto que escolhera abraçava suas curvas de forma sutil, sofisticada, mas ainda assim ousada o bastante para chamar atenção. O cabelo, preso em um coque delicado, deixava o pescoço à mostra. O colar de pérolas, enviado por Caio naquela manhã, agora repousava ali como um lembrete incômodo de que ela era, de certa forma, mais uma de suas peças naquele tabuleiro.

Ela vasculhou o salão com os olhos, procurando por ele. Por um instante, desejou que Caio tivesse desistido da noite, que tudo aquilo fosse só uma provocação a mais. Mas, no fundo, ela sabia que ele não perderia a chance de fazer uma entrada triunfal.

E não perdeu.

O burburinho se espalhou antes mesmo que ela o visse. Pessoas se viraram, cochicharam, algumas sussurraram seu nome como se estivessem testemunhando a chegada de um mito.

Caio Montenegro atravessou o salão com passos seguros, o terno escuro perfeitamente ajustado ao corpo atlético. A expressão era de puro domínio. Os olhos escuros, atentos, percorriam o ambiente como quem escolhe a próxima vítima de um jogo sombrio.

Quando os olhares de ambos se cruzaram, Júlia sentiu um arrepio percorrer a espinha.

Ele não disse nada. Apenas caminhou direto até ela.

— Está linda. — Disse, com a voz baixa, rouca, e um sorriso enviesado. — Exatamente como imaginei.

Ela ergueu o queixo, tentando esconder o rubor que ameaçava tomar conta do rosto.

— Só estou aqui por obrigação profissional. — Respondeu com firmeza.

Ele riu, um som baixo, como se se divertisse com a resistência dela.

— Por enquanto, Júlia. Só por enquanto.

Antes que ela pudesse responder, ele a tomou pelo braço, de forma delicada, mas firme, e a conduziu para o centro do salão.

O evento estava apenas começando. O mestre de cerimônias fazia apresentações rápidas das personalidades presentes, e, como de costume, fotógrafos da mídia estavam posicionados para registrar cada detalhe.

— Mantenha o sorriso. — Caio sussurrou ao ouvido dela. — Estamos sendo observados.

Júlia sentiu o estômago revirar, mas obedeceu. Forçou um sorriso discreto, tentando parecer natural.

Ao passarem por um grupo de empresários influentes, Caio parou para cumprimentá-los.

— Senhores… — Disse com aquele tom polido e controlado. — Permitam-me apresentar minha nova assistente pessoal, Júlia Ferrer.

Os olhares masculinos recaíram sobre ela com interesse. Júlia respondeu com um aceno educado.

Mas foi o comentário de um deles que a fez congelar.

— Ferrer? — Perguntou um homem grisalho, com expressão confusa. — Da antiga Ferrer Incorporadora?

Antes que ela pudesse responder, Caio interferiu.

— Exatamente. — Disse com um sorriso que mais parecia um aviso. — Uma profissional valiosa. Por isso a contratei.

Júlia sentiu o rosto queimar. Sabia que aquela era mais uma jogada dele. Uma maneira de expô-la. De lembrar a todos que ela, a antiga herdeira, agora estava ali… como assistente de um homem que tinha tomado tudo o que restava de sua família.

Seguiram para outras rodas de conversa. Caio parecia perfeitamente confortável naquele ambiente. Fluía entre os grupos como se fosse dono de cada canto daquele salão. A cada novo cumprimento, a cada nova apresentação, Júlia sentia que ele fazia questão de mantê-la ao lado, como um troféu… ou uma provocação viva.

— Está se divertindo? — Ele perguntou em determinado momento, inclinando-se levemente na direção dela.

— Isso tudo é só mais um show, não é? — Ela rebateu. — Um espetáculo para o seu ego.

Ele sorriu, sem negar.

— Exato. — Disse, como se a confirmação fosse motivo de orgulho.

Antes que o diálogo pudesse continuar, o mestre de cerimônias anunciou o momento mais aguardado da noite: o leilão beneficente.

Caio fez um sinal para que ela o acompanhasse até o palco.

— Não, Caio… — Ela hesitou. — Isso é desnecessário.

— Não discuta comigo agora. — Ele respondeu em voz baixa, com o olhar duro. — Confie em mim… ou pelo menos finja.

Ela respirou fundo e o seguiu.

No palco, ele fez um breve discurso.

— Boa noite a todos. — A voz dele ecoou forte pelo salão. — É uma honra estar aqui nesta noite tão especial. Como todos sabem, este evento marca uma nova fase para a empresa que hoje carrego com orgulho. E, como símbolo dessa nova era… — Ele fez uma pausa, olhando diretamente para Júlia. — …quero fazer um leilão especial.

Júlia gelou no mesmo instante.

Caio tirou um pequeno envelope do bolso interno do paletó.

— Vou leiloar um jantar exclusivo comigo, no restaurante mais conceituado da cidade. Toda a arrecadação será revertida para os projetos sociais que continuaremos apoiando.

O salão explodiu em risos e murmúrios animados. As primeiras mulheres começaram a levantar as plaquinhas com os lances.

Júlia assistia tudo com um misto de incredulidade e indignação.

Ele estava leiloando… a si mesmo.

Mas o que mais a deixou sem reação foi perceber que, enquanto o leilão avançava, os olhos dele permaneciam cravados nela.

Como se… aquele jantar já tivesse um destino pré-definido.

Como se, de alguma forma… tudo aquilo fosse mais uma armadilha.

O último lance, absurdamente alto, veio de uma socialite conhecida por perseguir homens ricos como troféus.

Quando o martelo bateu, Caio apenas sorriu, agradeceu com um aceno e saiu do palco, voltando a circular pelo salão como se nada tivesse acontecido.

Júlia o seguiu com os olhos, o coração disparado, a cabeça girando.

O jogo dele estava apenas começando.

E ela… já estava no centro de tudo.

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