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Capítulo 2 — O Homem que Silencia Salas

Balancei a cabeça, em rendição amarga. Trabalhar ali… na Torre Arcturus… era um sonho distante demais. Um mundo que não era o meu.

Mas, por alguma razão, não consegui parar de olhar para aquela torre.

Naquela noite, a vida tentou parecer normal. Eu e Lívia dividimos uma pizza de qualidade duvidosa, assistimos a um filme ruim, rimos em momentos que não tinham graça. Rir era melhor do que chorar. Pelo menos naquela noite.

O mês seguinte não trouxe alívio. Apenas rotina.

Aprendi a viver como quem anda por uma corda bamba: sem olhar para baixo, sem pensar no fim. O Café Lótus, onde trabalhava, tornou-se meu refúgio.

Uma cafeteria elegante no Centro Velho, com paredes de tijolos aparentes, estantes de livros e aroma constante de café fresco e canela. Empresários da elite da cidade se encontravam ali para reuniões rápidas, enquanto turistas se perdiam entre xícaras fumegantes.

Para mim, o Lótus era mais que um emprego: era um abraço invisível.

Dona Teresa, a proprietária, me tratava com carinho. Chamava-me de “menina doce, mas com fogo escondido”. Eu sorria, mas por dentro me sentia vazia.

A cada vibração do celular no bolso, meu coração apertava. Eram mensagens de mamãe, de papai, de Valentina. Fotos do ultrassom, convites para chá de bebê.

“Estamos a caminho”, “Venha ver como ela está linda grávida”.

Eu sorria de lado, amarga. Valentina fazia de propósito. Mandava para me fazer sangrar.

Numa terça-feira cinzenta, enquanto organizava o balcão e alinhava xícaras, ouvi o som metálico da porta de entrada.

Não era como os outros sons. Aquele eco reorganizou o ar. O ambiente se enrijeceu, como se o mundo tivesse prendido a respiração.

Levantei o olhar.

E o ar me fugiu dos pulmões.

Dante Bellucci.

Nenhuma foto de jornal fazia jus. Nenhuma manchete, nenhum perfil da revista Executivos do Ano.

Ele era… mais. A personificação da beleza. O maxilar marcado, os olhos escuros que não precisavam falar. O corpo esguio e firme em um terno cinza-escuro que parecia moldado para ele. Até o relógio prateado em seu pulso refletia a luz amarelada do café como se fosse parte da cena.

O espaço pareceu pequeno demais para contê-lo.

Ele caminhou até uma mesa de canto, passos firmes, medidos. Não precisava de pressa. O mundo já se movia ao ritmo dele.

Minhas pernas bambearam. Meu coração disparou tanto que temi que alguém pudesse ouvir. Respirei fundo, juntei a pouca coragem que restava.

Caminhei até ele.

— Boa tarde, senhor Bellucci. — Minha voz saiu mais baixa do que eu queria. Entreguei-lhe o cardápio com mãos trêmulas.

Dante não olhou para o cardápio. Nem para mim.

— Um expresso sem açúcar. — A voz grave cortou o ar, firme, sem espaço para dúvidas.

Assenti.

— Claro.

Me esforcei para lembrar como se anda. Cada passo até a máquina de café parecia uma travessia em areia movediça.

Eu não estou interessada, repeti para mim mesma. Val tem razão: sou sem graça, sem sal. Tive sorte de Henrique me querer.

E a dor veio outra vez. A ferida nunca cicatrizava.

Uma lágrima solitária escapou, e limpei com pressa antes que alguém visse.

Moa os grãos. Puxe a alavanca. Espere o líquido escuro descer, quente, intenso, perfumado. Eu me agarrava ao ritual para não despencar.

Levei a xícara até a mesa.

— Aqui está.

Ele estava ao telefone, falando em italiano perfeito. Palavras rápidas, precisas. A língua parecia música em sua boca.

Coloquei o café à frente dele e comecei a me afastar.

Foi quando aconteceu.

Dante ergueu o olhar.

Olhos em um azul escuro, profundo, de uma intensidade quase violenta. O tipo de olhar que perfura, que arranca segredos, que faz alguém pedir perdão só por existir.

Por um instante, achei que fosse desmar. Eu me sentia nua.

Os olhos de Dante Bellucci haviam atravessado a superfície da minha pele como lâminas invisíveis, arrancando uma parte de mim que nem eu sabia que ainda existia. Era como se tivesse aberto gavetas secretas da minha alma e olhado dentro, sem pedir licença.

Ele continuou falando em um italiano perfeito, a voz grave, ritmada, que parecia música. Foi então que a porta do café se abriu novamente.

A mulher que entrou poderia muito bem ter saído de um desfile da Victoria’s Secret. Alta, magra, curvas na medida exata, o vestido caindo sobre o corpo como se tivesse sido costurado diretamente na pele dela.

Dante desligou o telefone. Levantou-se para cumprimentá-la. O gesto era simples, mas nele havia a reverência de um Passei o resto do turno no Café Lótus como um fantasma desajeitado. Errei troco, errei pedidos, quase deixei uma bandeja cair. Dona Teresa me lançou olhares preocupados, mas não disse nada.

Quando Dante deixou o lugar, o ar pareceu mais leve, como se uma corda invisível tivesse afrouxado.

Naquela noite, em casa, contei a Lívia.

Ela ouviu tudo com olhos arregalados, depois sorriu de canto.

— Ah, não. Me diz que você deu de cara com o sr.Bellucci e ficou paralisada feito figurante de novela mexicana.

Joguei a almofada nela.

— Não é engraçado, Lív.

— Ele é igual às fotos?

Fechei os olhos. Não.

— Ele é mais. — Sorri sem querer.

Ela riu.

— Você acredita que eu trabalho para esse homem há dois anos e nunca o vi pessoalmente?

Lívia era formada em contabilidade. Brilhante. Trabalhava em um dos braços da Bellucci Holdings, mas nunca cruzara com o magnata.

Eu, uma simples atendente de café, havia cruzado. E não conseguia esquecer.

Fechei os olhos outra vez, mas ainda via o olhar dele: frio e quente ao mesmo tempo. O tipo de olhar que não pede nada, mas exige tudo.

Na semana seguinte, ele voltou.

Era terça-feira, outra vez. Manhã cinzenta, outra vez. O sino metálico da porta soou, e eu soube antes de olhar.

O Café Lótus se calou em respeito invisível. Clientes que riam baixaram o tom. Era sempre assim, descobri: a presença dele reorganizava os sons, como se o mundo se ajustasse para recebê-lo.

Dante ocupou a mesma mesa de antes. Sempre a mesma. Retirou os óculos escuros e os pousou sobre a madeira. O silêncio se intensificou.

Respirei fundo. Peguei o bloquinho, embora soubesse que não precisava.

— Boa tarde, senhor Bellucci.

Ele não ergueu os olhos.

— O mesmo.

A voz grave reverberou em mim como uma ordem militar.

— Claro.

Fiz o café com mãos aparentemente mais firmes. Ou talvez fosse apenas ilusão. Coloquei a xícara à frente dele com cuidado.

— Obrigado. — A palavra saiu seca, mas era a primeira vez que ele me dirigia algo além do pedido.

Congelada, fiquei um segundo a mais do que deveria. Ele ergueu a sobrancelha. Corei até as orelhas e me virei rápido, tentando parecer profissional.

Voltei ao balcão. Respirei fundo. Era só isso. Um café. Uma palavra. Um olhar.

Mas por que aquilo me intimidava tanto?

Quando o turno terminou, já escuro lá fora, caminhei de volta para casa. O Morro das Lavandas parecia sempre acolher minha dor com suas luzes amareladas e o cheiro de pão fresco vindo da padaria da esquina.

Em casa, liguei o celular.

E lá estava. Uma foto de Henrique e Valentina. Os dois sorrindo, radiantes. A barriga dela já marcando sob o vestido.

Joguei o aparelho no sofá, o grito preso na garganta. O homem que eu amava, nos braços da minha irmã.

As lembranças me invadiram como punhos: os beijos dele, o toque, o sorriso sedutor que eu achava só meu. Agora, tudo dela.

Fechei os olhos, mas as imagens não foram embora. Vieram outras. As surras de infância. Os dias trancada no sótão para não “atrapalhar” as festas da irmã. O aniversário em que fiquei dois dias sem comida, esquecida.

E depois… o sofá branco, o vestido erguido, os gemidos abafados.

Meu peito arfou. Eu queria acordar. Mas já estava desperta.

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