Mundo ficciónIniciar sesiónApós ser demitida da creche, Josefina Abrantes decide recomeçar longe de tudo ao se inscrever como Au Pair. A vaga que muda seu destino leva-a à Coreia do Sul, para cuidar de uma menina de seis anos em uma família poderosa e envolta em silêncio. Em Seul, Josefina conhece Park Minjae, o assistente rígido que a prepara para lidar com Clara — uma criança brilhante, mas desafiadora desde a morte da mãe. Incapaz de dizer “Josefina”, Clara a rebatiza de Jo nanny, sem imaginar que a nova babá seria a primeira pessoa capaz de alcançar seu coração partido. Quando John Hyung, o reservado bilionário herdeiro de um império tecnológico, retorna dos Estados Unidos, ele fica surpreso ao ver sua filha sorrir novamente… e ainda mais ao perceber o efeito luminoso que Jo exerce sobre a casa — e sobre ele. Entre momentos de rotinas, olhares que não deveriam existir, noites difíceis com Clara e segredos que todos evitam tocar, Josefina e John são puxados para uma conexão improvável. Haveria algo por trás desse sentimento? Enquanto isso, Minjae observa de perto, temendo que essa proximidade ultrapasse limites perigosos. Em meio ao choque cultural e ao luto silencioso daquela família, nasce um amor improvável. Josefina percebe que não tinha sido escolhida por acaso: estava destinada a encontrar o amor de duas pessoas que precisavam dela e ela deles.
Leer másPerder o emprego não estava nos planos de Josefina Abrantes, mas ali estava ela, sentada na cama estreita do quarto, encarando o e-mail de desligamento: “Agradecemos sua participação, mas…” como se pudesse reverter algo apenas com a força da mente. O silêncio no cômodo parecia maior que sua própria indecisão sobre começar — ou não — a procurar um novo trabalho.
Ela ajeitou o cabelo castanho ondulado diante do espelho rachado do banheiro. A luz fraca acentuava as olheiras suaves, resultado de noites mal dormidas desde que deixara a creche onde trabalhava. Seu rosto delicado, de traços marcantes e olhos grandes, cor de mel, refletia cansaço… e uma teimosa vontade de continuar.
Josefina respirou fundo, endireitando os ombros — o gesto automático de alguém que tenta parecer mais forte do que realmente se sente.
De volta ao quarto, abriu o notebook. Enquanto rolava vídeos para distrair a mente, um título chamou sua atenção: “Como funciona o programa Au Pair.” Ela clicou. À medida que via jovens vivendo experiências ao redor do mundo, uma centelha acendeu dentro dela.
— Au pair…
Já tinha ouvido falar, mas nunca prestado atenção. Um intercâmbio cultural, morar com uma família, cuidar de crianças… e ainda aprender um novo idioma.
Quanto mais assistia, mais seu coração acelerava.
“Pode ser em qualquer lugar do mundo”, dizia a garota do vídeo.
— Qualquer lugar… — murmurou, abrindo um sorriso.
Sem pensar muito, digitou: “Au Pair na Coreia do Sul.”
Seu coração bateu mais rápido.
Desde a adolescência, era apaixonada por doramas, música K-pop, pela cultura — e, especialmente, pelo ator Ye-jun, dono de um sorriso que ela já tinha pausado e ampliado mil vezes no celular. Um sonho distante, quase infantil… mas que sempre a fazia sorrir. Nunca contou isso a ninguém, mas o desejo de conhecer aquele país era real demais — e agora, ainda mais forte.
A ideia soou absurda no início. Depois, possível. Por fim, inevitável.
No impulso, acessou o site de uma agência renomada e preencheu um formulário enorme, que parecia mais uma confissão de vida. Relatou a experiência com crianças, listou os idiomas que sabia — inglês e espanhol fluentes — e descreveu sua vontade enorme de viver aquela oportunidade.
A resposta veio no dia seguinte:
“Parabéns, seu perfil foi selecionado. Entrevista marcada para amanhã.”
Josefina mal conseguiu dormir de nervosa.
Ainda assim, acordou cedo, arrumou o cabelo, colocou sua melhor blusa e sentou diante da câmera. A agente, Nicole, surgiu elegante, com um coque impecável, sorriso rápido e olhos atentos.
— Seu currículo nos chamou muita atenção, Josefina. Você tem 27 anos, ótimas recomendações e um perfil excelente para trabalhar com crianças. Sua fluência em idiomas impressiona. Mas, para a Coreia do Sul… precisaria ao menos do básico de coreano.
Josefina sorriu, tímida, mas decidida.
— Eu posso aprender. Já sei algumas coisas básicas tanto em coreano quanto em mandarim. Tenho facilidade com idiomas, prometo que vou me dedicar.
Nicole analisou algo fora da tela antes de continuar.
Havia um caso especial — uma vaga sensível, com uma criança que precisava de alguém experiente e paciente. O nome da família não seria revelado até a chegada em Seul. Em contrapartida, a remuneração seria excelente. O problema era aceitar viajar sob confidencialidade, sem saber quem a esperava do outro lado do mundo.
O estômago de Josefina revirou. E se fosse um golpe? Mas ela já havia pesquisado minuciosamente a agência, visto depoimentos, vídeos, avaliações. Tudo era legítimo. E, apesar do medo, algo dentro dela dizia que aquela era a porta que esperara por tanto tempo.
Antes de dormir, fez uma oração. E, rindo de si mesma, abriu uma postagem de Ye-jun.
— Quem sabe eu veja você um dia… — sussurrou, brincando com a própria fantasia.
Ela não tinha um plano perfeito. Mas tinha fé que poderia dar certo. E três semanas para resolver tudo — e aprender coreano o suficiente para lidar com uma criança, sem tropeçar tanto nas palavras.
Josefina apagou a luz.
Sem saber, parte do seu futuro — e do seu coração — já estava a esperando do outro lado do mundo. Querendo ou não.
Ao saírem do prédio, o ar parecia mais denso. Não era apenas o clima, mas o que ficara suspenso entre elesJohn caminhava apressado, tentando acompanhar Josefina, como se estivesse indo para uma reunião que só existia na cabeça dele. Parou ao lado do carro, destravou as portas e, num gesto de reconciliação, abriu a do passageiro da frente, estendeu a mão, indicando o assento ao seu lado.Josefina parou por um segundo, olhou para a mão dele estendida e depois para o rosto. Não disse nada, sem provocações, nem ironia. Apenas contornou o carro e abriu a porta de trás, sentando-se com calma absoluta.O silêncio foi a resposta e aquilo o incomodava mais do que qualquer confronto direto. Então, ele fechou a porta com mais força do que pretendia. Entrou no carro, ligou o motor e arrancou sem esperar que o cinto dela estivesse ajustado. O des
John sentiu o impacto no peito antes de conseguir reagir. Havia algo profundamente errado naquela cena… e, ainda assim, algo estranhamente conectado. Como se aquela visão desafiasse sua lógica e, ao mesmo tempo, a completasse. Ele não conseguiu desviar o olhar de imediato. Ficou preso, ancorado nela.Caminhou até a mesa e largou alguns papéis sem cuidado. Parou diante dela. Perto demais, o suficiente para sentir o perfume discreto, o calor do corpo, a presença viva que ocupava um espaço que sempre fora estéril.A pergunta dela ecoava na mente:Por que me trouxe aqui?A resposta escapou fora de controle.— Para te ver melhor — John sussurrou, co
O carro avançava lentamente pela avenida arborizada que levava à escola internacional Américo Coreana. As árvores altas filtravam a luz da manhã, criando sombras suaves que deslizavam pelo interior do veículo. Minutos depois o carro parou suavemente em frente ao prédio da escola. A fachada moderna misturava vidro e concreto claro. Crianças chegavam em pequenos grupos, algumas correndo, outras arrastadas pelos pais. Risadas, vozes baixas, passos apressados. John foi o primeiro a sair. O clique da porta ecoou seco. Ajustou o paletó com um gesto automático e estendeu a mão para Clara, que desceu saltitando, o uniforme branco com azul impecável contrastando com sua expressão atenta. Josefina saiu em seguida, mantendo certa distância. Observava tudo com cuidado — não apenas o local, mas os gestos de John, o modo como Clara se movia ao lado do pai, co
Naquela manhã, antes mesmo de saírem do quarto, Clara parou de repente e puxou discretamente a roupa da babá, obrigando a mulher se inclinar.— Não pense que te ajudei de graça. — Disse, em tom baixo, sério demais para uma criança. O olhar era estratégico, quase conspiratório. — A partir de hoje, você vai fazer tudo o que eu mandar, nanny. Qualquer deslize… você tá fora.Josefina piscou, surpresa, tentando decifrar se aquilo era uma ameaça real ou apenas mais uma das provocações da menina.— Entendido. — Respondeu com um meio sorriso cauteloso.Clara assentiu satisfeita e, como se nada tivesse acontecido, saiu saltitando pelo corredor. Ao des
Josefina mal chegou a cochilar. Se aquele fosse o dia do julgamento, ela não seria pega despreparada.Às cinco e cinquenta da manhã, já estava pronta. Vestiu-se com uma elegância simples e calculada: calça de alfaiataria preta, blusa bege de tecido leve, sapatilha de bico fino. Brincos discretos, cabelo preso com cuidado, maquiagem básica de quem sabe exatamente o que quer transmitir. Nada chamativo — mas havia charme. Segurança. Competência.Antes de sair do quarto, respirou fundo. Repetiu para si mesma que não tinha nada a perder — e talvez fosse exatamente isso que a tornasse perigosa.John Hyun despertou mais tarde do que de costume, o corpo tenso, como se o descanso não tivesse sido completo. A cena da madrugada voltava em fragmen
A madrugada seguia estranhamente serena. O frio suave da madrugada começava a diluir a escuridão, tingindo o céu com tons pálidos de laranja e azul. No jardim silencioso, dois completos estranhos permaneciam frente a frente, presos a um instante suspenso no tempo — carregado de tensão, curiosidade e coisas não ditas.A mão de Josefina tremeu quase imperceptivelmente antes de ela piscar algumas vezes, como quem acorda de um transe tardio demais para ser evitado. Endireitou os ombros, recompôs o sorriso — educado, contido — e deu um passo mínimo para trás, respeitando um espaço que até segundos antes não existia.— Perdão… — disse, num tom suave. — Eu sou Josefina Abrantes.Estendeu a mão com naturalidade, como se apresentações às cinco da manhã, no jardim de uma mansão silenciosa, fossem parte da rotina.John Hyun demorou meio segundo a mais do que o esperado para reagir. Engoliu em seco, sacudiu levemente a cabeça — um gesto automático — e tocou a
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