Em meio às águas cálidas e azuis de uma vila paradisíaca no litoral do Rio de Janeiro, Bruna, uma artista carioca marcada por um relacionamento tóxico, busca refúgio e recomeço. É nesse cenário de areia branca e noites estreladas que cruza o caminho de Min Jae-Hyun, um chef coreano que, fugindo de seus próprios fantasmas, inaugura um restaurante de culinária asiática na mesma vila. O encontro entre os dois se dá em meio a olhares silenciosos e uma tensão irresistível, desenrolando-se em um romance ardente, onde o erotismo é tão natural quanto o vai e vem das ondas. Ao lado deles, Gabriela e Luca, um casal aventureiro e libertário, exploram o amor e a sexualidade em paisagens selvagens, ampliando os horizontes e os desejos de todos ao redor. Entre encontros e desencontros, viagens, filhos, desafios e conquistas.
Leer másO céu ainda guardava resquícios dourados do entardecer quando Min Jae-Hyun fechou a última caixa de peixes frescos, cuidadosamente limpos e preparados, deixando à mostra a textura translúcida do atum, o brilho úmido do salmão, a firmeza do polvo recém-capturado naquela manhã. A brisa salgada da vila acariciava-lhe o rosto, enquanto ele ajeitava cada insumo sobre o balcão de madeira, como um artista que organiza suas tintas antes de pintar.De onde estava, no restaurante, via o movimento da praia: os jovens jogando frescobol, casais deitados nas cangas coloridas, turistas caminhando descalços pela areia morna. Mas não era por eles que seu olhar buscava.Desde aquela troca de olhares na feira de artesanato, os olhos castanhos daquela mulher carioca — forte, arredia, ao mesmo tempo frágil — haviam se alojado em sua memória com uma intensidade que nem mesmo ele conseguia compreender.Foi tirado do devaneio por um toque discreto no ombro.— Jae-Hy
O sol começava a se inclinar no céu, tingindo de âmbar e coral as águas tranquilas da enseada, quando Bruna avistou Gabriela se aproximando, os pés afundando na areia fofa, o vestido de linho branco esvoaçando em harmonia com o vento morno do final de tarde.Bruna estava sentada na varanda da pousada, com um livro fechado sobre o colo e o olhar perdido no horizonte, onde o mar e o céu se fundiam num azul sem fim.— Tá aí, murchando na sombra? — provocou Gabi com aquele sorriso que parecia sempre estar a um passo da travessura.Bruna sorriu de canto, mas não respondeu de imediato. Ela ainda sentia, como uma memória tátil impregnada na pele, a agitação da noite anterior — o nome de Jae-Hyun escapando de seus lábios, o corpo arqueando-se sozinho no escuro do quarto, o desejo confessado na mais íntima solidão.Gabi não esperou convite e se sentou na cadeira ao lado, cruzando as pernas com natural elegância, enquanto inclinava o corpo, fitando a a
Bruna caminhou de volta à pousada com passos lentos, como quem deseja prolongar a noite ou talvez dissipar, na cadência da areia morna, o fogo que se acendera em seu ventre. O mar sussurrava na escuridão, e o vento carregava o aroma salgado misturado ao perfume doce das flores silvestres que brotavam entre os coqueiros. Na varanda da pousada, as lamparinas apagadas revelavam o silêncio íntimo do lugar. Ela subiu os poucos degraus e empurrou a porta de madeira rangente, entrando no quarto de teto baixo e janelas de madeira rústica. O ambiente cheirava a lavanda e a maresia, e a cama, forrada com lençóis de algodão branco, parecia convidá-la, cúmplice silenciosa dos pensamentos que fervilhavam em sua mente. Bruna largou a sandália junto à porta, deixando que os pés deslizassem nus sobre o piso frio. Sem acender as luzes, deixou que a claridade prateada da lua invadisse o espaço pela janela entreaberta, lançando sobre sua pele mor
A noite avançava silenciosa, como se o próprio tempo houvesse diminuído o passo para não interromper o compasso delicado daquela cena. O restaurante já esvaziava lentamente, deixando para trás o murmúrio discreto dos poucos clientes que ainda saboreavam as últimas taças de vinho, embalados pela música suave que escapava das caixas de som escondidas entre as plantas suspensas.Na varanda de madeira, ladeada por lamparinas, Bruna e Jae-Hyun permaneciam à mesa, como se a noite fosse feita apenas para eles. O prato de frutas agora repousava vazio, abandonado sobre a toalha de linho, mas o vinho — um tinto leve, brasileiro — ainda tingia de vermelho os cristais das taças.Bruna apoiou o cotovelo na mesa, girando a taça entre os dedos, com aquele gesto distraído de quem já não pensa no vinho, mas na companhia. O olhar de Jae-Hyun seguia atento cada movimento dela: a forma como a ponta dos dedos percorria o vidro, como os lábios se apertavam de leve quando ela reflet
Bruna segurava a taça de vinho como quem segura uma âncora, enquanto observava Jae-Hyun retornar da cozinha, trazendo, dessa vez, uma pequena travessa de frutas cortadas e polvilhadas com especiarias.— Achei que seria uma sobremesa mais… leve — disse ele, pousando o prato no centro da mesa, inclinando-se, mais perto do que o necessário, como se o espaço entre eles não fosse uma fronteira, mas um convite.Bruna sorriu, pegando uma fatia de manga madura e levando-a aos lábios lentamente, consciente do olhar atento dele. O sumo adocicado escorreu por um canto de sua boca, e, sem pensar, ela passou a ponta da língua para limpar a pele.Jae-Hyun acompanhou o gesto com um brilho discreto nos olhos, mas não disse nada.Por alguns segundos, ficaram em silêncio, apenas escutando o som abafado do mar e a música distante, vinda de algum bar na vila.— Você sempre cozinha assim… com tanta intenção? — ela perguntou, quebrando o silêncio com
O aroma de gengibre fresco, óleo de gergelim e pimenta pairava no ar, misturado ao som suave das ondas que quebravam suavemente, algumas ruas abaixo. O restaurante de Jae-Hyun, iluminado por lanternas de papel, já começava a atrair os primeiros clientes daquela noite quente, mas ele permanecia à porta, de avental amarrado na cintura, observando, com aquela tranquilidade firme que parecia sua assinatura.Bruna vinha caminhando pela rua de pedras, sem perceber que ele a esperava. Não sabia ao certo por que havia decidido sair naquela noite. Não queria comer, tampouco conversar com estranhos. Talvez quisesse apenas andar, perder-se na vila, deixar que a brisa quente apagasse o desejo que insistia em aquecer seu ventre.Mas quando os olhos de Jae-Hyun encontraram os dela, soube, imediatamente, que a caminhada tinha outro destino.Ele não disse nada; apenas sorriu, daquele jeito discreto e seguro que Bruna começava a decifrar. E ela, mesmo sem saber, incli
Último capítulo