Stephany tinha tudo o que o dinheiro podia comprar - uma vida de conforto, mimos e privilégios. No entanto, sua realidade desmorona quando seu próprio tio a trai e a deixa sem nada. Agora, ela se vê jogada em um mundo completamente oposto ao que conhecia: os morros urbanos. Enquanto enfrenta o choque cultural e as dificuldades da vida nas ruas, Stephany começa uma jornada de autodescoberta. Ela se depara com desafios que nunca imaginara, encontra amizades inesperadas e aprende a valorizar o que realmente importa.
Ler maisAcordei pleníssima em um quarto deslumbrante, como se alguém tivesse materializado os sonhos mais luxuosos. Sou parte de uma família abastada; meus pais, que estejam nos céus, deixaram-me uma fortuna incalculável. Essa riqueza é administrada pelo meu querido tio Arthur, que sacrificou sua vida para cuidar da minha criação.
— Steph, meu amor, seu café está pronto. Vai querer comer no quarto ou na mesa? — Minha eterna babá, Carolzita, uma figura adorável que me conhece desde sempre, age como minha mãe.
— Carolzita, vou me arrumar e fazer minha refeição na cozinha mesmo.
— Tudo bem, minha princesa. Estou te aguardando lá embaixo. Se precisar de mim, é só gritar.
— Pode deixar, meu amor.
Como mencionei, Carol e eu temos um vínculo que se assemelha ao de mãe e filha, o que causa um certo incômodo na filha dela, que mora na favela e sente ciúmes do nosso relacionamento.
Dou uma espreguiçada e me dirijo ao meu closet, que é mais como um outro quarto. Aqui, encontro de tudo, desde roupas até calçados e acessórios de diversas marcas. Nunca experimentei um dia sem dinheiro, e espero nunca fazê-lo, afinal, minha fortuna é incalculável. Com o traje escolhido, tomo um banho de banheira com sais aromáticos, mergulhando em puro deleite.
Completamente vestida, desço para o café. Carol me olha e solta um assobio.
— Nossa, aonde vai assim, tão deslumbrante? E por que toda essa produção grandiosa?
— Estou tão básica, nem estou usando meus diamantes. Ela me encara e revira os olhos.
— Você chama isso de básico? Deveria ver as garotas da favela onde moro, aqui é luxo.
— Carolzita, jamais colocaria os pés em uma favela ordinária. Afinal, os moradores de lá são todos rudes, sempre tramando esquemas para tirar vantagem dos outros. Ela me encara com seriedade, e eu rapidamente me corrijo. Exceto você e o Jarbas, é claro.
— A vida não é tão fácil como seu tio a ensinou. Um dia perceberá que não se vive apenas com roupas de grife.
— Claro que não! Nós vivemos de Chanel, Dolce & Gabbana, Tiffany e por aí vai. Ela revira os olhos. Eu sei que sempre me ensinou isso, mas é a minha natureza. Acho que nunca vou mudar.
— Prefiro acreditar que um dia você vai amadurecer.
Dou de ombros, como sempre faço, e termino meu café. Me despeço de Carol e aguardo Jarbas.
— Bom dia, Steph. Ele sorri ao abrir a porta do carro.
— Bom dia, Jarbas. O dia está perfeito para algumas comprinhas básicas. Ele balança a cabeça e sorri.
— Menina, por mais dinheiro que tenha, é bom economizar. Nunca se sabe quando pode precisar.
— Ah, você e Carol, sempre com esse discurso de preocupação. Meus pais me deixaram tanto dinheiro que não preciso me inquietar com nada. Minha maior preocupação é estar impecável para dançar.
Cheguei a uma das lojas mais exclusivas da cidade e, logo na entrada, esbarrei em um moreno, quase me fazendo cair no chão. Por sorte, o rapaz me segurou a tempo. Nossos olhos se encontraram por um momento, e um sorriso escapou dos meus lábios. Depois de garantir que não me machuquei, o moreno seguiu seu caminho. Sacudi a cabeça para espantar a distração e entrei na loja que tanto amava. Com uma apresentação de ballet em apenas dois dias, eu precisava comprar algo novo para a festa que aconteceria ao final da performance. Comprei dois conjuntos perfeitos de diamantes banhados a ouro. Lembrei-me também do aniversário de casamento de Jarbas e Carol, que se aproximava, e decidi comprar um presente para ele. Vi um conjuntinho lindo e comprei para a filha de Carol, embora ela não me suporte.
Assim que saí da loja, fui em direção à companhia de dança que frequentava. Ali, o dinheiro era o que mais importava, pois as mensalidades eram verdadeiras fortunas. Nossas apresentações nos levavam a diversos países, e atualmente, Luana e eu compartilhávamos as apresentações solo. A senhora Liya tinha muita confiança em nós.
— Amiga, que bom que você chegou. Não aguentava mais a Jully e seu grupinho se gabando. — Luana me abraçou.
— O que elas estão exibindo agora? — Perguntei, curiosa.
— A July está se gabando que vai morar em seu próprio apartamento. Não suporto essa garota. Ela é tão fútil quanto você tenta ser. — Luana olhou nos meus olhos, sorrindo de canto.
— Não me olhe assim, mocinha. Você sabe que tenta ser fútil, mas, no fundo, é uma pessoa legal e generosa.
— Fico feliz que pense assim. Afinal, você é a única que pensa assim. O resto já se acostumou a me chamar de fútil.
A senhora Liya chegou e nos mandou aquecer para o ensaio. Após uma longa sessão de ensaio, fui para casa completamente exausta. Ao chegar, Carol me convidou para um lanche rápido, e eu aceitei. Aproveitei o momento para entregar a Jarbas o presente que tinha comprado.
— Não podemos aceitar isso, Steph. Deve ter custado uma fortuna. — Jarbas protestou, e Carol concordou.
— Claro que devem aceitar. Sabem como é raro fazer 20 anos de casados, ainda mais nos dias de hoje. Por favor, aceitem. Vocês fazem tanto por mim, e eu só quero retribuir. Ah! Lembrei que o aniversário da Manu está próximo, então, aqui está uma lembrancinha para ela. Eu sei que ela não gosta de mim, mas vocês são como uns pais para mim, o que a torna uma espécie de irmã. — Disse a Carol, que me abraçou apertado.
— Obrigada por isso, minha filha.
Fui para o meu quarto, tomei um banho e liguei para João Miguel, que atendeu prontamente. O convidei para jantar, mas ele explicou que estava fazendo as malas para uma viagem de negócios com o pai.
— Não fique triste, minha bebezinha. Volto em dois dias e serei todo seu.
Despedi-me e desliguei o celular. Nossa relação era complexa. Às vezes, eu considerava terminar, mas tinha receio de perder pessoas importantes na minha vida. De certa forma, ele me ajudou quando precisei.
Meus pais faleceram há dez anos. A perda foi devastadora, e por um tempo, nem dançar eu conseguia. Na época, a polícia cogitou a possibilidade de assassinato, mas logo descartaram, alegando uma falha no acelerador. A explicação nunca me convenceu completamente, já que meus pais eram extremamente cuidadosos. O resto da minha criação ficou sob os cuidados do meu tio, que, na verdade, possui minha custódia. No entanto, ele nunca esteve presente de verdade, sempre viajando ou trabalhando.
Meu celular apitou, mostrando uma mensagem do meu tio informando que estava voltando. Ignorei a mensagem e coloquei meu celular para carregar antes de ir dormir.
— Nynny, eu já falei para você não criar confusão na rua. – Repreendo a minha filha que me encara. — Não foi culpa minha, os idiotas estavam zombando do BenJu e eu não posso deixar isso. Como eu previa meus filhos são completamente diferentes, BenJu é tranquilo, ele é um tipo de criança que se você mandar ficar sentado ele fica quietinho, já Nynny, puxou Gui, super teimosa e questionadora. — Filha, pensa no que o seu pai pensaria se estivesse aqui. – Minha filha revirou os olhos. — Ele não tá aqui com a gente. – Desde quando Gui viajou para uma reunião, Nynny, ficou assim, ela é completamente ligada ao pai. — Nosso pai, tá no trabalho, ele vai chegar. – Meu filho fala com a irmã que me pede desculpas. — Eu te desculpo, mas não é por isso que não vai ficar de castigo mocinha. — Tá bom mãe. – Ela se levantou e foi para o quarto. Após a conversa com Nynny e a imposição de um breve castigo, eu me sentei no sofá com BenJu ao meu lado. Ele era tão sensato e compreensivo para a sua i
(Anos Depois)— No nosso programa de hoje receberemos uma mulher incrível que cinco anos atrás perdeu todos os seus bens, foi morar em uma comunidade e acabou e passou por muita coisa. Vamos receber com muitas palmas Stephanny Giacomelli Duarte. – Assim que escuto meu nome ser chamado, vou para o centro do palco e me sento no sofá. A entrevistadora Ana Leticia me cumprimenta e agradeço. — Estou muito feliz de estar aqui e poder divulgar minha ONG. — Sua ONG “Passos para o Futuro" Sempre acompanho suas redes sociais e vi os prêmios que vocês ganharam não só no ballet, como no karatê e no boxe, a quem você atribui esse sucesso? — Aos anjos que sempre estiveram em minha vida, Jarbas e Carol, eles eram a minha base, principalmente depois que meus pais morreram. Depois vieram os amigos e o amor da minha vida. – Digo lembrando tudo o que passei. — Por falar em amor, vocês são pessoas muito discretas, quase não os vejo em eventos, tem algum motivo para isso?— Sim, somos discretos mesmo,
Stephanny Giacomelli Duarte(Um ano Depois) Já se passou um ano desde o momento mágico em que Gui me pediu em casamento, e a vida tem sido uma montanha-russa de emoções. Estamos em turnê com a peça, viajando de cidade em cidade, levando nossa arte aos mais diversos públicos. Mas a correria e a distância entre nós têm sido desafiadoras.Nossa relação permanece forte, mas a saudade é um fardo pesado que carregamos. Gui e eu mal conseguimos nos ver durante a turnê. Nossos horários raramente coincidem. É uma situação que tem nos deixado loucos, mas sabemos que é temporária.Durante esse ano, Dona Jussara assumiu a frente da ONG, ela sempre me liga para avisar o que está acontecendo, as meninas fazem a mesma coisa. A ONG está crescendo e prosperando, e estamos fazendo a diferença na vida de muitos, já ganhamos até medalhas no karatê e um troféu na dança de terceiro lugar, mas estamos trabalhando para chegarmos em primeiro. Enquanto estou em turnê, contratamos uma bailarina temporária pa
Só percebi que havia dormido quando Gui me acordou, ouvi o barulho das ondas e perguntei a ele o que estávamos fazendo na praia. Ele me chamou para dar uma caminhada noturna e eu retirei meus saltos e o acompanhei, enquanto caminhavamos Gui relembrava algumas situações engraçadas que passamos e eu apenas sorria com as lembranças.— Onde você quer chegar com isso? – Perguntei curiosa. — Você é muito impaciente Phanny. Continuamos a nossa caminhada sendo seguidos pela lua que estava linda e bem redondinha. Parei para admirar o reflexo da lua sobre as águas e Gui pediu para fechar os olhos.— Pode abrir agora. – Quando olhei para Gui, ele estava ajoelhado segurando uma caixinha de veludo. — Stephanny Giacomelli Duarte, você aceita se casar comigo e dividir uma vida cheia de incertezas, altos e baixos comigo? As lágrimas rolaram nos meus olhos livremente, Gui ficou esperando a minha resposta enquanto eu tentava encontrar a minha voz.— Sim… Mil vezes sim… – Ele se levanta e me abraça
Finalmente, o grande dia havia chegado. O teatro estava repleto de expectativas e emoções à medida que nos preparávamos para a tão aguardada apresentação. Meu coração estava uma verdadeira bagunça de nervosismo e empolgação. Os ensaios tinham sido intensos, e agora era hora de mostrar a todos o que tínhamos preparado.Eu estava nos bastidores, observando a cortina fechada e ouvindo o burburinho da plateia. Minhas mãos tremiam, e eu sentia borboletas no estômago. Gui se aproximou, segurando minha mão com firmeza e me dando um olhar de encorajamento.— Você vai arrasar, Phanny. Lembre-se de que estou aqui torcendo por você.Suas palavras eram como um raio de sol atravessando as nuvens escuras do meu nervosismo. Eu respirei fundo e assenti. Max se aproximou de nós. — Preparada? – Meu amigo perguntou.— Vê se não deixa a minha mulher cair. – Gui olha para Max que sorri, os dois passaram a se dar bem o que é bom. — Gui, vai amor, se alguém te pega aqui serei advertida. – Ele sorriu e me
Stephanny Giacomelli DuarteGui e eu nos dirigimos ao presídio onde meu tio estava detido. A atmosfera estava carregada de tensão enquanto nos aproximávamos do local. Eu estava preparada para confrontar aquele que havia trazido tanto sofrimento para minha vida.Quando entramos na prisão e fomos levados à sala de visitas, lá estava meu tio, sentado, olhando para nós com um sorriso cruel. Encarei-o e senti um certo medo.— Stephanny, minha querida sobrinha, que surpresa agradável. – Meu tio zombou, fazendo um gesto exagerado com as mãos. — O que a trouxe aqui, está com saudades?— O motivo da minha visita é que eu descobri algumas coisas a seu respeito e gostaria que me esclarecesse. – Meu tio sorriu.— E o que gostaria de saber?Perguntei a ele quantas vezes ele tentou me ferir de alguma forma e ele me diz com naturalidade que a primeira vez que ele tentou me matar eu tinha um ano e meio. Meu tio não esboçava nenhuma reação de culpa; ele sorria.— Como eu disse daquela vez, eu queria v
Último capítulo