Bruna deslizou os pés pela areia fina que invadia a praça da vila, deixando rastros que o vento logo apagava, como se até suas pegadas precisassem ser esquecidas. O vestido branco, leve e solto, colava-se suavemente às curvas ainda aquecidas pelo sol da manhã. Caminhava sem rumo definido, guiada apenas pela promessa implícita que aquela manhã dourada parecia sussurrar: liberdade.
O ar estava saturado de cheiros doces e quentes — açúcar queimado, dendê, o sal das conchas que se quebravam em silêncio sob seus pés. A feira de artesanato se espalhava diante dela como um organismo vivo: barracas coloridas, fitas esvoaçantes, redes de algodão trançadas à mão, cestos repletos de frutas carnudas. Era impossível não ser invadida por uma sensação quase voluptuosa de pertencimento, como se, naquele espaço desordenado, tudo encontrasse sua forma natural.
Parou diante de uma banca onde uma mulher morena enrolava pulseiras de contas ao redor dos pulsos de uma turista estrangeira. O tilintar das peças era como um convite. Bruna deixou os dedos passearem pelos colares expostos, sentindo a textura fria das sementes, o entrelaçar das palhas, e se pegou sorrindo discretamente, ao perceber que ali ninguém precisava esconder a pele, o desejo, o próprio corpo.
Enquanto admirava um brinco de penas verdes, sentiu, antes de ver, um olhar pousar sobre si.
Foi uma sensação tátil, quase física: como o calor súbito de um raio de sol atravessando uma brecha na folhagem ou o arrepio que percorre a pele ao ser tocada de surpresa.
Levantou o rosto devagar, guiada por essa intuição instintiva, e então o viu.
Do outro lado da banca, ligeiramente afastado, entre a sombra projetada por uma amendoeira e a luz que filtrava as fitas de tecido, estava ele. O homem.
A princípio, foi apenas um traço no meio do cenário: alto, magro, pele dourada pela luz oblíqua, cabelos negros caindo despreocupadamente sobre a testa. Vestia uma camisa branca de linho, aberta até o peito, revelando a linha discreta da clavícula. Não usava óculos escuros, e os olhos — escuros, rasgados, densos — estavam inteiramente nela.
Bruna sentiu o ventre contrair-se num espasmo involuntário, como se aqueles olhos tivessem atravessado, num único golpe silencioso, todas as suas defesas cuidadosamente erguidas.
O tempo se estirou entre eles, como um fio invisível que vibrasse sob tensão.
Ela não desviou o olhar — não imediatamente. O coração batia num compasso diferente, ora lento, ora abrupto, enquanto examinava aquele rosto estranho e, ao mesmo tempo, curiosamente familiar, como se já o tivesse sonhado, em noites febris, quando o corpo implorava por esquecimento e prazer.
O homem não sorriu. Nem precisou. O olhar bastava: atento, discreto, mas claramente interessado.
Bruna apertou o colar que ainda segurava, como se aquilo pudesse lhe dar alguma firmeza, e então, num gesto quase automático, devolveu a peça à banca.
Virou-se para seguir seu caminho, mas seus pés pareciam enraizados, fixos naquele chão quente, presos pela intensidade silenciosa daquele encontro inesperado.
Respirou fundo, enchendo os pulmões do ar espesso, carregado do cheiro doce de frutas e da maresia que vinha do mar logo adiante. Fechou brevemente os olhos, lutando contra o impulso visceral de olhar novamente para trás.
Mas olhou.
E ele ainda estava lá.
Agora, ligeiramente mais próximo, caminhando devagar entre as barracas, como quem aprecia os objetos expostos, mas, na verdade, seguia atraído por ela, como por um campo magnético incontrolável.
Bruna sentiu o calor subir pelas coxas, alcançar o ventre, inundar-lhe o peito. Era um desejo cru, repentino, sem lógica, mas indiscutivelmente presente.
Disfarçou, fingindo observar as peças de uma banca de roupas, as mãos acariciando os tecidos finos, as estampas florais. Queria se recompor, respirar, ordenar os pensamentos. Mas a pele… a pele parecia ter vontade própria, acesa, atenta, como se cada centímetro dela tivesse sido chamado a despertar por aquele olhar.
De canto de olho, percebeu quando ele parou, a poucos passos, diante de uma banca de cerâmicas. Tocou, distraído, uma escultura de argila em forma de sereia, enquanto, discretamente, ainda a observava.
Bruna mordeu o lábio inferior, numa mistura de ansiedade e excitação, e então fez o que, até um dia antes, jamais acreditaria ser capaz: andou lentamente, aproximando-se, fingindo desinteresse, até parar à mesma banca.
As costas de suas mãos quase se tocaram quando ela se inclinou para examinar uma peça. O calor irradiado do corpo dele era perceptível, quase tão tangível quanto a cerâmica que acariciava.
E, então, como se a vida tivesse decidido que aquele seria o exato momento, os olhos de ambos se encontraram novamente, mais próximos, mais nítidos, mais impossíveis de negar.
Bruna sentiu a respiração falhar por uma fração de segundo.
Ele não disse nada. Não era preciso.
O olhar dele dizia mais: percorria-lhe o rosto, demorava-se na curva dos lábios, descia até a clavícula exposta, e voltava aos olhos, como quem traçava um mapa íntimo, silencioso, só deles.
Ela quis sorrir, mas conteve-se. Não seria ela quem daria o primeiro passo.
Virou-se lentamente, deixando o perfume suave de baunilha e sal pairar no ar, e caminhou com passos firmes pela praça, afastando-se, sem olhar para trás.
Mas, por dentro, tremia.
O calor do sol parecia insuficiente para justificar a febre que lhe subia pela pele, como se cada poro, cada músculo, estivesse em estado de alerta, ansiando por aquele homem que, até poucos minutos antes, era apenas mais um estrangeiro perdido naquela vila à beira-mar.
Caminhou até o limite da feira, onde o calçamento de pedras cedia novamente espaço à areia quente e, finalmente, permitiu-se soltar o ar, como quem sai de um mergulho inesperado e profundo.
No peito, o coração seguia batendo descompassado, como um tambor antigo, chamando-a, silenciosamente, para algo que ela ainda não ousava nomear.
Do outro lado da praça, Min Jae-Hyun permaneceu parado, assistindo-a se afastar, os olhos fixos naquele corpo que se movia com a naturalidade selvagem das coisas que não sabem que são desejadas.
E, naquele instante, soube, com a clareza inconfundível do desejo, que voltariam a se cruzar.
Era inevitável.