Deise sempre sonhou com um casamento por amor, mas seu destino foi selado por uma assinatura. Forçada a casar-se com Lucas, um homem frio e ambicioso, devido a uma dívida misteriosa de seu pai, ela vê seus planos de liberdade e felicidade desmoronarem. O contrato que deveria garantir a segurança financeira da família, na verdade, compromete sua herança e a prende em uma união sem afeto, repleta de silêncios e obrigações. Ao mudar-se para a imponente mansão da família Duarte, Deise se vê cercada por luxo, regras e olhares julgadores. Mas é na figura de Miguel, o cunhado gentil e carismático, que ela encontra abrigo e compreensão. Entre conversas sinceras e momentos inesperados, a amizade entre eles floresce com intensidade. E então, um beijo proibido muda tudo. O gesto impulsivo desencadeia uma série de consequências imprevisíveis: traições, ameaças veladas, segredos do passado vindo à tona e um jogo perigoso de interesses envolvendo poder, lealdade e amor. Deise passa a ser perseguida, odiada por aqueles que antes se diziam aliados, e se vê no centro de uma trama onde sua vida e sua sanidade estão em risco. Enquanto tenta entender os sentimentos que a consomem por Miguel, ela se pergunta: até onde vai à lealdade de um homem que se diz seu protetor? Ele é realmente confiável ou apenas mais uma peça no jogo cruel iniciado por seu pai e por um passado que ela desconhece?
Leer másPALAVRAS DA AUTORA:
Escrever esta história foi como mergulhar em um turbilhão de emoções intensas, onde cada página carrega um peso de sentimentos profundos, dilemas morais e escolhas impossíveis. Dianna não é apenas uma personagem; ela representa tantas pessoas que, em algum momento da vida, sentiram-se presas a um destino que não escolheram, obrigadas a abrir mão dos próprios sonhos para carregar o fardo de outros.
Neste romance, quis explorar o lado mais sombrio do amor, aquele que desafia barreiras, que nasce onde não deveria e que se torna perigoso ao tocar corações errados. Mas, acima de tudo, esta é uma história sobre coragem—sobre uma mulher que, apesar das amarras impostas pelo destino, ousa desafiar as regras para buscar sua verdadeira felicidade.
Prepare-se para sentir o frio da incerteza, o calor da paixão proibida e o peso das consequências de cada decisão. Cada reviravolta é um lembrete de que o amor pode ser tão cruel quanto libertador. Espero que, ao virar a última página, você sinta o impacto dessa jornada tanto quanto eu senti ao escrevê-la.
Com carinho,
Fátima Souza
***
1. UMA PAIXÃO SECRETA
O anoitecer caía suavemente sobre Nova Iorque. Do lado de fora da mansão Duarte, os flocos de neve rodopiavam com delicadeza no ar, cobrindo a cidade com um manto branco e luminoso. O silêncio da noite era quebrado apenas pelo som abafado do vento e o ocasional estalo dos galhos congelados.
Deise Duarte observava esse espetáculo natural pela janela da sala de estar, os braços cruzados e a testa encostada no vidro gelado. Seus olhos vagavam por entre os flocos que caíam como se buscassem, ali fora, uma resposta que o coração já sabia, mas se recusava a aceitar. Estava casada havia quase um ano com um homem que não amava, e a dor daquela decisão pesava como correntes em sua alma.
Ela havia sido obrigada a se casar com Lucas Duarte, o filho mais velho de uma das famílias mais influentes da cidade. Um contrato, uma dívida misteriosa de seu pai com os Duarte, e uma assinatura em um pedaço de papel bastaram para selar seu destino.
A tristeza a dominava a ponto de seus olhos se encherem de lágrimas silenciosas. O peso da solidão, do vazio em seu peito e da constante sensação de aprisionamento ameaçavam afogá-la. Foi então que o som da campainha a despertou do transe.
— Deise! — chamou uma voz masculina do outro lado da porta.
Ela se recompôs, enxugou discretamente as lágrimas e caminhou com calma até a entrada. Ao abrir, encontrou Miguel Duarte, o irmão mais novo de Lucas, parado na soleira com uma expressão calorosa.
— Miguel... — disse ela, surpresa, forçando um sorriso. — Não esperava vê-lo esta noite.
— Desculpe te incomodar novamente. Eu tinha dito que ficaria com o Matias hoje, mas surgiu uma emergência no hospital. Eu terei que substituir um cirurgião e trata-se de uma criança, por isso é tão urgente. Será que você pode ficar com o Matias está... — Ele deu um meio sorriso cansado, tirando os flocos de neve do casaco.
Antes que pudesse continuar, Deise se adiantou.
— Eu cuido dele Miguel, fique tranquilo.
— Deise, eu realmente aprecio isso. Ele está dormindo no carro, eu vou buscá-lo.
Miguel era um homem de presença marcante. Tinha vinte e nove anos, viúvo, pai de um menino adorável de cinco anos, e trabalhava como cirurgião no Mount Sinai Hospital. Os cabelos claros bem penteados contrastavam com a pele bronzeada e os olhos azuis intensos, que pareciam enxergar além do que os outros viam. Um homem que lhe despertava suspiros, mesmo sem tentar.
Pouco tempo depois, ele voltou com o menino nos braços e o levou até um dos quartos de hóspedes. Quando retornou, seu olhar encontrou o de Deise. Houve um silêncio momentâneo e, por um instante, ambos pareceram esquecer o mundo ao redor.
— Ele já comeu e deve dormir até amanhã. Talvez eu demore para voltar.
— Não se preocupe. Fique o tempo que precisar.
Miguel sorriu, e Deise o observou enquanto ele se afastava. Seu coração acelerava de uma forma estranha e desconfortável. O que sentia por Miguel parecia proibido, Inaceitável. Mas ainda assim... era real.
Ela suspirou e seguiu para o quarto onde Matias dormia tranquilamente. Enquanto caminhava se lembrava da última conversa que teve com seu pai antes de assinar aquele contrato. Seu pai estava no leito de um hospital e logo seria encaminhado para uma cirurgia delicada. Mas a dívida, a pressão, o pedido desesperado... Ele havia hipotecado sua liberdade, sua vida, para salvar um império afundado em segredos. Para salvar a si mesmo.
Lucas, seu marido, era um homem de trinta e cinco anos, charmoso e bem-sucedido, mas arrogante, violento e frio como o gelo. Nunca a tocara. Nunca sequer dividira um quarto com ela, como era exigido no contrato. Para Deise, aquilo não era um casamento — era uma transação. E cada dia ao lado dele a fazia se sentir menos viva.
O toque do telefone interrompeu seus pensamentos. Ela atendeu com a voz contida.
— Deise. — Era Lucas, sempre direto. — A reunião com os Franceses vai demorar mais do que o esperado. Eu só devo ir para casa manhã. Esteja em casa quando eu chegar, pois precisamos conversar.
— Tudo bem. — respondeu ela, intrigada com o telefonema.
Ele nunca ligava. Era o tipo de homem que avisaria por mensagem seca e fria, mas aquela atitude lhe deixou intrigada. Não era a primeira vez que ele agia estranho com ela. Alguma coisa estava acontecendo e ela precisava saber o que era.
Na manhã seguinte, Deise foi despertada pela insistência da campainha. Ainda usando o roupão de seda, caminhou até a entrada e, para sua surpresa, era Miguel novamente.
— Desculpe te acordar tão cedo.
— Não se preocupe. Seu irmão chegará a qualquer momento. Eu já deveria estar de pé. Vou para cozinha preparar um café. Você quer? — perguntou, caminhando até a cozinha.
— Sim, um café cairia bem. Lucas ainda está dormindo?
— Sim, dormindo como um anjo.
Enquanto conversavam, Miguel a acompanhava com os olhos. Ela sentia o peso daquele olhar... um calor invisível que queimava sua pele. Deise tentou ignorar, mas seu corpo traía a razão. Ela sabia que não era a primeira vez. Os olhares de Miguel tinham uma intensidade diferente, um desejo contido, feroz e silencioso.
— Aqui está. — disse ela, servindo o café. — Quer leite?
— Não, assim está ótimo. — Ele tomou um gole e mudou o rumo da conversa: — Você disse que meu irmão está chegando?
— Sim. Ele ligou ontem. Achei tão estranho... o Lucas nunca me avisa de nada. Nem quando vai sair ou chegar e nos últimos dias tem se aproximado.
Ela suspirou, mexeu um pouco o café para adoçá-lo e perguntou:
— Você vai participar da reunião hoje à noite?
— Não. Claro que não!
— Seu pai deve chegar logo.
— Deise... — disse Miguel, agora mais sério. — Sinceramente, não me importo com meu pai ou com a empresa dele. Tenho minha vida, meu filho, meu trabalho. É tudo o que importa para mim.
— Desculpe... eu não devia...
Miguel se aproximou devagar. Seus dedos tocaram o rosto dela com ternura, acariciando uma mecha de cabelo que caía sobre a testa. Deise estremeceu. Seu corpo reagiu ao toque dele de forma involuntária, indesejada... mas verdadeira.
— Sinto muito. Não quis ser rude. Só... eu me preocupo com você, Deise. Sei que, o que meu pai fez com sua família é imperdoável. Mas quero que saiba que eu não sou como eles. Não faço parte dessa família há muito tempo.
Agora, ele estava tão perto que ela podia sentir a respiração dele em sua pele. Os olhos azuis a perfuravam com um misto de desejo e dor. E quando sua mão deslizou pelos cabelos dela, Deise sentiu algo em seu peito explodir — uma emoção contida, reprimida, impossível de ignorar. Eles se entreolharam e a boca de Miguel se aproximou da dela. Deise fechou os olhos por um instante, quase cedendo. Mas o rangido repentino da porta os despertou.
Miguel recuou imediatamente, reassumindo a compostura. Sentou-se de novo à mesa no exato momento em que Maria, a governanta, entrou sorrindo.
— Bom dia, Sra. Duarte! Bom dia, senhor Miguel!
— Maria... não esperava vê-la tão cedo. — disse Deise, ainda tentando recuperar o fôlego.
— Desculpe, senhora. O senhor Duarte me ligou dizendo que estava a caminho e precisava que eu viesse imediatamente.
— Entendi. — respondeu Deise, fria. Seus olhos encontraram os de Miguel, e naquele breve instante, ambos sabiam que algo havia mudado. Algo que não podia ser mais ignorado.
— Eu preciso ir... com licença. — Deise falou por fim, seguindo para o quarto, deixando atrás de si um silêncio carregado de tensão e desejo.
O dia seguinte amanheceu silenciosa, como se o próprio dia hesitasse em começar diante da tensão que pairava naquela casa. Lucas, como de costume, saiu cedo para o trabalho. O som da porta se fechando foi como um sinal para Deise respirar aliviada. Somente quando o carro dele sumiu ao longe, ela finalmente desceu para tomar café. Tentava manter a compostura, mas seus pensamentos estavam acelerados — aquela noite ainda pesava em sua mente.Depois de algumas horas, ela decidiu caminhar pelo jardim, buscando acalmar a alma. O vento tocava seu rosto com delicadeza, mas nem isso suavizava o nó em seu peito. Foi então que ouviu a voz de Maria chamando seu nome com gentileza:— Deise.Ela se virou e sorriu, um sorriso discreto, porém sincero.— Oi, Maria.— Eu ouvi... sua conversa com o Lucas ontem à noite — confessou a empregada, com um olhar cheio de preocupação. — Se quiser, eu posso ficar com você durante o jantar. Não precisa enfrentar isso sozinha.Deise hesitou por um momento. Seu olh
A noite caiu com um silêncio estranho, quase ameaçador. O céu, encoberto por nuvens pesadas, parecia refletir exatamente o que se passava no coração de Deise: uma tempestade prestes a explodir. Ela havia passado o dia entre pensamentos e decisões. Tinha arrumado discretamente algumas coisas, sem fazer alarde. Sabia que cada passo precisava ser calculado. Ainda não era livre — mas já não se sentia prisioneira. E isso fazia toda a diferença.Estava no quarto, lendo mecanicamente as páginas de um livro qualquer, quando ouviu a porta da frente bater com força. O som dos sapatos masculinos ecoando pelo piso de mármore da casa denunciava quem acabara de chegar. O cheiro amadeirado do perfume caro invadiu o corredor antes mesmo de sua presença.Lucas.Ele surgiu à porta do quarto com o mesmo sorriso artificial de sempre — aquele que não alcançava os olhos.— Boa noite, querida. — disse, com uma falsa leveza, como se ainda existisse entre eles qualquer traço de normalidade.Deise sequer ergue
Os dias passaram com uma velocidade impressionante. O tempo parecia escorrer por entre os dedos de Deise como areia fina, e, quando menos esperava, a terça-feira enfim chegou. Ela se levantou cedo, o coração batendo num ritmo mais acelerado que o habitual. Era um misto de expectativa e ansiedade. Enquanto tomava seu café da manhã, tentando acalmar os pensamentos, seu celular vibrou sobre a mesa. Ela olhou o visor e viu o nome de Telles. Atendeu de imediato.— Bom dia, Deise. — a voz do advogado surgiu grave, mas com um tom gentil. — Eu sinto muito, mas não poderei te encontrar hoje.Ela franziu a testa, surpresa.— Como assim? — perguntou, tentando disfarçar a frustração que já começava a crescer dentro dela. — Eu estava contando com isso, Telles. Preciso saber o que você descobriu sobre a Thays.— Eu entendo. E lamento mesmo. Mas surgiu algo urgente. Preciso me reunir com o Miguel ainda hoje, é algo delicado e inadiável. Acredite, é para o bem de todos nós.Deise suspirou profundamen
Miguel recostou lentamente a cabeça no encosto do sofá. O silêncio tomou conta da sala, denso e cortante. Ele fechou os olhos por um instante, como se tentasse conter algo dentro de si — talvez fosse a dor, talvez a raiva, ou, quem sabe, apenas o choro que ameaçava se libertar.Deise observava cada detalhe de sua expressão. O modo como ele mantinha a mandíbula tensa, os dedos entrelaçados no próprio colo, os olhos marejados. Era como se ele estivesse tentando segurar um mundo inteiro dentro do peito.Sem dizer uma palavra, ele se levantou. Os passos foram lentos, mas firmes. Caminhou até a grande porta de vidro da sala, que dava para a varanda. Lá fora, a cidade brilhava sob o céu noturno, com suas luzes piscando como estrelas terrestres, mas Miguel não via nada daquilo. Sua mente estava mergulhada em lembranças, em dúvidas, em revolta. O passado voltava a gritar como um trovão dentro de sua cabeça.Deise levantou-se também e, num gesto instintivo, se aproximou dele. Sem hesitar, envo
O silêncio pairava como uma nuvem densa na sala, e o coração de Deise batia mais rápido a cada segundo. Ela sentia que o que Miguel estava prestes a dizer poderia mudar muitas coisas — ou tudo. Eles estavam sentados lado a lado no sofá, mas mesmo com a proximidade, havia uma distância invisível entre eles, uma espécie de barreira feita de memórias, segredos e mágoas antigas.Miguel passou as mãos pelos cabelos, visivelmente nervoso, e soltou um suspiro profundo antes de começar a falar. Sua voz saiu baixa, quase rouca, mas firme o suficiente para mostrar que ele estava decidido a contar tudo.— Bom... eu devia ter uns quinze anos quando fui morar com meus avós em Manhattan. — ele começou, com um leve sorriso que logo se transformou em uma risada curta. — Na verdade, fui expulso de casa. Botei fogo na sala da diretora da escola. Foi um acidente... mais ou menos. Meu pai surtou e me mandou embora.Ele riu outra vez, tentando tornar o clima mais leve, mas seus olhos denunciavam que aquil
Quando Deise chegou à Avenida Marques, seu coração já dançava no peito. Entrou no prédio com passos contidos, preparando-se para anunciar sua chegada, mas antes que pudesse fazê-lo, Miguel surgiu à sua frente com um sorriso que a fez esquecer do mundo.Ele acenou suavemente, e ela se aproximou devagar, sentindo os olhos dele percorrem cada detalhe de seu rosto como se a estivesse vendo pela primeira vez.— Às vezes, quando olho para você… fico sem palavras. — disse ela, num sussurro quase tímido.Miguel apenas sorriu, sem precisar responder. Abriu a porta do elevador e ambos entraram, compartilhando um olhar que dizia mais do que qualquer frase ensaiada.— Me desculpe por ontem… — ele começou, a voz baixa e carregada de sinceridade. — Você me desconcertou com aquela pergunta, mas prometo que vou te contar tudo.— Eu sei. — respondeu ela, com uma suavidade confiante que o emocionou.Miguel ergueu a mão e, com a ponta dos dedos, tocou os lábios dela com carinho, depois traçou o caminho
Último capítulo