As mãos de Maria, agora frias e úmidas de suor, tremiam tanto que mal conseguia segurar o telefone fixo da sala. Ela discou o número de Roberto com dificuldade, errando duas vezes até conseguir acertar.
— Sr. Roberto, por favor atenda! Sr. Roberto! — implorava ela, com a respiração falha. O telefone chamava, chamava, mas não havia resposta.
— Por que não me atende, meu Deus? — murmurava entre dentes, andando de um lado ao outro, perdida, quase chorando. A sensação de impotência a consumia.
De repente, ela parou. Seus olhos se arregalaram como se tivesse se lembrado de algo essencial.
— Miguel! É isso, o Sr. Miguel!
Discou com pressa. No segundo toque, ele atendeu.
— Fala, Maria, o que tá acontecendo? Você tá chorando?
— Ah, Sr. Miguel! É seu irmão… é a Senhora Deise! — a voz dela tremia como uma folha ao vento. — Por favor, venha agora. Por favor!
— Droga. Tô indo!
A ligação foi encerrada bruscamente. Miguel nem esperou mais explicações. Saiu correndo do prédio onde estava, pulou para dentro do carro e acelerou como um louco pelas ruas da cidade, com o coração batendo no ritmo da urgência.
Enquanto isso, Maria se posicionou diante da porta da frente, as pernas mal sustentando seu corpo. Ela olhava para a rua a cada segundo, os olhos marejados, a respiração entrecortada. Aquela espera parecia durar uma eternidade. Quando finalmente o carro de Miguel surgiu em alta velocidade e parou, ela abriu a porta antes mesmo que ele saísse do veículo.
— Onde eles estão?! — gritou ele, já com o olhar flamejante.
— Lá em cima! No quarto... Eu ouvi os gritos!
Miguel correu. Subiu os degraus de dois em dois, sentindo a fúria crescer dentro dele como uma tempestade. Conhecia o irmão, sabia que ele era instável, e o clima no jantar já havia lhe deixado apreensivo. Mas ele nunca imaginou que chegaria a esse ponto.
Chegando ao corredor, bateu na porta com força.
— Deise! Lucas, abre essa porta! Abre agora ou eu arrebento!
Não esperou resposta. No segundo seguinte, desferiu um chute poderoso na porta. O trinco quebrou com um estalo seco, e ela se escancarou.
O quarto era um cenário de horror.
Deise estava caída no chão, parcialmente coberta, com o rosto manchado de sangue e hematomas visíveis nos braços e pernas. Miguel só teve tempo de dar um passo para entrar quando Lucas o surpreendeu com um soco direto no estômago, jogando-o contra a parede.
— Ela é minha mulher! Não se meta, irmãozinho!
Miguel se recuperou rapidamente, soltou um rugido de raiva e revidou com um golpe certeiro no rosto de Lucas, quebrando-lhe o nariz. O som do osso estalando foi seco, e sangue escorreu imediatamente pelo rosto transtornado de Lucas.
— Desgraçado! — gritou Miguel. — Você vai pagar por isso!
Enquanto os dois trocavam socos brutais, Maria entrou correndo no quarto e correu até o corpo desacordado de Deise.
— Senhora! Senhora Deise, acorde! — suplicava, sacudindo-a com cuidado. Os olhos de Deise se abriram lentamente, a respiração fraca, um sorriso quase imperceptível se formou em seus lábios antes de ela desmaiar de novo.
— Fique comigo, por favor…
Dois seguranças, alertados pelos gritos e pela confusão, invadiram o quarto logo em seguida. Eles separaram os irmãos com força, um segurando Lucas, ainda nu e ensanguentado, o outro tentando acalmar Miguel.
— Soltem-me! Ela é minha esposa! — urrava Lucas, fora de si, tentando se desvencilhar dos braços que o continham.
— O senhor precisa se acalmar, Sr. Duarte! — disse um dos seguranças, firme.
— Cala a boca! Sai da minha frente! — gritou Lucas, cuspindo sangue.
O segurança o arrastou para fora do quarto à força, enquanto o outro tentava conter Miguel, que ainda queria ir atrás do irmão.
No chão, Maria tentava estancar o sangramento na testa de Deise com um lenço. Miguel, vendo a cena, ajoelhou-se ao lado dela com lágrimas nos olhos.
— Deise... meu Deus, olha o que ele fez com você.
Enquanto isso, Lucas, ainda desnorteado e furioso, vestindo-se às pressas, desceu as escadas, as mãos trêmulas de raiva. Pegou as chaves do jipe com brutalidade, bateu à porta e saiu cantando pneu. Partiu em direção ao centro da cidade, possuído por uma raiva cega, enquanto o caos que deixará para trás começava a se desdobrar em consequências irreversíveis.