PALAVRAS DA AUTORA:
Escrever esta história foi como mergulhar em um turbilhão de emoções intensas, onde cada página carrega um peso de sentimentos profundos, dilemas morais e escolhas impossíveis. Dianna não é apenas uma personagem; ela representa tantas pessoas que, em algum momento da vida, sentiram-se presas a um destino que não escolheram, obrigadas a abrir mão dos próprios sonhos para carregar o fardo de outros.
Neste romance, quis explorar o lado mais sombrio do amor, aquele que desafia barreiras, que nasce onde não deveria e que se torna perigoso ao tocar corações errados. Mas, acima de tudo, esta é uma história sobre coragem—sobre uma mulher que, apesar das amarras impostas pelo destino, ousa desafiar as regras para buscar sua verdadeira felicidade.
Prepare-se para sentir o frio da incerteza, o calor da paixão proibida e o peso das consequências de cada decisão. Cada reviravolta é um lembrete de que o amor pode ser tão cruel quanto libertador. Espero que, ao virar a última página, você sinta o impacto dessa jornada tanto quanto eu senti ao escrevê-la.
Com carinho,
Fátima Souza
***
1. UMA PAIXÃO SECRETA
O anoitecer caía suavemente sobre Nova Iorque. Do lado de fora da mansão Duarte, os flocos de neve rodopiavam com delicadeza no ar, cobrindo a cidade com um manto branco e luminoso. O silêncio da noite era quebrado apenas pelo som abafado do vento e o ocasional estalo dos galhos congelados.
Deise Duarte observava esse espetáculo natural pela janela da sala de estar, os braços cruzados e a testa encostada no vidro gelado. Seus olhos vagavam por entre os flocos que caíam como se buscassem, ali fora, uma resposta que o coração já sabia, mas se recusava a aceitar. Estava casada havia quase um ano com um homem que não amava, e a dor daquela decisão pesava como correntes em sua alma.
Ela havia sido obrigada a se casar com Lucas Duarte, o filho mais velho de uma das famílias mais influentes da cidade. Um contrato, uma dívida misteriosa de seu pai com os Duarte, e uma assinatura em um pedaço de papel bastaram para selar seu destino.
A tristeza a dominava a ponto de seus olhos se encherem de lágrimas silenciosas. O peso da solidão, do vazio em seu peito e da constante sensação de aprisionamento ameaçavam afogá-la. Foi então que o som da campainha a despertou do transe.
— Deise! — chamou uma voz masculina do outro lado da porta.
Ela se recompôs, enxugou discretamente as lágrimas e caminhou com calma até a entrada. Ao abrir, encontrou Miguel Duarte, o irmão mais novo de Lucas, parado na soleira com uma expressão calorosa.
— Miguel... — disse ela, surpresa, forçando um sorriso. — Não esperava vê-lo esta noite.
— Desculpe te incomodar novamente. Eu tinha dito que ficaria com o Matias hoje, mas surgiu uma emergência no hospital. Eu terei que substituir um cirurgião e trata-se de uma criança, por isso é tão urgente. Será que você pode ficar com o Matias está... — Ele deu um meio sorriso cansado, tirando os flocos de neve do casaco.
Antes que pudesse continuar, Deise se adiantou.
— Eu cuido dele Miguel, fique tranquilo.
— Deise, eu realmente aprecio isso. Ele está dormindo no carro, eu vou buscá-lo.
Miguel era um homem de presença marcante. Tinha vinte e nove anos, viúvo, pai de um menino adorável de cinco anos, e trabalhava como cirurgião no Mount Sinai Hospital. Os cabelos claros bem penteados contrastavam com a pele bronzeada e os olhos azuis intensos, que pareciam enxergar além do que os outros viam. Um homem que lhe despertava suspiros, mesmo sem tentar.
Pouco tempo depois, ele voltou com o menino nos braços e o levou até um dos quartos de hóspedes. Quando retornou, seu olhar encontrou o de Deise. Houve um silêncio momentâneo e, por um instante, ambos pareceram esquecer o mundo ao redor.
— Ele já comeu e deve dormir até amanhã. Talvez eu demore para voltar.
— Não se preocupe. Fique o tempo que precisar.
Miguel sorriu, e Deise o observou enquanto ele se afastava. Seu coração acelerava de uma forma estranha e desconfortável. O que sentia por Miguel parecia proibido, Inaceitável. Mas ainda assim... era real.
Ela suspirou e seguiu para o quarto onde Matias dormia tranquilamente. Enquanto caminhava se lembrava da última conversa que teve com seu pai antes de assinar aquele contrato. Seu pai estava no leito de um hospital e logo seria encaminhado para uma cirurgia delicada. Mas a dívida, a pressão, o pedido desesperado... Ele havia hipotecado sua liberdade, sua vida, para salvar um império afundado em segredos. Para salvar a si mesmo.
Lucas, seu marido, era um homem de trinta e cinco anos, charmoso e bem-sucedido, mas arrogante, violento e frio como o gelo. Nunca a tocara. Nunca sequer dividira um quarto com ela, como era exigido no contrato. Para Deise, aquilo não era um casamento — era uma transação. E cada dia ao lado dele a fazia se sentir menos viva.
O toque do telefone interrompeu seus pensamentos. Ela atendeu com a voz contida.
— Deise. — Era Lucas, sempre direto. — A reunião com os Franceses vai demorar mais do que o esperado. Eu só devo ir para casa manhã. Esteja em casa quando eu chegar, pois precisamos conversar.
— Tudo bem. — respondeu ela, intrigada com o telefonema.
Ele nunca ligava. Era o tipo de homem que avisaria por mensagem seca e fria, mas aquela atitude lhe deixou intrigada. Não era a primeira vez que ele agia estranho com ela. Alguma coisa estava acontecendo e ela precisava saber o que era.
Na manhã seguinte, Deise foi despertada pela insistência da campainha. Ainda usando o roupão de seda, caminhou até a entrada e, para sua surpresa, era Miguel novamente.
— Desculpe te acordar tão cedo.
— Não se preocupe. Seu irmão chegará a qualquer momento. Eu já deveria estar de pé. Vou para cozinha preparar um café. Você quer? — perguntou, caminhando até a cozinha.
— Sim, um café cairia bem. Lucas ainda está dormindo?
— Sim, dormindo como um anjo.
Enquanto conversavam, Miguel a acompanhava com os olhos. Ela sentia o peso daquele olhar... um calor invisível que queimava sua pele. Deise tentou ignorar, mas seu corpo traía a razão. Ela sabia que não era a primeira vez. Os olhares de Miguel tinham uma intensidade diferente, um desejo contido, feroz e silencioso.
— Aqui está. — disse ela, servindo o café. — Quer leite?
— Não, assim está ótimo. — Ele tomou um gole e mudou o rumo da conversa: — Você disse que meu irmão está chegando?
— Sim. Ele ligou ontem. Achei tão estranho... o Lucas nunca me avisa de nada. Nem quando vai sair ou chegar e nos últimos dias tem se aproximado.
Ela suspirou, mexeu um pouco o café para adoçá-lo e perguntou:
— Você vai participar da reunião hoje à noite?
— Não. Claro que não!
— Seu pai deve chegar logo.
— Deise... — disse Miguel, agora mais sério. — Sinceramente, não me importo com meu pai ou com a empresa dele. Tenho minha vida, meu filho, meu trabalho. É tudo o que importa para mim.
— Desculpe... eu não devia...
Miguel se aproximou devagar. Seus dedos tocaram o rosto dela com ternura, acariciando uma mecha de cabelo que caía sobre a testa. Deise estremeceu. Seu corpo reagiu ao toque dele de forma involuntária, indesejada... mas verdadeira.
— Sinto muito. Não quis ser rude. Só... eu me preocupo com você, Deise. Sei que, o que meu pai fez com sua família é imperdoável. Mas quero que saiba que eu não sou como eles. Não faço parte dessa família há muito tempo.
Agora, ele estava tão perto que ela podia sentir a respiração dele em sua pele. Os olhos azuis a perfuravam com um misto de desejo e dor. E quando sua mão deslizou pelos cabelos dela, Deise sentiu algo em seu peito explodir — uma emoção contida, reprimida, impossível de ignorar. Eles se entreolharam e a boca de Miguel se aproximou da dela. Deise fechou os olhos por um instante, quase cedendo. Mas o rangido repentino da porta os despertou.
Miguel recuou imediatamente, reassumindo a compostura. Sentou-se de novo à mesa no exato momento em que Maria, a governanta, entrou sorrindo.
— Bom dia, Sra. Duarte! Bom dia, senhor Miguel!
— Maria... não esperava vê-la tão cedo. — disse Deise, ainda tentando recuperar o fôlego.
— Desculpe, senhora. O senhor Duarte me ligou dizendo que estava a caminho e precisava que eu viesse imediatamente.
— Entendi. — respondeu Deise, fria. Seus olhos encontraram os de Miguel, e naquele breve instante, ambos sabiam que algo havia mudado. Algo que não podia ser mais ignorado.
— Eu preciso ir... com licença. — Deise falou por fim, seguindo para o quarto, deixando atrás de si um silêncio carregado de tensão e desejo.