Mundo ficciónIniciar sesiónEla é o fogo que o tempo não conseguiu apagar. Entre o amor e o poder, Helena vive em duas eras — uma mulher moderna que carrega a alma de uma rainha do passado. Inspirada na força e no mistério de Maria Padilha, ela é desejo e perigo, paixão e segredo. Quando Rafael, um jornalista cético, cruza seu caminho, o mundo real e o espiritual se chocam. O que começa como investigação se torna obsessão, e logo ele entende: há mulheres que o destino não escolhe — elas criam o próprio destino. De Amante a Rainha é um romance arrebatador sobre poder, sedução e eternidade. Porque algumas mulheres não vivem apenas… elas atravessam o tempo.
Leer másCapítulo 1 — O Baile da Primavera
Eu nunca gostei de bailes. São reportagens difíceis: pouca luz, muito perfume e um mar de sorrisos que significam exatamente o contrário do que mostram. Mas, naquela noite, aceitei o crachá de imprensa e a gravata torta porque me prometeram duas coisas que jornalista algum recusa: acesso total — e um segredo. O Palácio das Magnólias abria os portões como se soltasse um suspiro antigo. A fachada, recém-restaurada, brilhava sob fileiras de lamparinas. Do lado de dentro, a orquestra atacava um bolero moderno, as cordas dançando devagar, como quem conhece a pressa dos ricos e a desdenha. Mulheres atravessavam o mármore com vestidos de seda que lembravam água em movimento. Homens se cumprimentavam medindo o peso um do outro pelo aperto de mão. Prendi o crachá no bolso interno do paletó. “Rafael Duarte, jornalismo investigativo.” Um título grande para uma assinatura pequena. Eu tinha uma pauta: o acordo silencioso entre três famílias que, juntas, decidiriam o destino de um porto e de uma eleição. E tinha um nome que, nas últimas semanas, surgia em todas as conversas ditas em voz baixa: Helena Padilla. Apareceu como boato, cresceu como sombra, ganhou legenda de milagreira — ou de maldição, dependendo de quem cochichava. “Ela resolve.” “Ela destrói.” “Ela entra e as coisas acontecem.” Eu me acostumei a desmontar mitos. Não estava preparado para ver um mito entrar pela porta principal. Antes dela, no entanto, veio a Marquesa Camila de Alencar, que não é marquesa de nada além do próprio sobrenome, mas aprendeu a transformar a palavra em coroa. Aproximou-se de mim com um sorriso de publicidade. — Duarte — disse, como se fôssemos velhos amigos. — Hoje você vai escrever a matéria da sua carreira. — Só se me contarem a verdade — respondi. — Verdade é uma palavra pesada para uma noite tão leve — ela riu. — Venha, vou te apresentar ao anfitrião. Caminhamos pela escadaria. De cima, a sala principal parecia um mosaico: joias em rubi, taças faiscando, risos que estouravam como bolhas em champanhe. No topo da escada, antes de virarmos à direita, um quadro me deteve. Uma mulher em três quartos, olhar de lado, vestido vinho, um anel grande na mão esquerda. Pintura do século XIX, moldura dourada. A legenda dizia: “Dama Anônima, coleção privada.” Não era a semelhança perfeita que me intrigou — retratos de salão repetem belezas como se seguissem receita. O que me prendeu foi o gesto de dedos, o mesmo que eu veria minutos depois. O anfitrião, Conde Victor Salazar, nos recebeu com um abraço que era quase um golpe de jiu-jitsu social. — Rafael! Admiro seu trabalho — disse, como todos os que gostariam que eu admirasse o deles. — Espero que a noite renda boas notas. — Já rendeu — respondi, olhando por cima do ombro dele. A orquestra mudou para um tango. Foi quando o salão ficou um pouco mais silencioso. É curioso como o silêncio se comporta em lugares assim: não é ausência de som, é uma atenção que se debruça. E toda a atenção se debruçou sobre a mulher que atravessou a porta ao fundo. Não foi a beleza. Beleza, ali, era abundância. Foi a maneira como ela pareceu desacelerar a sala, como se o tempo a obedecesse. Vestido negro sem brilho, um corte que deixava os ombros à mostra e pedia postura. Cabelo preso num coque alto, duas mechas soltas como descuido ensaiado. Nos lábios, um vermelho que não pedia licença. E no dedo, um anel de rubi que devolvia à sala um clarão íntimo, como se contasse um segredo só para quem soubesse enxergar. — Ela — disse Camila, desnecessária. — A mulher do momento. — Nome? — perguntei, só para ouvir como soava em voz alheia. — Helena Padilla. Tantas vezes eu já havia escutado, mas foi como se o nome só ganhasse corpo naquele instante. Acompanhei-a com os olhos. Não caminhava — marcava território. Cumprimentava sem se curvar; sorria sem entregar os dentes. Passou pelo Conde Salazar com um toque rápido no braço, um gesto pequeno que fez o homem de mil concessões parecer um rapaz convocado à diretoria. — Preciso falar com ela — falei. — Todos precisam — Camila respondeu, sem disfarçar o azedume. — Boa sorte. Desci um degrau, depois outro, calculando a rota para interceptá-la. O salão tinha modos de labirinto: toda diagonal encontra um obstáculo. Um garçom tropeçou em mim, uma taça se equilibrou milagrosamente, risos explodiram no canto esquerdo. Quando me desenvencilhei, Helena já estava no centro, onde o maestro levantava o arco como quem exibia um troféu. — Senhora Padilla — disse o Conde, oferecendo-lhe a mão. — O salão é seu. Ela fez um leve aceno, sem aceitar nem recusar. O gesto de dedos — o mesmo do retrato — desenhou um círculo invisível ao redor dela. Não sei explicar como certos detalhes prendem o olhar da gente. O anel brilhou e, por um segundo, eu tive a sensação absurda de que a pedra respirava. A música recomeçou. Um par surgiu do nada e ocupou a pista. Helena não dançou. Observou. E não havia nada de passivo no verbo, quando aplicado a ela. Era uma observação que ordenava: “façam.” E fizeram. Os acordos que eu tinha vindo caçar começaram a se mover como peças num tabuleiro. Notei três homens se reunindo junto ao bar. Dois deles eu conhecia de dossiês: um deputado que jurava não beber, um industrial que jurava não ser político. O terceiro, estrangeiro, gesticulava com parcimônia. Olhei para Helena. Ela assentiu, quase imperceptível, na direção deles. O estrangeiro levantou a taça. Brindaram a algo que ainda não tinha nome. — Você vê? — uma voz sussurrou no meu ombro. Virei-me. A Marquesa. — Vejo. — Então escreva. Mas cuidado com o que decide acreditar. Deixei-a com o conselho e atravessei o salão em direção ao bar. Não cheguei lá. Uma mulher interceptou meu caminho, não a Helena — uma secretária elegante, crachá de organização preso ao vestido. — Senhor Duarte? A senhora Padilla gostaria de falar com você — disse, com a neutralidade de quem anuncia a previsão do tempo. O coração deu um passo em falso, desses que a gente disfarça ajeitando o paletó. — Agora? — Agora. Fui conduzido a um corredor de boiseries claras. Um camarim improvisado com um biombo de seda servia de antessala. A secretária abriu a porta e me deixou. O perfume chegou antes dela — não doce, mas quente, com notas de algo que lembrava especiarias e brasa. Helena estava de costas, observando-se num espelho antigo que multiplicava a sala em molduras. — Senhor Duarte — ela disse, sem virar, e eu me incomodei com o fato de que eu ainda não havia me apresentado. — Precisa mesmo escrever sobre mim hoje? — Eu escrevo sobre fatos. A senhora parece produzi-los. Ela se virou. De perto, a beleza se tornava menos sobre equilíbrio de traços e mais sobre o domínio deles. Os olhos não eram claros nem escuros; eram atentos. O rubi, de perto, tinha inclusões como veias. O anel me lembrava algo que não alcançava. — Fatos são versões com dinheiro — ela disse. — E dinheiro muda de dono. O que você quer saber? O impulso foi perguntar tudo. Quem a financiava, de onde viera, se aquele anel tinha passado por dedos mais antigos que o nosso século. Em vez disso, disse o que todo jornalista honesto se obriga a dizer de vez em quando: — Não sei ainda. Só sei que todos parecem girar ao seu redor. — Não é mágica — ela sorriu, sem sorriso. — É matemática. Pessoas fazem contas, Rafael. Eu apenas mostro a elas onde o resultado pode ser maior. E, de vez em quando, onde o prejuízo será inevitável. — E hoje? O que mostra? — Que ninguém gosta de perder. — Ela se aproximou um passo, sem me tocar. — Você também não. — Não gosto de mentiras. — Mentiras são úteis — respondeu, como quem comenta um vinho. — O problema é quando acreditamos nas nossas próprias. Houve um silêncio curto. Eu ouvi a orquestra mudar o compasso, longe. Tive a sensação irritante de estar sendo entrevistado. Ela percebeu — claro que percebeu. — Vou te ajudar — disse, inclinando a cabeça. — À meia-noite, haverá um brinde que não foi combinado. Anote isso. Se você souber onde olhar, vai ver o começo de algo muito grande. E não estará escrito em lugar algum, ainda. — Por que me dizer? Ela tocou o anel, levemente, como quem checa a temperatura de uma xícara. — Porque você vai escrever mesmo assim. Prefiro que escreva com uma pista do que com um boato. — Um brilho rápido atravessou os olhos dela. — E porque, se você entender o que vai acontecer, talvez deixe de fazer a pergunta errada. — Qual é a pergunta errada? — “Quem é Helena Padilla?” — respondeu, devolvendo-me a mim mesmo. — A pergunta certa é: “por que todos precisam que ela seja alguém?” Quis responder com ironia, mas algo no jeito como ela pronunciou meu nome me desarmou. O som não era íntimo, mas era preciso. Como se ela praticasse os nomes que importam. — À meia-noite, então — falei. — À meia-noite. — Ela tocou a lateral do espelho, e por um segundo vi, refletida, a mulher do retrato do corredor. O mesmo gesto de dedos. A mesma distância do mundo. — Ah, e Duarte… — Sim? — Não publique a foto do quadro. Ainda não. — Por quê? — Porque as pessoas enxergam o que esperam ver. E hoje elas esperam ver um milagre. — Um sorriso de canto. — Não lhes dê um fantasma antes da hora. Saí do camarim com a sensação incômoda de que eu tinha feito muitas perguntas e obtido respostas demais que não respondiam nada. A secretária me reconduziu ao salão. A orquestra executava um tema alegre, mas o ambiente tinha uma tensão elétrica, dessas que arrepiam fios invisíveis. Procurei um relógio. Onze e quarenta e oito. Aproximei-me do bar onde os três homens conversavam. O deputado ria alto demais. O industrial bebia água, como quem limpa a consciência. O estrangeiro encarava o vazio com a serenidade dos que têm tempo. O Conde circulava as mesas como um general elegante. Onze e cinquenta e três. Vi Camila de Alencar posicionar-se ao lado de um grupo de mulheres, todas com joias que fariam chorar um museu. Ela falava baixo e gesticulava devagar, como quem hipnotiza. Quando me viu, brindou com o olhar. Tive vontade de rir: ali, até os olhares brindavam. Onze e cinquenta e nove. O maestro ergueu o arco. Os garçons surgiram como coreografia, taças equilibradas em bandejas que refletiam o teto. O Conde bateu levemente uma colher de prata contra o cristal. A música murchou ao redor do som. — Senhoras e senhores — a voz dele rolou, segura. — Um brinde à primavera, ao nosso encontro e… às novas parcerias. Virei o rosto, procurando Helena. Ela não estava no centro. Não estava ao lado do Conde. Estava no topo da escada, a mesma onde eu havia parado diante do retrato. Não fazia esforço para ser vista — e, mesmo assim, era impossível olhar outro lugar. Meia-noite. As taças subiram. O estrangeiro, que até então não pronunciara palavra, ergueu a dele um segundo antes dos demais. Um segundo é muito tempo quando todos medem o tempo juntos. Ele virou-se, levemente, para a direita — e a direita era onde estavam os homens do porto, os homens da eleição, os homens do futuro próximo. — À colheita — disse Helena, do alto, a voz só forte o suficiente para chegar onde devia. E, nesse instante, percebi o que eu não tinha vindo buscar: o brinde não tinha sido combinado porque era uma convocação, não uma celebração. Não se brindava a um acordo assinado; brindava-se ao início de uma dívida. Anotei três nomes. Tracei duas setas. Olhei de novo para o alto. O espaço na escada estava vazio. Quando dei por mim, eu estava correndo para o corredor dos retratos, sem saber exatamente por quê. Encontrei a moldura dourada, a “Dama Anônima”. O gesto de dedos, o anel. Inclinei o corpo para ler a pequena plaqueta ao lado, a que eu não havia notado antes. Letras miúdas, quase escondidas: “Doação da Família Padilla. Sem data.” O corredor ficou mais frio. Atrás de mim, a música recomeçou. No bolso, meu telefone vibrou com uma mensagem de número desconhecido. Abri. Só uma frase: “Viu o suficiente para não perguntar a coisa errada, Rafael?” Parei, no meio do corredor, entre um passado sem data e um presente com pressa. Eu ainda não sabia quem era Helena Padilla. Mas, pela primeira vez, entendi por que tantos precisavam que ela fosse alguém. E eu também.Mensagem Final aos Meus LeitoresQueridos leitores,Obrigada por caminharem comigo até a última página desta história.Obrigada por cada capítulo lido, cada comentário, cada emoção que vocês dividiram comigo nesta jornada.Vocês deram vida, força e destino a este livro.Quero dedicar esta obra com todo meu coração: A Maria Padilha, cuja força, mistério e luz inspiraram a alma da minha Helena.Uma mulher que atravessa séculos, que ensina coragem, e que desperta, em quem lê, a lembrança de que o feminino é ancestraI, livre e indomável. À minha mãe e meu pai, que me deram base, amor e coragem para ser quem sou.Vocês são minha raiz e meu porto seguro. Aos meus filhos, que são minha inspiração diária, minha alegria, meu motivo de continuar sonhando.Cada palavra minha também é por vocês. Ao meu esposo, que me apoia, me incentiva, me fortalece nos dias difíceis e comemora comigo cada pequena vitória. Aos meus amigos, que acreditaram na minha escrita, que me estenderam a mão quand
CAPÍTULO 59 — O VENTO QUE NÃO EXPLICA.O tempo não termina — ele se curva.Essa era a verdade que Helena carregava como segunda pele enquanto caminhava por um corredor que não pertencia a nenhuma era.O chão era de pedra antiga; o ar, de memória viva.O castelo surgia ao redor dela como se estivesse acordando após séculos de silêncio, reconhecendo sua presença.Ela não caminhava — deslizava.A cada passo, uma tocha se acendia sozinha, projetando luz amarelada sobre retratos que pareciam seguir seus movimentos com atenção devota.Retratos dela.De versões suas que viveram, sofreram, amaram e renasceram.A mulher com véu rubro que encantara reis.A conselheira que murmurava verdades proibidas nos salões de poder.A cortesã que transformou seu corpo em arma e sua mente em soberania.A companheira que amou um homem simples na era moderna — e o deixou ir para que ele fosse livre.Helena parou diante desses ecos.Cada quadro pulsava de leve, como se respirasse com ela.— Vocês ainda me guar
CAPÍTULO 58— AS TRAMAS DO VENTOO despertar de Helena não foi súbito — foi suave e lento, como quem volta de um sonho tão profundo que ainda permanece preso na pele.Quando abriu os olhos naquele lugar entre mundos, sentiu primeiro o ar.Ele vinha de todos os lados, tocando-a como dedos invisíveis, reconhecendo-a, saudando-a.O vento.Sempre o vento.Era ele quem a chamava quando o destino queria se mover.Era ele quem a avisava quando vidas estavam prestes a se cruzar.Era ele quem trazia segredos de lugares onde ela nunca estivera, mas que, de alguma forma, lhe pertenciam.— Estou aqui. — disse ela em voz baixa, sabendo que ele entenderia.E entendeu.O vento do leste respondeu com um sopro quente, vibrante, quase amoroso.Ele ondulou seu vestido, fez seu cabelo dançar, arrancou dela um suspiro que misturava lembrança e pressentimento.Algo havia mudado no mundo dos vivos.⸻O lugar onde estava não tinha paredes, teto ou chão.Era uma extensão de luz opaca, como se todas as eras se
CAPÍTULO 57 — O QUADRO NA LOJA DE ANTIGUIDADESNaquela mesma tarde — aquela que o vento escolhera — Mariana sentiu um incômodo doce no peito, como se alguém a chamasse sem voz.Era uma sensação suave, quase impossível de explicar, como se o destino tivesse aberto uma porta invisível.Ela não sabia para onde ir, mas sabia que precisava ir.O céu estava cinza, de um jeito que não entristecia — acalmava.Mariana caminhava sem rumo, deixando os passos seguirem sozinhos.As vitrines refletiam sua imagem, mas era como se ela não estivesse realmente ali.Havia algo chamando de outro lugar.Foi então que ouviu.Tlim.Uma pequena campainha tocou sozinha, empurrada apenas pelo vento.Mariana se virou.Ali estava uma loja que ela nunca tinha visto antes:Antiguidades do Leste.A porta era de madeira escura.Uma cortina de contas balançava devagar.E o ar tinha um perfume leve de jasmim — um cheiro que ela não reconhecia, mas que abraçou seu peito como memória esquecida.Sem pensar, ela entrou.⸻
CAPÍTULO 56 — AS TRAMAS DO VENTOO vento não mente.O vento não inventa.O vento apenas revela.Depois da noite em que despertou entre mundos — metade memória, metade eternidade — Helena sentiu o ar se mover de forma diferente.Não era apenas o vento do leste soprando nas cortinas do tempo.Era um chamado.Ela abriu os olhos lentamente, sentindo o corpo ainda dividido entre eras.Ali, onde se encontrava, nada tinha forma fixa.O espaço parecia feito de névoa, luz e lembranças.Como se estivesse em um corredor entre vidas.Sua respiração saiu calma, profunda, carregada de um conhecimento que não se explica — apenas se aceita.Ela tocou o rubi no peito.Ele vibrou.— Você novamente… — sussurrou ela.Mas não estava falando com o rubi.Estava falando com o vento.Porque ele, o vento, era o único mensageiro capaz de atravessar séculos sem perder a essência.E naquele dia, ele trazia algo diferente: movimento.Um destino recém-acordado.Helena caminhou pelo lugar onde o tempo se dobra.A ca
Capítulo 55 — A Filha do Vento Quando Helena abriu os olhos, o castelo estava diferente. Não menor. Não maior. Apenas… obediente. O vento entrava pelas pedras como se carregasse mensagens antigas. As tochas acendiam sozinhas quando ela caminhava. Os corredores ficavam mais claros onde sua sombra passava. E, pela primeira vez desde que despertou entre eras, ela sentiu a própria alma inteira. Não partida entre passado e presente. Não dividida entre amor e destino. Não fragmentada entre corpo e mito. Inteira. Maria Padilha sempre fora isso: não apenas mulher, não apenas amante, não apenas mito, mas presença. E agora Helena também era. Não por escolha de algum homem. Não por consagração de algum rei. Não por saudade de alguma vida antiga. Por ela mesma. ⸻ Quando saiu do salão dos espelhos, algo mudou na forma como ela caminhava. Antes, andava como quem flutuava entre mundos. Agora andava como quem cria o mundo ao passar. Cada passo pare





Último capítulo