CAPÍTULO 58— AS TRAMAS DO VENTO
O despertar de Helena não foi súbito — foi suave e lento, como quem volta de um sonho tão profundo que ainda permanece preso na pele.
Quando abriu os olhos naquele lugar entre mundos, sentiu primeiro o ar.
Ele vinha de todos os lados, tocando-a como dedos invisíveis, reconhecendo-a, saudando-a.
O vento.
Sempre o vento.
Era ele quem a chamava quando o destino queria se mover.
Era ele quem a avisava quando vidas estavam prestes a se cruzar.
Era ele quem trazia segredos de lugares onde ela nunca estivera, mas que, de alguma forma, lhe pertenciam.
— Estou aqui. — disse ela em voz baixa, sabendo que ele entenderia.
E entendeu.
O vento do leste respondeu com um sopro quente, vibrante, quase amoroso.
Ele ondulou seu vestido, fez seu cabelo dançar, arrancou dela um suspiro que misturava lembrança e pressentimento.
Algo havia mudado no mundo dos vivos.
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O lugar onde estava não tinha paredes, teto ou chão.
Era uma extensão de luz opaca, como se todas as eras se