Às vezes, a vida parece em preto e branco, sem motivos para sorrir ou sonhar. Foi assim que Lua se sentiu até cruzar o caminho de Eduardo Duarte Galvão um homem tão arrogante quanto irresistível, capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo. Quando aceita trabalhar como secretária dele, jamais imaginou que acabaria recebendo a proposta mais inusitada — um casamento por contrato. Entre atritos, provocações e segredos, nasce uma convivência intensa, onde cada olhar pode ferir ou colorir. Agora, entre um contrato e emoções inesperadas, Lua descobrirá que até mesmo as cores imperfeitas podem compor a mais bela pintura, a do amor que surge onde menos se espera.
Ler mais(Eduardo Duarte Galvão)Nunca tive tanta dificuldade em controlar meu próprio olhar quanto naquela noite.Quando a vi entrar no salão, por um segundo esqueci de respirar. Lua não caminhava, ela flutuava. O vestido negro, colado nas curvas certas e solto onde devia, fazia parecer que ela não pertencia àquele mundo comum de boletos e preocupações. E, ao mesmo tempo, era justamente isso que a tornava única: ela não tinha ideia do efeito devastador que causava.Minha intenção, desde o início, fora testá-la. Queria ver se teria coragem, se enfrentaria seus próprios medos para estar aqui. E ela veio. Hesitante, nervosa, mas veio.Eu deveria manter o foco. Controlar as palavras, ser racional. Mas quando Lua ergueu os olhos para mim, com aquele misto de desafio e vulnerabilidade, senti o chão fugir por um instante.Ela parou diante da mesa, braços cruzados como um escudo.— Você me enganou — disse, com firmeza, mesmo que sua voz denunciasse o nervosismo.Mantive o sorriso discreto, estudado.
(Lua Carvalho) Nunca me senti tão deslocada em toda a minha vida quanto naquela tarde. Eu estava sentada na cama do hotel, olhando para a enorme caixa que haviam acabado de entregar no meu quarto. Dentro dela, dobrado com perfeição, estava o vestido mais lindo que eu já tinha visto. Um tom preto profundo, tecido leve que escorria como água entre meus dedos, e detalhes discretos que davam um ar sofisticado. Ao lado, um par de saltos altos que só de olhar já me davam medo. Engoli em seco. — Isso não é para mim... — murmurei sozinha. — Eu não sou mulher de luxo, de vestidos caros... No entanto, Eduardo tinha deixado claro: eu deveria comparecer ao jantar formal. Parte do trabalho, ele havia dito. Eu precisava daquele emprego. Eu precisava do dinheiro para a Sol. Então, mesmo que meu coração disparasse só de pensar, eu não tinha escolha. Uma batida na porta me tirou dos pensamentos. — Senhora Lua? — uma voz feminina soou. Quando abri, duas pessoas entraram carregando malas e esto
(Eduardo Duarte Galvão) Eu sempre acreditei que conhecia as pessoas de imediato. Bastava um olhar, uma postura, uma resposta atravessada, e eu já sabia quem estava diante de mim. Esse era um dom que me serviu muito bem nos negócios — separar os fortes dos fracos, os confiáveis dos aproveitadores. Mas com Lua... algo me confundia. Quando eu tive a ideia trazê-la a Nova York, meu objetivo era claro: observar. Eu queria testar seus limites, ver se ela poderia realmente ser a candidata perfeita para o que eu tinha em mente. Um casamento por contrato exigia uma parceira resistente, inteligente, capaz de lidar com minha vida e minhas exigências. No entanto, desde o momento em que vi aquela mulher acalmar a filha durante o voo, meu plano começou a se embaralhar. Ela tinha uma força diferente. Não era agressiva, não era calculista. Era pura, ela era doce, instintiva, nascida do amor pela filha. E isso... me desarmava. Não gostei da sensação. Eu não gosto de perder o controle. O carro q
(Lua Carvalho) Quando cheguei em casa naquela noite, ainda estava atônita com tudo o que havia acontecido. Uma viagem para Nova York... comigo. Logo eu, que mal tinha dinheiro para pagar a conta de luz atrasada. Minha avó Laura estava na sala, tricotando, como sempre. O cheiro de chá de camomila perfumava o ar. Ela ergueu os olhos assim que me viu. — Lua, minha filha, o que foi? Está pálida. Joguei a bolsa no sofá e me sentei ao lado dela, respirando fundo. — Vó... eu vou ter que viajar. — Viajar? — ela arqueou as sobrancelhas. — Para onde? — Para Nova York. Ela quase deixou o novelo de lã cair no chão. — Nova York?! Minha Nossa Senhora! Mas... como assim? Expliquei tudo: a reunião, a filial, a ordem de Eduardo. E a parte mais complicada: eu teria que levar a Sol. — Ele disse que vai contratar duas babás, vó. Disse que eu não preciso me preocupar com nada, que terei todo suporte... mas eu estou nervosa. Não sei se estou preparada. Laura segurou minha mão com firmeza. — L
(Eduardo Duarte Galvão) Eu sempre gostei de ver as pessoas no limite. Era a forma mais rápida de descobrir quem era fraco e quem tinha fibra. Nos primeiros dias de Lua como minha secretária, fiz exatamente isso: testei cada detalhe, cada resposta, cada reação. — Lua, esse relatório está confuso. Refaça. — ordenei, sem sequer levantar os olhos da tela. — Mas, senhor, acabei de fazer... — Eu não perguntei se você acabou. Eu disse para refazer. Ela respirava fundo, mordia os lábios, mas obedecia. Eu percebia o esforço dela em manter a calma, e isso me intrigava. A maioria já teria desistido. Mas ela... aguentava. Na terceira manhã, chamei-a em minha sala. — Lua, preciso que organize essas planilhas. São dados de três anos, e quero um resumo em duas páginas. Ela arregalou os olhos. — Três anos em duas páginas? — Sim. — respondi, frio. — Se não consegue, avise logo. Assim procuro outra pessoa. Ela cerrou os punhos, levantou o queixo e disse: — Eu consigo. Saiu da sala com pas
(Lua Carvalho) Saí do prédio da Duarte Galvão sentindo as pernas bambas, como se tivesse corrido uma maratona. O coração ainda batia acelerado no peito, e a única coisa que ecoava na minha cabeça era aquela frase improvável: “Está contratada.” Eu não sabia se ria, chorava ou me beliscava para ter certeza de que não estava sonhando. Como aquele homem, arrogante, frio, insuportável, havia decidido me contratar? Peguei o ônibus para casa ainda sem acreditar. Quando cheguei, encontrei minha avó Laura sentada na varanda, tricotando como sempre fazia. Assim que me viu, abriu um sorriso largo. — E então, minha neta? Como foi a entrevista com o temido Eduardo Duarte Galvão? Larguei a bolsa no sofá e, sem conter a alegria, respondi: — Vó, eu consegui! Ele me contratou! Ela deixou o tricô cair no colo e bateu palmas, emocionada. — Eu sabia! Eu sabia que você ia conseguir! Corri até ela e a abracei com força. Por alguns segundos, senti-me de novo como uma menina, protegida nos braços
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