Mundo ficciónIniciar sesiónÀs vezes, a vida parece em preto e branco, sem motivos para sorrir ou sonhar. Foi assim que Lua se sentiu até cruzar o caminho de Eduardo Duarte Galvão um homem tão arrogante quanto irresistível, capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo. Quando aceita trabalhar como secretária dele, jamais imaginou que acabaria recebendo a proposta mais inusitada — um casamento por contrato. Entre atritos, provocações e segredos, nasce uma convivência intensa, onde cada olhar pode ferir ou colorir. Agora, entre um contrato e emoções inesperadas, Lua descobrirá que até mesmo as cores imperfeitas podem compor a mais bela pintura, a do amor que surge onde menos se espera.
Leer más(Narrado por Dr. Henry Lewis)O resultado do exame chegou numa manhã cinzenta, daquelas em que o céu parece carregar o mesmo peso que a gente sente por dentro.Eu estava no hospital desde as seis, sem conseguir dormir. Cada vez que fechava os olhos, via o rosto de Alyce — tão pequena, tão frágil — e o olhar desesperado de Amber ao me revelar a verdade.Quando o envelope chegou, minhas mãos tremiam.O nome dela, Alyce Moore, impresso no topo, seguido de uma sequência de números e marcadores genéticos.E logo abaixo, a palavra que eu temia:Compatibilidade parcial: 62%Não era suficiente.Eu fechei os olhos e encostei a testa na parede fria do laboratório.Sessenta e dois por cento.Nem o sangue, nem o DNA podiam mentir: eu era o pai — mas não o suficiente para curá-la.Por dentro, o peso da impotência me rasgava.Passei a vida salvando crianças que não eram minhas. E agora, quando finalmente descobria que tinha uma filha... eu não podia salvá-la.Horas depois, fui até o setor de genéti
(Narrado por Amber)Tem dias em que o tempo parece um inimigo.A gente olha pro relógio e sente que cada minuto carrega o peso de uma eternidade.Era assim que eu me sentia desde que ouvi a palavra leucemia sair da boca do Henry Lewis.Leucemia.Nunca imaginei que uma palavra pudesse doer tanto.Ela não só me atravessou — ela me quebrou.E desde então, cada respiração tem sido uma luta pra não desabar de vez.Alyce dormia no quarto do hospital, os fios finos conectados ao corpo pequeno demais pra tanto sofrimento. O bip dos monitores marcava o compasso da minha angústia. Eu passava os dedos pelos cachinhos dela, e às vezes ela abria os olhos, cansados, e dizia baixinho:— Mamãe, eu tô com soninho...E eu sorria.Mesmo quando por dentro eu estava em pedaços.Porque é isso que as mães fazem — transformam o desespero em ternura.Mas naquela madrugada, sentada na cadeira ao lado dela, o corpo cansado e o coração em frangalhos, algo dentro de mim começou a gritar mais alto que o medo.Eu
(narrado por Lua)Acordei no meio da madrugada com aquela fome estranha que só a gravidez sabe explicar. Uma mistura de desejo e necessidade, um vazio no estômago que parecia falar mais alto que o sono. O relógio marcava quase três da manhã, e a casa estava mergulhada em um silêncio doce, quebrado apenas pelo som suave da chuva batendo contra a janela do quarto.Tentei me levantar devagar, apoiando a mão na barriga como se pedisse licença à pequena que dormia dentro de mim.— Calminha, meu amor... mamãe só vai pegar um pedacinho de bolo de cenoura com cobertura de chocolate— murmurei, sorrindo sozinha.Mas, quando olhei para o lado, a cama estava fria.O travesseiro de Eduardo afundado, mas vazio.O coração me deu um salto.Por um instante, tentei não me preocupar. Talvez ele tivesse ido à cozinha antes de mim, ou estivesse no escritório, revendo algum documento. Mas a casa parecia... diferente. Um tipo de silêncio que não era paz — era ausência.Chamei baixinho:— Edu?Nenhuma respos
visão de Eduardo Há dias em que o tempo parece andar em círculos.Os minutos se repetem, as horas se confundem, e a casa inteira respira no mesmo compasso contido de quem teme acordar o destino.Desde que Lua foi obrigada ao repouso absoluto, eu vivo como se caminhasse sobre vidro — qualquer passo em falso pode quebrar tudo.De manhã, acordo antes do sol.Fico um tempo observando ela dormir, o rosto sereno apesar das dores, uma das mãos sempre repousada sobre a barriga.Penso em como ela consegue ser tão forte mesmo frágil, tão calma mesmo quando o mundo à volta parece desabar.Sol costuma invadir o quarto pouco depois, com o cabelo bagunçado e a voz doce que ainda tropeça nas palavras.— Papai, a mamãe já pode levantá? —— Ainda não, meu amor. A mamãe precisa descansá pra a bebel crescê forte.Ela franze o nariz, pensativa, e diz:— Então eu vou ficá deitada com ela, pra a bebel sabê que eu tô aqui.E deita, aninhando-se entre nós dois.Pequenina, mas cheia de uma luz que me faz ac
Visão de lua O tempo parece ter mudado de ritmo desde que o médico pronunciou aquelas palavras: “repouso absoluto”.Elas ficaram ecoando dentro de mim, como se o próprio ar tivesse se tornado mais pesado.De repente, tudo o que era simples — levantar da cama, preparar um café, andar até o jardim — se tornou um luxo que eu não podia mais me permitir.Eduardo transformou a casa num quartel de amor.Sol, numa pequena enfermeira que levava ordens muito a sério.E eu, num campo de batalha entre a paciência e o medo.— Mamãe, a bebel tá ouvindo eu fala? — Sol pergunta, encostando a orelha na minha barriga.— Tá sim, meu amor. Ela ouve tudinho.— Enton eu vou cantá pra ela, tá?E começa a cantar, desafinada, enrolando as palavras, misturando versos que inventa na hora.A voz dela parece curar o ar.Tem dias em que a dor e o medo se tornam menores só de ouvi-la cantar “A eslilinha da mamãe e do papai, dorme na baliga, dorme devagá...”.Eduardo sempre observa de longe, com aquele olhar que mi
Eduardo Nunca imaginei que o som de um parafuso girando pudesse significar tanto.O clique metálico, o ranger suave da madeira… tudo isso agora parecia música.O quarto da bebê tomava forma, e cada pequeno detalhe carregava uma espécie de promessa silenciosa: de proteção, de paz, de um recomeço que eu não ousava sonhar meses atrás.Sol estava em pé no meio da bagunça, o cabelo preso num coque torto, o rostinho pintado de lilás e azul.— Papai, olha! Eu fiz uma estrelal — disse, apontando para o adesivo torto que grudara na parede.— Ficou linda, meu amor — respondi, sorrindo. — Igualzinha à sua mamãe.Lua, recostada na poltrona, ria devagar, com a mão sobre o ventre que já denunciava cada movimento da pequena.Ela parecia mais leve. Mais viva.Mas havia algo em seu olhar… um cansaço que eu fingia não ver.Nos últimos dias, ela se esforçava para fazer mais do que devia — subia em banquinhos, dobrava roupas, pendurava quadros.“Só mais um pouquinho”, ela dizia.Mas aquele pouquinho sem





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