Capítulo 2 Dias atuais.

(Eduardo Duarte Galvão)

Cinco anos haviam se passado desde o acidente, e a dor da perda de Beatriz e da nossa filha ainda me acompanhava como uma sombra. Não havia um único dia em que eu não pensasse nelas. A culpa corroía meu peito, e a cadeira de rodas era o lembrete constante de que nada voltaria a ser como antes. Eu havia me tornado um homem amargurado, insuportável até para mim mesmo.

Naquela manhã, meu pai entrou na sala do meu escritório em casa. A expressão dele era séria, carregada de uma determinação que eu já conhecia bem.

— Eduardo, meu filho, precisamos conversar. — Ele puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado.

Suspirei, cansado. Eu não tinha ânimo para longas conversas.

— O que é agora, pai? — perguntei, sem esconder o desinteresse.

— É sobre as empresas da família Duarte Galvão. — Seus olhos se fixaram nos meus, cheios de expectativa. — Você precisa assumir sua posição, Eduardo. Precisa se casar, ter filhos. Só assim será reconhecido oficialmente como o próximo CEO.

Fechei os olhos e soltei uma risada amarga.

— Pai, quantas vezes vou precisar repetir? Eu não quero ser CEO de todas as empresas da família!Não estou pronto para isso... talvez nunca esteja.

Ele franziu a testa, irritado com minha resposta.

— Não é questão de querer ou não. Se você não assumir, seu primo Thiago vai herdar o comando. E você sabe quem ele é: irresponsável, imprudente, inconsequente. Ele pode levar as empresas da família à falência em poucos anos.

Meu coração pesou. Eu conhecia Thiago muito bem — e meu pai tinha razão. Mas ainda assim, a ideia de me tornar CEO me sufocava.

— E o que você espera de mim? — perguntei, cansado.

— Quero que você se case, Eduardo. Quero que tenha filhos. É a única forma de garantir a sucessão. É a única forma de preservar tudo o que construímos.

Bufei, descrente.

— Casar? Ter filhos? Você acha mesmo que eu posso... que eu devo? — Minha voz saiu áspera. — Pai, eu não quero me casar por obrigação. Não quero alguém ao meu lado apenas por causa da fortuna ou do sobrenome Galvão. Quero alguém que me ame de verdade, se é que ainda existe esse tipo de amor para mim, eu sou a metade de um homem.

Ele apoiou as mãos na mesa, firme.

— Eduardo, você precisa pensar no futuro. No seu e no da família. Não pode se esconder atrás dessa dor para sempre.

Meus olhos arderam de raiva.

— O senhor não entende nada! — explodi. — Eu perdi tudo o que importava para mim. Vocês querem me obrigar a viver uma vida que eu não quero, a usar uma coroa que pesa como uma sentença.

Meu pai ficou em silêncio por um instante. Então, com um suspiro pesado, levantou-se.

— Pense melhor, Eduardo. — Sua voz agora era fria, decepcionada. — Porque se você não decidir logo, quem vai decidir por você será a vida... ou pior, o seu primo.

Ele saiu da sala, e eu fiquei sozinho, preso naquela cadeira que parecia mais um trono amaldiçoado.

Um “rei sem trono”, pensei. Um homem que reinava sobre nada, apenas sobre as próprias ruínas.

Horas depois, eu já estava irritado novamente. Minha secretária atual, uma jovem que parecia mais preocupada com as redes sociais do que com o trabalho, havia cometido mais um erro grave. Eu não tinha paciência para incompetência.

— Chega! — gritei, sem sequer olhar para ela. — Você está demitida. Não preciso de alguém tão... inútil.

Ela saiu chorando, mas eu não me importei. O problema não era ela. Era eu. Eu não suportava mais ninguém ao meu redor. As pessoas não aguentavam meu temperamento explosivo, minha impaciência, minhas exigências. Eu precisava de alguém que conseguisse lidar comigo, mas isso parecia impossível.

Peguei o telefone e disquei o número de Laura, minha antiga secretária. A única que realmente havia me entendido, que sabia lidar comigo. Mas ela havia se aposentado.

— Alô? — disse a voz calorosa do outro lado da linha.

— Laura, é Eduardo.

— Eduardo! — respondeu ela, surpresa e ao mesmo tempo afetuosa. — Há quanto tempo, meu filho. Como você está?

Hesitei por um instante. Eu poderia mentir, mas qual seria o sentido?

— Estou... sobrevivendo. — suspirei. — Laura, eu preciso de ajuda. Preciso de uma secretária nova. Alguém que consiga lidar comigo.

Do outro lado da linha, ouvi uma risadinha suave.

— Ah, Eduardo, eu tenho justamente a pessoa certa para você. Minha neta, Lua.

— Lua? — perguntei, curioso. — Quem é ela?

— É uma jovem inteligente, dedicada. Não tem experiência como secretária, é verdade... mas aprende rápido. E ela precisa de um emprego urgente. Está criando a filha sozinha, uma menininha de cinco anos.

Franzi o cenho.

— Sem experiência? Laura, você sabe como eu sou. Não posso perder tempo treinando alguém que talvez não aguente nem uma semana comigo.

— Eu sei, Eduardo — disse ela, com aquele tom maternal que sempre me desmontava. — Mas confie em mim. Lua pode surpreender você.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, refletindo. Laura nunca havia me indicado alguém ruim. E havia algo em sua voz que transmitia segurança.

— Está bem. — finalmente respondi. — Mande-a vir para uma entrevista. Mas já aviso: eu sou um chefe difícil.

Laura riu do outro lado da linha.

— Eu sei, meu querido. Sempre foi. — Sua voz ficou mais suave. — Vou pedir para ela ir até você amanhã cedo. Obrigada por dar essa chance a ela.

Desliguei o telefone e fiquei olhando para o nada. Uma parte de mim sentia uma pequena fagulha de esperança, algo que não sentia há muito tempo. Mas a outra parte, a maior, ainda duvidava.

Eu era um homem difícil de lidar, e poucas pessoas conseguiam me suportar. Ainda assim... talvez Lua fosse diferente.

Talvez.

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