No coração cruel do Rio de Janeiro, Lucas, conhecido como Playboy, reina absoluto sobre a Rocinha. Traficante implacável, arrogante e brutal, ele não responde a ninguém. Seu mundo é feito de sangue, poder e medo. Até que Isabela invade seu território. Inocente, ingênua e desesperadamente fora de lugar, ela se muda para o morro sem entender que ali não há espaço para fraqueza. E Lucas, faminto por algo que nem sabia que queria, a vê como sua próxima conquista, e sua propriedade. A obsessão nasce instantânea. Doentia. Incontrolável. Para Lucas, Isabela não será apenas uma mulher: ela será o centro do seu mundo sujo e distorcido. Ele a arrastará para seu inferno particular, a prenderá em correntes invisíveis, misturando desejo, violência e dependência até que ela não consiga mais respirar sem ele. Isabela deveria fugir. Mas quanto mais Lucas a destrói, mais ele a possui. E quando o amor se confunde com medo, o perigo deixa de ser uma ameaça... para se tornar uma sentença. Ninguém escapa de Playboy. Nem viva. Nem inteira.
Leer másEu sou o Playboy.
O nome já diz tudo. Eu domino essa porra toda. O morro é meu, o medo tem meu nome gravado nas paredes, e quem ousa me desafiar descobre rápido como termina a brincadeira. Aqui, minha palavra é lei. Quem desobedece, morre. Sempre fui frio. Distante. Sem tempo para sentimentalismo barato. Mulher para mim sempre foi igual droga: uso, descarrego, esqueço. Mas então... ela apareceu. Isabela. Uma vadiazinha de olhos grandes e assustados, que caiu no meu território como um pedaço de carne fresca no meio de um bando de lobos. Ela não sabia onde tinha se enfiado. Era óbvio. E eu soube, no exato segundo que vi aquela pele clara queimando sob o sol, que ela seria minha. Minha distração. Meu capricho. Meu novo vício. Vi a garota pela primeira vez enquanto patrulhava o morro. Camisa suada grudada no peito, a Glock pesada no cós da bermuda. O sol ardendo a pele. Eu tava acostumado com o caos. Mas então ela passou. E, porra, parecia um anjo perdido no inferno. Cabelos dourados, olhos claros e uma expressão de medo mal contido. Ela andava rápido, abraçando os próprios braços como se pudesse se proteger do que nem conseguia ver direito. Tão estúpida. Tão perfeita. Descobri rápido quem ela era: sobrinha da Rita, dona do restaurante da esquina, uma mulher que sabia manter a boca fechada e a cabeça baixa. Mas a sobrinha… Ah, essa era diferente. Tão inocente que parecia pedir para ser corrompida. No dia seguinte, voltei ao restaurante. Eu precisava vê-la de novo. Sentir aquele cheiro de medo doce no ar. E lá estava ela, tentando carregar umas sacolas grandes demais pra sua força ridícula. Idiota. Linda. Me aproximei como um predador se aproxima da presa. Lento. Letal. — Tá precisando de ajuda aí? — minha voz saiu baixa, carregada de ameaça velada. Ela congelou. Olhou para mim como se avaliasse se podia confiar. Coitada. — Ah... não precisa... — gaguejou, apertando as alças como se fosse fazer alguma diferença. Cruzei os braços, encarando-a como se já a tivesse nua na minha cama. — Certeza? Tá quase desmoronando aí. Ela hesitou. Era bonitinha tentando ser orgulhosa. Mas acabou cedendo. — Ok... talvez só um pouco. Peguei as sacolas das mãos dela com facilidade, sem desviar o olhar nem por um segundo. Queria que ela sentisse. Que soubesse. Que entendesse de alguma forma que, a partir daquele momento, ela não tinha mais escolha. — Valeu. — murmurou, envergonhada. — De nada. — dei um sorriso de canto, o tipo de sorriso que faria qualquer garota sensata correr. — Você é a sobrinha da Rita, né? — Sou. Isabela. — Lucas. — disse, de propósito, deixando meu nome verdadeiro escapar, só para ver o efeito. Ela assentiu, confusa. Tão limpa. Tão estúpida. — Chegou faz pouco tempo? — Sim. Vou ficar um tempo com a minha tia. — Hm. — deixei escapar um som rouco, como um aviso que ela não entendeu. — E... tá gostando? Ela sorriu, pequena, tímida. — Ainda estou me acostumando... é bem diferente de onde eu morava. — Aposto que é. — respondi, olhos presos nela como uma sentença. Isabela me olhava como se tentasse decifrar o que eu era. Mas ninguém aqui me decifra. Só teme. E ela... ainda não sabia disso. — Obrigada pela ajuda, Lucas. — disse, sorrindo de novo. Antes que pudesse virar, corrigi. — Playboy. — minha voz saiu baixa, carregada de algo que ela ainda não tinha nomeado. — O quê? — Todo mundo aqui me chama de Playboy. Ela soltou uma risadinha, achando graça. Mal sabia. — Nome curioso. — Você não faz ideia. Entreguei as sacolas para ela e fiquei ali, observando enquanto desaparecia para dentro do restaurante. Só quando sumiu da minha vista, percebi, Eu estava sorrindo. Como um maldito predador prestes a devorar sua presa favorita. (…) Meu nome é Isabela, mas todo mundo me chama de Isa. Cresci no interior, em uma cidade pequena onde todo mundo se conhece e a vida era simples. Até que minha mãe precisou ir embora, e eu fiquei com a minha tia Rita. Ela me convidou para morar com ela no Rio, e eu aceitei sem pensar muito. Era uma nova chance, um recomeço. Sempre ouvi falar do morro. As histórias, os boatos, os alertas sobre como esse lugar podia ser perigoso. Mas nada me preparou para a realidade. O movimento constante, a música alta vindo de diferentes lados, os olhares desconfiados de quem já viu de tudo. Rita tem um restaurante aqui, e, apesar de ser respeitada, sempre me lembra que preciso ter cuidado. Hoje foi meu primeiro dia ajudando no restaurante. O cheiro da comida misturado com o calor da cozinha, as conversas apressadas dos clientes, o barulho das panelas… Tudo era novo para mim. Eu tentava me acostumar, mas era difícil ignorar a sensação de que eu não pertencia completamente àquele mundo. Até que vi ele. Todo mundo no morro conhece Playboy. Eu não sabia muito sobre ele, só o suficiente para entender que ninguém se metia no seu caminho. Quando ele entrou no restaurante, o ar pareceu mudar. Não foi algo escancarado, mas estava ali. Algumas pessoas acenaram para ele, outras desviaram o olhar. Mas ninguém ignorou sua presença. Foi então que nossos olhares se cruzaram. Foi rápido, mas intenso. O tipo de olhar que faz seu corpo reagir antes mesmo de você entender o porquê. Ele me olhou como se já me conhecesse, como se soubesse exatamente quem eu era. E, por algum motivo, eu não desviei. Senti meu coração acelerar. Era medo? Talvez. Mas também havia outra coisa, algo que eu não queria admitir. Uma espécie de curiosidade inquietante, como se, sem querer, eu tivesse acabado de abrir uma porta para algo que não sabia se deveria entrar. Rita já tinha me avisado. "Fica longe desse cara. Ele é perigoso." Mas como se faz isso quando a própria presença dele parece te puxar para perto? Eu não sabia explicar, mas naquele instante tive certeza de uma coisa: ignorar Playboy seria impossível. E talvez, bem lá no fundo, eu nem quisesse.Eu estava nervosa. Não sabia explicar por quê, talvez fosse o peso de tudo, a solidão disfarçada de força, ou só o medo do que ainda viria. Mas assim que entrei na sala de exames e vi o doutor Rafael, senti algo estranho... uma calma desconfiada. Ele era sempre sério, direto, mas havia uma gentileza silenciosa no jeito como falava comigo. E naquele dia, parecia ainda mais atento. — Isabela, você precisa se alimentar melhor. — ele disse, com a voz firme, mas sem dureza. — Não adianta fugir da responsabilidade. A sua saúde e a do bebê dependem disso. Eu respirei fundo, tentando esconder a vergonha. Eu sabia que ele tinha razão, mas ouvir aquilo me fazia lembrar do que eu não queria encarar. Ele não insistiu, apenas se preparou para o ultrassom. Deitei na maca, levantei a blusa e esperei o toque gelado na pele. O som do coração do meu bebê encheu a sala, forte e ritmado, como uma batida tribal que pulsava direto dentro de mim. Eu sorri sozinha. Aquele som era o único que conseguia me
Procurei Nego Rato na quadra, onde ele quase sempre ficava. Sentado no canto, cigarro escondido, olhar atento como se cada passo fosse uma ameaça. Era o tipo de cara que todo mundo respeitava, não porque gritava, mas porque sabia demais. Cheguei perto, sem rodeios. — Lucas quer um advogado da facção no caso. Resolve isso para mim. Ele puxou o cigarro devagar, deu uma tragada longa, soltou a fumaça pelo nariz. Nem pareceu surpreso. — Tá. Vou chamar o contato certo. Vai entrar como visita jurídica. Mas... mudando de assunto. — ele soltou, com aquele tom desgraçado que já vinha com veneno — Tua mãe passou na boca ontem. Franzi o cenho na hora. — O quê? — Foi lá, pegou umas paradas. Disse que era pra uso, mas mandou botar no teu nome. E o gerente lá obedeceu. Fiquei em silêncio por um segundo, só para conseguir respirar antes de explodir. — Vocês estão malucos? Vocês me conhecem. Sabem que eu não mexo com isso. E estão colocando coisa no meu nome? — Cê é a mulher do Playboy. Ach
Aqui dentro, eu era só mais uma. O sol batia impiedoso na fila, mas ninguém reclamava. A gente aprendia rápido que aqui, dor e calor eram parte do pacote. Em volta, só rostos marcados pelo tempo e pela espera. Mães com os olhos fundos, esposas com olhares duros, namoradas com a alma pendurada no fio da esperança. Todas carregando uma dor que o mundo fingia não ver. O cheiro era uma mistura sufocante de suor, desespero e cigarro barato. Um cheiro que grudava na pele e na memória. A fila andava devagar, como se o tempo ali dentro fosse diferente, estagnado. — Documento e cadastro na mão! — gritou um dos agentes, sem sequer levantar o olhar. Entreguei minha identidade com os dedos suados. O agente me analisou como se eu fosse uma ameaça. Ou pior, como se eu não fosse nada. — Primeira vez? — perguntou, sem emoção. Assenti, engolindo seco. — Vai se acostumando. Isso aqui vira rotina mais rápido do que você pensa. A frase me bateu como um tapa. Eu não queria que isso virasse rotina.
Eu ainda estava sentada no chão da sala, cercada por aquele mar de dinheiro espalhado. O tapete já nem aparecia mais, só pilhas e mais pilhas de notas, algumas presas com elásticos, outras soltas, como se tivessem explodido ali. Era surreal. Era pesado. Era o império do Playboy desmontado diante dos meus olhos. E agora, tudo isso era responsabilidade minha. A campainha tocou. Meus músculos travaram. Por um segundo, o pânico subiu pela garganta, será que tinham descoberto? Será que alguém sabia que eu estava com o dinheiro? Mas quando olhei nas câmeras, vi Gabriela. E atrás dela, Eric. Meus olhos marejaram só de ver os dois ali. Abri o portão, e ela entrou como um furacão. — Que porra é essa, Isa? — Gabriela perguntou, olhando tudo em volta, os olhos arregalados ao ver o dinheiro. — Tá todo mundo falando do Playboy. A polícia tá atrás, a boca tá fervendo, e você tá com essa grana toda na sua casa? Eric entrou logo atrás, em silêncio, mas com a expressão carregada de preocupação.
Eu estava sentado na sala do delegado com as mãos algemadas, o metal frio mordendo minha pele. O barulho das cadeiras sendo arrastadas cortava o silêncio como lâmina. Aquele lugar já tinha me recebido antes, mas agora era diferente. O cheiro de cigarro velho misturado com mofo e suor não me incomodava tanto quanto o peso nos meus ombros. Eu sabia que dessa vez não ia ter advogado salvador, não ia ter jeitinho. Eu estava fodido. O delegado entrou. Alto, grisalho, olhos de quem já viu mais morte do que novela. Sentou à minha frente com um arquivo pesado. Me olhou como se eu fosse uma praga que ele queria esmagar com as próprias mãos. — Playboy… já te pegaram antes. Mas agora é diferente. — Ele abriu o arquivo como quem abre uma cova. — Você caiu bonito. E vai para Bangu. Não respondi. Só olhei de volta. O jogo ali era de quem piscava primeiro. — Tem nome no morro, tem respeito, tem sangue nas mãos. Mas aqui fora… você não é nada. — Ele virou uma página devagar. — Sabe o que vai acon
A televisão preenchia o silêncio do quarto, mas não distraía minha cabeça. Playboy ainda não tinha voltado, e era como se meu corpo já soubesse que algo estava errado. Uma inquietação me corroía por dentro, como se meu coração tentasse me avisar antes mesmo da tragédia acontecer. Eu continuei trocando os canais de forma automática, até que parei. Meus dedos congelaram no controle. Ali, estampado no jornal, estava ele. A imagem de Playboy. Aquela foto que eu conhecia tão bem agora era exibida como se fosse de um monstro. Meu peito apertou. O repórter falava com uma gravidade que me paralisou, mas suas palavras pareciam vir debaixo d'água. — Playboy, um dos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro, foi preso na madrugada desta quinta-feira durante uma operação realizada em um galpão na zona norte… Preso.A palavra me atravessou como uma lâmina. Não, não… não podia ser. Meu corpo reagiu antes da mente. Levantei da cama num pulo, como se eu pudesse correr até ele. Mas correr até
Último capítulo