Capítulo 4

Eu sabia exatamente o que ela estava sentindo.

Cada respiração dela, cada movimento disfarçado.

Ela tentava manter a pose, tentava fingir que não estava afetada.

Tentava ser forte.

Mas eu via. Eu sempre via.

O medo estava ali, escondido na ponta dos olhos.

O orgulho dela? Estava segurando a porra da máscara.

Mas eu sabia que essa merda ia ruir.

E eu ia assistir.

De camarote.

Isabela achava que estava no controle. Achava que podia me desafiar, que podia se afastar. Doce ilusão.

Eu avancei devagar. Sem pressa. Sem pressa nenhuma.

Deixei que cada passo fosse um aviso.

Eu sou a porra do perigo que você devia evitar, mas que no fundo você quer provar.

Me joguei na cadeira do lado dela, o corpo largado, mas cada músculo atento.

Minha presença caiu pesada no espaço entre nós.

Eu não precisava tocar nela.

Ainda não.

Ela já sentia.

O calor da pele dela, a tensão vibrando no ar, o olhar que me cortava e implorava ao mesmo tempo.

O medo, a raiva, o desejo. Tudo misturado naquele corpo que tremia sem querer.

Eu sorri. Um sorriso preguiçoso, sacana.

De quem sabe que vai vencer.

— Tá tentando manter a pose, Isabela... — minha voz saiu baixa, rouca, quase um aviso. — Mas eu tô vendo. Tá escancarado.

Ela tentou desviar o olhar. Falhou.

Tentou endurecer a boca. Falhou de novo.

Cada segundo que ela resistia, ela cavava o próprio buraco.

Cada segundo era mais minha.

Me inclinei, deixando meu braço encostar casualmente no dela. Só um toque rápido, suficiente para a pele dela arrepiar sem ela querer.

Ela respirou fundo. Tentou se recompor.

Inútil.

— Não se engane, princesa. — sussurrei contra o ouvido dela, quase roçando a pele. — Você não manda nessa porra aqui.

Ela girou o rosto para me encarar, fúria queimando nos olhos. Linda. Selvagem.

Minhas favoritas.

— Você ainda acha que pode me ignorar? — continuei, sem dar espaço para ela responder. — Vamos ver até onde vai essa sua coragem.

Passei o olhar por ela, descarado, deixando claro o que eu via. O que eu queria.

O que eu ia pegar.

— Você pode lutar, Isabela... — falei, baixando ainda mais o tom, quase numa ameaça disfarçada — Mas no final, você vai ser só minha. E vai implorar por isso.

Ela estremeceu.

Vi. Senti.

Ela fingiu que era raiva. Que era desprezo.

Mas era outra coisa.

O corpo dela já sabia o que a mente dela tentava negar.

O corpo dela já era meu.

— E quando você perceber... — completei, encostando a boca na curva da mandíbula dela, sem tocar, só respirando junto — Não vai ter volta.

Me afastei antes que ela pudesse reagir. Deixei ela ali, queimada, perdida, explodindo de tensão.

Porque eu queria que ela sentisse falta.

Queria que ela me odiasse e me desejasse na mesma medida.

Eu queria quebrá-la.

E, por Deus, eu ia quebrar.

(…)

A noite estava se arrastando como um castigo, e a cada minuto que passava, a vontade de fugir me consumia.

Só que fugir dele... era impossível.

A frustração queimava sob minha pele, misturada com uma sensação de aprisionamento que me sufocava.

Era como estar presa em uma corrente invisível, cada vez mais apertada.

E o pior? Eu não queria que ela arrebentasse.

Playboy estava confortável na situação.

Sentado de frente para mim, a expressão relaxada, aquele olhar insolente cravado no meu corpo como uma arma carregada.

Ele se alimentava da minha tensão.

Se divertia com a minha luta interna.

Eu odiava o quanto ele parecia me conhecer, o quanto ele sabia exatamente onde apertar para me desestabilizar.

Ele era perigoso.

Ele era veneno.

E eu já estava envenenada.

A praça de alimentação fervilhava de vida, risadas, música, cheiro de fritura, mas nada existia além dele.

Além de nós dois.

O mundo podia desabar à nossa volta, que ainda assim tudo o que importaria seria o jeito que ele me olhava.

Me possuía com o olhar.

Eu tentei me agarrar a alguma dignidade.

Tentei encontrar força no orgulho.

Mas era como tentar parar um furacão com as mãos nuas.

— Você vai embora, né? — ele perguntou, a voz baixa, arrastada, carregada de provocação.

Eu o encarei, engolindo em seco, sabendo que qualquer resposta seria uma confissão.

— Talvez. — arrisquei, sabendo que soava fraca.

O sorriso que ele deu foi um tapa na minha cara.

— Talvez? — ele repetiu, debochado. — Aqui no morro não tem talvez, princesa. Ou você fica. Ou você corre. E quem corre... — ele fez uma pausa, inclinando o corpo para frente, invadindo meu espaço, a voz se tornando uma ameaça aveludada — Eu vou atrás.

Meu estômago virou.

Cada parte de mim gritava para levantar e sair correndo.

Mas eu estava congelada.

Paralisada por algo que não era medo.

Era atração. Bruta. Imoral.

Ele se levantou com calma, caminhando até o caixa como se soubesse que eu não ia a lugar nenhum.

E eu não fui.

Quando voltou, parou diante de mim, o corpo tão perto que eu sentia o calor irradiando da pele dele.

O olhar?

De dono.

— Vamos, Isabela. — disse baixo, quase íntimo. — A noite ainda é nossa.

Nossa.

Não minha. Não dele.

Nossa.

Como se eu já pertencesse a ele.

Sem dizer uma palavra, me levantei.

Cada passo atrás dele parecia um pacto silencioso.

Cada movimento meu era uma rendição que eu fingia que não era.

A praça ficou para trás. A música ficou para trás. O mundo ficou para trás.

Só existia a respiração dele na minha frente, o cheiro dele no ar, a sensação esmagadora de que eu tinha acabado de atravessar uma linha da qual não podia mais voltar.

E, no fundo, no lugar mais escuro de mim mesma...

Eu não queria voltar.

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