Capítulo 3

Eu não disse nada durante o trajeto. Apenas pilotava, sentindo o peso da tensão dela atrás de mim. Isabela estava rígida, as mãos segurando minha cintura com cuidado, como se qualquer movimento a mais pudesse aproximá-la demais de mim. Como se isso fosse impedir alguma coisa.

Acelerei um pouco mais, subindo as vielas do morro, desviando dos becos apertados e dos moleques que corriam soltos pelas ruas. Isabela não perguntava para onde estávamos indo, mas eu sentia sua respiração acelerada contra minhas costas. Ela estava tentando se manter no controle, mas era inútil.

Quando finalmente parei, desliguei a moto e apoiei os pés no chão.

— Desce. — ordenei.

Ela demorou um segundo antes de soltar minha cintura. Hesitou. Mas obedeceu.

Olhou ao redor, confusa. Aposto que achava que eu a levaria para um lugar isolado, longe de todo mundo. Mas não. Trouxe ela para a praça de alimentação do morro, um dos meus lugares preferidos. Simples, barulhento, cheio de vida.

— Você não esperava isso, né? — perguntei, vendo seus olhos percorrerem o ambiente.

Ela apenas balançou a cabeça.

As barracas de comida estavam lotadas, o cheiro de carne assada e fritura misturado à música alta que saía de algum bar próximo. Gente rindo, conversas altas, crianças correndo entre as mesas improvisadas. Um cenário que não combinava com ela. E era exatamente isso que eu queria.

Segurei sua mão e a puxei comigo, ignorando sua resistência. Sentamos numa mesa mais afastada, um lugar onde eu sempre ficava. Algumas pessoas olharam, mas ninguém ousou dizer nada. Eu era o dono daqui.

— Fica quietinha e come. — falei, chamando um dos caras que serviam ali.

Pedi duas porções de carne de sol com queijo e dois refrigerantes. Isabela me observava, tensa.

— Você não vai me perguntar o que eu quero? — murmurou.

Sorri, pegando um cigarro e acendendo com calma.

— Eu sei o que você quer.

Ela cruzou os braços, incomodada, mas não retrucou. Quando a comida chegou, peguei um pedaço sem cerimônia e comecei a comer. Ela, por outro lado, nem tocou no prato.

— Tá com medo de quê? — perguntei, mastigando devagar.

Ela me olhou de relance.

— De você.

Sorri. Um sorriso lento, satisfeito.

— Então já entendeu alguma coisa.

Ela abaixou a cabeça, empurrando a comida no prato sem comer de verdade. Eu não tinha pressa. Observava cada movimento dela, cada suspiro.

Essa noite não era sobre pressa. Era sobre controle. E eu sempre soube jogar esse jogo melhor do que ninguém.

(…)

Minha mão tremia levemente enquanto eu segurava os talheres. A fome era real, mas o medo era maior. Meu corpo inteiro ainda sentia a adrenalina da moto, o calor dele perto demais, a força do seu domínio sobre cada detalhe da situação.

Eu odiava isso.

Odiava como ele parecia sempre um passo à frente. Como eu me sentia pequena perto dele, deslocada nesse lugar que não era meu.

A praça de alimentação do morro era um universo à parte. Gente falava alto, ria, comia sem cerimônia, como se a vida não tivesse problemas. O cheiro de comida quente e gordura se misturava ao som da música, às vozes misturadas, ao clima descontraído. Mas nada disso me deixava à vontade.

Porque eu estava sentada na mesma mesa que Playboy.

Ele comia sem pressa, os olhos me analisando entre uma mordida e outra, como se estivesse esperando algo. Testando meus limites.

Engoli em seco e tentei levar um pedaço de carne à boca. Meus dedos ainda estavam trêmulos.

— Tá com medo de quê? — a voz dele soou preguiçosa, mas eu sabia que era proposital. Ele gostava de me ver assim.

Não queria responder. Mas a verdade saiu antes que eu pudesse evitar.

— De você.

O sorriso que ele me deu me fez sentir um frio na espinha. Um sorriso lento, satisfeito. Como se minha resposta fosse a confirmação do que ele já sabia.

— Então já entendeu alguma coisa.

Abaixei os olhos, empurrando a comida no prato, sem coragem de continuar comendo. O silêncio entre nós era sufocante.

Eu não devia estar aqui.

Não devia estar sentada nessa mesa, cercada por um mundo que não era meu. Playboy não combinava com nada na minha vida. Ele era feito de perigo, de ruas escuras e regras próprias. E eu? Eu era só uma garota tentando sobreviver à decisão errada de se mudar para esse lugar.

Tentei respirar fundo e pensar racionalmente. Eu precisava ser inteligente. Precisava entender que aquilo era um jogo. Ele estava tentando me quebrar, me fazer sentir pequena.

Levantei o olhar e encarei o dele.

— Você sempre traz suas conquistas aqui?

Ele arqueou a sobrancelha, dando uma tragada no cigarro.

— Tá querendo saber se tem alguma mina que vai querer te arrancar os cabelos?

Revirei os olhos, fingindo impaciência.

— Só estou tentando entender o que você ganha com isso.

Ele se inclinou sobre a mesa, os olhos escuros prendendo os meus.

— Eu ganho o que eu quiser, Isabela.

Minha respiração ficou presa. Ele não piscava, não hesitava. Esse era o problema de Playboy. Ele não jogava joguinhos. Ele era o jogo.

E eu estava presa nele.

Engoli em seco, desviando o olhar. Meu coração batia forte demais, e eu odiava isso.

— Você acha que manda em tudo, né? — murmurei.

Ele sorriu de lado.

— Acho, não. Eu mando.

E naquele momento, eu soube que fugir seria impossível.

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