AMOR BANDIDO
AMOR BANDIDO
Por: Eduarda
Capítulo 1

Eu sou o Playboy.

O nome já diz tudo. Eu domino essa porra toda. O morro é meu, o medo tem meu nome gravado nas paredes, e quem ousa me desafiar descobre rápido como termina a brincadeira.

Aqui, minha palavra é lei. Quem desobedece, morre.

Sempre fui frio. Distante. Sem tempo para sentimentalismo barato.

Mulher para mim sempre foi igual droga: uso, descarrego, esqueço.

Mas então... ela apareceu.

Isabela.

Uma vadiazinha de olhos grandes e assustados, que caiu no meu território como um pedaço de carne fresca no meio de um bando de lobos.

Ela não sabia onde tinha se enfiado. Era óbvio. E eu soube, no exato segundo que vi aquela pele clara queimando sob o sol, que ela seria minha.

Minha distração. Meu capricho. Meu novo vício.

Vi a garota pela primeira vez enquanto patrulhava o morro. Camisa suada grudada no peito, a Glock pesada no cós da bermuda. O sol ardendo a pele. Eu tava acostumado com o caos.

Mas então ela passou.

E, porra, parecia um anjo perdido no inferno.

Cabelos dourados, olhos claros e uma expressão de medo mal contido.

Ela andava rápido, abraçando os próprios braços como se pudesse se proteger do que nem conseguia ver direito.

Tão estúpida.

Tão perfeita.

Descobri rápido quem ela era: sobrinha da Rita, dona do restaurante da esquina, uma mulher que sabia manter a boca fechada e a cabeça baixa.

Mas a sobrinha…

Ah, essa era diferente.

Tão inocente que parecia pedir para ser corrompida.

No dia seguinte, voltei ao restaurante.

Eu precisava vê-la de novo. Sentir aquele cheiro de medo doce no ar.

E lá estava ela, tentando carregar umas sacolas grandes demais pra sua força ridícula.

Idiota. Linda.

Me aproximei como um predador se aproxima da presa.

Lento. Letal.

— Tá precisando de ajuda aí? — minha voz saiu baixa, carregada de ameaça velada.

Ela congelou.

Olhou para mim como se avaliasse se podia confiar. Coitada.

— Ah... não precisa... — gaguejou, apertando as alças como se fosse fazer alguma diferença.

Cruzei os braços, encarando-a como se já a tivesse nua na minha cama.

— Certeza? Tá quase desmoronando aí.

Ela hesitou. Era bonitinha tentando ser orgulhosa.

Mas acabou cedendo.

— Ok... talvez só um pouco.

Peguei as sacolas das mãos dela com facilidade, sem desviar o olhar nem por um segundo.

Queria que ela sentisse. Que soubesse. Que entendesse de alguma forma que, a partir daquele momento, ela não tinha mais escolha.

— Valeu. — murmurou, envergonhada.

— De nada. — dei um sorriso de canto, o tipo de sorriso que faria qualquer garota sensata correr.

— Você é a sobrinha da Rita, né?

— Sou. Isabela.

— Lucas. — disse, de propósito, deixando meu nome verdadeiro escapar, só para ver o efeito.

Ela assentiu, confusa. Tão limpa. Tão estúpida.

— Chegou faz pouco tempo?

— Sim. Vou ficar um tempo com a minha tia.

— Hm. — deixei escapar um som rouco, como um aviso que ela não entendeu. — E... tá gostando?

Ela sorriu, pequena, tímida.

— Ainda estou me acostumando... é bem diferente de onde eu morava.

— Aposto que é. — respondi, olhos presos nela como uma sentença.

Isabela me olhava como se tentasse decifrar o que eu era.

Mas ninguém aqui me decifra.

Só teme.

E ela... ainda não sabia disso.

— Obrigada pela ajuda, Lucas. — disse, sorrindo de novo.

Antes que pudesse virar, corrigi.

— Playboy. — minha voz saiu baixa, carregada de algo que ela ainda não tinha nomeado.

— O quê?

— Todo mundo aqui me chama de Playboy.

Ela soltou uma risadinha, achando graça.

Mal sabia.

— Nome curioso.

— Você não faz ideia.

Entreguei as sacolas para ela e fiquei ali, observando enquanto desaparecia para dentro do restaurante.

Só quando sumiu da minha vista, percebi,

Eu estava sorrindo.

Como um maldito predador prestes a devorar sua presa favorita.

(…)

Meu nome é Isabela, mas todo mundo me chama de Isa. Cresci no interior, em uma cidade pequena onde todo mundo se conhece e a vida era simples. Até que minha mãe precisou ir embora, e eu fiquei com a minha tia Rita. Ela me convidou para morar com ela no Rio, e eu aceitei sem pensar muito. Era uma nova chance, um recomeço.

Sempre ouvi falar do morro. As histórias, os boatos, os alertas sobre como esse lugar podia ser perigoso. Mas nada me preparou para a realidade. O movimento constante, a música alta vindo de diferentes lados, os olhares desconfiados de quem já viu de tudo. Rita tem um restaurante aqui, e, apesar de ser respeitada, sempre me lembra que preciso ter cuidado.

Hoje foi meu primeiro dia ajudando no restaurante. O cheiro da comida misturado com o calor da cozinha, as conversas apressadas dos clientes, o barulho das panelas… Tudo era novo para mim. Eu tentava me acostumar, mas era difícil ignorar a sensação de que eu não pertencia completamente àquele mundo.

Até que vi ele.

Todo mundo no morro conhece Playboy. Eu não sabia muito sobre ele, só o suficiente para entender que ninguém se metia no seu caminho. Quando ele entrou no restaurante, o ar pareceu mudar. Não foi algo escancarado, mas estava ali. Algumas pessoas acenaram para ele, outras desviaram o olhar. Mas ninguém ignorou sua presença.

Foi então que nossos olhares se cruzaram.

Foi rápido, mas intenso. O tipo de olhar que faz seu corpo reagir antes mesmo de você entender o porquê. Ele me olhou como se já me conhecesse, como se soubesse exatamente quem eu era. E, por algum motivo, eu não desviei.

Senti meu coração acelerar. Era medo? Talvez. Mas também havia outra coisa, algo que eu não queria admitir. Uma espécie de curiosidade inquietante, como se, sem querer, eu tivesse acabado de abrir uma porta para algo que não sabia se deveria entrar.

Rita já tinha me avisado. "Fica longe desse cara. Ele é perigoso."

Mas como se faz isso quando a própria presença dele parece te puxar para perto?

Eu não sabia explicar, mas naquele instante tive certeza de uma coisa: ignorar Playboy seria impossível.

E talvez, bem lá no fundo, eu nem quisesse.

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