A carta de Benjamin não era longa, mas havia um peso em cada palavra que a fazia parar, respirar fundo, e recomeçar. O papel tremia entre seus dedos. As letras pareciam mais vivas do que a própria memória dele.
Evelyn,
Se você está lendo isso, é porque algo em mim acreditava que, um dia, você estaria pronta.
Não para me esquecer.
Mas para seguir.
Ela já lera essas primeiras linhas no capítulo anterior da manhã. Mas agora, sozinhas ali, num silêncio absoluto, aquelas palavras pareciam ganhar outro significado. Como se tivessem sido escritas não apenas para consolar, mas para abrir feridas com a delicadeza de quem entende exatamente onde dói.
Eu sabia que você encontraria o caderno. E sabia que, quando isso acontecesse, não seria apenas eu que você encontraria.
Lucas também estaria lá.
Porque ele sempre esteve.
Evelyn apertou os lábios. O coração deu um salto seco. Ela continuou.
Eu vi a forma como ele te olhava. Você não via — ou fingia não ver. Mas eu vi.
E nunca senti raiva por isso.