Capítulo 6

Lucas a conduziu até o estúdio pelos fundos da galeria. Evelyn o seguiu em silêncio, os passos ecoando sobre o assoalho antigo, o coração ainda acelerado demais para permitir pensamentos claros.

O lugar parecia pequeno, quase improvisado — uma sala retangular com paredes cobertas por provas fotográficas, negativos presos com fita crepe e anotações escritas às pressas em pedaços de papel colados nas superfícies.

Era o tipo de desordem que só pertencia a quem sentia demais.

Havia cheiro de café velho e tinta fresca. E livros. Muitos livros empilhados em cantos e sobre mesas de madeira rústica.

Lucas fechou a porta atrás dela, como se o mundo lá fora precisasse ser deixado para depois.

Como se aquele momento exigisse proteção.

— Senta — disse ele, indicando uma cadeira de ferro com assento de couro desgastado.

Evelyn obedeceu. Ele permaneceu em pé por um tempo, de costas, os ombros tensos. Estava visivelmente desconfortável. Aquilo não era fácil para nenhum dos dois.

— Eu não sei por onde começar — ele murmurou, ainda de costas.

— Pelo começo — Evelyn respondeu com a voz mais firme do que sentia.

Lucas suspirou. Virou-se lentamente.

Os olhos estavam cansados. Profundos.

— Benjamin te amava — ele começou. — Muito. Nunca duvide disso.

— Eu sei — ela respondeu. Não era mentira. Ainda sentia esse amor pairando na casa, nos lençóis, no caderno. Mas havia mais. Havia sempre mais.

Lucas se aproximou devagar e sentou-se à frente dela, em uma poltrona antiga. As mãos repousaram sobre os joelhos. Por um instante, o silêncio os envolveu como uma névoa.

— Eu não queria que você soubesse… de nenhum jeito — ele disse, finalmente. — Mas Benjamin quis. Ele sempre foi mais corajoso que eu.

— Saber o quê, Lucas?

Ele mordeu o lábio inferior, desviando o olhar por um instante.

— Que ele sabia. Sobre mim. Sobre o que eu sentia por você.

A frase caiu entre eles como uma confissão roubada.

Evelyn piscou, surpresa. O coração deu um salto, mas ela não recuou.

— Você…?

— Desde sempre — ele interrompeu, como se não suportasse enrolar a dor. — Desde antes de vocês se casarem. Desde que eu percebi que olhar pra você doía mais do que não olhar.

Evelyn sentiu o chão tremer sutilmente sob os pés. Não de raiva. Nem de negação.

Mas de reconhecimento.

Havia ecos em sua memória. Pequenos gestos. Silêncios que agora ganhavam voz.

— Por que você não me disse?

— Porque eu nunca tive o direito. — Ele passou as mãos pelo rosto. — Eu era o melhor amigo dele. E você era… você. Intocável. Não era minha história pra escrever.

Ela respirou fundo. O caderno repousava sobre seu colo como um peso antigo. Tudo fazia mais sentido. E ainda assim, não explicava tudo.

— E por que ele te escreveu?

Lucas hesitou. Depois esticou a mão até uma gaveta e puxou um envelope. Colocou sobre a mesa entre eles.

— Porque ele sabia que ia morrer. Antes de você. Antes de nós dois.

— E isso aqui — ele tocou levemente o envelope — é a parte que ele queria que você soubesse. Mas só quando estivesse pronta.

Evelyn não tocou o envelope. Ainda não.

— Pronta pra quê?

Lucas a encarou. Não havia mais defesas em seus olhos. Nenhuma máscara.

— Pra entender que o amor que ele sentia por você era tão grande… que ele não queria que você passasse o resto da vida sozinha.

Ele achava — ou talvez esperasse — que, um dia… eu fosse capaz de te fazer feliz.

Evelyn sentiu um nó se formar na garganta.

Lágrimas vieram, quentes, silenciosas. Não de culpa. Nem de medo.

Mas de uma dor nova. Uma dor que vinha da ternura.

Ela estendeu a mão e tocou o envelope.

Mas não abriu.

Ainda não.

— Eu não sei o que fazer com isso — disse ela, honesta.

Lucas assentiu.

— Nem eu.

E ali ficaram.

Dois sobreviventes de uma mesma história.

Esperando coragem para escrever a próxima página.

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