Lucas caminhou lentamente até a mesa onde repousava o caderno de Benjamin. Seus dedos tremiam levemente ao abrir as páginas amareladas pelo tempo, como se tocasse não só papel, mas memórias vivas e dolorosas. Aquilo foi como se a vida voltasse a ser vivida lá trás... onde ele lutou tanto pra correr. Daquela dor. Daquela época. Daquele momento. Mas não exitou:
— Está pronta para ouvir o que ele escreveu? — perguntou, a voz rouca, quase um sussurro.
Evelyn assentiu, sentando-se numa cadeira próxima. O ar no estúdio parecia carregado de silêncio e expectativas, pesado... como se cada palavra que fosse lida pudesse romper o delicado equilíbrio que ainda os mantinha juntos, mas ao mesmo tempo separados.
Lucas passou os olhos por algumas linhas até encontrar uma carta marcada com um pedaço de fita azul desbotada. Passou os dedos por cada linha, sentindo quase a presença de Benjamin ali.
— Esta é uma das últimas — explicou. — Ele escreveu quando tudo já estava desmoronando.
Ele começou a ler:
"Lucas, se você está lendo isso, é porque o tempo nos pregou uma peça que ninguém esperava. Eu gostaria de ter tido coragem para contar tudo pessoalmente, para olhar nos seus olhos e explicar o que me consumia por dentro. Mas a verdade é que eu estava perdido, assustado com o que sentia, e incapaz de pedir ajuda."
A voz de Lucas falhou por um momento. Ele não conseguiu dizer nada em um primeiro momento. Evelyn ficou imóvel, absorvendo cada palavra, sentindo a dor de Benjamin pulsar entre elas.
— Ele sempre foi um homem complicado — disse Lucas, fechando os olhos. — Tentava proteger a todos, mas no fim, acabou se perdendo.
Evelyn respirou fundo, sentindo o aperto no peito crescer. E uma dor inexplicável pegar ela de cheio.
— Então por que ele não falou comigo? Por que essa distância?
Lucas encarou-a com um olhar pesado de culpa. Permaneceu ali... então falou:
— Porque ele não sabia como dizer que precisava de ajuda. Porque tinha medo de parecer fraco. E talvez, porque não queria que ninguém sofresse junto com ele.
Ela sentiu as lágrimas começarem a queimar nos olhos. E deixou elas rolarem.
— Eu o amava tanto... E me senti tão sozinha. Tão sozinha... sussurrou...
Lucas deu um passo mais perto dela, a voz baixa, quase um sussurro:
— Eu sei. E eu sinto muito. Por não ter estado lá. Por não ter sido o que ele precisava — e o que você precisava.
Evelyn encarou o homem tão conhecido que estava à sua frente, aquele que esteve tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
— O que você quer que eu faça com essas cartas? — perguntou.
— Leia — respondeu Lucas. — Leia e entenda. Mas saiba que isso não vai trazer ele de volta. Vai só mostrar quem ele realmente foi. E talvez, ajudar a gente a encontrar um caminho.
Ela assentiu lentamente, sentindo o peso do caderno em suas mãos como se fosse uma bússola para um destino desconhecido.
Enquanto Lucas preparava mais café na pequena cozinha ao lado, Evelyn folheava as páginas lentamente, cada letra, cada palavra carregada de emoção e segredo.
Uma frase, em especial, a fez paralisar:
"Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente. Mas não sei se teria coragem de amar tanto e perder tanto. Espero que um dia, vocês dois consigam perdoar minhas falhas e encontrar a paz que eu nunca tive."
As lágrimas rolaram silenciosas. E sem parar.
Naquele momento, Evelyn entendeu que aquela não era apenas a história de Benjamin — era a história deles. De amor, medo, perdas e a busca por redenção.
E, acima de tudo, era a última página que eles ainda precisavam escrever.