A casa ainda cheirava a ele.Era um detalhe sutil — quase invisível — mas estava ali, impregnado nas paredes, nos tecidos, nos cantos empoeirados da estante. Um traço da colônia que Benjamin usava, misturado ao perfume adocicado da vela de baunilha, ainda intacta no aparador da sala. Evelyn nunca mais teve coragem de acendê-la desde a noite em que tudo desmoronou.Três anos.Três invernos, três primaveras, incontáveis noites em claro.Milhares de horas convivendo com a ausência.E mesmo assim, bastava abrir o armário para que tudo se partisse de novo.Ela ficou parada, os dedos trêmulos na maçaneta. A porta escancarada deixava exposto não só os casacos pendurados, mas também o espaço invisível onde ele costumava estar. Tudo ali era presença e ausência ao mesmo tempo.Desde o funeral, Evelyn evitava aquele armário.Evitava o som seco das gavetas, o toque dos tecidos familiares, o risco de reviver o último beijo na porta, a última promessa comum de “volto logo”.Todos disseram que ela p
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