Sob a luz ancestral da lua cheia, duas matilhas rivais governam as florestas de Eldren, presas a pactos de sangue e tradições que atravessam séculos. A paz entre elas é frágil, sustentada por alianças forçadas e inimizades jamais esquecidas. Lysandra, única filha da alfa Helena, nasceu para carregar o fardo de sua linhagem. Forte, destemida e indomável, ela nunca aceitou o destino imposto. Quando sua mãe anuncia que ela será prometida a Viktor, o temido líder da Matilha Sombria, para selar a paz definitiva, Lysandra sente sua liberdade escorrer pelos dedos como areia. Mas a floresta guarda segredos antigos. Entre as sombras, vaga Aric — um lobo de olhos dourados e presença selvagem, amaldiçoado há séculos a viver entre dois mundos. Isolado, esquecido e condenado, Aric deixou de acreditar em redenção… até cruzar o caminho da jovem loba de espírito rebelde. O que começa como encontros furtivos sob a proteção das árvores logo se transforma em um elo profundo, capaz de desafiar tudo o que foi escrito. Lysandra e Aric se veem presos entre a lealdade ao sangue e o desejo proibido que ameaça destruir as frágeis alianças. Quando a guerra se ergue novamente entre as matilhas e os segredos de Aric vêm à tona, Lysandra terá de escolher entre o amor que carrega em silêncio e o destino de seu povo. Entre a loba e a mulher, entre a filha da alfa e a amante do amaldiçoado. Alguns amores nascem para mudar o curso da história. Outros, para serem tragicamente eternos.
Leer másDizem que a floresta de Eldren tem seus próprios deuses. Que as árvores antigas, mais velhas que qualquer alfa, sussurram segredos àqueles que sabem ouvir. Que os galhos se curvam ao vento não para dançar, mas para vigiar. E que, sob o brilho pálido da lua cheia, criaturas esquecidas pela história caminham entre as sombras — vagantes silenciosos de um tempo em que os homens temiam o que não podiam dominar.
Ali, entre raízes ancestrais e trilhas escondidas pelos séculos, Aric existia.
Para muitos, ele era só uma lenda. Um conto de terror sussurrado ao pé da fogueira para assustar filhotes e adverti-los sobre os perigos de desafiar as leis da matilha. Um nome proibido, banido até mesmo dos registros dos anciãos. Mas ele era real. Tão real quanto o sangue que ainda manchava suas garras e as cicatrizes que o vento não conseguira apagar.
Preso entre dois mundos, Aric não era homem, nem fera. Era ambos. E nenhum.
Condenado a vagar pela eternidade, amaldiçoado pela própria matilha que jurara proteger, ele caminhava entre os vivos e os mortos, entre a besta que não podia conter e o humano que um dia fora. Por séculos, ele evitou as aldeias, fugiu das caçadas e dos olhos famintos dos alfas sedentos de sangue. Manteve-se nas sombras, tornando-se parte da floresta, confundindo-se com o próprio Eldren.
Mas naquela noite… tudo mudou.
O cheiro veio primeiro. Um perfume doce, selvagem e antigo, como terra molhada após a tempestade, misturado ao frescor de lírios noturnos que só floresciam sob a lua cheia. Era um aroma que não deveria existir, uma mistura que não pertencia a nenhuma loba da região.
Por instinto, ele seguiu.
Cada passo o levava para mais perto daquele chamado silencioso. As folhas sussurravam em sua passagem, os galhos se inclinavam, e até as criaturas noturnas pareciam cessar seus cantos ao sentir sua presença. Mas Aric não hesitou. Havia algo naquele cheiro que gritava mais alto que qualquer prudência, mais forte que séculos de cautela.
E então ele a viu.
Sob a luz prateada da lua, ela estava ali, os cabelos escuros caindo como um manto sobre os ombros, os olhos tempestuosos como a tormenta antes do caos. A pele reluzente como marfim à meia-noite. Ela era jovem, mas o sangue ancestral corria evidente por suas veias, como uma marca invisível que apenas os antigos podiam perceber.
Naquele instante, o mundo pareceu cessar.
O tempo, que para Aric era apenas um ciclo interminável de solidão e maldição, parou de pesar. E pela primeira vez em séculos, ele sentiu. Não só desejo ou sede de sangue… mas um chamado. Um eco de algo perdido, quebrado dentro dele.
Ela mudaria tudo.
Ele não sabia quem era, de onde vinha ou o que carregava nas veias. Mas o vínculo fora forjado ali, sob o olhar da lua e as bênçãos silenciosas das árvores de Eldren.
E Aric soube, com a certeza que só as antigas feras conhecem.
O destino havia escolhido. E não havia força na terra ou nos céus capaz de impedir o que viria.
O chão de Thassyr estalava como se tivesse ossos próprios. O eco dos estalos se espalhava em ondas, alcançando até os pés das aldeias unificadas. A fenda crescia em silêncio, mas todos a sentiam — como uma respiração ancestral, profunda e impaciente, que inflava e retraía o próprio tecido da realidade.No coração da aldeia, os mais velhos permaneciam reunidos no Círculo da Vigília. As crianças haviam sido levadas para as zonas protegidas, embora algumas insistissem em vigiar pela fresta das tendas, como se soubessem que estavam presas a algo maior.Eylin, sentada com os olhos vendados, falou com voz baixa:— A fenda não grita... ela escuta. E está esperando ouvir algo que ainda não dissemos.Kael se ergueu, voz firme.— Então falaremos. Não mais como tribos dispersas, mas como um povo unido. Com passado, presente... e agora futuro.🐺 O Chamado dos AlfasHelena, agora Alfa consagrada pela união das matilhas, reuniu os líderes dos clãs. Ao lado de Aric — cuja maldição ainda pulsava sob
Na alvorada do sexto dia desde a revelação da Segunda Profecia, uma estrela cadente cruzou o céu sem ruído, deixando um rastro de luz azulada por onde passava. Mas aquela não era uma estrela comum — era uma Chama Silente, um presságio ancestral do início dos grandes ciclos.Selin acordou ao sentir sua pele formigar, como se o céu tivesse lhe tocado. Quando abriu os olhos, por um instante, refletiam o mesmo azul profundo da estrela que cruzara os céus.Lysandra, que dormia ao seu lado, despertou subitamente e a viu ali, sentada com os cabelos desgrenhados e o corpo envolto pela mesma luz tênue que envolvia o relicário.Foi então que a aparência de Selin ficou clara, pela primeira vez.✨ A Criança do VéuSelin era esguia para sua idade — embora fosse apenas um criança, havia nela uma postura de alguém que compreendia mais do que deveria. Tinha cabelos platinados com mechas que brilhavam suavemente à luz da lua, ondulando mesmo na ausência de vento. Sua pele era de um tom âmbar pálido, c
Muitos dias se passaram após Selin entregar a pedra pulsante a Kael, os ventos do mundo começaram a soprar de forma diferente. Não era mais uma simples mudança climática — era algo mais profundo. Um chamado. Um alinhamento.Em vilas distantes, crianças nasciam com olhos que brilhavam no escuro. Algumas falavam línguas esquecidas no berço. Outras se recusavam a chorar, apenas olhavam fixamente para o céu como se reconhecessem as estrelas por nome.Em uma aldeia pesqueira do norte, uma menina chamada Eliah nasceu durante uma tempestade de areia e luz. Quando seus olhos se abriram, o mar ficou em silêncio por um dia inteiro. Um ancião a envolveu em panos e sussurrou:— A filha do Limiar já caminhou. E agora... os ecos a seguem.Kael recebeu o relato de cinco regiões distintas. Cada relato começava igual: “Nasceu uma criança... e ela não pertence só a nós.”— Elas não são ameaça — disse Nihra, após tocar o mapa de raízes. — Elas são os fios da mesma tapeçaria. A Segunda Profecia começou a
Passadas mais algumas luas nas pedras da antiga trilha do Véu, a runa deixada pela serpente de fumaça continuava a brilhar. Ninguém ousava tocá-la. Nem mesmo Kael. Os cristais ao redor da marca começaram a trincar, e musgos milenares, que nunca haviam florescido, surgiram entre as fendas.Myra chegou com o bastão cerimonial, tremendo.— Essa runa... não é uma invocação. É uma resposta.Kael se ajoelhou diante da espiral incandescente.— Iskar’oth... o Nome Silenciado. O Devorador do Primeiro Ciclo. A entidade que engoliu um continente inteiro e cujas cinzas nunca se dissiparam. Achávamos que era lenda.Eylin, que se aproximava com os olhos vendados, tocou a terra próxima.— O Véu... estremeceu. A essência dele está se movendo. E se Selin foi quem quebrou o silêncio, então ela é a chave que Iskar’oth sentiu.Bren cerrou os punhos.— Precisamos selá-lo de novo. Antes que se manifeste.Mas Nihra balançou a cabeça:— Não podemos selar o que ainda não se revelou. Ele não despertou completa
O uivo de Selin, puro e ancestral, não ficou confinado ao Vale de Thassyr. Como uma onda invisível, reverberou pelos sete antigos caminhos do mundo, atravessando montanhas, desertos, oceanos e ruínas esquecidas. Onde antes havia silêncio, surgiram rachaduras no tecido do Véu. Onde antes havia luto, floresceram ecos de esperança... e de medo.No alto das Torres de Aeris, o Oráculo cego da Ordem dos Vórtices cambaleou, deixando cair seus cálices de vidro.— O primeiro selo caiu... e a Filha do Limiar uivou. Os ventos não obedecerão mais ao mesmo Norte.Nas profundezas do mar escuro, criaturas adormecidas começaram a se agitar. Os Leviatãs da Quarta Era, selados sob camadas de sal sagrado, abriram os olhos pela primeira vez em milênios. As algas ao redor se enrolavam, dançando em torno de um som que o oceano não ouvia desde o princípio: esperança em forma de voz.No Limiar de Skar, os últimos membros da Ordem das Três Noites, renegados e esquecidos, sentiram suas tatuagens queimarem.— O
Na manhã seguinte ao uivo da Vigília Lunar, uma estranha quietude pairava sobre a floresta. Os ventos, antes cálidos, agora carregavam um toque úmido, quase como um aviso. Pássaros se recolheram. As árvores antigas curvavam seus galhos, não como em saudação, mas em receio.Selin dormia, mas sua presença era sentida além do corpo — sua energia parecia ecoar pelas fendas da terra, acordando o que estava enterrado. Pequenas rachaduras surgiram nos círculos de proteção que circundavam a aldeia. As plantas dançavam sem vento. E no lago negro, a superfície ondulava mesmo sob céu parado.Myra estava entre as primeiras a notar.— Ela não sonha apenas... Ela respira dentro da terra agora.Kael, ao ouvir isso, se aproximou da clareira central com passos silenciosos. Observou Selin de longe, envolta ainda no relicário prateado, com o peito subindo e descendo lentamente. Não havia medo em seu olhar, mas um reconhecimento silencioso de que tudo estava mudando — e depressa.— O nascimento dela não
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