Livro 1: Uma Noite com o Rei Híbrido (cada história pode ser lida de forma independente, apenas se passam no mesmo universo) Auriel Starling é órfã, feiticeira e completamente fora de lugar no mundo da nobreza. Com seu jeito impulsivo e desastrado, ela nunca teve grandes ambições — exceto uma: ser notada por Darius Shadowclaw, o lobisomem que faz seu coração disparar. Quando o baile de noivado do príncipe herdeiro se aproxima, Auriel decide agir. Se Darius não tem coragem de convidá-la, ela mesma pode ajudá-lo… com uma poção do amor. Mas o feitiço dá terrivelmente errado. Quem a ingere é Thorne Frost, o príncipe herdeiro de Veridiana — e noivo de uma feiticeira poderosa, ambiciosa e capaz de destruir qualquer um que ouse atravessar seu caminho. Agora, Auriel está encurralada em um triângulo que jamais quis fazer parte. Enquanto tenta esconder a verdade, controlar os sentimentos confusos do príncipe e impedir que a noiva traída descubra tudo, a própria sobrevivência vira uma corrida contra o tempo. Se errar de novo, não é só seu coração que estará em jogo — é a cabeça.
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“Você está ansiosa para o baile de noivado do príncipe Thorne, Auriel?” minha colega questiona animada.
Estou folheando o grimório a procura de um feitiço que mal consigo respondê-la.
“Se o Darius me convidasse para o baile, eu estaria mais ansiosa por ele,” respondo com anseio.
Minha colega solta uma risada que reverbera pela loja. Levanto meu olhar para encará-la.
“Qual foi a graça?” pergunto confusa.
“Você com essa obsessão pelo Darius. Você é apaixonada por ele a sua vida toda e o cara apenas te trata como segunda opção,” ela responde com humor na voz que quase magoa o meu coração. Quase.
“Para sua informação, não sou apaixonada por ele a minha vida toda, ok?” respondo com falso orgulho. “Apenas dois anos. Segunda coisa, ele não me trata como segunda opção… é apenas que Darius é um pouco reservado, só isso.”
“Aham, claro… acredite nisso. Ele é o melhor amigo do príncipe e você? Apenas uma enchatrix desastrada que trabalha em uma loja de poções fajutas para turistas humanos burros que acham mesmo que vai funcionar alguma coisa para eles,” minha colega responde com acidez na voz.
Arregalo meus olhos em advertência, temos alguns humanos na loja olhando alguns itens mágicos para venda.
“Essa conversa está afetando a minha magia, sabia? Licença!” respondo contrariada e saio de trás do balcão.
Vou até os potenciais clientes para convencê-los a comprar alguma coisa.
“Estamos procurando uma poção de amor, vocês vendem isso aqui?” uma mulher questiona com um sussurro.
“Infelizmente não, senhora. Poções do amor são proibidas de serem vendidas, são categorizados como magia proibida,” respondo com um lamento.
“E você não conhece nenhum lugar onde isso seria possível e não proibido?” a mulher insiste.
Nego com a cabeça e cruzo os meus braços, isso faz com que os meus cotovelos batam na prateleira e caiam algumas poções no chão. O incidente faz com que os clientes se assustem e logo partam para fora da loja.
“Desastrada!” minha colega cantarola a palavra do outro lado da loja.
Bufo para ela e começo a recolher os cacos de vidro.
“O que eles queriam?” minha colega questiona, me ajudando a recolher a sujeira.
“Poção de amor. Esses humanos só querem o caminho fácil,” respondo com decepção.
“E quem não iria querer, hein? Se não fosse magia proibida, eu faria umas poções de amor para mim,” minha colega responde. “E com certeza para você. Assim, não seria preciso ver essa situação vergonhosa que é entre você e o Darius.”
“Não é vergonhoso! Ele só é reservado, já disse!”
“Então por que você não faz uma poção para tirar ele dessa reserva toda? Uma poção de coragem não é proibida, certo?” ela instiga.
“Não, não é... mas não seria trapaça?”
Minha colega coloca a mão em meus ombros e aperta com afeto.
“Querida, da forma que está a sua vida, seria muitas coisas, menos trapaça. Se fizer hoje antes de encontrar com ele, é provável que ele te chame para o baile de noivado do príncipe Thorne,” minha colega responde.
Sua sugestão fica em minha cabeça pelo o restante do dia e vou folheando o grimório a procura da poção de coragem. É um feitiço simples, com ingredientes fáceis de serem encontrados aqui na loja. Até que encontro também o feitiço da poção de amor. Meu coração se agita dentro de mim com a possibilidade de fazer.
“Não existe magia proibida, minha filha… o que existe é a intenção dos nossos corações. A magia sente o nosso coração,” a voz da minha mãe surge em minha mente.
Mamãe sempre me ensinou sobre magia, a melhor enchatrix que eu já conheci. Para ela, não existia divisão entre magia e magia proibida. Em Halerion, minha terra natal, às coisas não eram vistas dessa forma tão cromática, preto no branco.
Quão mal poderia uma poção de amor fazer? Sei que Darius gosta de mim, com certeza gosta. Já estamos saindo juntos há quase um ano, isso deve significar algo.
Faço as duas poções por precaução, a da coragem e a do amor. Me sinto viva quando uso minha magia dessa maneira, quando invoco feitiços e coloco os ingredientes nos recipientes. A poção da coragem tem um tom avermelhado sem brilho, como se fosse um xarope para tosse. Enquanto a poção do amor é um vermelho vivo, com brilhos que faz parecer que pó de estrela caiu no frasco. A minha sala de feitiço fica com um cheiro amadeirado misturado com menta, algo que nunca aconteceu antes ao finalizar uma poção.
Seguro os dois fracos em minhas mãos.
“Amanhã, tudo vai mudar!” declaro com ânimo.
***
O plano é simples, muito simples. Só preciso colocar a poção no copo dele e ver a magia acontecer, simples.
Repito o plano na mente durante todo o trajeto até o bar onde combinei encontrar Darius. O local está cheio e animado, música tocando e, antes de atravessar a rua, meus olhos já avistam Darius do outro lado. Meu coração acelera em meu peito e um sorriso surge em meus lábios. Darius é lindo. Um lycan de vinte oito anos, olhos verdes, cabelos medianos loiros que eu amo passar a mão quando estamos deitados na cama.
Darius acena para mim assim que me vê, sinto nos bolsos do meu caso os dois fracos pesarem, como se fosse possível que eles carregassem chumbo dentro. Assim que me aproximo de Darius, ele me abraça de forma afetuosa.
Ele gosta de mim, claro que gosta.
“Pronto para o nosso encontro?” eu pergunto animada.
A expressão de Darius muda por um instante e ele passa um braço por cima dos meus ombros.
“Oh, minha gatinha, desculpa… eu esqueci de avisar.” Darius responde com a voz de decepção. “Combinei de trazer o Thorne. Despedida de solteiro dele, sabe? Afinal, amanhã ele vai ficar oficialmente noivo e tudo mais. Ele está meio cabisbaixo e eu quis animá-lo. Você não liga, não é?”
Sinto o meu coração vacilar com a notícia. Não vejo sempre Darius, só quando ele tem folga do trabalho no palácio e isso é muito raro de acontecer, sendo o braço direito do príncipe e melhor amigo, o trabalho nunca para.
“Não, claro que não ligo. Eu gosto do príncipe,” respondo com falso animo.
“Ótimo, ele já está chegando,” Darius responde e aponta para um carro preto estacionando do outro lado da rua.
Assim que a porta se abre, Darius se desvencilha de mim e enfia as mãos dentro dos bolsos da jaqueta preta que está usando. O príncipe Thorne sai do carro com elegância e maestria. O príncipe Thorne e sua irmã gêmea Elowen são os únicos híbridos que já conheci na vida.
“Desculpa Auriel, por estragar seus planos essa noite,” Thorne declara com uma voz grossa e sem jeito.
Príncipe Thorne sempre foi reservado e tranquilo, seus olhos castanhos claros sempre se mostraram para mim cheio de segredos e melancólicos. Sua pele parda faz um lindo contraste com os cabelos loiros escuros penteados para trás.
“Que isso, príncipe, você não estragou nada!” respondo com gentileza.
“Por favor, só Thorne, o título me causa alergia,” ele pede com humor na voz.
“Vamos lá. É hora de fazer o meu garotão aqui se despedir da melhor parte da vida dele, a solteirice,” Darius declara animado e nos conduzindo para dentro do bar.
Ele caminha como se fosse dono do lugar, o que não é surpresa para ninguém. Onde quer que vá, Darius tem a habilidade de chamar atenção, seja pelo porte confiante, pelo sorriso fácil ou pela aura irresistível que parece cercá-lo.
“A primeira rodada fica por minha conta. O que vocês vão querer?” pergunto, tentando soar tão descontraída quanto Darius, mas sentindo meu coração batendo forte no peito. A ideia da poção do amor fervilha em minha mente como uma chama incerta, oscilando entre empolgação e nervosismo. Ainda tenho coragem suficiente para enfiar a poção na bebida dele e descobrir se, afinal, Darius vai me convidar para o baile. É um plano ousado, talvez até um pouco desesperado, mas quem sabe? Não tenho muito a perder.
“Cerveja!” os dois declaram ao mesmo tempo.
Caminho até o balcão, tentando ignorar o leve tremor em minhas mãos. O barman me encara com um olhar monótono, mas eficiente. Peço as bebidas, e enquanto ele se movimenta com agilidade para preenchê-las, minha atenção se volta para Darius e Thorne, que conversam animadamente numa mesa próxima. Eles riem com facilidade, e a camaradagem entre eles é palpável, quase tangível no ar. Sinto uma pontada de algo que não consigo nomear completamente. Não é inveja, exatamente, mas uma espécie de saudade dolorosa de algo que nunca mais tive.
Dez anos. Faz mais de dez anos desde que deixei Halerion, desde que tive alguém a quem pudesse chamar de amigo de verdade. Minha última grande amiga foi minha mãe, e mesmo ela se foi há cinco anos. Minha garganta aperta com a lembrança, mas engulo rapidamente a sensação. Não há tempo para sentimentalismos agora.
“Aqui está,” o barman entrega três canecas de cerveja para mim.
Por alguns instantes eu reflito qual poção eu devo dar para Darius. Encaro os dois fracos em minha mão e mais uma vez a voz da minha mãe surge na minha mente.
A magia conhece o nosso coração.
Respiro fundo e tomo a decisão. Com uma onda de coragem que mal sei de onde vem, despejo o conteúdo da poção do amor em uma das canecas. O líquido é invisível, como se fosse parte da cerveja desde sempre. Meu coração dispara enquanto encaro o resultado, como se aquele simples ato tivesse acabado de alterar o curso da minha vida. Darius gosta de mim, eu me digo, tentando convencer a mim mesma. Ele só precisa de um empurrãozinho.
Equilibro as três canecas nas mãos, ajustando-as de modo que a enfeitiçada fique à frente. Meu plano é simples: entregá-la a Darius primeiro, certificar-me de que ele a bebe e aguardar. Mas, ao me aproximar da mesa, percebo que subestimei o caos que me cerca.
“Finalmente!” Thorne exclama, pegando a primeira caneca com a destreza de alguém que já conhece bem seus próprios reflexos. Antes que eu possa reagir, ele inclina a cabeça para trás e bebe metade do conteúdo num único gole, os olhos fechados como se saboreasse o momento.
“Ei, essa era minha!” tento dizer, mas minha voz parece presa na garganta, abafada pela incredulidade.
Darius, sem se preocupar, pega a segunda caneca com um sorriso e ergue-a em minha direção como se brindasse. Eu permaneço imóvel, minha terceira caneca ainda em mãos, observando Thorne com os olhos arregalados. Ele abre os olhos e me encara, um brilho rosado estranho surge em suas íris. Algo mudou, embora eu não consiga identificar exatamente o quê. Meu coração parece parar por um instante enquanto a realidade da situação me atinge em cheio.
Tudo saiu do controle, e eu não tenho ideia de como consertar isso.
Thorne Pov“Não consigo acreditar que meus próprios filhos e minha futura nora fizeram esse ato de traição!” A voz de Caelum ecoa pelas paredes altas e adornadas da sala de reuniões. Seu tom é carregado de fúria.“Onde a garota está?” Minha mãe questiona. Sua voz é calma, quase fria, um contraste gritante com a explosão de meu pai. Ela está sentada com uma postura impecável, os dedos entrelaçados sobre a mesa como se estivesse no controle de tudo, mesmo em meio ao caos.“Está ainda com os policiais, sendo interrogada sobre a invasão na loja dela,” Alex responde firme, com os olhos fixos nos de meu pai. Sua postura &eac
Auriel PovMe sinto como um animal enjaulado quando Thorne surge à minha frente, acompanhado por Amara e seus irmãos. O ambiente ao meu redor parece se fechar ainda mais. O ar é pesado, carregado com o cheiro de mofo e a ferrugem do metal das grades. Meu coração acelera e tento controlar a respiração, mas cada passo que eles dão em minha direção só aumenta o nó no meu estômago.O olhar de Alex, duque e irmão mais novo de Thorne, é carregado de desaprovação, mas há algo mais ali, algo que parece uma sombra de reconhecimento ou mesmo compaixão. É desconcertante. Já Elowen, a gêmea de Thorne, está visivelmente curiosa. Seus olhos verdes brilham com uma mistura de fascínio e empolgação que não condizem com o ambiente claustrofóbico em que estamos.“Darius está com vocês?” Minha voz sai mais trêmula do que gostaria, mas tento manter um semblante firme, encarando-os diretamente.“Não, não sei onde ele está. Estamos aqui para conversarmos, Auriel. Você está bem?” Thorne responde, a ternura n
Thorne Pov“Sobrevivemos ao baile, pode respirar tranquilo agora,” Amara diz com humor na voz, inclinando-se levemente contra o sofá elegante da sala de estudos.Suas palavras flutuam no ar como um convite à descontração, mas sinto o peso no meu peito se intensificar. É como se uma âncora estivesse amarrada à minha alma, impedindo qualquer tentativa de respirar livremente. A imagem de Auriel não me deixa em paz. Como ela está agora, trancafiada nas masmorras como uma criminosa? O pensamento me corrói.“Não acredito que estou enfeitiçado, Amara,” confesso, e a voz que sai de mim é carregada de uma mistura de angústia e confusão.Minha noiva afaga minhas costas de forma reconfortante, seus dedos traçando círculos lentos e metódicos na minha camisa. É um gesto familiar, quase mecânico, e deveria ser suficiente para aliviar a tensão que me consome. Mas não é. Há algo incompleto no toque, algo que já não consigo ignorar. Sempre foi assim, ou é o feitiço distorcendo tudo que sinto?“Bem, ag
Auriel Pov“Que merda é essa, Thorne?” Amara questiona atrás de mim, sua voz cortando o ar como um chicote, carregada de incredulidade e, talvez, um toque de dor que ela tenta disfarçar.Meus ombros tensionam automaticamente, como se eu tivesse acabado de ser pega cometendo um crime hediondo. Me afasto dos braços de Thorne, sentindo como se cada movimento fosse pesado, cada passo um esforço sobre-humano. Meu olhar recai sobre o rosto dele, e é impossível ignorar a confusão estampada em sua expressão. A testa franzida, os olhos em constante movimento entre mim e Amara, como se estivesse tentando remontar peças de um quebra-cabeça que simplesmente não se encaixam.Eu preciso sair daqui. Agora.Desesperada, meus olhos varrem o salão em busca de uma rota de fuga, mas tudo o que encontro são rostos. Incontáveis rostos. Todos nos encarando. Olhares cheios de choque, reprovação, curiosidade e... até uma ponta de diversão maliciosa de alguns.“Eu… eu, eu não sei.” Thorne responde, gaguejando,
Auriel PovToda a frente do castelo está imersa em um esplendor quase irreal, uma verdadeira obra de arte criada para o baile de noivado. Do lado de fora, a música suave de uma orquestra flutua no ar, criando uma atmosfera que é, ao mesmo tempo, grandiosa e mágica.Fico paralisada, sem saber para onde olhar primeiro, completamente perdida diante de tamanha elegância. Cada detalhe parece cuidadosamente planejado para impressionar. Há lycans de diferentes matilhas, enchatrix com suas vestes cintilantes e humanos nobres trajando seus melhores adornos, tudo misturado em um espetáculo de cores e estilos. É um cenário que até pouco tempo eu só imaginava existir em Halerion, o reino mais cosmopolita que conheço. Aqui, em Veridiana, a diversidade é uma visão surpreendente e ainda um tanto incomum.O reino de Veridiana não é exatamente conhecido por ser um centro de convivência entre espécies, especialmente considerando os anos em que os enchatrix foram relegados às periferias sombrias de Grim
Auriel Pov“O que foi, Auriel? Você parece que viu um fantasma,” Thorne declara preocupado, sua testa franzida em minha direção.“Eu… eu…” As palavras ficam presas em minha garganta.Thorne se levanta e fica de pé ao meu lado. Ele coloca as mãos em meu rosto e seu toque me causa um arrepio por todo o corpo. Seu rosto está muito próximo do meu, sua respiração está quase se misturando com a minha. O que ele está fazendo tão próximo assim de mim?“Você está bem? Está se sentindo mal? Quer que eu te leve para casa?” Thorne indaga com preocupação na voz.Eu nego com a cabeça, sem conseguir organizar os meus pensamentos. Thorne acaricia as minhas bochechas com os polegares e a sensação é confortável, mas estranha.“Cara, você que está agindo estranho. Senta aí,” Darius diz com estranheza na voz.Isso faz com que Thorne solte o meu rosto e ele balança a cabeça, como se tentasse sair de um transe. Eu limpo minha garganta e me sento ao lado de Darius e Thorne volta para o seu lugar, de frente
Último capítulo