Mundo de ficçãoIniciar sessãoEliza Martins chega à cidade grande sonhando com a moda, mas acaba trabalhando como babá dos filhos de Rafael Monteiro, um bilionário viúvo que transformou a dor em frieza. Determinada, alegre e ousada, ela vira o mundo dele do avesso, e desperta uma obsessão tão inesperada quanto incontrolável. Mas quando o ex-namorado abusivo de Eliza ressurge, Rafael precisa encarar seus próprios limites entre proteger e controlar. Entre traumas, segredos e uma paixão arrebatadora, eles descobrem que amar só vale a pena quando cura… não quando aprisiona.
Ler maisEliza*
Se alguém me dissesse, há nove meses, no dia da minha formatura em Design de Moda, que eu estaria aqui, sentada em uma cadeira dura, quase sem respirar, diante de um CEO viúvo, sério e absolutamente intimidador, eu teria gargalhado. Daquelas gargalhadas que você solta quando acha que a vida só está brincando com você. Mas não. A vida não estava brincando. Ela me deu um pisão no joanete e me empurrou direto para a entrevista de emprego menos glamourosa que uma aspirante a estilista poderia imaginar. Faz um mês que eu e minha melhor amiga, Bianca, empacotamos nossas vidas em duas malas — as mais baratas, porque a gente acreditou que ia dar pra comprar outras depois — e nos mudamos para a cidade grande. O plano era simples: achar emprego na área. O plano real: ouvir tantos “não” que eu perdi a conta. As lojas queriam alguém com experiência. As confecções queriam um portfólio gigante. As marcas queriam alguém “indicado por alguém”. E nós… bom, nós não tínhamos ninguém para indicar a gente além de nós mesmas. E aparentemente o mercado não achou isso suficiente. Depois de semanas tentando, chorando no chuveiro e comendo miojo de 3 sabores diferentes (porque variedade importa), tomamos uma decisão: arrumar qualquer emprego que pagasse aluguel e continuar tentando aos poucos no ramo da moda. É assim que acabei sentada na sala enorme de Rafael Monteiro, respirando o perfume amadeirado dele, caro o suficiente pra me fazer sentir pobre só por existir. A sala parece saída de um catálogo de móveis que eu jamais teria coragem de entrar. Madeira escura, estantes altas, uma mesa de vidro que eu tenho certeza que vale mais que meu guarda-roupa inteiro. E no centro disso tudo: ele. Rafael segura meu currículo com a mesma expressão de quem encontrou um enigma. E eu acho que sei exatamente o que ele está olhando: “Formada em Design de Moda”. Eu tinha feito o currículo pra vaga na área de moda e depois fui fazendo conforme foi surgindo vaga que eu podia me inscrever, fiz a de babá pra entregar pra Rafael Monteiro mas na primeira impressão me esqueci de tirar o curso, imprimi outra, mas, eu trouxe a errada. No desespero das contas, do ônibus lotado e do meu estômago roncando, simplesmente esqueci de apagar a parte mais importante, e menos útil do papel. Parabéns, Eliza. Nota dez no quesito “autossabotagem”. — Curso de moda — Ele falou ainda olhando o papel, e então me encarou — Seu currículo é… incomum para uma babá — ele comenta, com aquela voz baixa de quem nunca precisou fazer esforço para ser levado a sério. Eu tento sorrir. Tento mesmo. Mas sai algo meio “socorro”. — Mostra que tenho criatividade, lidar com crianças exige isso — digo. A verdade é que eu estava tentando manter dignidade. E emprego. Principalmente emprego. Rafael apoia o currículo sobre a mesa, mas continua me analisando com olhos intensos demais para o meu nível de preparo emocional. — Tá escrito aí que sua experiência foi cuidar de dois irmãos — ele fala como se fosse pouca coisa. — Sim, dois irmãos, um menino e uma menina. Além de cuidar de outras em outros momentos. E eu aprendi rapido. — respondo, ajeitando o blazer baratinho que insiste em enrugar só pra me irritar. Eu não estou mentindo. Eu tenho experiência com crianças. Uma vez tomei conta do priminho de uma amiga. Ele me arranhou, me mordeu e derrubou suco no meu tênis. Se isso não é experiência, eu não sei o que é. Rafael dá mais um daqueles silêncios. Do tipo que me faz querer levantar e ir embora antes que ele perceba que eu sou uma farsa ambulante. Mas eu não vou embora. Tenho aluguel pra pagar. Ele finalmente se levanta. O mundo parece diminuir quando ele fica de pé — ou talvez eu que esteja pequena demais aqui dentro. Ele caminha até mim com passos lentos, firmes, calculados, como se cada movimento fosse planejado. Para tão perto que eu consigo contar a quantidade de fios de barba por fazer no rosto dele. Não que eu vá fazer isso. Até porque estou ocupada suando frio. — Eu preciso de alguém responsável — ele diz, com aquela calma que não combina com meu ataque de ansiedade interno. — Alguém que não complique minha vida e que saiba exatamente o que está fazendo. Eu abro um sorriso. Um sorriso que diz: “Eu definitivamente não sei o que estou fazendo”. Mas por fora, claro, parece só “educada e simpática”. — Eu posso começar quando quiser. — respondo. E posso mesmo. Até porque, no momento, minhas contas estão brigando entre si pra ver qual vai me humilhar primeiro. Rafael continua me olhando. E é um olhar que pesa. Não porque é agressivo. Mas porque parece que ele está tentando me classificar, encaixar, decifrar. Sinto que ele está buscando algo em mim, e eu só espero que não seja perfeição, porque aí ferrou. — Você mora longe? — ele pergunta. — Não muito. Dois quilômetros na verdade. Mas de ônibus da cerca de uma hora... Mais, se o motorista resolver ser filosófico e andar devagar. Rafael não ri. Ele parece incapaz de rir. Talvez até tenha esquecido como faz. — Horários flexíveis? — ele continua. — Completamente flexíveis. — Exceto quando eu estiver chorando pelo meu sonho de moda, mas ele não precisa saber disso. Silêncio de novo. Eu quase pergunto se posso colocar música ambiente pra diminuir a tensão. Então Rafael respira fundo, como se tivesse chegado a uma conclusão que só ele conhece. Ele estende a mão. Eu aperto. A mão dele é quente, firme e completamente incompatível com a minha, que está fria e trêmula. — Seja bem-vinda — ele diz. Eu sinto o peito afundar. E não sei se isso é bom ou ruim. Quando estou prestes a agradecer, ele adiciona, do jeitinho dele, seco, controlado, definitivo: — Não me decepcione.Fiquei olhando Henrique brincar com as crianças. Ele faz bagunça na minha sala de estar como se tivesse a mesma idade que meus filhos e zero limites. As crianças adoram, obviamente. Lucas sobe nas costas dele como se fosse um cavalo de rodeio, e Alice ri tão alto que até os quadros parecem vibrar.— Cuidado com o sofá — murmuro, mas ninguém me escuta, como sempre.A cena deveria me irritar. E irrita. Um pouco. Porém… sei lá. Tem algo ali que me prende por mais tempo do que eu gostaria de admitir.Henrique vira um amigo dos meus filhos com uma facilidade que eu não consigo imitar. Ele faz vozes, inventa histórias, finge que o tapete é lava. E eu fico ali, parado, assistindo como se fosse um intruso dentro da própria casa.Com Henrique eles ficam super a vontade, diferente de comigo, porque eu coloco limites, eu educo. Henrique é o tio chato que mima eles. Quando estão com Henrique é como se eu nem estivesse aqui também.Manuela tropeça rindo, e meu corpo se move antes do pensamento, só
Rafael*Eu devia saber que contratar uma babá nova seria um problema no minuto em que ela entrou na minha sala para a entrevista.Eliza.Pequena, nervosa… mas com um olhar firme, como quem acabou de decidir que não vai sair correndo, mesmo que queira. E tinha aquela maneira de responder que… irritava. Não por ser desrespeitosa, longe disso. Ela só era espontânea demais. Transparente demais. Viva demais.E eu não tenho mais espaço pra esse tipo de coisa.Quando a entrevista terminou, eu já sabia que ia contratá-la. Mesmo assim, passei o resto do dia tentando me convencer de que era só porque eu precisava urgentemente de alguém. Lucas e Alice estavam insuportáveis com a última babá, Márcia estava no limite, e eu não tinha tempo. Qualquer justificativa servia, desde que não fosse a verdadeira:Ela me intrigou.E isso é irritante.No final da manhã, Henrique entrou na minha sala sem bater, como se a empresa fosse dele. Já veio falando antes mesmo de se sentar.— Então? — jogou a pasta na
Cheguei na mansão dos Monteiro às seis e quarenta e cinco da manhã, respirando fundo como quem se prepara pra entrar numa arena. Segundo dia. Segundo round. E vamos ver se hoje as crianças lembram que eu existo… ou se continuo sendo uma planta decorativa altamente qualificada.Entrei pelos fundos, como Márcia tinha me instruído. Encontrei os dois na sala de jantar: Márcia tomando café e Lucas terminando o dele. Ele estava sorrindo pra ela — até me ver. A expressão apagou como se tivesse sido puxada pelo interruptor.— Bom dia — tentei, otimista.— Bom dia, Eliza — respondeu Márcia, simpática. — Ele só precisa colocar o tênis antes de sair.— Certo.Lucas levantou da mesa como se estivesse cumprindo uma sentença judicial. Segui atrás dele até o quarto. Ele colocou o tênis… e ficou olhando pros próprios pés, imóvel. Parecia travado num videogame.E então eu entendi.Ele não sabia amarrar os cadarços.Ajoelhei ao lado, com cuidado pra não assustar.— Posso te ajudar? — perguntei num tom
Henrique se jogou no sofá com uma naturalidade tão grande que parecia ser a casa dele. Eu quase ri, era o oposto perfeito do Rafael, que tinha a vibe de “não amasse meu terno nem com o olhar”.— Então… Eliza, né? — ele perguntou, virando-se para mim com um sorriso fácil.— Isso mesmo.— Sou amigo do Rafael desde a adolescência. — Ele ajeitou um dos braços no encosto, completamente à vontade. — Não se deixe enganar pela carranca dele.Eu soltei um riso baixo. Lucas e Alice continuavam focados no desenho, mas eu notei que olhavam para Henrique com aquele ar de quem confia.— Faz muito tempo que você mora na cidade? — ele perguntou.— Um mês — respondi. — Ainda tô me acostumando. Andei por alguns lugares, mas… só o básico.— Ah, então você ainda não viu nada — ele disse, empolgado como quem descobre um projeto novo. — Posso te mostrar tudo. Restaurantes legais, parques, museus, baladas… a cidade tem muito canto escondido que só quem mora aqui há anos conhece.Eu pisquei, surpresa.— Séri
A casa era tão grande que eu continuava com a sensação de que, se me perdesse ali dentro, só me encontrariam na próxima temporada de um reality show, provavelmente já eliminada, porque ninguém teria paciência de procurar por mim. Márcia, a governanta, andava devagar, explicando cada cômodo com uma calma de quem conhecia aquele lugar como a palma da mão, e eu… bem, eu mal lembrava o caminho de volta pra cozinha.— Aqui é o quarto dos pequenos — disse ela, abrindo uma porta branca que parecia ter sido polida cinco minutos antes.Entrei e quase deixei escapar um “uau”. O quarto era literalmente digno de revista de decoração, mas a versão vida real, com um toque generoso de caos infantil. Brinquedos pelo chão, roupas largadas como se fugissem de algum monstrinho do armário, meias perdidas num nível que eu jurava ouvir gritos de socorro vindo delas.— Eles não gostam muito que mexam no espaço deles — explicou Márcia, entregando-me uma prancheta com folhas plastificadas. — Essa é a rotina.
Assinei um contrato de experiência e um de confidencialidade. Gente rica tem dessas coisas. Rafael me disse que meu tempo em teste começaria agora, já que é uma e meia da tarde e as duas crianças estão em casa.— Acho que elas estão na sala de brinquedos. Você sabe onde é?Não, eu não sei. Eu nunca estive aqui.— Não, senhor.— Corredor a esquerda da escada, segunda porta à esquerda.Assenti e saí apenas murmurando um “com licença”.A mansão dos Monteiro é tão grande que deveria vir com mapa, bússola e guia turístico. Eu me perco só de olhar para o corredor. Juro. Tem hotel cinco estrelas que não tem essa quantidade de portas.Quando abro a porta da sala, quase tomo uma bola de borracha na cara. Desvio no reflexo. Obrigada, academia e meu personal imaginário.— Oi… — tento dizer, sorrindo, já ativando meu modo diplomático nível ONU.As duas crianças me encaram. Lucas, o mais velho, oito anos, olha pra mim como se eu fosse uma fiscal prestes a fechar o playground. Alice, cinco anos, ab
Último capítulo