Elara é apenas uma camponesa simples, marcada pela dureza da vida e pela frieza do pai. Nunca sonhou com nada além de sobreviver ao dia seguinte. Até que um estranho surge em seu caminho, um homem de presença imponente, de olhos sombrios e voz grave capaz de estremecer sua alma. Adrian não deveria ter se aproximado dela. Como Alpha de uma poderosa alcateia, um pacto ancestral o proíbe de cruzar os limites do vilarejo. Mas no instante em que vê Elara, ele sabe a verdade: ela é sua luna predestinada, aquela que o destino escolheu para ele… e a única que pode ama-lo ou destruí-lo. Entre eles nasce uma atração impossível de resistir, tão arrebatadora quanto perigosa. Enquanto Elara luta contra sentimentos que não entende, Adrian enfrenta a fúria de sua própria natureza e a ameaça de uma maldição centenária que pode transformá-lo em uma fera incontrolável. Quando o destino e o desejo se entrelaçam, não há como escapar. Ele deveria mantê-la longe. Ela deveria temê-lo. Mas algumas ligações são fortes demais para serem quebradas… mesmo que tragam consigo amor, perigo e tragédia.
Ler maisElara
Não sei por que, mas sempre senti que havia algo maior lá fora. Mesmo na aldeia mais simples, com as casas de madeira cheias de fumaça de lenha, o ar carregado de cheiro de terra e pão recém-assado, eu sentia o mundo pulsando além das fronteiras do que meus olhos podiam ver. Meu nome é Elara, e todos me conhecem como a filha de Daren, um homem simples, trabalhador e honesto, assim como minha mãe era antes de morrer. Sempre vivi rodeada por tarefas e obrigações, e talvez por isso tenha aprendido cedo a carregar o peso do mundo em meus ombros. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, não me sinto cansada ou derrotada. Eu apenas… existo, e faço o que precisa ser feito.
Aquela manhã começou como qualquer outra. O sol ainda engatinhava pelo céu, iluminando a aldeia com tons dourados e suaves, e o cheiro de pão saindo do forno de Maeve me fez acelerar os passos até a casa dela. A moça loira, de olhos claros e sorriso fácil, já estava lá, mexendo as fornadas com a destreza de quem nasceu para isso.
— Bom dia, preguiçosa — ela disse assim que me viu. — Já vai se atrasar para ajudar seu pai.
— Bom dia, Maeve — respondi, fingindo reprovação, mas sorrindo. — Não estou atrasada. Só estou aproveitando o cheiro do pão.
Ela riu e me deu uma cotovelada leve. — Sempre tão dramática, Elara. Vou te dar um pedaço antes que esfrie.
Peguei o pão ainda quente e senti o conforto simples da rotina: o sabor doce da massa, o calor do forno e o cheiro da madeira queimando. Pequenas coisas que, para muitos, seriam insignificantes, mas para mim eram a vida. Maeve sempre foi meu sopro de alegria, uma luz constante nos dias monótonos e duros. Ela tinha o dom de transformar qualquer trabalho pesado em risadas e histórias.
— Então, o que aprontou ontem à noite? — perguntei, mordendo o pão.
Maeve fez um gesto dramático, levando a mão à testa. — Aprontei nada! Só fui conversar com minha avó e acabei rindo tanto que acordei o gato.
Rimos juntas, e o tempo passou rápido entre histórias bobas e lembranças da infância. Era como se o mundo inteiro estivesse confinado dentro da pequena cozinha dela, protegido e seguro. Até que ouvi o primeiro som que fez meu coração acelerar.
Um som estranho atravessou a aldeia, cortando a leveza da manhã: passos firmes sobre a terra batida, precisos, calculados. Não eram passos de um aldeão comum. Havia algo diferente, quase… intenso demais.
— Elara — Maeve murmurou, franzindo a testa. — Você ouviu isso?
— Ouvi — respondi, sem saber direito como descrever a sensação que subia na espinha. — Parece… alguém que não pertence aqui.
Saímos para a rua e vimos, a distância, um cavalo avançando pelo caminho de terra. Montado nele, um homem. Um estranho. Não era como qualquer homem da aldeia: o porte, a postura, até a forma como segurava as rédeas indicavam força e controle. Um mistério. Meu coração acelerou e minhas mãos ficaram frias, como se eu pressentisse que minha vida mudaria naquela manhã.
Ele parou diante da taverna, olhando ao redor. Seus olhos, tão intensos que parecia que enxergavam tudo de uma só vez, se fixaram em mim. Senti meu corpo paralisar. Um calafrio percorreu minha espinha. Ele era alto, musculoso, e os cabelos escuros, um pouco compridos, caiam sobre a testa de forma desordenada, mas mesmo assim pareciam impecáveis. Seu rosto, sério e firme, irradiava uma autoridade natural, e a sensação de que eu deveria me curvar diante dele surgiu, inesperada e inexplicável.
— Quem é ele? — Maeve sussurrou, claramente sentindo o mesmo impacto.
— Não sei — respondi, tentando manter a calma, mas a curiosidade e o medo se misturavam dentro de mim. — Nunca o vi antes.
O homem desmontou do cavalo com uma elegância estranha, cada movimento preciso, controlado. E então ele veio na minha direção, sem pressa, mas com a certeza de que cada passo o aproximava de seu objetivo. Quando finalmente parou diante de mim, pude sentir algo diferente: um calor intenso, quase sufocante, irradiando de sua presença.
— Oi, quem é você? — perguntou, a voz baixa, grave e firme, mas com um tom que me fez tremer.
— Oi, sou Elara filha de Daren.
Ele estudou meu rosto por alguns segundos que pareceram eternos. Eu queria desviar o olhar, mas não consegui. Havia algo nos olhos dele que me prendia, algo que ia além da simples curiosidade. Era como se ele me conhecesse de algum lugar que eu nem imaginava existir.
— Então é você — repetiu, e havia uma certeza, quase um comando, na forma como falou.
Não entendi o que ele quis dizer. — Eu? — perguntei, minha voz vacilando.
Maeve, que estava ao meu lado, deu um passo atrás, segurando meu braço. — Talvez seja melhor você ir… — começou, mas eu a interrompi, sem saber exatamente por quê.
— Espere — disse, e algo na minha própria voz me surpreendeu. — Quem é você?
Ele sorriu, mas não um sorriso comum. Era pequeno, quase imperceptível, mas carregado de força e intenções que eu não compreendia.
— Sou alguém que vai mudar a sua vida — disse, devagar, quase como se cada palavra fosse uma promessa ou um aviso.O vento passou entre nós, trazendo o cheiro do bosque próximo, da terra úmida e do musgo das árvores. Eu queria recuar, mas também queria saber mais. Algo me chamava para ele, algo que eu não podia nomear.
— Por que eu? — perguntei, a curiosidade e o medo se misturando.
Ele deu um passo à frente, tão perto que pude sentir o calor do corpo dele, mas ainda mantendo distância suficiente para não tocar. — Por razões que você ainda não entende. — A voz dele era firme, sem qualquer dúvida. — Mas você vai compreender.
Não consegui falar. Minhas mãos estavam trêmulas, o coração acelerado. Por que aquele homem me deixava assim? Não sabia nada sobre ele, e ainda assim sentia uma conexão que me assustava e me fascinava ao mesmo tempo.
Ele estudou minha expressão por um momento, e depois, sem aviso, virou-se e caminhou em direção à estrada que levava à floresta. Não disse mais nada. Apenas se afastou, deixando um silêncio pesado e eletrizante para trás.
Maeve me segurou pelo braço. — Elara… você está bem?
Assenti, mas mal conseguia falar. — Sim… só… ele… — minha voz quebrou. — Ele é estranho.
— Estranho é pouco — Maeve disse, franzindo o cenho. — Nunca vi ninguém como ele.
Olhei para onde ele tinha desaparecido deixando o cavalo para trás e senti uma estranha mistura de medo e excitação. Algo dentro de mim dizia que minha vida nunca mais seria a mesma. Algo me dizia que eu iria vê-lo de novo. Que de alguma forma, nosso encontro não fora por acaso.
Passei o resto do dia tentando me concentrar nas tarefas comuns: ajudar meu pai no campo, organizar a casa, preparar o jantar. Mas a imagem dele, o som da voz grave, o olhar que parecia atravessar minha alma, não saía da minha mente. Cada sombra parecia lembrá-lo, cada som do bosque parecia ecoar com a presença dele.
Quando finalmente me deitei, com o céu tingido de laranja e violeta pelo pôr do sol, tentei afastar os pensamentos. Mas no silêncio do meu quarto, com a brisa entrando pela janela, não consegui. Fechei os olhos e o vi ali, parado, olhando para mim, imponente e impossível.
E pela primeira vez na vida, senti que algo estava por vir, algo que mudaria tudo. Algo que eu não estava preparada para enfrentar… mas que, de alguma forma, eu queria enfrentar.
Aquela noite foi longa. Cada barulho lá fora me fazia prender a respiração, imaginando se ele estava perto, se voltaria, se… Eu não sabia exatamente o quê. Mas no fundo do meu peito, uma fagulha acendeu-se, um misto de medo e desejo que eu ainda não conseguia nomear. Que homem atrevido, misterioso e encantador.
AdrianA lua da noite anterior ainda parecia queimada na minha pele, como uma marca que não desaparecia. Eu não conseguia afastar de mim a lembrança dos olhos dela — olhos que me perfuraram com pânico e repulsa. Eu nunca tinha sentido dor tão funda como naquele instante. Não a dor da transformação, não os ossos se quebrando e rearrumando sob a lua, mas a dor de ver Elara me olhar como se eu fosse um monstro.Eu precisava vê-la de novo. Precisava explicar. Precisava dizer que não havia perigo, que eu jamais a machucaria. Que aquilo que ela viu não era tudo o que eu era.Mas Cael estava me esperando quando voltei para a clareira da alcatéia. Ele me conhecia demais, e antes mesmo de eu abrir a boca já lançou aquele olhar carregado de censura.— Onde você pensa que vai? — ele perguntou, os braços cruzados, o semblante pesado como pedra.Suspirei fundo. Ele era meu amigo, quase como um irmão, mas também era a consciência que eu não queria ouvir.— Preciso voltar lá, Cael — respondi sem rod
ElaraA madrugada já estava se despedindo quando ouvi os passos pesados do meu pai se aproximando da porta de casa. Passei a noite inteira sentada no chão frio, encostada contra a madeira, esperando por aquele som. Eu já não sabia se estava acordada de verdade ou se o cansaço tinha me feito sonhar de olhos abertos. A cada estalo das tábuas, a cada sussurro do vento, meu corpo estremecia. Quando reconheci o arrastar conhecido de suas botas no terreiro, meu coração acelerou. Ele estava de volta. Vivo. Salvo. E, de repente, o peso que me esmagava o peito aliviou só um pouco.Levantei rápido, sem fazer barulho. Não queria que ele me encontrasse ali, encolhida e com os olhos arregalados como uma assombrada. Corri para o quarto, me deitei na cama e me enrolei em silêncio, como se já estivesse dormindo há horas. Segurei a respiração quando ouvi a maçaneta da porta ranger. Sabia que ele ia espiar, como sempre fazia. Meu pai nunca deixava de se certificar de que eu estava segura. Fingi a seren
AdrianO ar da noite estava denso, pesado, quase sólido. Cada respiração me custava esforço, como se os pulmões rejeitassem o oxigênio que a floresta oferecia. Eu sabia que não ia dar tempo. As dores já começavam a se espalhar pelo meu corpo — os músculos tensionando, os ossos latejando, o sangue queimando em minhas veias. A lua ainda nem tinha alcançado seu ponto mais alto, mas já me chamava com um poder que eu não conseguia ignorar.Corri pela mata em disparada, os pés golpeando o chão coberto de folhas secas. Precisava me afastar da vila, precisava voltar para os limites da minha alcatéia antes que fosse tarde demais. Eu era o Alpha, e mesmo assim não tinha domínio sobre aquilo que me definia. Não naquela noite. Não sob o domínio da lua cheia.Mas então, quando pensei que tinha conseguido despistar qualquer ameaça, um farfalhar suave me chamou a atenção. Eu já conhecia aquele som. O coração disparou, não pelo medo, mas por uma angústia que me esmagou.— Não... — murmurei, virando o
ElaraO dia amanheceu com o vilarejo em alvoroço. Eu ainda estava com os olhos pesados de uma noite mal dormida, mas bastou colocar os pés na rua para sentir o burburinho correndo entre as casas, saltando de boca em boca como faísca em palha seca.No bar, um grupo de homens discutia em tom exaltado.— Faz muitos anos que não existem mais lobos por esses lados! — dizia um deles, apoiando os cotovelos na mesa de madeira. — Extintos, eu digo!Outro retrucava, com a testa franzida:— Extintos coisa nenhuma. Eu ouvi os uivos, juro pela alma da minha mãe.Do lado de fora, uma mulher que acabava de comprar pão se intrometeu na conversa, balançando a cabeça.— Eu também ouvi. Aquilo não era vento nem cão vadio. Era lobo, com certeza.Aquelas palavras gelaram minha espinha. Eu andava ao lado de Maeve, que parecia mais interessada em ajeitar a cesta de flores que carregava do que em dar ouvidos às vozes apavoradas.— Maeve… — murmurei, engolindo em seco. — Eu também ouvi. Não dormi a noite toda
AdrianA floresta ainda pulsava dentro de mim quando atravessei os limites do território da alcatéia. A lua cheia já havia recuado no horizonte, mas a energia dela ainda queimava em minhas veias como fogo líquido. Meus passos eram pesados, não pelo cansaço, mas pela consciência do que eu havia feito. Eu sabia que Cael estaria me esperando, e sabia também que não seria fácil encarar o olhar de reprovação que ele me lançaria.E eu não estava errado. Assim que atravessei a clareira principal, onde os lobos se reuniam depois das caçadas, lá estava ele, firme, de braços cruzados, a expressão carregada de uma mistura de preocupação e raiva. Seus olhos, sempre atentos, brilharam ao me ver, e antes mesmo de eu dizer qualquer coisa, sua voz grave ecoou no ar gelado da madrugada.— Onde você esteve, Adrian? — perguntou, sem rodeios. — A lua cheia já havia nascido quando você não estava aqui. Todos esperavam por você.Engoli em seco, sabendo que não poderia inventar desculpas. Cael era meu braço
ElaraO dia terminou como tantos outros, pesado e cheio de broncas que pareciam me perseguir como sombras. Meu pai, sempre impaciente, encontrou um motivo para gritar comigo novamente: desta vez, porque eu demorei para ir lavar a louça e entrar em casa depois de colher flores no campo. Cada palavra dele caía como pedras sobre meus ombros, esmagando qualquer vontade de questionar ou me defender.— Elara! — sua voz rugiu da cozinha. — Você ainda está aí fora? Já está escurecendo! Vai entrar, menina! Ou vai deixar tudo virar bagunça?Engoli em seco, sentindo a mistura de raiva e medo me atravessar. Levantei-me, carregando a cesta de flores quase vazia, e caminhei lentamente em direção à casa. Meu coração batia acelerado, não apenas por causa da bronca, mas também por algo que eu não conseguia nomear. Algo que se enroscava em meu peito desde que o vi pela primeira vez.Quando finalmente entrei, ele não poupou palavras:— Vai lavar a louça agora e depois se deita. Você vive sonhando acorda
Último capítulo