Em um tempo ancestral, a deusa Artemins, criadora das criaturas da noite, viu com tristeza o surgimento de guerras sangrentas entre lobos e vampiros. Para restaurar o equilíbrio entre as raças e proteger o mundo natural e espiritual, ela ofereceu uma parte de sua alma e criou uma nova linhagem: os Lycans — seres com força incomparável, sentidos aguçados e a capacidade de assumir sua forma animal, dotados de sua aura divina.
Ler maisNarrado por AuroraO céu estava cinzento, mas não chovia. O tipo de silêncio que pairava sobre os jardins da ala norte parecia escolhido pelos deuses — nem vento, nem canto de pássaros, nem movimento. Até a natureza parecia prender o fôlego diante da despedida de um príncipe.Leonas seria sepultado com as honras da Casa Habsburg.O corpo fora purificado em rituais antigos, lavrado com óleos lunares e envolto no manto dourado dos guerreiros de elite. Mas, ainda assim, era impossível esconder os sinais. A pele marcada pelas correntes. O corte aberto no tórax, onde antes batia um coração dividido.O caixão repousava sobre o altar de pedra esculpido no século passado. Rosas prateadas e ramos de olíbano cercavam os degraus. Guardas da elite solar postavam-se imóveis ao redor. Alaric e Veronica estavam ajoelhados, em silêncio. Os olhos deles estavam secos, mas partidos de um jeito que palavra nenhuma alcançava.Aurora observava tudo de longe.Não quis se aproximar.Não usava vestido midi. E
Narrado por Aurora:O castelo estava mais silencioso do que nunca.Desde que o rei Dorian e a rainha Elena haviam partido, o clima entre as muralhas era de pausa tensa. As engrenagens da guerra ainda giravam, mas com menos ruído. A dor, no entanto, continuava presente — sutil, mas constante, como uma ferida que ninguém ousava encostar.Vlad estava constantemente preso em reuniões com os conselheiros lunares, discutindo a situação crítica do território da Corte Lunar. A instabilidade após o ataque dos lobos renegados, as fronteiras violadas, os aliados silenciosos… tudo exigia sua atenção. Aurora só o via à noite, quando ele entrava em seus aposentos exausto, os ombros tensos, a mente distante. Dormiam lado a lado, mas separados pelo silêncio.E talvez pelo medo do que o mundo estava se tornando.Aurora ainda passava pelas manhãs na torre médica. Mesmo sem permissão oficial, ela tinha acesso parcial aos relatórios da ala subterrânea — onde os feridos mais graves estavam sob vigilância.
Narrado por Aurora:Acordei envolta pelo cheiro dele.Era como madeira aquecida, pinho fresco e um traço salgado, como se o mar tivesse deixado marcas em sua pele. Abri os olhos devagar, sentindo o corpo relaxado, como se tivesse dormido por dias — e talvez tivesse mesmo, se contássemos tudo o que nossas almas viveram naquela noite.Vlad estava deitado ao meu lado, nu da cintura para cima, com o rosto voltado em minha direção. Respirava em paz, os cílios longos lançando sombras suaves sob os olhos fechados. Seus cabelos estavam bagunçados, e o contorno dos músculos parecia ainda mais evidente à luz tênue que invadia pelas janelas altas do quarto.A marca prateada em seu pescoço brilhava discretamente. Meu peito se aqueceu ao vê-la ali, tão viva, tão nossa.Me aproximei com cuidado, deslizando os dedos por aquela pele quente. Tracei devagar o desenho da tatuagem que agora unia nossas costas: a fusão perfeita entre sol e lua, símbolos de nossas linhagens, selados pelo toque divino da De
Narrado por Vlad:Ela caminhava devagar, mas com firmeza, e eu a guiava com a mão pousada suavemente em sua cintura, sentindo o calor do seu corpo através do tecido. Cada passo de Aurora, ainda sob a luz suave dos corredores do castelo, parecia um retorno silencioso à sua própria força. Eu a acompanhava em silêncio, atento ao menor sinal de cansaço — mas ela não demonstrava nenhum. Ou se demonstrava, disfarçava bem demais.— Está tudo bem? — perguntei baixo, ao seu lado.— Está sim. Estranhamente bem — respondeu, com um leve sorriso no canto da boca. — Só... ainda me acostumando com tudo.Eu assenti, compreendendo sem precisar de muitas palavras. O vínculo entre companheiros fazia isso — deixava o silêncio tão significativo quanto qualquer conversa longa. Desde que abrira os olhos e me chamara de "companheiro", algo dentro de mim simplesmente se assentou. Como se o mundo tivesse finalmente parado de girar fora de eixo.Ao dobrarmos o último corredor da ala leste, o quarto dela surgiu
Narrado por Aurora:Caminhava por um vale escuro, o chão cheio de fendas. No céu, nenhuma estrela, só uma aurora verde que pulsava devagar. De repente, a Deusa Artemins surgiu, vestindo um manto que juntava prata de lua e ouro de sol.— Filha da luz e do fogo — disse ela, com a voz ecoando direto na minha mente. — Tua alma acaba de se ligar ao Filho da noite e da neve. Juntos, vocês podem curar ou destruir o mundo.Ela abriu as mãos. À direita, vi florestas vivas, rios limpos e gente em paz. À esquerda, o mesmo lugar queimado e em ruínas.— O caminho depende das escolhas de vocês — continuou. — Mantenha o coração longe do medo e da vingança. Proteja quem sofre, mesmo que doa.Então, tocou meu rosto, bem no ponto onde carrego o sol da nossa linhagem. Um calor se espalhou dali, firme e suave. No segundo seguinte, um clarão tomou tudo, e o cheiro de pinho invadiu o sonho, puxando-me de volta.Tudo começou com um aroma.Antes que a claridade chegasse aos meus olhos, senti o ar cheio de pi
Narrado por Vlad:O céu limpo do norte da Itália refletia com intensidade sobre os picos nevados dos Alpes enquanto nosso comboio avançava pelas estradas. A paisagem era de tirar o fôlego, mas o clima dentro dos veículos blindados era de tensão contida. Cada membro da comitiva lunar sabia que aquela missão carregava mais do que acordos protocolares — era o prenúncio de uma nova era, talvez de uma nova guerra.Drones sobrevoavam silenciosamente o trajeto, monitorando cada centímetro de nossa movimentação. Agentes de segurança, em constante comunicação, mantinham o perímetro sob vigilância máxima. Meus olhos permaneciam fixos na estrada à frente, mas minha mente vagava. Algo em meu peito pulsava com urgência, como se estivesse sendo guiado por uma força que eu ainda não compreendia.O castelo de Sonnenberg surgiu diante de nós, encravado na região norte da Itália, entre os Alpes italianos e o Tirol do Sul (Alto Ádige), próximo à fronteira com a Suíça. Era uma fortaleza branca, cujas mur
Narrado por Vlad:O território da minha família — a Casa Romanov — se estende sobre as sombras ancestrais da Romênia, Hungria, Eslováquia, Ucrânia Ocidental, Rússia Ocidental e partes da Sérvia. São terras marcadas por noites longas, florestas densas e segredos antigos. No coração desse domínio, entre os picos dos Cárpatos, ergue-se nossa fortaleza: Schloss Hohenwerfen. De pedra e lenda, ela é mais que um castelo — é o santuário da lua.Foi ali que cresci, entre corredores frios e uivos distantes. Ali, aprendi que o silêncio fala. E que o sangue fala mais alto ainda.Naquela manhã, após o treinamento com Sorin, meu pai convocou uma reunião urgente. O 'conselho' já nos aguardava na sala de guerra, onde mapas antigos se estendiam sobre a mesa de pedra.Meu pai, o rei Dorian Ilieș Romanov, estava sério. Ao seu lado, minha mãe, a rainha Elena Cătălina Dragoș Romanov, mantinha a expressão controlada, mas os olhos denunciavam preocupação. Meu tio, o general Gregor Radu Ilieș Romanov, nosso
Narrado por Aurora:O território solar, sob a liderança da Casa Habsburg, abrange cinco grandes nações: Itália, Áustria, Alemanha e Eslovênia. São terras marcadas por equilíbrio, ordem e diplomacia, protegidas sob o símbolo sagrado do sol. É nesse cenário de montanhas imponentes, vales ancestrais e tradição milenar que repousa o castelo da família real solar — Sonnenberg.O castelo de Sonnenberg despertou sob tensão, mesmo banhado por luz. Localizado na região norte da Itália, entre os Alpes italianos e o Tirol do Sul (Alto Ádige), próximo à fronteira com a Suíça, sempre fora símbolo de estabilidade e prestígio. Mas naquela manhã, nem as flores frescas nos corredores, nem a luz dourada filtrada pelos vitrais conseguiam dissipar a inquietação. Algo havia se rompido no equilíbrio dos reinos — e todos dentro dos muros reais sabiam disso.Durante o café da manhã, eu sentia o clima pesar. À cabeceira da mesa, meu pai, o rei Leopold, mantinha a postura firme, os dedos entrelaçados. Ao seu l
"No princípio, havia o silêncio.E no silêncio, havia ela."Muito antes que os homens contassem os dias, antes que as estações moldassem os vales e os ventos soprassem nomes sobre as montanhas, havia apenas o vazio — e nele, a essência primeira: Artemins, a deusa da noite, da criação e dos ciclos eternos.Do seu coração solitário, nascido da escuridão e da luz fundidas, ela moldou as primeiras criaturas: os lobos, guardiões da terra e da lua, e os vampiros, filhos da névoa e do sangue. Por eras, ambos caminharam juntos sob sua bênção, até que a ambição e o orgulho envenenaram suas linhagens.As guerras vieram como fogo em floresta seca. Sangue sagrado tingiu os campos. A deusa assistiu, impotente, ao que deveria ser harmonia tornar-se ruína.Ela chorou.E de sua lágrima mais pura, caída sobre a montanha mais alta, nasceu uma nova raça: os Lycans.Mais fortes que lobos, mais sensíveis que vampiros, dotados da alma viva da deusa. Seres com sentidos sobre-humanos, capazes de assumir sua