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Capítulo 2 - A Lua e o Instinto

Adrian

O vento cortava meu rosto enquanto eu cavalgava pelas colinas, trazendo comigo o cheiro da terra molhada, das árvores e da vida que pulsava fora da alcateia. Havia noites em que eu sentia a necessidade de deixar tudo para trás, a responsabilidade, o poder, a guerra silenciosa que mantinha minha alcateia protegida. Cavalgar sozinho era uma dessas raras fugas.

Mas naquela noite… algo era diferente. Havia uma força no ar, invisível e irresistível, que fazia meu peito doer de uma forma que eu não conseguia explicar. Um chamado. Não era da floresta, nem da lua. Era… humano, mas não qualquer humano. Algo me puxava, exigia que eu seguisse um caminho que quase nunca tomava. Um vilarejo pequeno, quase esquecido, que raramente visitávamos. Espécies diferentes, vidas diferentes. Eu costumava manter distância. Humanos eram frágeis demais, e a proximidade podia despertar… problemas.

E ainda assim, não conseguia ignorar. Cada passo do cavalo parecia sincronizado com meu próprio coração, acelerando com a urgência do que estava por vir. O instinto, aquela parte de mim que não podia ser negada, gritava para que eu fosse.

Enquanto me aproximava, senti um cheiro que me atravessou como um raio. Um perfume de terra, de madeira, de algo limpo e selvagem ao mesmo tempo. Fui puxado por ele, sem pensar, apenas seguindo. E então a vi.

Ela estava lá, simples, como se pertencesse àquela aldeia e apenas àquela vida. Cabelos ruivos soltos ao vento, trança começando a se desfazer, mãos manchadas de farinha de pão. Ela era humana. Fragilmente humana. Mas havia algo nela que me fez parar em seco. O cavalo quase tropeçou, e eu nem percebi, hipnotizado.

O coração dela disparou ao me olhar, e a sensação… não se tratava apenas de atração. Era destino. O sangue pulsando em minhas veias rugia, meu corpo inteiro gritava, e a certeza se formou mais rápido do que qualquer pensamento poderia se desenvolver: ela era minha Luna. A predestinada. A única que poderia me equilibrar, a única que meu instinto reconhecia com absoluta certeza.

— Quem é você? — perguntei, minha voz saindo mais firme do que pretendia. Não sabia por que falava, se podia simplesmente observar, mas precisava saber. Precisava confirmar que não estava enganado.

Ela recuou ligeiramente, surpresa, mas manteve os olhos em mim.

— Eu… sou Elara, filha de Daren — disse, hesitante, mas com uma força que me fez quase sorrir.

O nome dela… soou em minha mente como se tivesse sido pronunciado desde sempre, como se o universo inteiro tivesse esperado por aquele instante. E naquele momento, não restou dúvida. Não havia engano. Ela era minha Luna. Cada instinto, cada fibra do meu ser, cada pensamento antigo e ancestral dentro de mim gritava aquilo: ela pertencia a mim, assim como eu pertencia a ela.

Senti a pressão em meu peito, uma mistura de desejo, necessidade e algo mais profundo, primitivo. Mas não podia me permitir agir. Não ali. Não ainda. Humanos… não podiam compreender. Não era hora. Então me afastei um passo, para não assustá-la, mas não conseguia desviar os olhos. Cada detalhe dela parecia me puxar: o jeito que segurava a cesta, os fios de cabelo caindo sobre o rosto, o leve tremor das mãos.

O instinto dizia para permanecer, para aproximar-me, para protegê-la de tudo — de todos. E eu queria. Mais do que queria qualquer coisa na vida. Mas havia regras, limites, e um senso de autocontrole que, embora tênue, ainda existia.

— Até logo, Elara — disse finalmente, com voz baixa, mas carregada de promessa. 

E, sem esperar resposta, sai andando para a floresta e deixando o meu cavalo na aldeia, me afastei, deixando a aldeia para trás. Cada passo parecia pesar sobre minha própria consciência, mas a certeza de que ela era minha Luna me acalmava de forma estranha. Sabia que encontrá-la não era casualidade. Sabia que o destino nos havia unido naquela pequena aldeia esquecida, naquela manhã comum que jamais seria esquecida.

Enquanto o vilarejo desaparecia atrás das árvores, fechei os olhos e deixei que a respiração profunda acalmasse o frenesi em meu peito. Ainda não podia tê-la, ainda não podia revelar o que era, o que sentia. Mas sabia que aquela ligação era inquebrável, que atravessaria qualquer barreira, qualquer distância, qualquer perigo.

Pela primeira vez em anos, senti algo que não podia nomear com palavras comuns. Era necessidade. Era destino. Era… ela.

E mesmo ao me afastar, ao deixar aquele lugar, o cheiro dela, a imagem dela, o peso de sua presença… tudo permanecia em mim, como se tivesse se enraizado na própria alma. Sabia que voltaria. Que o destino nos reuniria novamente. Que, no momento certo, nada poderia impedir o que já estava escrito.

O caminho de volta para a floresta pareceu mais curto do que o normal. Minha mente não estava ali, nas árvores, nem no vento frio da noite que cortava meu rosto. Ainda sentia o calor da presença dela queimando dentro de mim, como se tivesse marcado cada parte do meu corpo.

Elara.

O nome dela ecoava como um mantra, pesado e doce ao mesmo tempo. Eu o havia repetido em silêncio durante todo o trajeto, saboreando cada sílaba, como se fosse a única verdade que importava.

Quando os limites do vilarejo ficaram para trás e o cheiro da terra úmida da floresta me envolveu de novo, tentei respirar fundo, recuperar o controle. Mas não adiantava. Era como se eu tivesse sido arrastado para uma correnteza e não houvesse volta.

Ela era minha. Minha luna. Predestinada.

A alcateia surgiu diante de mim como uma sombra viva entre as árvores, as casas de madeira fortes, rústicas, espalhadas em círculo ao redor da clareira.

 A noite chegou e o fogo queimava no centro, iluminando a noite e lançando reflexos dourados nas peles estendidas e nos rostos atentos.

Precisava falar com Cael, ele estava afiando a lâmina de sua espada. Os olhos castanhos-escuros se levantaram para mim, atentos, e em segundos ele já percebeu. Ninguém me conhecia tão bem quanto ele.

— Alguma coisa aconteceu — disse, antes mesmo que eu abrisse a boca.

Eu soltei um riso curto, seco, e passei a mão pelos cabelos, ainda tentando encontrar palavras que pudessem explicar aquilo.

— Não foi alguma coisa, Cael. Foi tudo.

Ele franziu o cenho, apoiando a espada contra a madeira da casa. — Do que você está falando?

Apertei a mandíbula. O nome dela queimava na minha língua, mas finalmente deixei escapar.

— Eu a encontrei.

— Quem?

Levantei os olhos para ele, sério, firme, como se estivesse prestes a revelar um segredo que mudaria tudo.

— Minha luna.

O silêncio que seguiu foi pesado. O fogo crepitava ao longe, e eu quase podia ouvir o coração de Cael batendo rápido, do mesmo jeito que o meu batia desde que a vi.

Ele balançou a cabeça, incrédulo. — Não. Isso é impossível, Adrian.

— Eu a vi. Eu a senti. — Apertei o punho, o peito se erguendo em um suspiro curto, tenso. — O mundo inteiro parou quando nossos olhos se encontraram. Não foi coincidência, Cael. Foi destino.

Ele respirou fundo, desviando o olhar, como se buscasse paciência onde não havia. — E ela… quem é?

— Uma humana.

A palavra soou estranha até para mim. Mas não havia vergonha na minha voz, apenas certeza.

Cael fechou os olhos por um segundo e soltou um riso amargo. — Então é ainda pior do que eu imaginei.

— Pior? — rosnei.

— Adrian, você sabe que não vai ser fácil. Humanos não pertencem ao nosso mundo. Não conhecem nossa lei, nossa maldição, nem a escuridão que carregamos. Você quer mesmo arrastar uma moça inocente para isso? Você pode não se controlar e o pior acontecer.

As palavras dele cortaram fundo, mas não me abalaram. Não havia como me afastar. Eu já estava marcado.

— Não foi escolha minha — respondi, firme, a voz grave reverberando no ar. — O destino decidiu por mim. Ela nasceu para mim. Eu sei disso.

Cael se aproximou, pousando a mão pesada no meu ombro, como fazia desde que éramos garotos. — E justamente por isso você precisa ter cuidado. Se o Conselho souber… se a alcateia descobrir que você trouxe uma humana para o seu destino… isso pode se tornar uma guerra.

A raiva subiu quente em minha garganta. Eu não me importava com o Conselho. Não me importava com nada que não fosse ela.

— Então que venha a guerra — sussurrei, encarando o fogo ao longe. — Porque eu não vou desistir dela.

Cael me olhou em silêncio por longos segundos. Finalmente, ele suspirou, pesado, e deu um meio sorriso amargo.

— Você sempre foi teimoso demais para o próprio bem.

Eu não sorri de volta. Apenas ergui o rosto para o céu, onde a lua cheia reinava, intensa e silenciosa.

E ali, em meio ao frio da noite e ao peso do destino, fiz a promessa que guiaria cada passo meu a partir daquele momento.

Ela será minha. Não importa o que aconteça.

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