Mundo ficciónIniciar sesiónLena Thorne tinha apenas dezesseis anos quando a tragédia a atingiu. Seus pais, os soberanos do império Thorne, desapareceram em um assassinato misterioso, deixando-a órfã e a herdeira mais rica de Carleon. Como último ato de proteção, e prevendo a ganância de abutres como o Padrinho Victor Sterling, seus pais deixaram um acordo pré-nupcial que selaria seu destino. Para garantir sua segurança e o controle da fortuna, Lena foi prometida ao filho mais velho da temida Família Kaelen. Kaelen, o futuro e impiedoso chefe de um império construído nas sombras, é um homem de pulso, frio como mármore negro e dominante em cada respiração. Com a agilidade de um predador e a força de um monstro, ele não tolera fraquezas nem desvios. O casamento era uma obrigação familiar que o afastou da única mulher que ele pensava amar. Kaelen não compareceu à cerimônia. Seu representante assinou a promessa de amor e proteção em seu nome, casando-se com uma Lena adolescente, que, aos seus olhos, era apenas uma garota sem graça, invisível. Após o casamento, ele partiu, mergulhando no trabalho e na vingança. Sete anos se passaram sem que Lena conhecesse sequer o nome do homem que a transformou em Lena Kaelen. Mas ela cresceu. A garota tímida de antes deu lugar à estonteante Lena Aris (seu codinome de liberdade). Agora, aos vinte e um anos, ela é uma mulher linda, fria, e determinada a conquistar sua independência. Será que o mafioso mais calculista e implacável do país, que acredita ter perdido o amor da sua vida por causa da herdeira, concederá o divórcio? O que Lena, a mulher forçada a casar para sobreviver, será capaz de fazer para se libertar dos braços do Frio Kaelen?
Leer másHelena Thorne
O dia da minha orfandade era, ironicamente, ensolarado demais. A luz era uma afronta, irrompendo com uma crueldade gélida que não combinava com o cinza do luto. No Cemitério de Carleon, o calor fazia as pessoas suarem sob os pesados casacos de marca, mas meu corpo magro, aos dezesseis anos, sentia apenas um frio cortante, vindo de dentro. Eu carregava o peso de uma orfandade absoluta.
Ao chegar ao portão de ferro forjado, senti os olhares. Olhos famintos por trás de lentes escuras me perfuravam. Eu era Lena Thorne, e meu sobrenome era o único que importava ali, sinônimo de luto, e de milhões.
Entrei com uma dor física, como se o caminho fosse pavimentado com cacos de vidro. Quanto mais eu caminhava pela grama verde, mais o vazio no meu peito se tornava um abismo. Ali estavam os amigos que riam alto em nossa mansão, mas também os abutres, credores inconvenientes e oportunistas, todos esperando o momento de rasgar a carcaça.
Olhei para as duas lápides.
Apenas nomes.
Nenhum corpo.
O mar havia engolido meus pais.
Dias de buscas exaustivas trouxeram apenas a certeza de um acidente orquestrado, limpo, sem vestígios.
O murmúrio do padre, em um latim antigo e vazio de significado para mim, quebrou o silêncio. Olhei para as lápides, mas era para o céu que eu gritava por respostas que jamais viriam. Eu precisava de uma mão para me guiar, mas só havia o vazio.
A multidão se retirou lentamente após deixar murmurios que eles mal sabiam explicar, deixando rastros na terra úmida. Fiquei por horas, em silêncio absoluto, sob o sol forte e depois sob a chuva que veio como um chicote. Saí do cemitério com a certeza brutal, a dor não diminuiria.
Os dias se arrastaram, transformando a mansão em um circo fúnebre. A casa estava abarrotada de gente, mas vazia de qualquer afeto sincero. Eu tinha herdado o controle de um império, mas perdido o sentido da vida.
Dias depois, ele chegou. Meu padrinho, Victor Sterling.
Victor era o melhor amigo do meu pai, o homem que havia me segurado no batizado, o padrinho que prometeu zelar por mim. Ele veio pronto para assumir minha tutela e o controle interino dos negócios da família Thorne.
Diariamente, a cena na mansão se tornava mais repugnante. Mesas de café da manhã sujas de restos de jarras de conhaque. Mulheres desconhecidas indo e vindo, fingindo não me ver. A herança já estava sendo saqueada. Eu nunca dirigia uma palavra a Victor, mas a lembrança da voz da minha mãe era um aviso profético que ardia em minha mente.
— Lena, cuidado com Victor. O juramento de padrinho nem sempre é mais forte que a ambição. E o cheiro de milhões anula a moral de qualquer homem.
Eu não confiava nele.
Eu o vigiava.
Não me surpreendi quando os policiais invadiram a mansão. Não houve formalidade, apenas a violência de portas arrombadas. Eles foram direto para o antigo home office do meu pai. Victor tentou fugir pelos fundos, mas o agarraram.
Assisti a tudo do alto da escadaria. A cena era fria, brutal, Victor Sterling sendo algemado no chão de mármore branco.
— Permaneça em silêncio, Senhor Sterling. O que disser pode ser usado contra você. O mandado é por desvio de fundos e suspeita de envolvimento em homicídio.
Desci os degraus lentamente e peguei a notificação das mãos do policial mais alto. Li as palavras homicídio e Victor Sterling no mesmo parágrafo e encarei meu padrinho.
— Foi você? — perguntei, a voz embargada pela dor, mas carregada de ódio.
Victor, com a cabeça baixa, não respondeu de imediato. Um policial o forçou a levantar. Seus olhos azuis, antes gentis, me encararam.
— Foi você que os matou, Victor? Por dinheiro? — A dor rompeu o meu controle. Eu o empurrei no peito com toda a força que tinha, cambaleando logo em seguida. — Responda!
Victor Sterling soltou uma risada fraca e rouca. Aquele som zombeteiro, em meio ao caos de sua prisão, era a confirmação mais brutal.
— O seu pai sempre foi um tolo, Helena. Um tolo com muito dinheiro — ele conseguiu dizer, o sorriso frio se tornando um escárnio. — Você acha que eu faria isso por diversão? Olhe à sua volta, Herdeira. O mundo é um jogo. E eu apenas... joguei melhor.
O sorriso frouxo nasceu em seus lábios, como se o crime fosse uma piada de mau gosto, uma declaração de guerra.
— Você me dá nojo — eu sussurrei, as lágrimas voltando, mas agora eram lágrimas de raiva.
Foram as primeiras palavras que saíram dos meus lábios naqueles dias. Seus olhos azuis, antes gentis, me encararam. Um sorriso frouxo, frio e zombeteiro nasceu em seus lábios, como se o crime fosse uma piada de mau gosto, uma confirmação silenciosa. Levaram-no. Aquele foi o último dia que vi Victor Sterling. E soube, com horror, que meu luto tinha sido uma traição.
Depois daquela confrontação, permaneci em silêncio por meses, processando a violência e a traição. Até que o silêncio foi quebrado por um envelope de papel grosso e um nome que fazia a elite de Carleon tremer, Kaelen.
Eu estava em meu quarto quando a advogada da família, a Dra. Evelyn, me entregou o documento. Eu o rasguei antes mesmo de ler o cabeçalho.
— Nunca! Eu não vou me casar! — gritei, jogando os pedaços no chão. O caos parecia o único idioma que eu entendia agora.
A Dra. Evelyn, impassível, entregou-me uma segunda cópia. — Sua resistência é compreensível, Srta. Thorne. Mas não é negociável.
O envelope continha um acordo pré-nupcial. Meus pais haviam selado um pacto de sangue, entregando-me, a fortuna e a mim, ao filho mais velho dos Kaelen em troca de proteção. Os Kaelen não eram empresários; eles operavam nas sombras mais profundas, a única força que meu pai respeitava e temia.
— Ele é o futuro chefe da máfia! — Exigi, minha voz falhando. — Meus pais me venderam para a máfia!
A advogada me olhou com um pesar calculado. — Seus pais lhe deram uma chance de sobrevivência. Olhe para as opções, Helena. A assinatura de seu pai aqui é autêntica. O casamento deve ocorrer em uma semana, ou, de acordo com o testamento, o tribunal é obrigado a colocar você novamente sob a tutela de Victor Sterling, enquanto os bens são congelados para investigação.
A menção do nome Victor Sterling, o suposto assassino de meus pais, foi um golpe físico. Meu sangue gelou. A imagem de seu sorriso zombeteiro me forçou a engolir a raiva.
Eu voltei a ler o documento, as mãos tremendo. Nele estava a ordem fria, eu, uma garota de dezesseis anos, precisava ser protegida de forma absoluta. Não por ser uma menina, mas por ser a Herdeira da Thorne Corporation, um alvo ambulante.
Eu não tinha escolha. Ou me casava com um fantasma da máfia, ou voltava para a guarda legal do homem que matou meus pais para me roubar.
Naquela mesma semana, fui levada ao cartório como um pacote a ser despachado. Eu vestia a roupa mais simples de ficar em casa, o cabelo preso numa trança mal feita. Assinei os papéis ao lado de um homem alto, magro, de óculos de aro discreto. Ele não me olhou. Eu desviei o olhar do seu rosto.
Assinei um contrato de escravidão com um estranho e voltei para a mansão, agora casada. A aliança no meu dedo parecia uma algema de ouro, pesando uma tonelada. A mudança foi imediata, com a eficiência fria da máfia, as malas foram feitas, a casa esvaziada.
Mudaram-me de casa, de escola. Mudaram minha vida. Minha privacidade foi vigiada 24 horas por dia, há sempre homens de preto em todos os lugares. A governanta Sra. Maeve e o mordomo Arthur passaram a morar comigo. Quanto ao meu esposo, só o vi naquele dia. Ele nunca me visitou. Eu nunca perguntei por ele.
A verdade era brutal, eu não precisava de um esposo. Eu precisava do seu sobrenome. Kaelen é o nome que faz os abutres tremerem e se afastarem.
Mas, ao invés de usar o Thorne ou o Kaelen, prefiro que me chamem de Lena Aris para os desconhecidos. Para os mais chegados, apenas Lena. Eu estava protegida, mas a que custo? E até quando?
Lena ArisPor mais que eu quisesse me mostrar segura para Megan, a verdade é que eu estava profundamente incomodada. O anúncio repentino da chegada de Simon Kaelen não era um evento corporativo; era um terremoto pessoal.Em sete anos, sempre fora o pai dele, Alexandre, quem lidara com a Thorne Corporation. Um fantoche. Um homem de negócios ilícitos, sim, mas aposentado de sua ambição, que nunca compreendeu como funciona a Thorne de verdade, contentando-se apenas em seguir o barco e manter as aparências. A empresa, embora tivessem mudado as exigências do mercado, permanecia a mesma, estagnada nas ordens originárias de meu pai, Alaric. E essa estagnação era o meu trunfo.Mas Simon... Simon Kaelen.Eu não sei nada sobre a mente dele, nem como ele age. Ele não é Alexandre. Ao citar o nome Kaelen, todos sempre se referiam ao filho, e não ao pai. Os negócios dele triplicaram desde que havia assumido o império Kaelen, mesmo estando distante. Seus irmãos, eu sabia, eram como astros secundário
Lena ThorneO silêncio na sala de treino do Carleon Club era uma tela branca para a sinfonia metálica das lâminas. O florete, leve e fino, era uma extensão do meu braço, uma arma de precisão que exigia foco absoluto, algo que eu estava lutando para manter desde o incidente na Thorne Corporation.Estava no último assalto contra Megan.A loira era forte, rápida e agressiva, uma adversária que me obrigava a usar mais o cérebro do que a força, mas hoje, a raiva e o pânico estavam adicionando uma camada extra de velocidade ao meu jogo, meu suposto esposo iria assumir a Thorne, e para isto, ele viria a Carleon, a ideia de encara-lo era estranha, ainda mais depois de tudo. — En garde! — O mestre gritou a ordem.Os visores metálicos se alinharam. A ponta da minha lâmina já dançava, procurando a abertura na guarda de Megan. Ela avançou com um passo e um fundo rápido, buscando me encurralar no canto do piste. Eu recuei com um balestra controlado, sentindo a ponta do florete dela roçar meu ante
Simon KaelenA noite havia engolido o frenesi do primeiro dia. O escritório do CEO, agora meu, estava silencioso, apenas com o zumbido dos servidores e o clique do meu mouse. Havia evitado apresentações para funcionários; não sou um expositor. Minha cabeça latejava com balancetes e projeções financeiras catastróficas. O que quero? Dinheiro, poder.Me espreguicei na cadeira de couro italiana, sentindo a tensão nos ombros, mas a frustração do dia não era puramente profissional. Ela tinha olhos negros e vestia verde-esmeralda naquela manhã, não sendo algo ruim que surgisse naquele momento.Desviei o olhar da tela, onde um gráfico de lucros em queda parecia um abismo. A curta distância que agora me separava daquela mulher era uma atração perigosa. Eu não curtia mistérios, exceto os meus. O mistério dela precisava ser desvendado.Dante, meu assistente e braço direito, estava mergulhado em papéis em uma mesa adjacente. Ele parecia um arquivista sombrio, mas era o único em quem eu confiava.
Lena ArisUma adrenalina ainda corria nas minhas veias. Mais uma semana começava, e eu estava determinada a controlá-la.Eu havia vestido a roupa que me fazia sentir mais composta: a blusa de gola alta verde-esmeralda, calças pretas de corte alinhado e botas de couro. O cabelo estava preso num rabo de cavalo alto, como se afirmasse ser uma armadura contra o mundo, mas não era. Era apenas o disfarce de alguém que havia transado com o próprio marido (sem saber) e que agora iria pedir o divórcio.— Foi o melhor domingo que tivemos em anos, Meg! — eu disse, rindo, enquanto atravessávamos o lobby da Thorne Corporation.— Foi porque não tivemos que lidar com homens, nem tivemos preocupações como antes, você logo será uma mulher livre, e eu, bem... estarei empresária — Megan devolveu, apertando o meu passo para me alcançar. O tom dela era leve, mas seus olhos denunciavam receio de encontrar Ethan a cada passo. Ela tentava se manter na superfície.Eu sabia que estava sendo observada. O lobby
A semana iniciou bruscamente, diante dos meus olhos. Não houve transição suave do torpor da madrugada intensa para a fria realidade dos negócios. Despertei no sarcófago branco do meu quarto de infância, no silêncio opressor da casa Kaelen, sentindo o peso do caos. O caos que eu havia retornado para silenciar. A minha mãe pisando em ovos, o meu pai mergulhado em papéis. O pedido de divórcio de Helena Thorne era um problema; a queda iminente da Thorne Corporation era uma catástrofe que engolia a todos nós. Meu pai, Alexandre, havia provado mais uma vez ser um homem de fachada e não de ação, incapaz de gerir o que um dia foi o império de Alaric Thorne. Minha presença em Carleon não era mais opcional; era uma necessidade cirúrgica.Lembro-me de ter encarado o espelho, desejando uma noite de caça e prazer porém sendo adiada por uma urgência implacável. Toda a adrenalina daquela mulher, do beijo, do corpo, e do abandono arrogante dela, havia limpado o lodo da apatia que me consumia. A pi
Lena ArisO pânico da chegada abrupta de Camila havia passado, mas o meu corpo ainda reclamava, e minha mente estava em turbilhão. Depois que ela se foi, Maeve voltou para o quarto, e o alívio de estar longe dos olhos julgadores da minha sogra era imenso.— Eu não tenho medo dela, Maeve, e nem irei continuar este casamento fracassado — Disse, virando-me na cama, sentindo o colchão macio acolher minha dor.Maeve suspirou, um som de cansaço e amor. Ela se sentou na borda, puxando minha cabeça para o seu colo, um gesto que fazia desde que eu era uma menina na minha solidão. Seus dedos começaram a traçar padrões calmantes no meu couro cabeludo.— Menina, o que você fez? Não acredito que fez esta loucura que diz, outro homem, Lena? — As sobrancelhas dela estavam encolhidas, e eu as observei levemente. Meu sorriso era uma confissão silenciosa e insolente da minha rebeldia.— Não ria. Quando o seu marido vier? Quando ele chegar e...Dei de ombros, o movimento me trazendo uma pontada de dor,
Último capítulo