A Ilusão de Escolha

Simon Kaelen

O mundo, para mim, sempre foi um tabuleiro de xadrez. Cada movimento era calculado, cada aliança, friamente analisada. Eu era um homem de pulso, habituado a dominar qualquer situação. E, acima de tudo, eu acreditava que, em minha vida pessoal, eu teria a rara prerrogativa de escolher.

E a escolha de meu coração já tinha nome: Lysandra Cairós. 

Ela era a única luz em meu mundo de escuridão. Eu a amava com a intensidade silenciosa e possessiva de um Kaelen. Ela era a paz que eu compraria com o meu poder. Eu planejava pedi-la em casamento no próximo outono.

Mas os sonhos, no mundo Kaelen, eram meros rascunhos rasgáveis.

A bomba caiu diante dos meus olhos num dia qualquer. Meus pais apresentaram o acordo, um pacto de sangue selado anos antes com o Sr. Thorne. A herdeira Helena Thorne seria minha esposa, o preço da proteção e o alicerce para uma nova estrutura de poder.

— Eu me recuso! — Gritei, e o som rasgou o silêncio da sala. Eu joguei o pergaminho sobre a mesa de mogno com tanta força que ele deslizou para o chão. — Meu casamento não será uma transação! Minha vida já tem dona, e ela não se chama Thorne, se chama, Lysandra.

Meu pai permaneceu impassível. — É um pacto, Kaelen. O poder dos Thorne é o que precisavámos. Você sabe que não temos escolha, estamos a anos recebendo apoio dele. 

— Eu sempre tenho uma escolha! — Bati a mão na mesa. O vaso de cristal ao lado tremeu. — Eu sou Kaelen! Eu faço as regras! Não vou me acorrentar a uma herdeira qualquer por causa de um papel velho e apoio! Digam a Thorne que o acordo está quebrado!

— Eles estão mortos! — Ignorei o meu pai, e saí da mansão, deixando para trás a negação, e corri para encontrar Lysandra, buscando refúgio na única realidade que importava.

Eu estava a caminho da universidade de Lysandra quando a notícia chegou. Não foi um de meus homens. Foi um plantonista da polícia, hesitando ao pronunciar o nome dela.

Dirigi como um raio, ignorando leis e semáforos.

Ao chegar ao portão da faculdade, a cena era um pesadelo: viaturas, luzes azuis piscando e, no asfalto molhado, a mancha escura que roubava o brilho de meu mundo.

Lysandra estava ali. Caída. Um único tiro, preciso e cruel.

Meus joelhos cederam, e eu desabei na calçada. O som que saiu de minha garganta foi um berro primal, um urro de desespero e fúria que ecoou no campus inteiro. Eu me arrastei até ela, ignorando os policiais que tentavam me conter.

— Lysandra! — Segurei o corpo dela, o sangue quente manchando minhas mãos. Eu a abracei, pressionando o ferimento inútilmente. Os olhos dela estavam vidrados, vazios. — QUEM FOI? QUEM FEZ ISSO COM VOCÊ?!

Eu levantei o olhar para o céu cinzento, a chuva fina parecendo lágrimas do mundo. Meu rosto estava contorcido em dor pura.

— VOU DESTRUIR CADA UM DELES! VOCÊ ME OUVIU, SEU DESGRAÇADO?! VOU ENCONTRÁ-LO E ARRANCAR SEU CORAÇÃO! — berrei, apertando o corpo sem vida dela.

Um dos policiais se atreveu a me tocar. Num reflexo animalesco, eu o empurrei com uma força descomunal, fazendo-o cair no chão. Meu corpo tremia, não de medo, mas de uma dor que se transformou em veneno puro.

Eu sabia, foi um aviso. Eles arrancaram minha única fraqueza para me forçar a aceitar o pacto.

Nos dias que se seguiram, eu não senti mais nada além de uma frieza letal. Eu me isolei no penthouse, o cheiro do sangue dela ainda em minhas roupas.

Meus pais vieram até mim, tentando o consolo. Eu os afastei.

— Não venham com frases vazias. Digam-me quem se atreveu a mandar esta mensagem? — minha voz era um sussurro perigoso.

Meu pai hesitou. — Não sabemos. Mas agora, mais do que nunca, você precisa do poder Thorne. O acordo é nossa única garantia para rastrear quem está ousando nos desafiar.

O ódio em mim era palpável. Lysandra se foi. E a culpa por não ter aceitado o acordo de imediato, por tê-la deixado exposta, me corroía.

Eu voltei a encarar o pergaminho amassado. A herdeira Lena Thorne.

— Eu aceito. Eu me caso — declarei, minha decisão fria como o mármore. — Mas não por proteção, e não por poder. Eu a terei. E eu terei a fortuna Thorne. E usarei cada centavo, cada contato, cada sombra que o nome Thorne nos der para destruir quem fez isso com Lysandra.

A vingança tornou-se meu único propósito.

Eu mal notei a garota de dezesseis anos no cartório. Ela estava vestida de forma desleixada, os olhos inchados. Ela parecia insignificante, uma simples peça de troca. A garota sequer me olhou.

Mas eu a olhei. Eu vi a chave para o meu inferno.

Eu não assinei o papel, meu representante legal o fez. Mas eu a aceitei. Eu me uniria àquela garota esquisita, não por amor, mas por domínio, ódio e, principalmente, por vingança. Eu a usaria para cumprir minha promessa de sangue.

E, assim, eu parti. Deixei a esposa fantasma para trás e mergulhei no trabalho. Eu me tornei o Frio Kaelen, um homem cujo coração havia sido arrancado e substituído por uma sede insaciável de retribuição. 

Os sete anos que se seguiram foram um borrão de poder e vazio. A dor de Lysandra nunca me deixou, mas eu a enterrei sob camadas de trabalho e prazer superficial. Eu pulava de cama em cama, de país em país. As mulheres vinham em todas as formas e sabores, loiras, morenas, ruivas; modelos, atrizes, esposas de políticos.

Eu as queria bonitas, vazias e, acima de tudo, silenciosas. Eu as usava para anestesiar a saudade, para preencher as noites com calor, mas nunca com intimidade. Minhas regras eram brutais, e elas as seguiam. Nenhuma conseguia me fazer sentir o que Lysandra me fazia sentir, mas seus corpos eram distrações necessárias, um lembrete cruel de que eu ainda estava vivo e que a vingança esperava. Eu as dispensava antes do amanhecer, deixando-as com lembranças caras e a certeza de que nunca seriam a mulher.

Helena Thorne, a herdeira, foi apenas um nome em um contrato, um fardo silencioso. Eu a havia esquecido completamente.

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