— "Você sabe as regras, Liz." A voz de Alexander era fria, mas seus olhos diziam outra coisa. — "E se eu quiser quebrá-las?" Ela desafiou, sentindo o coração acelerar. Elizabeth, ou simplesmente Liz, como era chamada, perdeu tudo em um único dia—sua família, seu bebê e qualquer esperança no amor. Sem saída, aceita um casamento de conveniência com Alexander Salvatore, um homem poderoso e marcado pelo passado. Ele precisa de uma esposa. Ela precisa recomeçar. O acordo era simples: sem sentimentos. Mas a atração entre eles cresce, transformando desejo em algo perigoso. Liz quer acreditar no amor novamente, mas Alexander estará pronto para quebrar a promessa de amar apenas uma mulher—sua falecida esposa?
Ler maisElizabete Vasconcelos — ou simplesmente Liz, como todos a chamavam — vagava pelas ruas de São Paulo como uma alma penada, com o corpo frágil coberto por roupas sujas e os pés descalços e feridos. A fome queimava seu estômago, a sede ressecava sua boca, e o frio da madrugada cortava sua pele como lâminas. Mas nada doía mais do que a rejeição. Nada era mais cruel do que ter sido jogada no mundo por aqueles que deveriam amá-la incondicionalmente.
Filha única de uma família rica e tradicional, Liz crescera sob a vigilância implacável de dois carrascos: sua mãe, uma fanática religiosa obcecada pela aparência de santidade, e seu pai, um ex-sargento do exército, severo, inflexível e completamente insensível a qualquer emoção. Seu “pecado”? Ter engravidado aos 19 anos. Uma gravidez que nem sequer foi desejada. Um acidente. Um deslize cometido em um momento de ingenuidade com o homem que jurava amá-la. Lúcio. Eles tinham usado preservativo. Mas estourou. E com ele, estourou também a ilusão de segurança, o castelo de promessas que ele construiu com palavras doces. Quando ela contou que estava grávida, ele não hesitou: virou as costas, zombou da situação e disse que aquilo não era problema dele. — Dá um jeito nisso — foram as palavras que ele usou, com a frieza de quem descarta um objeto quebrado. — Se quiser, eu até pago para você e essa coisa que carrega sumir da minha vida. Quando contou aos pais, acreditando — talvez por um último resquício de esperança — que receberia apoio, foi escorraçada sem piedade. — Você é mas nossa filha ! — gritou sua mãe, os olhos ardendo de ódio. —É uma perdida ,uma pecadora! — Desonrou nossa família — sentenciou o pai, sem um pingo de compaixão. — Está morta para nós. E assim, Liz foi jogada para fora da casa onde viveu a vida inteira, sem dinheiro, sem documentos, sem sequer ter tempo de arrumar suas coisas. Foi deixada para apodrecer nas ruas como se fosse lixo. Mas ela não morreu. Mesmo com o corpo quebrado e a alma sangrando, Liz seguiu em frente. Cada passo era um desafio. Cada noite, uma batalha pela sobrevivência. Mas dentro dela batia outro coração. Um pequeno coração inocente, que não tinha culpa de nada e que se tornara sua única razão para continuar respirando. Ela não queria aquele filho… no começo. Mas agora, era tudo o que tinha. E mesmo que ninguém mais o aceitasse, mesmo que todos a tivessem virado as costas, Liz o protegeria. Porque no meio da escuridão, aquela criança era sua única luz. O céu cinzento de São Paulo desabava em chuva sobre a cidade, como se o mundo também chorasse por ela. Liz caminhava lentamente pelas calçadas molhadas, abraçando o próprio corpo, tentando se proteger do frio e da tristeza. A barriga, ainda discreta, já mostrava sinais da vida que crescia dentro dela. Cada passo doía. Cada lembrança pesava. Estava fraca. Três dias sem uma refeição decente. Dormira na entrada de uma igreja, ignorada pelos fiéis que, irônicos, saíam com seus rostos piedosos e bíblias nas mãos, enquanto desviavam o olhar ao vê-la encolhida no chão. "Mais uma perdida", deviam pensar. "Deve ter escolhido esse caminho." Se ao menos soubessem... Liz parou em frente a uma cafeteria. O cheiro do café fresco a fazia salivar. Olhou através do vidro embaçado e viu mesas aquecidas, pessoas rindo, celulares em mãos, vidas perfeitas. Sentiu-se invisível. Uma sombra na calçada. Foi então que o viu. Seu coração parou por um instante. Lúcio estava sentado à mesa, rindo. O mesmo sorriso carregado de charme que a encantara antes de destruí-la. Liz parou, estática, diante da cafeteria iluminada. Seus olhos ardiam com a mistura de frio, fome e incredulidade. Ela piscou algumas vezes, achando que sua mente exausta estivesse pregando uma peça. Mas não… era real. Ali, sentado à mesa do lado de dentro, vestindo um terno elegante, estava Lúcio. O mesmo homem que jurara amor eterno e depois a descartara como lixo. O mesmo homem que dissera que “aquela coisa” que ela carregava no ventre não era problema dele. E ao lado dele… Não. Não podia ser. Carla. Sua melhor amiga. A única pessoa a quem Liz confiara seus medos, suas dores, sua vergonha. A mulher que enxugara suas lágrimas e prometera estar ao seu lado “até o fim”. Os dois riam juntos, brindando com taças de champanhe. Mãos entrelaçadas sobre a mesa. Sorrisos cúmplices. E mais do que isso… Ao centro da mesa, uma pequena caixa de veludo aberta, revelando um anel de noivado. Diante deles, os pais dos dois, com olhares de aprovação e orgulho. O mundo de Liz girou. Ela recuou um passo, como se tivesse levado um soco no estômago. A dor era tão profunda que por um segundo ela não conseguiu respirar. Uma náusea subiu-lhe pela garganta. Lágrimas inundaram seus olhos, mas ela as segurou com força. Não. Não naquele momento. O sangue ferveu em suas veias. Ela empurrou a porta de vidro com brutalidade, fazendo o sino tocar alto, chamando atenção de todos. Entrou encharcada, com os cabelos desgrenhados, os olhos inflamados de dor e fúria. — LÚCIO! — sua voz cortou o ar como uma faca. Silêncio. Todos se viraram para ela. Carla congelou, ainda com a taça de champanhe na mão. Lúcio ficou branco. Os pais dos dois a olharam como se estivessem diante de uma aparição. Liz caminhou até a mesa com passos firmes, embora por dentro estivesse em pedaços. — Isso é um pesadelo? — sussurrou, encarando os dois. — Me diz que não é real. Que eu não estou vendo meu ex, o pai do meu filho, comemorando um noivado… com a minha melhor amiga. Os olhos de Carla se estreitaram. A máscara caiu. — Ah, Liz… — ela disse, erguendo uma sobrancelha, já sem fingir. — Bem-vinda à realidade, a qual você descobre que eu sim sou a mulher perfeita para está ao lado de um homem como o Lúcio. Ela olhou para Carla, os olhos marejados de dor e incredulidade. — Você, Carla… — a voz de Liz tremia, carregada de mágoa e repulsa, — logo você… a pessoa em quem eu mais confiava. A minha melhor amiga. A irmã que a vida me deu. Eu podia esperar qualquer coisa de qualquer um… menos de você.Liz encostou-se no peito dele, traçando desenhos invisíveis com os dedos. — Você me salvou. — E você me curou — ele respondeu. — Quando te encontrei, eu era um homem cinza, endurecido. Você me fez acreditar que eu ainda podia ser luz. Silêncio. Um silêncio bom, confortável, como só existe entre dois amantes que conhecem cada cicatriz, cada suspiro, cada pedaço da alma um do outro. A noite os envolveu mais uma vez, e eles adormeceram abraçados, como se o mundo todo coubesse naquele quarto. Como se o tempo houvesse parado ali para eternizar aquele momento. Mais tarde, quando o sol já dourava as paredes do quarto, Alexander despertou. Encontrou Liz deitada ao seu lado, os cabelos espalhados pelo travesseiro, os olhos brilhando com ternura e desejo. — Bom dia, meu amor — ela disse, sorrindo. Ele a puxou para perto, beijando-lhe a testa, o nariz, os lábios com uma reverência quase sagrada. — Nunca imaginei que um dia teria isso — murmurou. — Você, nosso filho, essa paz. Es
Ele correu até ela, a envolveu em um abraço apertado e terno, beijando seu rosto, seus cabelos, a testa de Miguel. — Liz... você... você está andando! Meu Deus... você conseguiu! — Nós conseguimos — ela corrigiu, colocando a mão sobre o peito dele. — Eu só fui até o fim porque você nunca deixou que eu desistisse. Ele a beijou com paixão e alívio. Um beijo longo, cheio de saudade, como se selasse tudo o que viveram até ali. E então Alexander pegou Miguel em seus braços, girando-o no ar, fazendo o bebê gargalhar. — Você tem a mãe mais incrível do mundo, sabia? — ele disse ao filho. — E eu sou o homem mais sortudo da Terra. Todos os convidados — os mais íntimos — assistiam de longe, discretos, respeitando o momento. Teresa enxugava discretamente as lágrimas, e os empregados batiam palmas baixinho, contagiados pela emoção que pairava no ar. O jantar foi servido em seguida, com pratos escolhidos por Liz. Durante a refeição, ela se levantava, caminhava até Alexander para servir-lhe ma
Depois do café, veio a parte mais difícil: a fisioterapia. A cada manhã, o fisioterapeuta chegava e iniciava os exercícios, muitos dos quais pareciam impossíveis. Liz tentava disfarçar o incômodo, mas Alexander via tudo. Ele segurava a toalha para enxugar o suor do rosto dela, massageava suas pernas quando os espasmos musculares atacavam, e a levantava no colo quando ela não conseguia mais. — Eu não aguento hoje... — ela murmurou em um dia particularmente difícil, com os olhos cheios de lágrimas. Alexander se ajoelhou diante dela, apoiando a cabeça em seu colo. — Liz, olhar para você é como olhar para o próprio milagre. Você está aqui, viva. Você enfrentou a morte, sobreviveu a uma cirurgia arriscada, e agora está lutando para andar de novo. Não existe fraqueza nisso. Você é a mulher mais forte que já conheci. Ela levou a mão ao rosto dele, acariciando sua barba por fazer. — E você... você é o homem que eu nunca imaginei que teria ao meu lado. — Pois agora tem. E sempre te
A luz do sol filtrava-se timidamente pela janela do quarto, trazendo um pouco de calor e esperança para o ambiente silencioso onde Liz repousava. Os primeiros dias após a cirurgia haviam sido os mais difíceis. A bala alojada em seu corpo havia sido removida, mas o dano causado pelo tiro de Tamara deixara marcas profundas — uma lesão na medula que comprometia seus movimentos. Os médicos foram cautelosos, mas precisos: Liz tinha todas as chances de voltar a andar, porém a recuperação seria lenta, dolorosa e cheia de desafios. Não era uma sentença definitiva, mas uma luta constante contra o tempo, a dor e a fragilidade de seu corpo. Cada movimento simples, que antes passava despercebido, tornara-se uma batalha imensa. Levantar-se da cama, apoiar os pés no chão, dar os primeiros passos — tudo isso exigia uma força que Liz descobriu ter dentro de si, mesmo quando o corpo insistia em fraquejar. O chão do quarto estava coberto por pequenos objetos espalhados — bolas de borracha para ex
Alexander se ajoelhou, os braços se abrindo automaticamente. Adélia correu e se lançou sobre ele, soluçando convulsivamente. Ele a envolveu com força, enterrando o rosto nos cabelos da filha. — Estou aqui, meu amor. Vai ficar tudo bem agora. Eu juro. Nunca mais ninguém vai te machucar. Liz observava a cena, em silêncio, o coração despedaçado. Mas também aliviada por ver Adélia nos braços do pai. Ela deu alguns passos, se aproximando, com a intenção de tocar o ombro de Alexander. Foi nesse momento, nesse exato segundo de descuido, que tudo aconteceu. Tamara, caída no chão, fingira desmaiar. Mas seus olhos estavam abertos, seu cérebro maquinando a última cartada. Aproveitou a comoção, a distração de todos, e com um movimento repentino e desesperado, se arrastou até onde a arma havia caído momentos antes. Ninguém percebeu. Nem Alexander, absorto em consolar a filha. Nem Liz, focada neles. Até o disparo. PAM! Um som seco, brutal. Um estrondo que partiu o silêncio como uma faca. L
O beijo de Alexander tinha gosto de despedida. Foi intenso, desesperado e cheio de promessas não ditas. Liz sentiu o coração se partir em mil pedaços quando ele afastou os lábios dos seus, deslizando a mão pelo rosto dela como se quisesse memorizar cada traço. Depois, se abaixou para beijar Miguel, que dormia sereno no berço, completamente alheio ao caos que envolvia sua família. — Cuide dele... — disse Alexander, a voz rouca, carregada de emoção. — Se eu não voltar... — Não diga isso! — Liz o interrompeu, segurando seu braço. — Você vai voltar. Com a Adélia. Ele tentou sorrir, mas foi um sorriso amargo. Seus olhos estavam marejados, a mandíbula tensa. E então ele saiu, sem olhar para trás. O silêncio que se instalou foi ensurdecedor. Liz permaneceu parada por alguns segundos, o peito apertado, o ar rarefeito. Uma angústia incontrolável começou a subir por sua garganta. Ela sabia. Sabia exatamente para onde Alexander estava indo. Para um lugar que ele não poderia voltar. Ou
Último capítulo