A Desconstrução do Contrato

Lena Aris

A luz da manhã espreguiçou-se pela janela de vidro, desenhando faixas douradas sobre o tapete creme. Sete anos haviam se passado desde que assinei o pacto de gelo no cartório. Sete anos sob o sobrenome Kaelen, sete anos de prisão de luxo.

Eu me estiquei na cama king size, sentindo cada músculo do meu corpo despertar. Abri os olhos lentamente, inspirando o aroma de lavanda do meu travesseiro. Estava completamente nua, com a pele quente roçando nos lençóis de seda, juntamente com os fios do meu cabelo. 

A garota esquisita de dezesseis anos havia morrido; em seu lugar, havia Lena Aris, agora com vinte e um anos, uma mulher em plena florescência. Meus dedos traçaram a linha do meu quadril, descendo até a coxa, sentindo a suavidade da pele.

A ausência de um homem na minha vida era uma ferida aberta, uma negação constante da liberdade que eu merecia. Eu me sinto uma prisioneira dos Kaelen, e o pior que ele nem sequer se dignava a me visitar, mas de todo o mal, eu não poderia reclamar, mesmo sendo casada com aquele homem magro, de sobrenome poderoso, aquele não seria o tipo que desejo em minha cama. 

Levantei-me devagar, sentindo a nudez ser uma afirmação do meu próprio corpo. Parei em frente ao espelho de corpo inteiro, examinei minha imagem, os traços finos que a adolescência escondeu, agora mais definidos, e a força que os anos sob o domínio Kaelen me forçaram a desenvolver. Eu sou bonita, e sei disso. E o meu corpo não pertencia a um contrato.

A porta do quarto foi aberta sem aviso. Eu mal havia dado três passos até a penteadeira quando Maeve entrou. Ela mal piscava diante da minha nudez, acostumada à minha franqueza.

— Meu Deus, Lena! Você tem vinte e um anos e ainda não aprendeu a cobrir-se? —  Maeve, minha governanta e única figura materna na mansão, colocou uma bandeja de chá sobre a mesa de centro.

Eu me virei, encolhendo os ombros com um sorriso. — Por que me cobrir, Maeve? Estou em minha própria casa.

Sra. Maeve, com seu cabelo loiro bem arrumado e sua postura impecável, revirou os olhos com carinho.

— Se você quer privacidade, tranque a porta. O Arthur está na cozinha e não precisa de mais motivos para ter um ataque cardíaco.

Caminhei até o closet, pegando um roupão de seda. Enquanto o vestia, a formalidade de sua entrada me atingiu.

— Algum problema, Maeve? Você parece mais tensa que o normal — perguntei, sentando-me e pegando a xícara de chá.

— O problema é o seu futuro, querida. O homem que me paga há sete anos... bem, ele é um Kaelen — ela suspirou. — Arthur e eu estamos preocupados. Você está terminando a faculdade, é hora de sair dessa sombra.

Eu concordei, meu sorriso sumindo, não sabia exatamente sobre os planos dos Kaelen, a minha sogra sempre prometera que ele viria, mas nunca nem uma ligação houve. Suspirei fundo. — É, eu sei. E é exatamente por isso que eu preciso do divórcio. Eu só consigo me sentir Lena Aris, a mulher que escolhe, não a Helena Kaelen, a prisioneira de um contrato de máfia.

Vinte minutos depois, eu estava pronta. Calça de alfaiataria preta, blusa de gola polo e o cabelo solto, despenteado com as mãos, do jeito que eu gostava. Eu me recusava a usar a aparência de uma esposa de máfia e nunca me encaixaria neste papel. 

Desci para a cozinha, desta vez vestida, para não assustar novamente o mordomo,  onde o cheiro de café forte pairava no ar. Arthur estava em pé, ao lado da cafeteira. Ele era meu segurança e mordomo, o único que mantinha contato com o escritório Kaelen.

— Bom dia, Arthur. O café está tão bom quanto cheira? — perguntei, sentando-me à mesa e pegando uma torrada.

Arthur, com sua gravata borboleta imaculada, mas a testa franzida, assentiu. — Sempre o melhor, Lena.

Ele não me olhou diretamente; parecia evitar meus olhos. Eu não sabia o motivo.

Ele não me olhou diretamente; parecia evitar meus olhos. Eu sabia o motivo.

— Arthur — chamei, minha voz perdendo qualquer leveza. Ele parou de servir a água. — Já faz um ano que estamos enviando documentos. Você conseguiu finalmente entrar em contato com o Senhor Kaelen? Eu preciso da resposta dele.

O silêncio na cozinha se tornou pesado, quebrado apenas pelo clique dos talheres. Arthur apertou o bule.

— Eu insisti nas ligações, Srta. Lena. Ele não atendeu. Mas... — ele hesitou, o que era raro para o homem de pulso firme.

— Mas o quê, Arthur? Fale — ordenei, minha paciência esgotada.

Ele finalmente me encarou, e o nervosismo em seus olhos confirmou que ele estava buscando palavras ou escondendo fatos.

— Ele não atendeu as chamadas, Lena. Não atendeu a uma ligação posterior. Mas ele mandou um representante legal nos informar que... o um representante do Senhor Kaelen está vindo para a cidade.

Eu larguei a torrada.  A respiração acelerou. Isso era bom, muito bom, afinal, com o divórcio ninguém precisaria ter problemas.

— E a resposta, Arthur? Ele concederá o divórcio?

Arthur olhou para o chão, o medo e a satisfação de ter uma resposta misturando-se em seu rosto.

— Ele não sabe sobre o divórcio, Srta. Lena. Em nenhuma família que envolve os Kaelen houve divórcio, Lena, separação é praticamente proibido.

O tapa que dei no balcão fez a minha mão arder. Os olhos de Arthur saltaram em minha direção. — Pois este será o primeiro!

— Lena, não brinque com fogo — A voz de Maeve veio de trás, quase conselheira, enquanto eu suspirei fundo, pesada.

— Eu não estou brincando, Maeve. Estou queimando pontes — declarei, pegando minha bolsa. — Se este representante dele esta a caminho, ótimo. Ele pode assinar a papelada pessoalmente.

Eu saí da mansão, deixando o silêncio tenso para trás. Dirigi meu carro de luxo para o centro da cidade, direto para a Thorne Corporation. Embora estivesse prestes a terminar a faculdade de Economia, eu trabalhava no setor de Relações Públicas, sob o codinome de Lena Aris, me familiarizando com o império que era meu por direito.

Ao entrar no meu andar, senti meu estômago dar um nó diferente. Não era ansiedade pelo trabalho. Era Ethan.

Ethan Valente era o Chefe de Marketing, um homem que irradiava confiança e charme. Ele era alto, com cabelos loiros caindo ligeiramente sobre a testa e um sorriso que desarmava qualquer mulher. Ele era meu desejo proibido.

Ethan estava encostado na moldura da porta do meu escritório, tomando café, e seus olhos azuis me encontraram no corredor.

— Aris. Pensei que não viria hoje.

— Bom dia para você também, Valente — respondi, tentando manter a voz profissional, mas meu corpo reagiu instantaneamente à proximidade dele. — E porque não, sou tão funcionária quanto você. 

Ele se desencostou da porta, caminhando até mim com uma lentidão deliberada. Nossos corpos estavam a centímetros de distância no momento em que eu parei. O ar entre nós se tornou espesso, carregado de uma eletricidade que eu estava lutando para ignorar há meses.

— Você está tensa — Ethan murmurou, e antes que eu pudesse reagir, ele jogou o copo de café quase vazio no lixo e agarrou minha cintura com as duas mãos, me puxando contra seu corpo.

O choque foi imediato, mas não houve protesto. A carência de sete anos e a adrenalina da manhã me dominaram. Meus braços envolveram seu pescoço, e ele me beijou.

O beijo de Ethan era tudo quente, urgente. Minha boca se abriu sob a pressão dele, e eu senti o tesão pulsar. Os lábios dele eram macios, mas firmes, e o desejo dele por mim era palpável. 

Eu o queria. E ele me queria.

Ele me beijou com mais profundidade, e eu o abracei mais forte. Minhas mãos deslizaram de seu pescoço para a nuca, aprofundando o contato. Ele grunhiu em minha boca e suas mãos deixaram minha cintura para apertar minhas nádegas com força possessiva, um movimento que me fez arfar. Eu me senti instantaneamente lubrificada, a umidade pulsando entre minhas coxas. A calça de alfaiataria se tornou uma barreira insuportável contra o desejo.

Ethan rompeu o beijo por um instante, apenas para me suspender e me colocar sobre a borda da mesa do meu escritório. O movimento brusco fez meus quadris se abrirem, e o tecido fino de sua calça de terno roçou em minha intimidade.

Eu soltei um gemido baixo, misturado com um suspiro.

— Ethan... — tentei protestar, mas a palavra morreu na minha garganta.

Ele não permitiu que eu terminasse. A boca dele voltou para a minha, desta vez mais voraz, mais quente. Seus lábios eram exigentes, suas línguas dançavam em um ritmo que incendiava cada terminação nervosa. Eu me agarrei aos seus ombros, sentindo a dureza dos seus músculos e a promessa de força que meu desejo queria sentir mais, bem mais. 

O corpo dele estava pressionado entre minhas pernas abertas, e eu senti, inconfundivelmente, a ereção dele, dura e urgente contra o meio das minhas coxas. O tesão me atingiu em ondas, uma urgência física que não podia ser controlada. Eu queria rasgar a roupa dele, a minha, e senti-lo. Senti-lo de verdade, não apenas como uma fantasia proibida. A luxúria de Ethan era um espelho da minha própria solidão e necessidade.

Ele desceu os beijos para meu pescoço, mordiscando a pele sensível, me fazendo fechar os olhos e arquear a cabeça para trás.

— Não aguento mais isso, Lena. Me diga que sim, me diga que você me quer tanto quanto eu quero te arrastar para o meu apartamento agora — ele sussurrou, a voz rouca, a boca voltando para a minha, dominadora.

A intensidade do beijo e a sensação da sua ereção me fizeram hesitar. Eu estava prestes a ceder, a jogar sete anos de cautela e contratos no lixo por um momento de fogo.

Mas então, a imagem de Arthur, falando sobre o Kaelen e a proibição de divórcio, rasgou a névoa do prazer. O nome Kaelen era um balde de gelo. Eu não podia. Não agora. Não quando minha liberdade estava a poucos dias de ser confirmada ou negada.

Com um esforço monumental, usei a força dos meus braços para empurrá-lo, quebrando o contato de nossos lábios.

— Não... Ethan, pare — minha voz saiu arrastada, trêmula, carregada de frustração. Eu me apoiei na mesa, minhas pernas fracas.

Ele me olhou, os olhos azuis faiscando de confusão e desejo. Sua respiração estava pesada.

— Parar? Por quê? Você está molhada por mim! Eu sinto isso! Você me quer!

Eu me sentei na mesa, tentando me recompor. — Eu sei. Eu te quero. Gosto muito de você, Ethan. Mas eu ainda acho... cedo demais. Eu não estou pronta para isso. Não assim.

Cedo? Nem eu achava mais isso.

Ele relaxou o aperto nas minhas coxas, mas ainda permaneceu perto, seu corpo tenso pela ereção. A rejeição era visível, mas ele era inteligente.

— Cedo demais? Lena, você pega fogo nos meus braços. Não me diga que você está com medo de um relacionamento de verdade.

— Não é medo, Valente — menti, desviando o olhar. A dor da negação de mim mesma era quase tão forte quanto o tesão que ele havia despertado. — É... complicação. Minha vida é um pouco mais complicada do que você imagina.

Ethan suspirou, derrotado, mas não desistindo. Ele se afastou, me dando espaço. — Está bem, Aris. Mas lembre-se, eu estarei aqui quando você decidir que está na hora de parar de mentir para si mesma.

Ele me deu um último olhar intenso, um lembrete do que eu estava forçando a ignorar, e saiu do escritório. Eu desci da mesa, minhas pernas quase cedendo, a sensação de umidade e o calor de sua ereção ainda gravados em mim.

Fechei a porta, encostando nela. Minhas mãos tremiam, e eu estava ofegante, mas a a maldita lembrança não se afastava. 

Eu tinha um marido que eu não conhecia, um amante que eu não podia, tornando a tentação de Ethan quase insuportável. Minha vida estava prestes a explodir.

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