Mundo de ficçãoIniciar sessãoEles nunca deveriam ter se encontrado daquela forma. Uma noite improvável, intensa e cheia de química — antes mesmo de saberem quem eram de verdade. Isadora só queria respirar depois de meses difíceis, sem imaginar que cruzaria com um desconhecido capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo. Rafael, marcado por perdas e pela responsabilidade de criar a filha sozinho, permitiu-se, sentir algo que não sentia há muito tempo. No dia seguinte, tudo deveria ter acabado ali. Mas o destino não é tão simples. Quando Isadora aceita um novo trabalho para recomeçar sua vida, descobre que o homem daquela noite é justamente o pai da criança que ela precisa cuidar. Agora, eles vivem sob o mesmo teto — tentando ignorar uma atração que nunca deveria ter existido, lutando contra segredos, culpas e a lembrança de tudo que aconteceu entre eles. E enquanto ambos fingem controle, fica impossível esconder o que realmente queimou naquela madrugada: algo que ameaça destruir as regras… e reacender aquilo que nunca foi esquecido.
Ler maisNada destrói mais do que aquilo que você tenta ignorar.
— Théo… — comecei, devagar. — Podemos conversar quando chegarmos em casa? Ele não respondeu. A mão dele apertava o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Havia semanas que ele andava assim: tenso, irritadiço, trancado em um mundo que eu não conseguia mais alcançar. Eu tentei ser paciente. Tentei conversar. Tentei amar de todas as formas que sabia. Mas não era amor o que estava faltando. Era verdade. — Théo, você está dirigindo muito rápido — falei, mais firme. — Por favor, diminui. O ponteiro passou dos cem. Depois dos cento e vinte. A estrada estava molhada, vazia, perigosa. Foi quando ele murmurou — e eu soube, no exato segundo que não era um desabafo: — Acabou, Isa. Eu perdi tudo. Meu estômago afundou. — Como assim? — Dívidas. Jogos. A empresa… — Ele riu, um riso curto, amargo. — Nós vamos perder tudo. Meu coração acelerou. — Amor, a gente dá um jeito. A gente sempre deu. O carro avançou ainda mais rápido. Foi então que ele virou o rosto para mim — e o que eu vi ali não era o homem que eu conheci. Era desespero. Era alguém que tinha desistido. — Não tem mais “a gente”, Isa. Eu senti o mundo inclinar. — Théo, olha pra estrada! — gritei. Mas ele não olhou. O carro derrapou. A água na pista fez os pneus perderem aderência. A lateral do veículo rodou, rodou como um brinquedo solto, e eu gritei seu nome, implorei, tentei segurar o banco, tentei respirar — mas a velocidade engoliu meu ar. Um clarão. Um impacto. Vidro estalando. Metal esmagando. Dor. Silêncio. Não sei por quanto tempo fiquei desacordada. Minutos? Segundos? Uma vida inteira? Quando abri os olhos, senti o gosto do sangue na boca. Meus ouvidos zumbiam. A chuva caía sobre mim como agulhas. Senti o corpo preso, mas vivo — machucada, mas inteira. Eu estava viva. Virei o rosto devagar. Théo estava caído sobre o volante, o rosto imóvel, os olhos entreabertos, como se estivesse me olhando…, mas sem me ver. E naquele instante — naquele único segundo — a verdade caiu sobre mim como uma sentença: Ele tentou nos matar. E eu sobrevivi. Sozinha. Cheia de dívidas. Cheia de perguntas. Cheia de um vazio que eu não escolhi. Eu nunca soube dizer exatamente quando meu casamento começou a desmoronar. Talvez tenha sido nas primeiras noites em que Théo chegava tarde demais, trancava a porta do escritório e dizia que “a empresa precisava dele”. Talvez tenha sido quando nossos sonhos deixaram de ser “nossos”. Ou talvez tenha sido antes disso — quando eu comecei a fingir que não via o que estava bem na minha frente: ele estava mudando, e não para melhor. Mas nada me preparou para a última noite. Dois anos depois, ainda acordo com o som do metal batendo. Mas agora, ao abrir os olhos, já não sinto amor. Sinto algo mais cruel, mais frio, mais firme: Vontade de seguir. Foi o que fiz naquela tarde. Saí da escola exausta, com o cheiro de tinta guache grudado na roupa e um bilhete de cobrança preso dentro da bolsa. As crianças me amavam. Eu amava aquela rotina. Mas o salário… não era suficiente nem para metade dos boletos da vida que Théo deixou. Eu deveria ter ido direto para casa. Deveria. Mas algo em mim — um cansaço antigo, pesado demais para caber no peito — me fez parar na calçada. Eu simplesmente não conseguia ir direto para casa. Para o silêncio. Para a pilha de contas na mesa. Para a sensação de que minha vida tinha se resumido a sobreviver. Eu precisava respirar. Só isso. Um lugar onde ninguém me conhecesse, onde eu não precisasse sorrir por obrigação ou fingir que estava bem. E, sem planejar, meus pés me levaram para o lado oposto da rua. Entrei em um bar. Não que eu quisesse beber ou “sair para distrair a cabeça”. Era mais como… me esconder por alguns minutos. Envelhecer um pouco mais devagar naquela noite. O ambiente era discreto, iluminado por luzes amareladas, música baixa — o tipo de lugar onde ninguém tenta puxar conversa à força. Sentei-me em uma mesa no canto. Prendi o cabelo, mas uma mecha insistiu em cair sobre meu rosto. Deixei. Pedi uma bebida sem álcool. Abri meu livro como quem abre uma porta de emergência. O simples gesto de virar uma página me fez sentir viva por um instante depois de meses. Foi quando senti os olhos dele. Levantei o olhar — devagar — e o encontrei. Um homem sentado sozinho no balcão, terno escuro, postura impecável, aquele tipo de presença que preenche o ambiente sem pedir permissão. Ele não sorriu. Não desviou. Apenas me olhou como quem observa algo… interessante. Por um segundo, esqueci como respirar. O garçom apareceu com uma taça. — Um oferecimento do cavalheiro — disse, apontando discretamente para ele. Meu coração bateu mais rápido — não de medo, mas de surpresa. Eu sinalizei, agradecendo de longe. Ele não levantou a taça. Não fez pose. Apenas inclinou a cabeça, como se tivesse entendido mais de mim em três segundos do que qualquer pessoa em anos. Voltei ao meu livro. Ou tentei. A mecha de cabelo caiu de novo sobre meus olhos. Passei a mão devagar, prendendo atrás da orelha — um gesto simples, automático. Foi aí que percebi: ele estava observando cada movimento. Com interesse. Mas não vulgaridade. Era diferente. Firme. Maníaco-contido. Quase… perigoso. Quando levantei a taça para beber, senti — antes de ver — a presença dele se aproximando. Ele parou ao meu lado. E se sentou. Sem convite. Com naturalidade. Como se aquele lugar fosse dele desde sempre. — Você parece alguém que escolhe bem o que lê — ele disse, voz baixa, calma. Meu corpo reagiu antes da minha mente. — E você parece alguém que entra onde quer — respondi, surpresa com minha própria ousadia, ainda olhando para o livro. Um canto de seu lábio ergueu — não um sorriso. Uma admissão silenciosa. — Às vezes. Ele me observava como se eu fosse um enigma que ele queria decifrar sem pressa. E eu… eu não lembrava da última vez em que alguém me olhou assim. Não como professora. Não como viúva. Não como fracasso financeiro. Mas como mulher. A conversa seguiu leve. Quase banal. Sobre o livro, sobre música, sobre o drink que eu pedi. Mas havia algo ali — algo quente, elétrico, impossível de ignorar. Quando me levantei para ir embora, ele se levantou. Uma cópia exata do meu movimento, como se estivéssemos conectados por um instinto primitivo. — Eu te acompanho até o carro — disse, simplesmente. O tom não admitia recusa. — Não precisa. — Eu quero. E eu me movi com ele, a permissão silenciosa sendo o meu único erro. O ar frio da noite tocava minha pele, mas a proximidade do corpo dele era um calor próprio. Caminhamos lado a lado até o estacionamento. O silêncio que se instalou não era ausência; era peso. Uma pressão densa e invisível que tornava a respiração mais rasa. Era um segredo entre nós dois, a um passo da confissão. Chegamos ao carro. Eu abri a porta. Eu poderia ter entrado, fugido para minha vida normal. Mas eu o encarei. A escuridão da noite sublinhava a intensidade nos seus olhos, e naquele segundo alongado, percebi que ele não estava me observando, mas me despindo. Eu abri mais a porta, e ele entendeu que o espaço era o convite. Ele deslizou para o banco do passageiro primeiro. O carro tornou-se um espaço apertado, quente, uma câmara de pressão. Eu fechei a porta atrás de mim. O ‘clack’ seco não foi um fim, mas a detonação de um relógio. Não havia onde se esconder. O cheiro dele — a fragrância de sua pele, algo masculino, quente e indomável — era agora o único oxigênio. — Certeza? — A palavra era um peso, um contrato que eu estava assinando. — Tenho. — O sopro da minha voz era a minha rendição. Não houve prelúdio. A hesitação desmoronou com o primeiro toque. O polegar dele pressionou a borda do meu quadril, puxando-me com tanta urgência que me vi de joelhos no assento, o corpo dele se tornando meu único ponto de apoio. Eu senti a virilidade dele, dura e inegável, contra o tecido fino das minhas coxas. A forma como seu corpo respondeu imediatamente ao nosso contato me fez soltar um suspiro de pura rendição. Ele atacou minha boca com uma fome recém-descoberta. Enquanto o beijo se aprofundava, a mão dele que não estava em meu quadril subiu rapidamente, sem pedir permissão, encontrando a pele nua logo abaixo da barra do meu vestido. A ousadia do toque me fez prender a respiração, e então a mão desceu, decidida, para abrir o caminho, deslizando sem pudor para a parte interna da minha coxa. O beijo se tornou mais fundo. Eu o puxei pela nuca, sentindo o músculo duro sob o tecido da sua camisa. Ele não parou o toque, o ritmo aumentando, o hálito dele quente contra meu pescoço, depois no ouvido. Era um toque que exigia, que não aceitava nada menos que a entrega total. Com um movimento único, ele me trouxe para o seu colo, e o atrito dos nossos corpos fez o ar vibrar. Minhas mãos apertaram seu pescoço. O controle dele era total, e o peso do seu corpo sobre o meu era a única realidade. Ele era forte, decidido. Eu senti a força da sua cintura, a forma como ele me segurava era uma posse. — Eu não vou parar — ele sussurrou contra a minha boca, e era a voz da virilidade, de um homem que sabia o que queria e como tomar. Eu não respondi com palavras. Apenas me agarrei a ele, e o mundo se resumiu ao espaço confinado do carro, ao som da nossa respiração pesada, e ao ritmo que ele estabeleceu. A roupa já não existia. A invasão aconteceu com a certeza de um relâmpago. Foi profundo. Quente. Violento na urgência, mas exato na intenção. Eu não tinha mais o controle de nada, apenas do desejo que me consumia. Cada movimento dele era calculado para extrair mais de mim, e eu respondia, o corpo vibrando com uma intensidade que eu nunca soubera que poderia existir. Eu senti o cheiro dele, o suor, a força crua do seu empenho. O carro balançava levemente, e o som seco dos nossos corpos colidindo era a única música. Quando finalmente nos afastamos, exaustos, o cheiro de sexo e a umidade nos preenchendo, nossas testas encostadas, o ar entrando e saindo como se tivéssemos corrido uma maratona. Ele manteve as mãos na minha cintura, firme, como se ainda me temesse. Eu não sabia o que dizer. Ele também não. Eu ainda sentia a pulsação dele em mim, e a certeza de que nada mais seria como antes.Sábado. Finalmente. Meu novo trabalho era apenas de segunda a sexta, e isso significava que meus finais de semana estavam oficialmente liberados — exceto, claro, se houvesse alguma festa especial que exigisse minha presença. A semana tinha sido pesada… não fisicamente, mas mentalmente desgastante. O histórico fato de uma noite de devaneio com o pai da criança havia deixado um rastro emocional que eu não esperava. Passei os últimos dias tensa, como se a qualquer instante o assunto fosse surgir entre nós. Mas Rafael… ah, Rafael. Ele parecia um homem bom demais — ou cuidadoso demais — para tocar nisso. Talvez estivesse me poupando, talvez estivesse apenas fingindo que acabamos de nos conhecer. Na verdade, acho que prefiro essa segunda opção. Machuca menos. Expõe menos. Respira mais fácil. De qualquer forma… meus dias mudaram depois daquela noite. Melhoraram, talvez. — O que um momento ardente não faz com alguém… — murmurei, rindo sozinha da própria desgraça emocional. Coloquei
E quando nossos olhos se encontraram… ele também parou. Foi só um segundo. Mas o suficiente para tudo voltar com força. O carro. À noite. As mãos. O calor. O momento que nem eu nem ele planejamos — e que ainda queimava na memória como se tivesse acontecido ontem. Ele retomou o controle rápido. Endureceu o maxilar, endireitou o corpo, quase como se pudesse vestir um personagem profissional e esconder tudo que a gente não deveria lembrar. Eduardo apareceu ao lado dele, sorrindo. — Essa é a Isadora, a nova babá da Sofia. Eu respirei fundo, segurei toda e qualquer expressão no rosto, me levantei rapidamente do tapete e estendi a mão como se estivesse diante de um completo estranho. — Isadora. Muito prazer. O homem demorou um segundo a mais para reagir, como se precisasse se recompor. Então estendeu a mão dele também. — Rafael. Prazer. Quando nossas mãos se tocaram… O choque veio. O mesmo de aquela noite. Uma faísca quente, instantânea, que correu pelo meu braç
Passo as próximas horas ajustando minha roupa, meu cabelo, meu currículo. Nada parece bom o suficiente. As oito da noite chegam rápido. Quando chego no endereço, paro diante do portão, sinto o ar sumir dos meus pulmões. A casa não é só grande. É imponente, daquelas que têm janelas tão altas que parecem observar quem chega. O portão se abre sozinho. Eu entro devagar, como se pisasse em território proibido, estaciono o carro próximo à entrada. O jardim é enorme, cheio de caminhos de pedras, plantas podadas com perfeição e uma fonte que parece saída de algum filme caro. O vento traz o cheiro de flores frescas, que não sei nem nomear. Respiro fundo. Só preciso passar por essa entrevista. Só isso. Quando bato na porta, não espero a sensação que tenho quando ela se abre. A figura masculina diante de mim é… marcante. Alto. Ombros largos. Cabelo bem aparado, barba que combina com o sorriso insinuado. Olhos claros que analisam sem pedir licença. Por um instante, meu peit
Eu acordo antes do despertador. É raro. Normalmente é aquele toque irritante que me arranca dos lençóis, ou a dorzinha no ombro que insiste em aparecer toda vez que durmo mal. Mas hoje… não. Meus olhos simplesmente abrem, e por um segundo eu fico ali, encarando o teto, tentando entender por que meu peito parece mais desperto do que meu corpo. A resposta vem em forma de flash — um sussurro quente perto da minha boca, a ponta dos dedos dele tocando meu cabelo, a forma como ele disse boa noite como se estivesse cometendo um erro. Fecho os olhos e solto o ar devagar. — Isso é loucura — murmuro para mim mesma, empurrando o cobertor. Me levanto com uma energia que não combina com o que tenho vivido nos últimos meses. Tomo banho rápido, prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto e passo um hidratante no rosto tentando ignorar a sensação absurda de que alguém ainda me olha — mesmo que eu esteja completamente sozinha. “Eu não vou parar.” A voz dele invade minha mente sem pedir licença.
Eu acordei antes do despertador, mas não por causa de uma boa noite de sono. Na verdade, eu mal tinha dormido. Meu corpo ainda estava quente, como se a lembrança de mãos desconhecidas tivesse ficado presa na minha pele. Era ridículo… eu sabia. E mesmo assim não conseguia evitar. Aquele homem — sem nome, sem contexto, sem absolutamente nada — havia me tocado como se me conhecesse. Como se soubesse o que eu escondia até de mim mesma. Passei as mãos no rosto e respirei fundo. Era hora de me levantar. A vida não esperava ninguém. Meu corpo ainda dolorido dos movimentos da noite passada,, uma dor gostosa e prazerosa. Trabalhar na escola infantil não era o emprego dos meus sonhos, mas por quase um ano tinha sido a única coisa estável na minha rotina. E estabilidade, para alguém como eu, era quase luxo. Vesti minha roupa simples — jeans escuro, camiseta da instituição, tênis confortável — e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Antes de sair, me olhei no espelho. Eu parecia a mesma de
Nada destrói mais do que aquilo que você tenta ignorar. — Théo… — comecei, devagar. — Podemos conversar quando chegarmos em casa? Ele não respondeu.A mão dele apertava o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Havia semanas que ele andava assim: tenso, irritadiço, trancado em um mundo que eu não conseguia mais alcançar. Eu tentei ser paciente. Tentei conversar. Tentei amar de todas as formas que sabia. Mas não era amor o que estava faltando. Era verdade. — Théo, você está dirigindo muito rápido — falei, mais firme. — Por favor, diminui. O ponteiro passou dos cem. Depois dos cento e vinte. A estrada estava molhada, vazia, perigosa. Foi quando ele murmurou — e eu soube, no exato segundo que não era um desabafo: — Acabou, Isa. Eu perdi tudo. Meu estômago afundou. — Como assim? — Dívidas. Jogos. A empresa… — Ele riu, um riso curto, amargo. — Nós vamos perder tudo. Meu coração acelerou. — Amor, a gente dá um jeito. A gente sempre deu. O carro avançou ain
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