Inicio / Romance / A Babá que o bilionário não merecia / CAPÍTULO 3 — O homem que me ligou
CAPÍTULO 3 — O homem que me ligou

Eu acordo antes do despertador. É raro.

Normalmente é aquele toque irritante que me arranca dos lençóis, ou a dorzinha no ombro que insiste em aparecer toda vez que durmo mal. Mas hoje… não. Meus olhos simplesmente abrem, e por um segundo eu fico ali, encarando o teto, tentando entender por que meu peito parece mais desperto do que meu corpo.

A resposta vem em forma de flash — um sussurro quente perto da minha boca, a ponta dos dedos dele tocando meu cabelo, a forma como ele disse boa noite como se estivesse cometendo um erro.

Fecho os olhos e solto o ar devagar.

— Isso é loucura — murmuro para mim mesma, empurrando o cobertor.

Me levanto com uma energia que não combina com o que tenho vivido nos últimos meses. Tomo banho rápido, prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto e passo um hidratante no rosto tentando ignorar a sensação absurda de que alguém ainda me olha — mesmo que eu esteja completamente sozinha.

“Eu não vou parar.” 

A voz dele invade minha mente sem pedir licença.

Balanço a cabeça. Preciso parar com isso.

Visto minha roupa de trabalho — jeans escuro, camiseta branca, um casaquinho azul-marinho que já viu dias melhores — e sigo para a cozinha. Faço um café ralo, porque foi o que deu para comprar ontem no mercado. Olho o boleto de energia na geladeira e suspendo o olhar antes que a realidade me tire o pouco de leveza que restou da noite passada.

Saio de casa alguns minutos mais cedo.

O ar da manhã invade meu rosto assim que abro a porta do carro. Fresco, limpo, com aquele cheiro úmido de começo de dia — como se o mundo tivesse sido lavado durante a noite. 

Dou a partida e deixo o motor aquecer devagar, enquanto observo o vapor leve subir do capô como um suspiro.

Tudo parece… mais vivo do que deveria.

Era loucura ficar pensando demais no que aconteceu?! Sei lá. Acho que não, há dois anos não me relacionava com ninguém, e resolvo fazer isso logo assim do nada e com um completo desconhecido. 

Embora eu quisesse deixar de lado os pensamentos e o homem cujo nome eu nem sabia, era difícil. Eu queria aquilo de novo, eu o queria novamente embora soubesse muito bem que encontrá-lo seria impossível.

Já havia se passado duas semanas e aquela noite era viva dentro de mim. Quando chego à escola infantil, já ouço as vozes agitadas das crianças. Antes mesmo de abrir a porta da minha sala, a coordenadora aparece com um sorriso cansado.

— Isa! Ainda bem que chegou cedo. Uma mãe ligou dizendo que o Pedro não dormiu bem e pode estar mais choroso hoje. Já deixei a ficha no seu computador.

— Tudo bem, eu cuido dele — respondo.

E cuido mesmo.

É engraçado como, mesmo nos meus piores dias, as crianças têm esse poder de puxar algo bom de dentro de mim. Talvez porque, ao contrário dos adultos, elas dizem exatamente o que sentem. Sem filtros. Sem esconder.

A manhã passa entre desenhos, histórias, choros momentâneos, abraços apertados e risadas inesperadas. Em algum momento, Pedro segura meu dedo com força e diz:

— Tia Isa, você cheira a nuvem.

Eu rio.

— Isso é coisa boa ou ruim?

— Boa. Nuvem boa.

E eu tento acreditar que ele tem razão.

Na hora do almoço, me sento no refeitório dos funcionários com meu pote de arroz, ovo e algumas folhas murchas. Minha colega Clara j**a o corpo na cadeira ao lado.

— Amiga, você tá… diferente — ela comenta com uma sobrancelha levantada.

— Diferente como? — pergunto, segurando o garfo no ar.

— Não sei — ela aperta os olhos. — Menos abatida. Você tá… com um brilho nesses últimos dias.

Ela faz um gesto esquisito com as mãos, como se imitasse fogos de artifício.

Eu rio e nego com a cabeça.

— Clara, por favor. Eu só dormi melhor.

Mentira. Quase não dormi. Mas fiquei desperta pelos motivos errados… ou certos. Não sei mais. O que um bom sexo não faz com alguém.

Ela dá um sorrisinho de quem não acredita, mas deixa pra lá.

— Ah! Você enviou o que te pedi, sobre a vaga de babá? Não demore para enviar porque o salário é bom, é um bom lugar e eles estão com urgência. Eu sei que não é o que você gostaria, mas vai dar para quebrar um galho por uns meses, até você encontrar coisa melhor.

Meu estômago aperta, mas sorrio.

— Obrigada, eu enviei assim que me falou, mas ainda não tive resposta.

Eu preciso que esse retorno seja positivo. Preciso muito. Será que vão me ligar? Já tem dias...

— Não se preocupe, ela me garantiu que ligariam, eles precisam muito.

À tarde, quando as crianças estão mais calmas, eu finalmente abro meu e-mail no computador.

 Nada. 

Nenhuma resposta. 

Nenhuma mudança.

Só avisos de contas atrasadas, promoções absurdas de cartões de crédito e um lembrete automático da empresa de cobrança.

Fecho tudo antes que comece a sentir aquela pressão no peito — a mesma que tem sido minha companheira diária.

Olho meu reflexo na tela apagada do computador. 

Meu cabelo escapou do rabo. 

Duas mechas caem na frente do rosto, exatamente como aquela noite no bar.

E por um segundo, é como se eu sentisse outra vez a ponta dos dedos dele tocando meu cabelo. Não forte. Só… presente.

Mordo o lábio inferior.

Ridículo. Eu o vi por uma noite. Não sei nada sobre ele. Não sei o nome dele. Não sei se o verei de novo.

Mas… algo dentro de mim insiste que vou.

Uma intuição silenciosa, quase ingênua.

Ou perigosa. Acho que era apenas a vontade de revê-lo mesmo.

No fim do dia, me despeço de todos, foi meu último dia de trabalho, Clara acena de longe:

— Isa! Amanhã a gente se fala melhor. Hoje tá uma loucura, te ligo!

— Claro, boa noite!

Saio da escola torcendo para me ligarem, preciso dessa vaga de babá. O céu está rosado, fim de tarde suave, e o vento é gelado o suficiente para fazer meu corpo arrepiar.

Caminho devagar até o estacionamento. Meu celular vibra — mensagem automática da financeira. 

Ignoro.

A ligação chega quando estou entrando no carro.

O número é desconhecido, mas atendo assim mesmo. 

Não posso me dar ao luxo de ignorar oportunidades.

— Alô?

— Senhora Isadora? — A voz é masculina, firme, quase polida demais. — Aqui é Eduardo Vaz. Recebi sua indicação pela Clara, da escola infantil. Gostaria de marcar uma entrevista. Seria para cuidar de uma menina de cinco anos. Período integral. É algo urgente.

Meu coração b**e mais forte. 

Urgente. Período integral. 

Pago.

— Claro — respondo tentando soar profissional. — Quando poderia ser?

— Hoje — ele diz, como se fosse óbvio. — Às oito da noite. Anote o endereço, por favor.

Anoto. 

E quando termino, leio novamente.

É um bairro caro… muito mais caro do que qualquer lugar onde já tive coragem de entrar depois que minha vida virou poeira.

— Estarei lá — digo, mesmo com a voz tremendo. Um horário estranho para entrevistas, mas tudo bem.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP