Mundo de ficçãoIniciar sessão(Autora Brasileira) - Não é permitido a cópia do livro. Mariana só queria uma chance na área de TI da maior empresa de cosméticos da América Latina. O que ela ganhou? O “cargo temporário” de babá da filha do CEO, e um problema gigante atendendo pelo nome de Rodrigo Ferreira. Frio. Fechado. Mandão. E absolutamente determinado a demitir a garota nerd que, em dois dias, fez a filha dele sorrir como não sorria há meses. Mariana não tem preparo nenhum para ser babá, e muito menos para lidar com um homem quebrado pela perda, sufocado pela culpa e assombrado pelo próprio pai. Mas Laura, de seis anos, se apega a ela como se tivesse encontrado um pedaço de luz no meio do caos. E Rodrigo… Bem, Rodrigo tenta resistir. Ele jura que consegue. Mas cada provocação, cada briga, cada troca de olhares faz a linha entre “não toque nela” e “não consigo ficar longe” ficar cada vez mais fina. Só que Mariana carrega um segredo. Um segredo que envolve o nome da família Ferreira, e o homem que ela não deveria desejar. Rodrigo vai descobrir que algumas pessoas entram na nossa vida para destruir tudo… E outras, para reconstruir o que a gente achou que nunca mais teria. Uma atração que ele nunca deveria ter permitido. Mas é tarde demais. Ela já é dele. E ele não está disposto a perder mais ninguém.
Ler mais(Visão de Rodrigo)
O cliente não apareceu. As pessoas adoram me fazer perder tempo, como se eu tivesse horas sobrando pra tomar café com amadores que não sabem honrar a própria agenda.
Fechei o tablet com força, respirando fundo. Outra manhã desperdiçada e outro idiota que eu teria que dispensar oficialmente depois.
Peguei meu café e empurrei a porta da cafeteria, quando uma coisa enorme, com orelhas pretas e um laço vermelho veio correndo pela calçada sem prestar atenção e esbarrou em mim com tudo.
O impacto foi forte o suficiente para me fazer dar um passo pra trás, e o café quente voou direto na minha camisa branca.
— Mas que p⁎rra é essa?! — rosnei, olhando pro desastre.
A criatura, que só depois identifiquei como uma cabeça gigante da Minnie, colocou as mãos sobre a boca da fantasia.
— Me desculpa!!! Desculpa mesmo!!! Eu tô MUITO atrasada!!!
A voz era feminina, assustada e desesperada.
E ela simplesmente tentou dar meia-volta e continuar correndo como se não tivesse acabado de virar minha manhã de cabeça pra baixo.
Estendi o braço e segurei o dela antes que fugisse.
— Ei. — minha voz saiu gelada. — Olha o que você fez.
Ela congelou, mas não tirou a cabeça gigante. Era ridículo, eu estava falando com uma Minnie de dois metros de altura.
Ela tentou se soltar novamente, fazendo a manga da sua camisa descer pelo braço, relevando uma tatuagem. Um desenho pequeno, em traços finos de um garotinho, claramente o Pequeno Príncipe sentado numa colina, olhando para uma rosa, com uma raposinha ao lado.
Mas antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela arrancou o braço da minha mão.
— DESCULPA! DE VERDADE! — ela quase gritou. — Eu juro que… que… eu compenso! Eu só… PRECISO MUITO IR!
E saiu correndo com a cabeça da Minnie balançando como se fosse explodir a qualquer momento.
Fiquei parado na porta, com o café escorrendo e a irritação subindo como lava. A imagem daquela tatuagem queimava no fundo da minha mente por algum motivo idiota.
Que tipo de mulher corre pela rua fantasiada de Minnie antes das nove da manhã?
E por que diabos eu ainda estava pensando nela?Se eu encontrasse aquela Minnie desastrada de novo… ela iria se arrepender amargamente desse encontro. Entrei no carro, batendo a porta com mais força do que deveria. Minha camisa ainda estava úmida, colando no peito e deixando um cheiro forte de café queimado.
Ótimo, perfeito. Exatamente o humor que eu queria ter antes de uma viagem internacional importante.
— Vamos, Paulo.
O motorista deu partida, calmo demais pro caos que era a minha cabeça.
Tinha uma reunião marcada no Uruguai em poucas horas e um contrato milionário esperando. Não tinha espaço mental pra… isso.
Paulo me olhou pelo retrovisor.
— O senhor quer passar em casa pra trocar de camisa?
— Não. — respondi seco. — Não tenho tempo.
— Mas sua camisa está—
— Percebi que ela está manchada, Paulo. — cortei, impaciente. — Troco no jatinho. Segue direto pro aeroporto.
Ele assentiu, silencioso. Era por isso que eu gostava dele: não fazia perguntas desnecessárias e não contestava meu humor. Só dirigia.
(Visão de Mariana)
Eu corri, como se minha vida dependesse disso e, honestamente, dependia.
Virei no primeiro beco que encontrei e praticamente desabei na parede, puxando ar como se tivesse corrido uma maratona usando uma sauna ambulante na cabeça.
De quem foi a ideia imbecil de usar uma cabeça gigante de Minnie pra isso? Ah, é, minha ideia mesmo. Parabéns, Mariana.
Arranquei a cabeça da Minnie e o ar gelado bateu no meu rosto.
— Droga… — sussurrei, ainda ofegante. — Quase fui pega. E ainda derrubei café no cara… genial, Mariana, show de horrores completo.
Peguei o pendrive escondido no bolso interno da fantasia e o levantei na altura dos olhos.
Pequenininho, preto e sem etiqueta.
A porta de entrada pra verdade.
— Tomara que você tenha o que eu preciso… — murmurei, apertando ele na mão. — Ou pelo menos alguma pista. Qualquer coisa, só preciso provar que meu pai é inocente…
Passos ecoaram na rua, e eu me joguei atrás de uma pilha de caixas, abaixada, segurando o fôlego como uma criança escondida no pique-esconde.
Os seguranças passaram correndo, falando algo sobre “a mulher de fantasia”.
Fechei os olhos.
— Não sou eu, sou invisível. — sussurrei pra mim mesma.
Quando o som sumiu, prendi o cabelo de maneira bagunçada, deixei a cabeça da Minnie largada num canto e fui até as portas dos fundos da cafeteria. Abri devagarinho, vendo uma cozinha em caos de panelas e barulhos, mas ninguém olhava pra trás. Sorte minha. Me agachei e fui andando como um caranguejo disfarçado, desviando de funcionários, sacolas, bandejas.
Cheguei nas mesas, quase tropecei no pé de um cliente, e entrei no banheiro.
Tranquei a porta e respirei fundo.
Tirei a roupa preta da fantasia, larguei no lixo mesmo e amarrei o cabelo colocando a peruca barata, que coçava muito e os óculos escuros.
Me encarei no espelho.
— Você consegue. — falei baixinho para a minha versão pirata. — Vai encontrar a verdade, provar a inocência dele e vai dar tudo certo. Eventualmente… talvez… eu espero.
Guardei o pendrive no bolso da calça, saí do banheiro fingindo estar mexendo no celular e atravessei a cafeteria com a cabeça baixa.
Do lado de fora, entrei no shopping que ficava ao lado e me enfiei no banheiro lá dentro. Tirei a peruca, guardei no fundo da bolsa e vesti minha roupa normal.
Ajeitei meus óculos de grau e olhei meu reflexo nerd, atrapalhado e meio destruído.
Suspirei.
— Nossa… que manhã. — murmurei.
Então a imagem do homem com a camisa branca encharcada de café. Mal conseguia me lembrar do seu rosto, a cabeça da Minnie era horrível para enxergar direito.
— Que Deus me perdoe — falei, saindo do banheiro. — E que aquele homem me perdoe também …mas isso era questão de vida ou morte.
***
Eu não sei se estava com falta de ar ou se era só ansiedade mesmo, mas o ar-condicionado da Bellavita parecia mais gelado do que o normal naquela tarde. A sala do RH sempre me deu arrepios, mas hoje… hoje eu estava tremendo por outro motivo.
A gerente me chamou para “conversar”
Ah, por favor, já estava me vendo no futuro com crachá dourado, contrato permanente, mesa própria, e uma linda plaquinha escrito Mariana Castro — Analista de TI.
Respirava fundo, sonhando alto, sentindo o orgulho inflar no peito. Meu TCC já tinha sido apresentado, eu tirei a melhor nota da turma. Minhas horas de estágio foram completadas HOJE, exatamente hoje, e minha formatura estava a quatro meses. Eu estava pronta. Eu merecia. EU NASCI PRA ISSO.
O corredor até o RH parecia mais longo que o normal. A cada passo, eu repetia mentalmente: calma, Mariana, você vai ser contratada, não desmaia na frente da Carla… respira.
Bati na porta com meio fraco, nervosa.
— Pode entrar! — uma voz animada respondeu.
Abri a porta e fui recebida pelo sorriso enorme de Carla, a gerente do departamento de RH. Ela sempre me tratou bem, mas hoje, ela parecia sorrir demais.
O sorriso de quem tá prestes a te dar presente… Ou ferida.
— Mariana! Senta aqui, querida — ela apontou para a poltrona de frente para a mesa dela.
Sentei. Meus joelhos estavam tão juntos que eu parecia um pinguim. Carla abriu um arquivo, deu uma última olhada e fechou com um “clac” que fez minhas esperanças darem um salto.
Ela cruzou as mãos sobre a mesa e começou com aquela voz doce que todo mundo no RH usa antes de dar notícia boa.
— Bem… analisamos todo o seu período de estágio. O seu desempenho foi excelente. Seu supervisor só tem elogios, inclusive deixou claro que a quer no time de TI permanentemente.
Meu sorriso ficou tão largo que quase caiu da cara.
Eu sabia! Sabia! EU NASCI PRA ISSO!Mas aí… Carla suspirou. E recostou na cadeira e o seu sorriso perdeu 20% de brilho.
Na mesma hora meu coração gritou que lá vinha bomba.
Estreitei os olhos.
“O que foi?” — perguntei mentalmente, mas fingi educação e fiquei calada.
Carla ajeitou o cabelo atrás da orelha, claramente desconfortável.
— Olha… talvez o que eu vá pedir não seja exatamente o comum, nem o certo, mas… é uma questão de urgência. E eu realmente não sei de mais ninguém capaz de fazer isso.
Minha sobrancelha subiu sozinha.
— Tá… e do que você tá falando? — perguntei, já desconfiada. — E assim… se for ilegal, já aviso que tô fora, tá?
Ela arregalou os olhos, riu nervosa e balançou a cabeça.
— Não, não! Nada ilegal. — Deu um sorrisinho sem graça. — Na verdade, é um favor. Um favor… remunerado. Muito bem remunerado, por sinal.
Aquela frase sempre significa problema.
Cruzei as pernas e os braços.
— Tá. Que favor?
Carla respirou fundo.
— Bem, eu queria que você aceitasse trabalhar como… babá da filha do Sr. Ferreira.
Eu pisquei.Duas vezes.Três.
— B… babá? — minha voz saiu quase um latido.
Ela assentiu, totalmente sem jeito.
Laura saiu correndo assim que Aline apontou o dedo pra mim, a menina sumiu pela porta como se tivesse visto um fantasma. Provavelmente foi atrás do pai.Eu fiquei ali, parada, olhando pra Aline agora com a minha expressão bem mais séria.— Por que eu faria isso de propósito? — perguntei, firme. — Nem te conheço e se você é amiga do senhor Rodrigo, vou te atender muito bem e com respeito. Eu errei, admito. Mas isso não vai se repetir.Aline me analisou dos pés à cabeça, como se estivesse avaliando um objeto defeituoso. Depois chegou mais perto, falando baixo, venenosa.— Não adianta tentar chamar a atenção dele. Rodrigo nunca tocaria em alguém tão feio e desarrumado como você. Uma babá inferior… isso? — ela fez um gesto com a mão, como se afastasse sujeira. — É lixo.Segurei o impulso de rir alto e apenas deixei meus lábios se esticaram um pouco, a olhando de cima a baixo também. — É por isso que você vem toda produzida visitar ele? — perguntei baixinho. — E adianta? Porque, pelo que
Meu estômago virou um pouquinho. Tá. Eu não estava exatamente pronta pra esse tipo de informação.— Mas ela já fez alguma coisa com você? — perguntei, me aproximando e ficando na sua altura. — Alguma coisa que te machucou ou te deixou triste?Laura balançou a cabeça rápido.— Não. Mas ela não gota de mim. Respirei fundo.Crianças têm um radar emocional que adulto nenhum chega perto. E Laura era esperta demais.Mas eu também precisava ter cuidado. Laura via o mundo por lentes diferentes e eu ainda estava chegando agora.— Ok — disse, passando a mão em seus cabelos. — Vamos deixar isso pra lá por enquanto. Vem, hora do banho.Ela revirou os olhos, fazendo aquele drama teatral, mas deixou que eu pegasse sua mão.A levei pro banheiro e abri a água, ajustando a temperatura. Laura entrou na banheira pequena, brincando com a espuma enquanto eu lavava o seu cabelo com cuidado.Mas minha mente? Estava ON FIRE.Aline. Laura dizendo que ela era falsa. O olhar de Rodrigo no corredor, parecendo q
Meu peito apertou na hora. E, honestamente? Se Rodrigo Ferreira ainda tivesse um coração batendo dentro daquele peito rígido, aquilo ali… com certeza atingiu ele também. Ela ainda tremia nos braços dele, com o rostinho afundado no ombro do pai, e eu fiquei ali, parada, sentindo meu coração bater rápido demais. A cena toda parecia suspensa no ar, como se o mundo estivesse esperando a reação de Rodrigo Ferreira.Ele ficou alguns segundos calado, respirando fundo. Sua mão subia e descia nas costas de Laura, lenta, pesada, quase automática. Quando ele finalmente se moveu, seu olhar caiu em mim.Frio. Duro. Cortante.Eu engoli seco.Ele colocou Laura no chão com um cuidado que contrastava com a tensão visível no seu maxilar. A menina correu para se esconder atrás da perna dele, ainda fungando. Rodrigo deu um passo à frente.E veio na minha direção.Meu corpo enrijeceu na hora.Ele parou tão perto que eu senti o cheiro do seu perfume caro, amadeirado e limpo igual ao dono. Meu estômago se
Fechei os olhos devagar, contando até três. Tentando não perder o resto de calma que eu tinha.Quando abri, Laura estava parada, com as mãos cobrindo a boca em choque.E a mulher, Mariana, olhava para mim como se tivesse acabado de regar um tigre faminto por engano. A mangueira continuava jorrando para o chão, criando uma poça entre nós.O silêncio durou meio segundo.— O que diabos está acontecendo aqui? — minha voz saiu baixa, dura, fria o suficiente para qualquer adulto tremer.Laura congelou.Mariana rapidamente desligou a mangueira e deu um passo.— Senhor, me desculpa, eu não vi que o senhor est—— Pare. — cortei, sem levantar a voz, mas o suficiente para fazê-la travar.Ela parou no mesmo instante.Observei a sua figura. Rosto vermelho da correria, camiseta grudada no corpo, cabelo bagunçado, respiração acelerada. Uma presença completamente fora do padrão da minha casa, do meu ambiente, da minha rotina.— Arrume suas coisas e vá embora da minha casa. — deixei claro, direto, sem
(Visão de Rodrigo)Eu estava exausto. Era quinta à noite, a mala já estava quase pronta sobre a cama do hotel. Dobrei a última camisa, mas acabei só jogando por cima mesmo. Suspirei, peguei o celular e sentei na beira da cama.Carla tinha ficado responsável por encontrar outra babá. De novo. Laura adorava espantar as babás como se fosse um esporte. Eu sabia por quê. Ela não queria ninguém ali, queria eu. Só eu. E eu… ainda não conseguia ficar muito tempo naquela casa.Olhei pro teto. Aquele aperto sempre vinha quando eu pensava em casa.Nara quem idealizou cada detalhe. Ela dizia que a casa parecia comigo, fria, forte, silenciosa e ela amava isso. Foi lá que eu tive a melhor fase da minha vida. Onde Estela deu os primeiros passos. Onde as duas riam e corriam. Onde eu fui… feliz.E agora, cada lembrança me esmagava.Devia me mudar, sabia. Mas abandonar aquele lugar era como abandonar elas duas de novo. E eu não conseguia.Suspirei, cansado desse ciclo, e liguei pra Carla. Ela atendeu n
Ela parou, sem virar o corpo. Só a cabeça, por cima do ombro.— O que foi?Apontei para o chão.— Vamos limpar isso aqui, né? É o certo a fazer.Ela piscou. Duas vezes. Como se eu tivesse acabado de pedir pra ela resolver uma equação de física quântica. Aquele choque bonitinho tomou conta da cara dela, mas não discutiu. Só pegou uma caixinha de bombinhas dentro da gaveta, então ela já estava preparada mesmo, a espertinha, e se agachou perto da porta.Me abaixei junto, ajudando a catar cada uma, com cuidado.— Essa foi boa — comentei, colocando duas bombinhas na caixinha. — Se fosse outra pessoa, provavelmente teria levado um susto daqueles.Laura levantou os olhos devagar, só por cima dos cílios. Um olhar que perguntava sem falar: como você me venceu?Mas ela permaneceu calada.Eu sorri. Um sorriso calmo, gentil, sem provocar.— Bora lá, o professor já chegou.Ela fechou a caixinha, ficou de pé e saiu andando… mas dessa vez, não tão fria quanto antes. Havia uma coisinha ali. Uma rac
Último capítulo