Júlia Montenegro achava que estava prestes a viver o melhor momento da sua vida. O casamento dos sonhos se aproximava, ela tinha um emprego estável e acreditava que, finalmente, tudo estava no lugar. Mas a ilusão desmorona de forma cruel: ela flagra o noivo nos braços da própria melhor amiga. Sem chão e emocionalmente devastada, Júlia não tem tempo para se recompor. Em poucos dias, sua mãe recebe um diagnóstico grave, e ela é demitida do trabalho. Perdida e em colapso, ela decide afogar a dor em um bar qualquer e acaba se envolvendo com um estranho misterioso, irresistível e completamente fora do seu controle. O que era pra ser só uma noite de fuga vira um ponto sem volta quando ela descobre que o homem em questão é Gabriel Clark, um CEO frio, poderoso e marcado por feridas profundas. Ele não acredita mais no amor desde que foi abandonado no altar e, embora evite qualquer envolvimento emocional, Júlia o desconcerta de um jeito que ele não consegue ignorar. Mas o que Júlia ainda não sabe… é que Gabriel carrega um laço direto com seu passado: ele é o tio do ex-noivo que a traiu. O que começou como um erro impulsivo pode se transformar em um jogo perigoso, onde sentimentos indesejados despertam, segredos ameaçam vir à tona e ninguém está preparado para o que acontece quando o destino decide intervir. Oi
Leer másJULIA MONTENEGRO NARRANDO:
O destino é uma coisa curiosa. A gente anda pela vida achando que tem tudo sob controle, que cada passo que damos é fruto das nossas escolhas, das nossas certezas. Mas, às vezes, o destino ri da nossa confiança. Ele espera o momento certo, o instante exato, pra virar tudo de cabeça pra baixo. Sem aviso. Sem misericórdia. Naquela noite chuvosa, eu achava que estava prestes a fazer algo bonito. Inocente. Um gesto de amor no meio do caos do meu dia. Só que o destino… ah, o destino tinha outros planos pra mim. Entrei no apartamento com a chave que ele mesmo tinha me dado quando começamos a namorar. Era pra ser uma surpresa. Um jantarzinho depois de um dia infernal. Comida japonesa, saquê, um beijo demorado. Eu ainda sorri no elevador, olhando meu reflexo borrado, rindo da minha própria animação. Mas bastou eu dar dois passos dentro do apartamento pra perceber. O cheiro doce no ar. A música baixa. Uma vibração esquisita que arrepiou minha pele. — Fernando? — chamei, a voz meio engasgada, como se algo dentro de mim já soubesse. Silêncio. A porta do quarto estava apenas encostada. E, mesmo que cada célula do meu corpo gritasse pra eu voltar, eu empurrei. E ali estava. O fim da minha história perfeita. Fernando. Nu. Na nossa cama. Com Carolina. Minha melhor amiga. Por alguns segundos, eu não consegui respirar. Meus olhos demoraram a entender o que viam. O lençol desarrumado, as risadas baixas, a pele colada na pele. Ele beijando o pescoço dela, os dois tão à vontade… como se aquilo fosse rotina. — MAS QUE PORRA É ESSA?! A minha voz cortou o ar como uma navalha. Eles se assustaram como animais pegos no flagra. Fernando puxou o lençol, cobrindo o corpo às pressas, pálido como papel. Carolina, em choque, levou a mão à boca e tentou alcançar o vestido do chão. — Júlia… eu… — ela começou, trêmula. — NÃO! — gritei. — NÃO FALA MEU NOME! NÃO TENTAR SE EXPLICAR! Me aproximei como se fosse dar um soco em alguém, mas parei no meio do caminho. Não porque não queria. Mas porque doía demais. — Era aqui que você tava, Fernando? — cuspi as palavras, o peito arfando. — Com a minha melhor amiga? Na nossa cama? Ele tentou se levantar, falar algo, qualquer coisa. Mas não havia nada que pudesse dizer. Nada que desfizesse o que eu acabava de ver. — EU IA CASAR COM VOCÊ, DESGRAÇADO! — berrei. — Em três meses! Eu tava planejando o nosso futuro enquanto você… você tava transando com a mulher que segurou minha mão quando meu pai morreu! Minhas mãos tremiam tanto que eu nem percebi quando peguei o vaso da cômoda. Lancei com força contra a parede. Ele estourou em mil pedaços, como meu coração. — Eu te odeio. — sussurrei, já com a voz quebrada. — Eu odeio vocês dois. E você quer saber como eu cheguei até aqui, essa noite? Bom… isso eu vou te explicar. Dizem que ninguém tem a vida perfeita. Que toda felicidade demais esconde alguma tragédia esperando pra acontecer. Mas até hoje, eu discordava completamente. Minha vida era, sim, perfeita. Ou pelo menos… parecia. Sou gerente comercial de uma das lojas mais elegantes da Quinta Avenida, em Nova York. Trabalho com moda, o que sempre foi minha paixão, e todos os dias entro naquele prédio imponente com a sensação de que conquistei exatamente o que eu sonhei. As vitrines sempre impecáveis, os clientes elegantes, a equipe afiada. Me respeitam. Me escutam. E eu adoro liderar. Adoro me sentir no controle. Tenho um apartamento charmoso no Upper East Side, do meu jeitinho: tons neutros, plantas que eu mesma cuido, prateleiras cheias de livros de moda, comportamento e romances água com açúcar — aqueles que eu finjo não gostar, mas que me fazem chorar no fim. Adoro o silêncio do meu cantinho. Amo tirar os saltos no fim do dia, acender uma vela de baunilha e deixar Norah Jones tocar enquanto lavo o rosto devagar. Mas o melhor da minha vida tinha nome: Fernando. Meu noivo. O homem com quem eu planejava envelhecer. Fernando era tudo o que eu sempre quis em um parceiro. Arquiteto, inteligente, doce, sarcástico na medida certa. Lindo. Daqueles homens que a gente olha e pensa “mentira que isso existe fora da TV”. Nos conhecemos num evento da empresa há dois anos. Ele de terno escuro, um copo de vinho tinto e aquele olhar tranquilo que parecia me ler inteira, como se já me conhecesse de outra vida. Foi avassalador. Sabe aquela coisa de pele, de conexão imediata? Então. Foi isso. Trocamos números naquela noite, e desde então… nunca mais nos desgrudamos. A gente ria junto, cozinhava junto, via filme bobo agarrado no sofá. Ele me ligava pra dizer que estava com saudade mesmo quando tínhamos acabado de nos ver. Fazia planos. Me olhava como se eu fosse um universo. E eu acreditava. Com todo o meu coração. Estávamos a três meses do casamento. Um jardim na Toscana, luzinhas penduradas, uma banda tocando jazz ao fundo, taças de prosecco, gente elegante, promessas eternas. Tudo meticulosamente planejado. Tudo do jeitinho que a gente sonhou. Hoje, no entanto, o dia foi um caos completo. A loja lotada, uma cliente importante chegou sem aviso, uma entrega atrasada, um vendedor passou mal. Meu salto quebrou no meio do expediente e, claro, caiu uma chuva absurda bem na hora que eu saí. Tudo o que eu queria era um banho quente, meu sofá e silêncio. Mas pensei nele. No Fernando. E, como toda noiva que ama, pensei em transformar o fim do dia. Fazer uma surpresa. Um jantarzinho simples, mas simbólico. Algo que dissesse: “Eu amo você, mesmo nos dias difíceis.” Passei no restaurante japonês que a gente ama, pedi os combinados de sempre, uma garrafa do saquê favorito dele. Saí correndo debaixo de chuva, com a sacola bem protegida, o coração leve e a cabeça cheia de ideias bobas — achando que seria uma daquelas noites doces, que viram lembrança. Quando chego no prédio dele, o porteiro me recebe com aquele sorriso cúmplice. Ele já me conhece, claro. Dá um aceno e diz: — Ele está lá em cima, senhorita Júlia. Pode subir. E eu subi. Com o coração acelerado. Achando que tava fazendo tudo certo. Que tava vivendo meu grande amor. Que o destino tava a meu favor. Mas o destino… ah, o destino. Ele só tava esperando eu abrir aquela porta.JULIA MONTENEGRO:Por um segundo, achei que o ar tinha desaparecido do mundo. O tempo parou. Meu coração parecia preso entre as costelas, latejando de medo, de nojo, de raiva. Eu ainda sentia o toque repulsivo de Fernando no meu braço, os dedos dele cravados como garras na minha pele. A boca dele próxima demais da minha. Aquele hálito carregado de arrogância e podridão. E o insulto ecoando: "vagabunda."Mas então… a mão dele foi arrancada do meu corpo.Tudo aconteceu rápido demais.— SEU DESGRAÇADO!A voz de Gabriel cortou o ar como um trovão. E, num piscar de olhos, ele estava ali. Os olhos dele queimando. A mandíbula travada. Eu nunca o tinha visto daquele jeito. Nunca.Fernando sequer teve tempo de reagir.O primeiro soco foi tão forte que o corpo dele desequilibrou. Ouvi o som seco do impacto, e minha garganta se fechou num grito preso. O segundo veio em seguida, e depois o terceiro. Gabriel empurrou Fernando contra o capô de um carro qualquer, a fúria explodindo em cada movimento
FERNANDO NARRANDO:Ela achou que ia sair ilesa. Que ia me trair, mentir, rir da minha cara e depois desfilar de noivinha feliz com o meu próprio tio como se nada tivesse acontecido. Como se não fosse canalha. Como se não tivesse sido falsa.Estava parado no carro há mais de uma hora, observando a entrada da empresa de Gabriel como um predador esperando a presa. O motor desligado, o vidro entreaberto, meu coração batendo em um compasso torto. A raiva me corroía por dentro. Não conseguia aceitar aquela imagem dos dois juntos, sorrindo no jantar do meu avô como se fossem o casal do ano. A porra do anel brilhando no dedo dela como se fosse troféu.Hipócrita.E ela ainda teve a ousadia de me olhar nos olhos com desprezo. Como se eu fosse o lixo da história. Como se ela não tivesse culpa de nada.Mas ela tem. E hoje, ela vai me ouvir.Avisto Júlia saindo do prédio, sozinha. As mãos apertando a alça da bolsa, a postura tensa, os passos rápidos. Ela sempre teve essa mania de fingir força quan
JÚLIA MONTENEGRO NARRANDO:A segunda-feira amanheceu cinza. Não apenas no céu lá fora, que ameaçava chuva desde o início da manhã, mas também dentro de mim. O peso do fim de semana ainda apertava meu peito com a força de um nó apertado demais para desfazer.Dirigi até o escritório no automático. O rádio tocava uma música qualquer que eu mal ouvia, e o trânsito parecia seguir num ritmo estranho, como se o mundo tivesse desacelerado e eu estivesse presa numa bolha de cansaço emocional. Quando estacionei no prédio da empresa, fiquei alguns segundos parada dentro do carro, respirando fundo. Eu precisava estar inteira. Profissional. Distante.Era o que eu me repetia desde a noite anterior.Ao entrar no elevador, apertei o botão do nosso andar e mantive o olhar fixo no número digital acima da porta. A cada andar subido, meu estômago parecia pesar mais. Eu não sabia como seria o dia, não sabia nem o que esperar dele.Cumprimentei o pessoal da recepção com um aceno de cabeça e caminhei até mi
GABRIEL CLARK NARRANDO:A porta bateu atrás de mim, e só o som já me fez sentir como se tivesse levado um soco no peito. Encostei a testa na madeira fria e fechei os olhos. A respiração ainda descompassada. O corpo… em chamas. E o coração? Esse estava em guerra com a cabeça.Droga.O gosto do beijo dela ainda estava na minha boca. O calor da pele, a curva do corpo, o som que ela soltou quando a encostei na bancada… Tudo. Tudo em mim gritava que era só continuar. Que era só deixá-la ali, nos meus braços, onde eu queria que ela estivesse. Mas eu não podia. Não com ela.Não com Júlia.Caminhei em direção ao meu quarto como se estivesse fugindo. Joguei o corpo na cama, virei pro lado, pro outro, e depois encarei o teto por longos minutos. Eu sabia que não ia dormir tão cedo.Porque aquela mulher estava mexendo com partes de mim que eu achava mortas.Porque ela me olhou como ninguém tinha olhado há anos. Porque, por um instante, quando a segurei no colo, eu quase esqueci que não era mais
JÚLIA NARRANDO: Deitei de novo na cama, mas o corpo não obedecia. O coração batia alto demais, e minha mente repetia a cena na cozinha como se estivesse tentando achar algum erro que justificasse aquilo. O toque das mãos dele ainda ardia na minha pele. O gosto do beijo ainda estava nos meus lábios. E, mesmo assim… ele virou as costas. Disse que aquilo era errado, como se eu fosse um erro. Virei para o lado. Depois para o outro. Fechei os olhos. Abri. O quarto estava escuro, mas a escuridão dentro de mim era maior. Era como se, de repente, todo aquele calor que me envolvia tivesse virado um gelo silencioso no peito. Eu não queria ficar ali. Não podia ficar ali. Joguei o lençol para o lado e levantei. Peguei a toalha do gancho e sequei os cabelos ainda úmidos. Vesti a mesma roupa da noite anterior com pressa, evitando olhar no espelho. O vestido colava no corpo como uma lembrança incômoda. Passei a mão pelo tecido, alisei o vinco, mas não adiantou. A sensação de estar fora de l
JÚLIA NARRANDO: — O quarto de hóspedes é logo ali. Roupa de cama limpa, toalhas no banheiro. Fica à vontade. Só isso. Nenhuma pergunta, nenhuma exigência, nenhum comentário inapropriado. Só aquele olhar sério, um pouco cansado, e a voz firme de quem estava me oferecendo um pouco de paz, mesmo sem saber. — Obrigada — sussurrei, sem coragem de encará-lo de verdade. Caminhei devagar pelo corredor que ele indicou. O salto das sandálias já incomodava meus pés, o vestido pesava no corpo como se fosse feito de chumbo. Cada passo parecia carregar mais do que cansaço físico, era o peso de tudo o que aquela noite significou. O reencontro com o passado. A dor escancarada. A humilhação que eu ainda estava tentando digerir. Quando entrei no quarto de hóspedes, fechei a porta com delicadeza, como se não quisesse incomodar nem mesmo as paredes. O espaço era claro, minimalista, bem decorado. A cama feita com perfeição, as almofadas alinhadas, o abajur aceso emitindo uma luz suave. Havia um armá
Último capítulo