Júlia Montenegro achava que estava prestes a viver o melhor momento da sua vida. O casamento dos sonhos se aproximava, ela tinha um emprego estável e acreditava que, finalmente, tudo estava no lugar. Mas a ilusão desmorona de forma cruel: ela flagra o noivo nos braços da própria melhor amiga. Sem chão e emocionalmente devastada, Júlia não tem tempo para se recompor. Em poucos dias, sua mãe recebe um diagnóstico grave, e ela é demitida do trabalho. Perdida e em colapso, ela decide afogar a dor em um bar qualquer e acaba se envolvendo com um estranho misterioso, irresistível e completamente fora do seu controle. O que era pra ser só uma noite de fuga vira um ponto sem volta quando ela descobre que o homem em questão é Gabriel Clark, um CEO frio, poderoso e marcado por feridas profundas. Ele não acredita mais no amor desde que foi abandonado no altar e, embora evite qualquer envolvimento emocional, Júlia o desconcerta de um jeito que ele não consegue ignorar. Mas o que Júlia ainda não sabe… é que Gabriel carrega um laço direto com seu passado: ele é o tio do ex-noivo que a traiu. O que começou como um erro impulsivo pode se transformar em um jogo perigoso, onde sentimentos indesejados despertam, segredos ameaçam vir à tona e ninguém está preparado para o que acontece quando o destino decide intervir. Oi
Ler maisJULIA MONTENEGRO NARRANDO:O elevador se abriu com aquele som suave e quase elegante, como se até ele soubesse o peso do que estava por acontecer. Eu ajeitei a postura, esperando ver algum familiar de Gabriel, talvez um tio distante, algum figurão do mundo dos negócios. Só não esperava… aquilo.Meus olhos bateram direto nele.Fernando.Meu corpo inteiro parou. Meus pulmões esqueceram como puxar o ar, e minhas pernas ameaçaram ceder debaixo do salto fino. E ao lado dele, como um fantasma do meu passado mais sujo, estava ela. Carolina. Tão linda e dissimulada quanto sempre foi. Os dois de mãos dadas, sorrisos falsos, impecáveis. Como se não tivessem destruído minha vida.O coração bateu alto demais dentro do peito. Minhas mãos tremeram. Senti o calor subir até os olhos e as lágrimas ameaçarem cair, mas pisquei rápido, tentando conter. Respira, Júlia. Você não vai dar esse gostinho pra eles.Me virei levemente para Gabriel, minha voz quase sem força, um sussurro furioso:— Você sabia… nã
JÚLIA MONTENEGRO NARRANDO:O grande dia tinha chegado. O tal jantar do senhor Clark. Aquele evento que parecia tão distante quando Gabriel me jogou o convite em cima da mesa, agora estava batendo à porta, literalmente.Levantei cedo, mesmo sabendo que só à noite eu teria que estar pronta. Queria me preparar com calma, sem correrias. Lavei o cabelo com o shampoo que tinha um cheiro que me lembrava baunilha com alguma coisa cítrica, e depois sequei com paciência, ajeitando com a escova até ele ficar sedoso. Peguei o babyliss e fiz algumas ondas suaves, que caíam bem com o decote do vestido que eu ia usar mais tarde.Depois do banho, me sentei em frente ao espelho do quarto e comecei a maquiagem. Um olho marcante, delineado, rímel para destacar os cílios. A pele ficou bem feita, um iluminador suave nas têmporas. Batom nude. Nada chamativo demais, mas o suficiente para me sentir poderosa. Peguei o celular e escrevi para o senhor prepotente:— Qual o endereço do jantar?Deixei o celular de
GABRIEL CLARK NARRANDO:Algumas pessoas acham que poder é só grana. Que quem tem dinheiro comanda tudo. Mas estão erradas. O verdadeiro poder é saber usar o que se tem com inteligência. É saber quando calar, quando agir, e quando manipular. E disso eu entendo muito bem.Eu estava sentado no meu sofá, no final de mais um dia puxado. A cidade acesa além da vidraça refletia o copo de whisky que girava na minha mão. Não era um dia qualquer. Tinha um certo gosto de antecipação. A escolha daquele vestido pra Júlia não foi feita por impulso, nem generosidade. Foi estratégia.Tudo começou com uma ligação, há alguns dias atrás.Início de flashback..Eu estava saindo do banho quando o celular tocou. O nome que apareceu na tela me fez parar no meio do movimento de colocar a camisa.Angelina.Demorei alguns segundos pra atender. Não porque eu tinha dúvidas, mas porque eu já sabia que aquilo ia me irritar.— Alô?— Gabriel? — a voz dela ainda era a mesma. Suave, doce, mentirosa. — Eu soube que voc
JÚLIA MONTENEGRO NARRANDO:A campainha tocou cedo, muito mais cedo do que qualquer um deveria tocar uma campainha. Meu corpo ainda estava mole de sono, os olhos grudados e a cabeça pesada. Me enrolei no primeiro roupão que vi pendurado atrás da porta, desci as escadas tentando entender quem teria coragem de incomodar uma casa às sete da manhã de uma quarta-feira.Foi só chegar na cozinha que o cheiro de café fresco invadiu meu nariz. Estranhei. Minha mãe, mesmo doente, parecia sempre arranjar forças para levantar antes de mim. Lá estava ela, magrinha e pálida, segurando algo grande, envolto num plástico transparente. Ela sorriu, mas um cansaço evidente pendia embaixo dos olhos.— Júlia, entregaram isso pra você — ela disse, estendendo o embrulho como se fosse uma coisa sagrada.Franzi o cenho, caminhei até ela e peguei o pacote. Na etiqueta, o nome da boutique mais cara da cidade. Abri a capa com cuidado e quase deixei o coração cair no chão.— Cinco mil dólares? — minha voz saiu em u
JÚLIA MONTENEGRO NARRANDO:Voltamos para o andar executivo em silêncio. Gabriel andava alguns passos à frente, sem me esperar, como se minha presença fosse uma extensão da sombra dele. O homem era um enigma, arrogante, frio, mas absurdamente inteligente. E por algum motivo que eu não entendia, ele fazia questão de testar meus limites.De volta à minha mesa, sentei com um suspiro discreto. Mal tinha tempo de respirar, o telefone tocou novamente.— Secretária do senhor Clark, bom dia.Era ele. De novo.— Senhorita Montenegro, preciso dos relatórios dos últimos trimestres das empresas associadas. Estão no servidor. Imprima e deixe em minha mesa em vinte minutos.— Sim, senhor Clark.Dei um clique seco no botão do telefone e revirei os olhos. Aquele homem tinha prazer em me dar ordens como se eu fosse uma soldada em missão. Fui até o servidor, acessei os relatórios, organizei tudo da maneira mais clara possível, coloquei uma capa de apresentação e fui até a sala dele. Bati duas vezes na p
JULIA MONTENEGRO NARRANDO: Segundo dia. Segundo maldito dia. Acordei antes do despertador tocar, com o coração acelerado, como se estivesse atrasada, mesmo que ainda faltassem duas horas para eu estar na empresa. Dormir? Mal consegui. A cada vez que fechava os olhos, via o rosto de Gabriel Clark me encarando, frio e cheio de uma arrogância que me irritava e… me confundia. Como alguém podia ser tão insuportável e ao mesmo tempo tão difícil de ignorar? Me arrumei com calma. Blusa branca, calça de alfaiataria preta, cabelo preso num coque impecável. A maquiagem leve, só o suficiente pra não parecer abatida. Respirei fundo ao entrar no carro e fui direto pra empresa. Eram 7h45 quando estacionei. Entrei sorrindo pro porteiro, que já lembrava meu nome, e fui até minha mesa. Organizei as agendas, revisei os e-mails do dia anterior, separei os documentos de reuniões. Às 8h28 tudo estava pronto. Sentei e esperei. Às 8h45, ouvi o som familiar dos sapatos dele no piso de madeira. O cor
CAROLINA MILLER NARRANDO: Desde pequena, eu aprendi a admirar o que era bonito, desejável… e, se possível, conquistar. Cresci ao lado da Júlia, desde os dez anos, compartilhando segredos de escola, primeiras paixões e tardes inteiras imaginando futuros que, para mim, sempre pareciam mais distantes do que para ela. Ela era o tipo de garota que entrava em qualquer lugar e chamava atenção. Tinha aquele sorriso leve, uma gentileza natural que fazia todos ao redor se sentirem importantes. Eu era a sombra. A amiga engraçada, a que dava conselhos, a que ouvia os desabafos sobre os problemas de uma vida… perfeita. Porque era isso que eu enxergava na vida da Júlia, perfeição disfarçada de dramas que não eram nada perto do que eu enfrentava. A gota d’água veio quando ela ficou noiva do Fernando. Alto, elegante, dono de uma agência de marketing de sucesso, charmoso até o último fio de cabelo. A primeira vez que fui apresentada a ele, entendi exatamente o que ela possuía. E foi aí que o j
JULIA MONTENEGRO NARRANDO: Voltar pra casa depois daquele primeiro dia foi como atravessar um furacão de emoções. Eu dirigi quase no automático, com a cabeça cheia, os ombros tensos e um silêncio gritando dentro do carro. A empresa era impecável, Gabriel ainda mais intenso do que eu lembrava, e o clima… um verdadeiro campo minado. Mas tudo o que eu queria agora era chegar em casa, respirar fundo e dar um pouco de paz pra minha mãe. Quando estacionei na frente da casa dela, o cheiro de comida caseira escapando pela janela já me fez quase chorar. Respirei fundo, engoli o nó na garganta e saí do carro. Levei comigo os papéis do novo convênio e a certeza de que, por pior que fosse aquele trabalho, ele era a minha salvação naquele momento. Amélia abriu a porta antes mesmo de eu bater. Com o avental ainda amarrado na cintura, sorriu como se nada mais importasse no mundo além de me ver ali. — Oi, filha. Tá com fome? Fiz lasanha. Lasanha. Ela sempre fazia lasanha quando queria me
GABRIEL CLARK NARRANDO: Se tem uma coisa que eu aprendi na vida foi não confundir emoção com decisão. No mundo dos negócios, isso é uma regra de ouro. E eu decidi contratar Júlia Montenegro por competência. Eu vi potencial nela na entrevista, e o resto… o resto foi um desvio do da vida que não se repetirá. Ela estava aqui agora. Uma funcionária da minha empresa. E eu não queria que ela pensasse, nem por um segundo, que estava aqui por piedade, por sexo ou qualquer coisa parecida. Então eu seria duro. Frio. Exatamente como sou com qualquer outro funcionário. No meio do dia, bati os olhos no relógio. Três e meia da tarde. O tempo passava rápido quando a mente estava ocupada, e naquele dia eu me forcei a manter a cabeça focada no trabalho. A porta foi levemente batida. — Pode entrar — falei, sem tirar os olhos do monitor. Júlia apareceu com um envelope pardo nas mãos. — Um entregador deixou isso, senhor Clark. — Me dá aqui. Ela atravessou a sala e me entregou o envelope