JULIA MONTENEGRO NARRANDO: Passei o dia inteiro enviando currículos. Não importava mais a vaga. Gerente, vendedora, auxiliar, recepcionista, até para faxineira eu me candidatei. Se alguém aparecesse oferecendo dinheiro pra vender picolé na esquina, eu teria aceitado. Era isso ou ver minha vida desmoronar de vez. Estava sentada no sofá, com o notebook no colo e os olhos ardendo de tanto encarar telas, quando o celular tocou. No visor, o nome que mais me doía ver ultimamente: Mãe. Atendi com um frio no estômago. — Oi, mãe… tá tudo bem? Do outro lado, o silêncio demorou a responder. E então, veio a voz embargada: — Júlia… o convênio… eles tão negando o tratamento, filha. Fechei os olhos, como se isso pudesse impedir o golpe. — Como assim? — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Eles não vão cobrir? — Disseram que não cobrem esse tipo de procedimento, por ser considerado paliativo. Tentei argumentar… mas eles… Ela começou a chorar, baixinho. E aquilo me destru
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